Leodegar Tiscoski*
O século XX marcou o raiar de uma nova era para as mulheres. A invenção da pílula anticoncepcional liberta a mulher que, assumindo o controle de seu corpo e o planejamento de sua prole, lança-se no mercado de trabalho, buscando a igualdade entre os sexos. Diversos movimentos feministas surgiram, os primeiros em claro conflito com o universo masculino, na busca de espaços.
Com o passar do tempo, a mulher cresceu profissional e economicamente, atingindo grau de independência nunca antes alcançado. As modificações tecnológicas e científicas, junto com as crises econômicas e as guerras, a obrigaram a sair de casa e buscar um trabalho para ajudar no orçamento doméstico. A mulher moderna mostrou-se competitiva e competente nas artes, ciências, educação e economia.
A libertação dos escravos mostrou às mulheres que a elas também eram negados os direitos de cidadania. Inicia-se, em todo o mundo, a luta pelo resgate da “mulher cidadã”. O voto, como primeira conquista, coloca a mulher no contexto sócio-político. Ainda assim, relegou o campo político ao universo masculino. Embora representem 51% do total da população brasileira, sendo 55,4 milhões de eleitoras contra 54,1 milhão de eleitores, elas representam apenas 6% do Congresso Nacional. É preciso refletir sobre esses números.
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A mulher é, naturalmente, uma administradora de crises: financeiras, emocionais, sociais, judiciais e educacionais. Ela assume o papel de conciliadora nos conflitos domésticos, na adolescência dos filhos, nos ciúmes familiares, nas depressões de membros da família. A mulher enfrenta todos os desafios no universo familiar – ela conhece, de fato, a realidade do dia-a-dia, encontra respostas, implementa soluções. Perseverante e criativa, transforma as crises em desenvolvimento.
Mesmo assim, o despertar da cidadania feminina implica um grande trabalho ainda a ser executado pelas mulheres. Não se pretende um trabalho conflitivo com os homens, mas colaborativo, para que os interesses e objetivos da sociedade sejam atendidos e atingidos como um todo.
A inclusão social da mulher ainda é um grande desafio para a democracia brasileira. As mulheres em Santa Catarina, meu estado, já constituem 42% da população economicamente ativa (PEA). Portanto, a força de trabalho das mulheres traz riqueza e progresso a Santa Catarina, com grande peso no Produto Interno Bruto (PIB). Elas são, ainda, construtoras de parte expressiva da riqueza nacional. No entanto, a mulher enfrenta discriminação no mercado de trabalho, auferindo menores rendimentos do que os homens. A diferença em favor dos homens é muito grande. Estes recebem 40% a mais que as mulheres.
Mas a mulher já está escrevendo a sua história político-partidária. Por onde ela vem passando, as mudanças vêm sendo implementadas. Sob o olhar atento feminino, tramitaram e tramitam dezenas de projetos de lei, diretamente relacionados aos direitos civis, educação, poder, saúde, sexualidade, trabalho, violência e outros. Movimentos organizados agilizam a tramitação, discutem as reformulações e elaboram novas proposições.
É essa a mulher que deveria, consciente de sua força, emprestar sua inteligência, capacidade e habilidade para a sociedade como um todo. É ela que deveria construir alternativas para trabalhar em conjunto com os homens, lado a lado. É ela, em suma, que deveria ingressar na vida pública para ajudar a tornar o Brasil um pouco mais parecido com o país que desejamos.
Vencendo as barreiras, expandindo suas atividades, do lar para a política, a mulher leva consigo a ética e a moralidade para o exercício do dever público, expulsando da atividade política aqueles que esqueceram os deveres morais e tornaram nosso espaço político desagradável e injusto, em função de mentiras e corrupção praticadas no exercício do mandato.
Desejo que o dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, marco da luta das mulheres por seus direitos civis, seja visto como uma nova etapa nessa luta, em que a mulher do século XXI ocupe maior espaço político. Que a mulher tenha a consciência de que o envolvimento político é condição essencial da promoção feminina, de superação da discriminação, da marginalidade e da pobreza.
A democracia no Brasil poderá efetivamente avançar se contar com a participação das mulheres no poder, de modo a influir decisivamente também na economia, nas finanças, na diplomacia, na administração, na comunicação, nos transportes, no setor primário, secundário, e todas as áreas tradicionalmente confiadas aos homens.
Cumprimentando todas as mulheres brasileiras pelo seu dia, lanço um apelo a todas vocês: ingressem na política. Conquistem mais poder. O Brasil e todos nós precisamos de vocês.
* Leodegar Tiscoski é deputado federal (PP-SC) e engenheiro civil.
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