O debate de hoje à noite entre os candidatos à Presidência da República, promovido pela Rede Bandeirantes de Televisão, traz consigo, além de muita expectativa, um marco histórico: é a primeira vez na história do Brasil em que um presidente da República em exercício participará de um confronto político dessa natureza, ao vivo, pela televisão.
O PSDB e o seu candidato, Geraldo Alckmin, vêm embalados numa onda de otimismo e empolgação. Afinal de contas, até o ex-presidente Fernando Henrique, principal líder do partido, classificou como uma "proeza" a ida de Alckmin para o segundo turno. Portanto, não é de se espantar que o presidenciável tucano esteja num bom astral, apesar dos contratempos com a aliança com Garotinho no Rio de Janeiro.
Por outro lado, para o PT, a disputa das eleições no segundo turno soa como uma ironia da "caixinha de surpresas" que é a política brasileira. Não fosse o famoso dossiê contra políticos tucanos que seria comprado por petistas, a eleição presidencial para Lula teria tudo para se assemelhar a um passeio no parque numa tarde ensolarada de domingo. Mas veio o dossiê e a queda sucessiva de vários companheiros do presidente, com destaque para a licença do cargo do presidente nacional do PT, deputado Ricardo Berzoini, que havia perdido também o cargo de coordenador da campanha de Lula à reeleição por conta do mesmo episódio.
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O fato de Alckmin chegar ao segundo turno, algo que até seus correligionários chegavam a duvidar, aviva o interesse pelo debate entre ele e Lula. Um debate com os dois maiores partidos políticos do Brasil e, também, um debate essencialmente entre paulistas. O ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin nasceu e sempre viveu no estado. E foi lá que Lula se criou e fez sua vida paulista, apesar de ter nascido em Pernambuco.
"Em política ninguém é paulista impunemente", disse certa vez o tarimbado político mineiro Tancredo Neves, aquele que se elegeu presidente em janeiro de 1985 pelo colégio eleitoral, pondo fim à ditadura militar, mas morreu antes de tomar posse. A frase aparece na página 66 do livro Jornalismo político, do jornalista Franklin Martins, da Rede Bandeirantes. O ex-presidente dava um tom de brincadeira. Mas, no fundo, deixava no ar sua impressão de que os paulistas trombam mais que o necessário e brigam mais do que é preciso.
Por isso, não se pode descartar a possibilidade de um confronto carregado de acusações e ataques violentos, tanto de um lado como de outro. Ou será que os candidatos vão priorizar a apresentação de propostas de governo e alternativas para os problemas da nação no debate desta noite?
O Congresso em Foco consultou lideranças políticas, intelectuais e as assessorias dos dois presidenciáveis para saber o que se pode esperar do debate entre os presidenciáveis. Veja o que eles disseram.
Arthur Virgílio Neto (AM), líder do PSDB no Senado
"A vida dos dois já é um ponto de vantagem para Alckmin", pensa o senador, dizendo que a ética é um dos pontos que prometem maior discussão durante o confronto. Nesse domínio, acredita Arthur Virgílio, o presidente Lula tem grande fragilidade: "No campo da ética, não tem ninguém mais vulnerável do que Lula neste país".
O senador também espera discussão sobre temas administrativos e, de novo, prevê melhor desempenho do candidato tucano. "O governo de Alckmin em São Paulo foi muito melhor do que o governo Lula", afirma. "Será um bom debate", finaliza o parlamentar.
Assessoria de imprensa de Lula
Declarou que Lula está se preparando para responder sobre o programa de governo e as propostas para economia. O presidente, diz a assessoria de sua campanha, defenderá que a política econômica do seu governo não foi igual à do governo anterior. O presidente destacará que sob sua gestão não ocorreram privatizações nem demissões em massa de funcionários públicos. Lula defenderá que em seu governo ocorreu a recomposição do poder de compra do salário mínimo e melhoria da distribuição de renda.
Mas a assessoria frisou que esse será o comportamento de Lula se o debate for "sério". Se o candidato do PSDB atacar o presidente, a reação se baseará na tese de que vários dos escândalos atuais não começaram no governo do PT, a começar pelo esquema dos sanguessugas. De acordo com a assessoria da campanha de Lula, o primeiro pagamento de propina da máfia das ambulâncias ocorreu em 3 de março de 2001 sob a gestão FHC. Dizendo que o atual procurador geral da República não é um "engavetador geral da República", a assessoria conclui: "Estamos preparados para tudo".
Assessoria de imprensa de Alckmin
"Infelizmente, não podemos abrir a estratégia do candidato para o debate".
David Fleischer, cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB)
Para ele, além de criticar o governo FHC, "que seria um ataque mais sutil", Lula também poderá investir contra a gestão Alckmin à frente do governo de São Paulo. Fleischer cita como exemplo as 69 CPIs que foram barradas na Assembléia Legislativa de São Paulo durante o governo do tucano. O cientista político acredita que temas como corrupção e transparência na administração pública serão levantados. A segurança pública, na visão de Fleicher, é um tema delicado para os dois candidatos.
Questionado sobre a possibilidade de o debate ser "sangrento", o cientista político respondeu que, por se tratar do primeiro confronto entre Lula e Alckmin (haverá outros três debates até o dia da eleição), "os candidatos não vão gastar todos os cartuchos que têm guardados".
Antônio Flávio Testa, cientista político e professor da UnB
Acredita que os dois candidatos não partirão para o confronto direto "Os dois devem chegar na retaguarda", afirmou. Testa prevê que o candidato tucano deverá tentar conduzir o debate para projetos sobre o futuro da administração, já que o presidente Lula insistirá em bater nos escândalos do governo FHC. Em relação à ética, Testa declara: "Se o debate for levado para o campo ético, Lula leva desvantagem".
Na opinião do professor, o debate da Rede Bandeirantes tende a ser "tenso" e "muito fraco na discussão de propostas". E sua previsão é que "Alckmin levará a melhor". Ele explica: "Lula irá atacá-lo com escândalos de anos atrás e o dossiê está bem recente. Sem contar que atacar FHC não surtirá tanto efeito já que o ex-presidente não faz campanha para Alckmin, faz para o partido".
Emir Sader, filósofo e professor da Universidade de São Paulo (USP)
Na opinião dele, Lula deve apresentar um discurso mais voltado para o lado social. "Não basta dizer os números da economia. O presidente deve ressaltar o lado social das conquistas econômicas do seu governo", afirma.
Emir Sader não esconde a preferência pelo petista neste segundo turno. "A candidatura Alckmin privilegia os ricos", diz, criticando as privatizações do governo FHC. "As privatizações que ocorreram na gestão de Fernando Henrique, se fossem devidamente investigadas, revelariam o maior escândalo de corrupção do país". Para Emir Sader, o PSDB no poder representa "concentração de renda" e isso que Lula deve procurar mostrar.
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