O diretor-adjunto afastado da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), José Milton Campana, também participou do encontro para avisar o ex-agente do Sistema Nacional de Inteligência (SNI) Francisco Ambrósio sobre as repercussões da reportagem da revista IstoÉ que acusava o ex-agente como o responsável por coordenar uma equipe de grampos formada por agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).
Em depoimento, que está sendo prestado neste momento na CPI dos Grampos da Câmara, Ambrósio relatou que foi induzido por diretores da Abin para depor à Polícia Federal (PF) para se defender das acusações da revista. A informação sobre a pressão da cúpula da Abin já havia sido dada por Ambrósio à Comissão Mista de Controle de Atividades de Inteligência do Congresso, na semana passada, quando o ex-agente afirmou estar presente no encontro apenas o diretor de contra-inteligência afastado da Abin, Paulo Maurício, e o ex-diretor da Abin, Renato Porciuncula, que estava à frente do departamento de Inteligência da PF quando o órgão deflagrou a Operação Furação em abril de 2007.
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O encontro se deu em uma “casa de massas” na Asa Norte, em Brasília. Segundo o ex-agente, ele foi contatado pelo diretor Paulo Maurício, que estaria preocupado com a imagem da instituição. “Eu acho que tinha preocupação dele com a instituição”, disse. "Fui porque o doutor Paulo Maurício me chamou. [Se Campana tivesse chamado] eu não teria ido", declarou Ambrósio.
A cúpula da Abin teria tido acesso à reportagem antes mesmo da revista estar nas bancas. Os diretores teriam contatado Ambrósio para ele adiantar sua defesa junto à PF. No encontro da casa de massas, segundo o ex-agente, Campana não chegou a falar nada. Na ocasião, o ex-diretor Renato Porciuncula haveria combinado com Ambrósio de acompanhá-lo no depoimento à polícia.
“Ele assumiu o compromisso. Quando cheguei lá, ele não estava e fui informado que chegaria. Mas não apareceu”, disse Ambrósio. “Quando chegou ao sexto andar [da PF], não estranhou que tinha alguma jogada contra você?”, perguntou o deputado Arnaldo Faria de Sá (PTB-SP). “Fiquei esperando o doutor Renato…”, respondeu. “Então ele te largou sozinho”, finalizou o deputado.
Em depoimentos à CPI dos Grampos, todos os três ex-diretores da Abin negaram participação de agentes do órgão na elaboração de grampos para a Operação Satiagraha. O ex-diretor Paulo Maurício chegou a afirmar que não houve colaboração institucional da agência na operação. Mas, segundo depoimento de Ambrósio, três a quatro agentes da Abin ficavam diariamente nas terminações da PF, onde se localizava a equipe que participou da Satiagraha. (Eduardo Militão e Renata Camargo)
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