O Estado de S. Paulo
Só 3 de 82 obras da Copa mantêm cronograma
Das 82 obras de mobilidade urbana, de portos e de aeroportos inicialmente prometidas para a Copa de 2014, apenas três permanecem com cronograma e orçamento inalterados. Dessas, só duas foram entregues até agora, mas o previsto eram 37, informa Eduardo Bresciani. Vinte e um empreendimentos foram retirados da matriz de responsabilidades, documento assinado em 2010 contendo compromissos dos governos federal, estaduais e municipais, e 25 tiveram orçamento modificado. As outras sofreram alteração de prazo. Além das mudanças, houve a inclusão de 28 obras no documento, das quais 7 saíram do papel. Intervenções de maior impacto deram lugar a outras mais simples e, em alguns casos, serão parcialmente entregues. O governo considera ajustes “naturais”
Dez anos depois, população pobre do País permanece refém de programas de renda
Implantados há uma década, os planos de combate à miséria dos governos Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff têm registrado sucesso em dois aspectos: a ampliação dos benefícios de transferência de renda à maioria das famílias mais necessitadas, garantindo alívio imediato, e a melhoria de indicadores sociais. Eles patinam, porém, quando se trata de aumentar as oportunidades de inclusão no mercado de trabalho.
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Uma das cidades que simbolizam essas políticas, Guaribas, no interior do Piauí, espelha tal realidade, conforme constatou a reportagem do Estado. Foi ali que, em fevereiro de 2003, logo após a posse do presidente Lula, o então ministro do Combate à Fome, José Graziano, formalizou o lançamento do Programa Fome Zero, proposta de campanha de Lula que prometia erradicar a fome no País a partir de uma série de ações coordenadas. A escolha para o lançamento era precisa. Tratava-se da mais miserável das cidades do Piauí, o Estado mais pobre do Brasil.
Gastos sociais viabilizam crescimento, diz governo
No Ministério do Desenvolvimento Social, o titular da Secretaria Extraordinária para a Superação da Extrema Pobreza, Tiago Falcão, diz que qualquer resultado na área dos programas sociais do governo deve ser analisado de maneira global, com a combinação de diversas variantes. “Os gastos sociais acabam viabilizando o crescimento econômico. Guaribas tem um taxa de crescimento maior do que a do Piauí, o Estado que mais cresceu no País nos últimos anos”, afirma.
Os municípios mais beneficiados pelo Bolsa Família são os que mais registram elevações no nível de trabalho formal, segundo o secretário. Ele discorda da tese de que os Estados mais ricos acabaram sendo mais beneficiados pelo impacto do fortalecimento do salário mínimo: “Essa avaliação é reducionista, não leva em conta o movimento mais amplo. A verdade é que houve uma queda na desigualdade entre as regiões mais ricas e as mais pobres”.
Fome se vai, mas perspectiva não chega
Guaribas vive do passado. Não de glórias esquecidas, mas de promessas pela metade, feitas quando, no dia 3 de fevereiro de 2003, um grupo de ministros do então governo Lula desembarcou na cidade planejando resolver a vida daquela gente que apenas sobrevivia. Dez anos depois, o que sobrou do programa Fome Zero na cidade que foi o seu símbolo são as centenas de famílias que saíram da miséria absoluta para a pobreza sustentada pelo Bolsa Família ou pelas aposentadorias rurais. O tempo das visitas de ministros e governadores passou e a população castigada pela seca retomou seu caminho: a estrada para São Paulo para melhorar de vida. Não há quem não diga que a cidade não melhorou de 2003 para cá. Hoje há água encanada. Quatro ruas ganharam calçamento. A praça tem bancos de cimento. Há agências do Banco do Brasil, dos Correios e do Banco do Nordeste. Há uma unidade de saúde básica, com quatro enfermeiros, mas sem médico. Há mais escolas, inclusive de ensino médio. A miséria, porém, não deixou o local. Na cidade, a maior renda é a dos aposentados, que ganham mais do que os beneficiários do Bolsa Família. Há gente que tenta de todas as formas arrumar um atestado médico para se aposentar antes da hora. Quem não consegue pede ajuda aos velhinhos da família. Dona Wilsa Maria, 78 anos, ajuda a sustentar 16 pessoas na sua casa. “Como vou ver meus filhos passando necessidade?”, pergunta.
Cidade foi 1ª a receber Cartão Alimentação
No dia 3 de fevereiro de 2003, o então ministro do Combate à Fome, José Graziano, desceu de um helicóptero em Guaribas e, acompanhado de outros quatro colegas de governo, discursou: “Quero voltar aqui em quatro ano se dizer que vocês não precisam mais do cartão porque a fome acabou”.O prazo se esgotou, Graziano hoje é o diretor-geral do Fundo das Nações Unidas para a Agricultura – eleito em grande parte pelo seu trabalho no ministério– mas a miséria ainda é a marca principal de Guaribas. Então a mais miserável das cidades do Piauí, o Estado mais pobre do País, Guaribas foi escolhida, junto com a mais esquecida ainda Acauã (PI) para ter os primeiros 50 beneficiários do programa Cartão Alimentação, depois substituído pelo Bolsa Família. Sem água, sem luz, sem calçamento nem esgoto, a cidade era o retrato do Brasil miserável que o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva queria combater.
Memorial do Fome Zero vira depósito de móveis velhos
Desde que se tornou nacionalmente conhecida, há dez anos, Guaribas – onde o Fome Zero começou – não tem registro de um único turista que a tenha visitado. Ainda assim, o governo do Piauí investiu mais de R$ 1 milhão na construção de um museu, o Memorial do Fome Zero, e um hotel de 14 suítes no município. Prontos há dois anos, os dois prédios acabaram virando depósitos de móveis velhos da prefeitura e ninho de ratos e morcegos. Vidros quebrados, telhas faltando e infiltrações são o atestado de mais um caso de dinheiro público jogado fora. No mesmo dia em que o Estado visitou a cidade, funcionários da prefeitura levavam alguns computadores velhos para guardar em uma das salas do memorial. No salão principal, decorado com várias pinturas alusivas ao programa, carteiras e cadeiras escolares velhas se amontoam, junto com restos de madeira, caixas e lixo em geral. “Está tudo se estragando. Nós já pedimos para usar o espaço para palestras de saúde, para fazer atendimentos, mas não conseguimos nada”, conta Tâmara Dias Nunes, uma das enfermeiras do município.
‘Programa não é suficiente para mudar desigualdade’
Financiadora de ONGs e movimentos sociais no Brasil, a organização europeia Christian Aid encomendou uma pesquisa para avaliar os resultados do crescimento econômico e dos programas sociais no Brasil. Queria saber se, diante das conquistas divulgadas pelo governo, valeria a pena continuar financiando ONGs brasileiras dedicadas a combater a miséria. O resultado do estudo, coordenado pelo economista Alexandre de Freitas Barbosa, pesquisador do Centro Brasileiro de Análise e Planejamento (Cebrap), saiu no ano passado. Apontou que a pobreza caiu, mas as desigualdades entre ricos e pobres se mantêm elevadas; e que as possibilidades de mobilidade são pequenas. A seguir, Barbosa fala do trabalho que convenceu a Chris-tianAid a não interromper os financiamentos.
Peemedebista barra ação sobre enriquecimento
Candidato favorito para presidir a Câmara dos Deputados daqui a três semanas, com o apoio do Palácio do Planalto, o líder do PMDB, Henrique Eduardo Alves (RN), é acusado pelo Ministério Público Federal de enriquecimento ilícito numa ação de improbidade administrativa. Há dois meses, ele conseguiu adiar decisão sobre a quebra de seu sigilo fiscal e bancário, bem como de suas empresas, por meio de recurso judicial. Desde 2004, o MPF sustenta que o peemedebista manteve ilegalmente milhões de dólares fora do País. Em 19 de novembro, o Tribunal Regional Federal da Primeira Região (TRF-1), com sede em Brasília, acolheu recurso dos advogados de Alves para determinar à primeira instância que aprecie, antes da continuidade da ação, se houve prescrição do caso e também se o processo estaria lastreado em provas ilícitas. Os autos correm sob segredo de Justiça na 16.ª Vara Federal em Brasília. Na ocasião, o processo estava na fase de especificação de provas que as partes pretendiam produzir, momento em que o Ministério Público havia pedido a quebra do sigilo do peemedebista. A ação baseia-se em informações reveladas no processo de separação judicial de Henrique Eduardo Alves e Mônica Infante de Azambuja. Ao pleitear uma pensão alimentícia maior em relação à que Alves se dispunha a pagar, ela o acusou de manter ‘ US$ 15 milhões em contas bancárias não declaradas no exterior. As acusações da ex-mulher do deputado foram encaminhadas pelo promotor que atuou no caso da separação aos colegas do Ministério Público Federal, que propôs a ação de improbidade, diante da suspeita de “evolução patrimonial incompatível coma renda de parlamentar”.
Favorito ao Senado, Renan também é alvo de investigação
Recolhido em Alagoas, na curiosa condição de praticamente eleito para a Presidência do Senado pelos próximos dois anos sem sequer ter anunciado publicamente sua candidatura, o senador Renan Calheiros (PMDB-AL) responde, até hoje, às mesmas denúncias que o apearam do comando da Casa Legislativa no final de 2007. Desde então as acusações levaram a um inquérito no Supremo Tribunal Federal, no qual Renan teve decretada a quebra de seus sigilos bancário e fiscal. Há seis anos, Renan foi obrigado a renunciar ao comando do Congresso para preservar seu mandato parlamentar. Em dezembro de 2007, foi absolvido do processo de cassação em plenário com 48 votos favoráveis, 29 contrários e três abstenções da acusação de ter usado laranjas para comprar rádios e um jornal. Dois meses antes, ele havia escapado da perda de mandato por ter despesas pessoais pagas por um lobista de uma construtora. Livrou-se numa votação mais apertada: 35votos a favor da cassação, 40 contra e seis abstenções. Em processos disciplinares, são necessários pelo menos 41 votos favoráveis para a perda de mandato.
Cúpula tucana fecha com Aécio e tira poder de Serra
Na construção da candidatura do presidenciável Aécio Neves, o comando do PSDB emplacará o senador mineiro como novo presidente do partido ao mesmo tempo em que deve minimizar o espaço do ex-governador José Serra na nova direção partidária e aumentar a participação do governador Geraldo Alckmin (SP). Em maio, o PSDB elege a nova Executiva.Hoje, a maior parte da direção está fechada com a candidatura de Aécio à Presidência da República, projeto que tem o apoio do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e do presidente do partido, Sérgio Guerra – em dezembro, os dois lançaram o senador como pré-candidato ao Palácio do Planalto. O espaço na Executiva é visto como fundamental para o grupo serrista, que voltou a colocar na pauta a discussão sobre prévias para escolher o presidenciável.
PT quer manter ‘linha dura’ com Rui Falcão no comando
Depois de quatro anos, o PT realizará em novembro o Processo de Eleições Diretas (PED), mais importante processo eletivo interno do partido, que definirá a nova composição de suas direções em âmbito nacional, estadual e municipal. Embora um ano os separe do PED, os petistas já deflagraram as articulações para compor as chapas que comandarão o partido nos próximos três anos. No plano nacional, o favorito para presidir o PT é o atual presidente, deputado estadual Rui Falcão. Tido como “linha dura”, Falcão agradou à militância pela condução da sigla durante o delicado ano de 2012, em que o partido esteve exposto por causa do processo do mensalão, e soube compor habilmente com outras correntes, mas foi fustigado durante o processo eleitoral por integrantes de partidos tradicionalmente aliados, como o PSB e o PC do B, que nos bastidores o acusavam de ser sectário e ter a “cintura dura” no jogo eleitoral.
PRB procura se desvincular da Universal
O PRB iniciou um processo para tentar descolar sua imagem da Igreja Universal do Reino de Deus, sem tirar da denominação neopentecostal a influência no partido. O primeiro passo será a nomeação de Marcos Cintra, ex-secretário municipal do Desenvolvimento Econômico e do Trabalho de Gilberto Kassab (PSD), para a presidência estadual da sigla. Cintra vai substituir o deputado federal Vinicius Carvalho, ligado à igreja. O comando nacional da legenda será mantido nas mãos de Marcos Pereira, bispo licenciado da Universal, bem como o da direção municipal, que permanecerá com Aildo Rodrigues, também membro da Iurd. A nomeação de Cintra será anunciada até o fim deste mês. Em entrevista ao Estado, o ex-secretário confirmou que sua ida para o PRB faz parte da tentativa da sigla de desvincular sua imagem da Universal. Para ele, a legenda precisa se tornar laica.
O Globo
Rio tem recorde de multas de trânsito
A prefeitura do Rio teve uma arrecadação recorde de R$ 174,4 milhões com multas de trânsito em 2012, mas aplicou em ações educativas apenas R$ 550 mil, ou 0,3% do total, segundo o site oficial Rio Transparente. O valor superou em 28% os R$ 133 milhões de recolhimento previstos no orçamento. Em toda a cidade, foram aplicadas 2,4 milhões de multas, ou 4,5 infrações por minuto. Quase 70% foram registradas por pardais eletrônicos. O governo atribuiu o recorde a uma decisão do STF, que desde abril do ano passado obriga motoristas a quitarem seus débitos antes de fazer vistoria
Futuro de incertezas
Há pouco mais de uma década, no fim de 2002, o medo de o PT governar o Brasil enlouqueceu o mercado financeiro, fez o risco-país explodir e o dólar romper a barreira dos R$ 4. Foi preciso uma carta aos brasileiros com a promessa de que seria mantida a política econômica para ganhar a primeira eleição. A tranquila transição foi marcada pela continuidade da cartilha. O novo governo pegou carona no bom momento da economia mundial e colheu recordes nas estatísticas. Nestes dez anos no poder, o crescimento foi maior do que nas décadas anteriores, os juros se instalaram no piso histórico, a inflação ficou dentro do limite nos últimos nove anos e nunca se criaram tantos empregos. A principal conquista foi a saída de milhões de famílias da pobreza e o surgimento de uma nova classe social. No entanto, o aniversário é ofuscado por um coro afinado de críticas: o PT não aproveitou a bonança para fazer reformas e abandonou o famoso “tripé” econômico – sistema de metas de inflação, câmbio flutuante e responsabilidade fiscal.
A crença é que o Banco Central não mira mais o centro da meta da inflação e aceita uma alta de preços maior para não prejudicar o crescimento. Controla fortemente o câmbio e, para completar, a equipe econômica faz maquiagens nas contas públicas. Essa criatividade do Ministério da Fazenda está na mira dos especialistas.
Política internacional favorável
O PT contou com uma conjuntura econômica internacional extremamente favorável nos seis primeiros anos depois que assumiu o comando do país. O ciclo de prosperidade global que antecedeu a crise de 2008 foi marcado pelo aumento do comércio e expansão econômica em todo o mundo, impulsionados principalmente pela integração da China à economia mundial.
– Aumentamos as exportações e melhoramos as contas externas. O país saiu de um déficit em conta corrente de 4% do PIB no final dos anos 1990 para um leve superávit em 2003 e 2004. Com isso, tivemos mais condições de trabalhar a economia doméstica, o que explica boa parte do sucesso do governo Lula – diz Antonio Corrêa de Lacerda, professor de pós-graduação em Economia Política da PUC de São Paulo.
PT vive dilema para se renovar e cumprir plano de 20 anos de poder
Abalado por escândalos de corrupção e pela execração pública de seus principais líderes, até mesmo do ex-presidente Lula, o comando do PT está numa encruzilhada para permitir uma ampla renovação de quadros, capaz de levar adiante o projeto traçado há uma década para que a legenda permanecesse 20 anos no poder.
O julgamento do mensalão abalou a autoconfiança do PT. Apesar de destacarem sempre a diminuição da pobreza e da desigualdade como marcos da gestão petista, no campo político, alguns de seus principais dirigentes fazem um balanço ligeiramente envergonhado do período. O partido, que chegou ao Planalto com o discurso da ética, fez alianças heterodoxas, com políticos como José Sarney (PMDB-AP) e Fernando Collor (PTB-AL), e adotou práticas como o “toma lá da cá” com aliados.
– Nestes dez anos de governo, acho que a gente surpreendeu na gestão positivamente, e na política no sentido contrário. Todo mundo apostava que o PT seria muito bom na política e tinha o pé atrás com relação à gestão. E o PT fez uma gestão muito eficiente na economia, com inclusão social e colocou o Brasil como referência de país que cresce incluindo. Por outro lado, nossos maiores problemas foram na política, onde todos achavam que o PT seria infalível – avalia o senador Jorge Viana (PT-AC).
Ex-petistas históricos lamentam desvios éticos
Críticos e ex-petistas históricos, que ajudaram a fundar a legenda e a deixaram ressentidos com o pragmatismo do poder, concordam em relação aos avanços na distribuição de renda da população durante os de dez anos do PT no Planalto. Os dois grupos, porém, destacam que os desvios éticos, cujo episódio mais emblemático foi o mensalão, comprometem o prestígio do partido após um longo período no poder. A presidente Dilma Rousseff, dizem, não tem nem mais um dia a perder e terá de provar sua capacidade de gestão, para retomar as rédeas da economia e impedir que o prejuízo ético inviabilize o plano, traçado em 2002, de ficar 20 anos no Planalto.
Hélio Bicudo, petista histórico que deixou o partido em 2005, vê o PT como uma legenda que se equiparou aos demais na busca pelo poder e se afastou de seus propósitos iniciais. E não esconde a grande decepção: o ex-presidente Lula e a esperança que murchou.
– A maneira pela qual o partido se comportou quando Lula foi eleito foi uma grande decepção. Ficou claro que o PT buscava a eleição somente para distribuir benesses a um grupelho. Se o PT continuar nas mãos dessas lideranças que hoje o dominam, vai se afundar cada vez mais nessa linha de buscar vantagens pessoais. O Lula é a principal figura que puxa essa posição egoística do PT.
Especialistas: é preciso avançar mais em educação e saúde
O combate à pobreza entrou, com mais ênfase, na agenda do poder na gestão do PT: primeiro com o Fome Zero e, em seguida, com o Bolsa Família – que atende a mais de 13 milhões de famílias. Dez anos depois, o Brasil tem menos pobres e está menos desigual. Mas os desafios vão além de reduzir o contingente de pobres via programas de transferência direta de renda, defendem especialistas. Falta investir, segundo eles, mais em educação e saúde e ainda em habitação e transporte.
– Certamente houve uma transformação dentro da justiça social, que sempre foi uma bandeira do PT. Na virada para o governo Lula, em 2003, a política social passa a ser o carro-chefe do governo – afirma Sônia Rocha, pesquisadora do Instituto de Estudos do Trabalho e Sociedade (Iets).
O Bolsa Família, que nasceu em meio a tropeços do Fome Zero, atinge a parcela mais pobre da população e, para muitos, é eficaz no combate à desigualdade de renda. E isso mesmo custando menos de 1% do Produto Interno Bruto (PIB) – valor considerado baixo.
Júlio Delgado, a pedra do PSB no caminho do PMDB na Câmara
Embalado pelo aumento de 42% no número de prefeituras comandadas pelo partido nas eleições de outubro do ano passado, e no momento em que tenta construir uma candidatura própria à Presidência da República em 2014, o PSB resolveu enfrentar o PMDB e disputará a presidência da Câmara em fevereiro, com a candidatura do deputado Júlio Delgado (MG). O parlamentar mineiro foi relator do processo de cassação do ex-deputado José Dirceu, condenado no julgamento do mensalão. Azarão, Delgado enfrentará o favorito Henrique Alves (RN), líder do PMDB que tem o apoio do PT e do Palácio do Planalto.
Nesse episódio, o papel do presidente nacional do PSB e aspirante a presidente da República, governador Eduardo Campos (PE), é dúbio. Para o público externo, ele desestimula a candidatura de Delgado, que tem chances remotas de vitória. Na prática, porém, não se empenhou para que o deputado mineiro desistisse de concorrer ao cargo.
Eduardo Campos tem atuação discreta
Desde o início, a atuação do presidente Eduardo Campos foi de bastidor. Ele não queria afastar possíveis votos de petistas e outros deputados da base, na votação secreta, por temerem seu fortalecimento para 2014. Agora, mais por não querer se associar a uma provável derrota, ele continua tentando se descolar da candidatura socialista. Mas interlocutores dizem que ele não quer vetar a candidatura para não “parecer despótico”.
– A única pessoa capaz de interromper a candidatura do Júlio é ele próprio. Essa é uma decisão da bancada, e não do partido. Não tem nada a ver com Eduardo Campos. Eu, que vou assumir a liderança da bancada (em fevereiro), vou apoiá-la – disse o deputado Beto Albuquerque (RS), um dos parlamentares mais próximos do presidente do partido.
Mas no início de novembro, em jantar no Palácio da Alvorada com a presidente Dilma Rousseff, Campos e o vice-presidente do PSB, Roberto Amaral, disseram ao presidente do PT, Rui Falcão, que só decidiriam sobre a manutenção ou não da candidatura de Delgado às vésperas da eleição, marcada para 1º de fevereiro.
Prefeitos de capitais terão maioria nas câmaras
Os prefeitos das principais capitais brasileiras terão confortáveis maiorias nos legislativos municipais. Em 21 das 26 capitais, mais de 60% dos vereadores irão apoiar os prefeitos eleitos, segundo levantamento feito pelo GLOBO nas duas primeiras semanas de janeiro. Cargos de primeiro e segundo escalão, empregos para atender aos currais eleitorais dos vereadores e emendas ao Orçamento são as principais moedas de troca na busca pela maioria.
Em Boa Vista (RO), a prefeita Teresa Surita (PMDB) não enfrentará oposição. Todos os 21 vereadores eleitos prometem aprovar as primeiras medidas adotadas pela prefeita. Com 290 mil habitantes e dependente de repasses federais e estaduais, a capital viu diminuir os recursos do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) e enfrenta problemas para manter serviços.
– A cidade está quebrada. Tivemos perda de arrecadação e o prefeito anterior deixou muitos problemas. Os vereadores entenderam isso, conversamos e entramos em acordo. Nesse primeiro momento, vamos trabalhar todos juntos – diz a secretaria Ionei Martins de Oliveira.
Em BH, cargos seriam usados como moeda de troca
Para garantir a maioria, o prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda (PSB) tem à disposição 20,8 mil cargos terceirizados, postos mais disputados porque seus ocupantes não aparecem no Diário Oficial. Os números são do Sindicato dos Servidores Públicos Municipais, que aponta haver outros 34,5 mil cargos efetivos na administração municipal. Em 2011, a prefeitura firmou termo com o Ministério Público para reduzir os terceirizados, mas a moeda de troca continua, segundo os vereadores.
Parlamentares mais experientes estimam entre 20 e 50 o número de cargos para integrar a base aliada. Vereadores neófitos disputam um volume menor de postos, proporcional ao grau de influência que têm entre colegas. A administração das regionais da cidade – espécie de subprefeituras – é entregue a parlamentares de acordo com o reduto eleitoral.
– Pessoas que constroem a base política são contratadas como forma de manter o controle em cima do vereador, é o empreguismo. O cara é governo desde que tenha cargos na prefeitura – afirma o vereador Iran Barbosa (PMDB).
Mesmo nas capitais em que o prefeito não tem uma situação definida, o poder da máquina fala mais forte sobre os vereadores indecisos.
Brasileiro apoia Bolsa Família, mas considera pouco eficaz
Mais da metade dos brasileiros quer que o Bolsa Família continue. Mas também mais de 50% acreditam que o programa não tira muitas pessoas da pobreza, enquanto quase 40% acham que os pobres continuam pobres mais por falta de esforço do que de oportunidades. O que predomina no Brasil é uma visão de valorização da renda que vem do trabalho. O quadro é apontado por estudo inédito da UFRJ, que levantou a percepção da população adulta do país sobre ações de combate à pobreza e à desigualdade. A pesquisa, feita por amostra, entrevistou 2.200 pessoas no país com 16 anos ou mais.
Sob coordenação da professora Lena Lavinas, do Instituto de Economia da UFRJ, e com participação de pesquisadores de outras instituições, como a UFF, o estudo, financiado pela Finep e com pesquisa de campo realizada em setembro e outubro de 2012, traz como um dos principais resultados a opinião sobre os benefícios concedidos pelo Bolsa Família.
Mais de 60% consideram ser da classe média e 51% se dizem satisfeitos com a vida
Outro destaque do estudo foram as perguntas sobre motivos que explicariam a pobreza e sobre valores de mérito e trabalho. Em relação à afirmação de que o motivo da pobreza é a falta de oportunidades, 23,1% concordaram totalmente, mas percentual maior, 27,2%, discordaram totalmente, ou seja, têm visão mais próxima à de que a pessoa continuaria na pobreza mais por falta de esforço do que de oportunidade.
Em relação a valores de mérito, 81,9% acham que o salário de uma pessoa deve depender da qualidade do resultado do seu trabalho, enquanto 80,9% acham que o salário deve depender do grau de responsabilidade do trabalho – mostrando forte presença de valores de meritocracia.
E a pesquisa quis saber, ainda, se o brasileiro se via satisfeito com sua vida; a qual classe social ele se via pertencendo; e suas expectativas sobre a economia. Mais da metade, 51,7%, disse estar satisfeita com a vida. A maioria da população também se diz pertencer à classe média: 66,5%. E, perguntados sobre a situação econômica daqui a cinco anos, 80,1% acham que ela será melhor ou muito melhor que a atual.
No Brasil, só 5% dos homicídios são elucidados
A meta 2 da Estratégia Nacional de Justiça e Segurança Pública (Enasp) – parceria do Conselho Nacional do Ministério Público (CNMP), do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Ministério da Justiça – previa concluir até abril de 2012 todos os inquéritos abertos até dezembro de 2007 para investigar casos de homicídio. Mas, do total de 136,8 mil inquéritos, apenas 10.168 viraram denúncias e 39.794 foram arquivados. Outros 85 mil inquéritos ainda estão em aberto.
Segundo Taís Ferraz, conselheira do CNMP e coordenadora do Grupo de Persecução Penal da Enasp, o trabalho para concluir essas investigações continua.
– A polícia está fazendo diligências na maioria desses 85 mil inquéritos. Parte deles ainda pode virar denúncia – diz.
Agora, o CNMP também trabalha com inquéritos registrados até 2008. A meta é concluí-los até abril deste ano, mas, até agora, 95% dos inquéritos continuam em aberto. Entre os que avançaram, apenas 246 viraram denúncia.
Para o jurista e ex-promotor de Justiça Luiz Flávio Gomes, o esforço do Ministério Público para resolver os inquéritos inconclusos é louvável, mas os números evidenciam o sentimento de impunidade no país.
-Temos uma média de 5% de resolução de homicídios. No Reino Unido esse número é de 85%, nos Estados Unidos, de 65%. Nosso número é ridículo. Ainda reina uma impunidade muito grande – diz ele.
Justiça volta atrás e aprova contas de Haddad
A Justiça Eleitoral aceitou o recurso apresentado pelo prefeito de São Paulo, Fernando Haddad (PT), e aprovou com ressalvas as contas de sua campanha para o cargo, realizada no ano passado. A decisão, divulgada sexta-feira, é do juiz Paulo Furtado de Oliveira Filho, da 6ª Zona Eleitoral, o mesmo que, em dezembro, havia desaprovado as contas do candidato em função de indícios de irregularidades envolvendo a prestação de serviços para a campanha.
Segundo o magistrado, Haddad apresentou documentos que permitiram a verificação de inconsistências que haviam sido apontadas na análise anterior. Um dos problemas apontados na época era referente à contratação da empresa AJM de Azevedo Eletrônicos-EPP, que recebeu R$ 4,6 milhões para fornecer carros de som e material publicitário. O juiz alegava haver indícios de que a AJM teria fornecido materiais em quantidade acima da sua capacidade de estocagem, pois sua sede está instalada em imóvel de pequeno porte. Havia também suspeitas de pagamentos em duplicidade pelos carros de som. Outro problema apontado era a falta de emissão de nota fiscal eletrônica.
Correio Braziliense
A revolução que brota da terra a 131km do DF
A 131km de Brasília, primeira cidade modernista reconhecida como patrimônio da humanidade, o município goiano de Cristalina se consolida como o maior polo de agronegócio do país. Na última década, a pacata cidade passou por uma verdadeira revolução e cresceu de maneira exponencial. No ano passado, o campo movimentou R$ 1,3 bilhão, um recorde histórico que coloca a cidade no primeiro lugar do ranking do Produto Interno Bruto (PIB) agrícola em todo o país, superando outras localidades do Centro-Oeste e de Minas Gerais.
O potencial de Cristalina, no leste goiano, ainda causa surpresa. Nem as fotos tiradas por Judas Tadeu Medeiros da Silva, 28 anos, convencem os parentes, no interior do Rio Grande do Norte. “O povo é teimoso. Dá vontade de trazer todo mundo pra cá, pra eles verem isso aqui tudo de perto”, diz o potiguar, que, há três anos, trocou a seca nordestina pelo município goiano, onde não falta oportunidade de emprego.
Conhecida até pouco tempo como a terra dos cristais, que atraíam os gringos e garantiam a sobrevivência da cidade, Cristalina virou um paraíso agrícola. A cidade concentra hoje a maior área irrigada da América Latina, um dos segredos de sua produtividade. Na imensidão verde, 635 pivôs centrais permitem o cultivo de 36 culturas diferentes: assim, se planta e se colhe o ano inteiro, com pausas só nos feriados santos.
O clima e a altitude considerados ideais para o solo e os 240 rios e nascentes da região despertaram o interesse de produtores a partir da década de 1980. De lá para cá, fazendas se transformaram em impérios agrícolas e elevaram Cristalina ao topo do ranking do PIB do campo brasileiro, desbancando Petrolina (PE) e São Desidério (BA). Em cinco anos, a riqueza rural da cidade goiana mais que triplicou.
Campanha com o dinheiro da Câmara
A cota da Câmara dos Deputados para custear a atividade parlamentar serviu em 2012 para bancar também gastos de campanha. No ano de eleições municipais, a verba cobriu pesquisas de opinião sobre deputados que foram candidatos, avaliação do eleitor sobre a gestão de aliados e até sondagem do grau de vulnerabilidade de opositores que se lançaram às prefeituras.
O levantamento foi feito pelo Correio nas notas fiscais apresentadas pelos deputados à Câmara, de natureza pública, mas divulgadas apenas parcialmente pela Casa, em descumprimento à Lei de Acesso à Informação. Desde o início da atual legislatura, em fevereiro de 2011, os 513 parlamentares colocaram as mãos em R$ 284,5 milhões da cota parlamentar.
Gastança bem variada
Os deputados federais concordam, a Câmara assina embaixo e os contribuintes pagam a conta do ditado popular que diz que a publicidade é a alma do negócio. Quando o assunto é a divulgação da atividade parlamentar, os gastos dos deputados federais incluem da atualização de sites e de redes sociais a matérias pagas em portais da internet e jornais locais. Também entram na conta a confecção de milhares de panfletos com notícias positivas e até a compra de discursos para pronunciamento no pequeno e no grande expediente da própria Casa legislativa.
Em abril de 2012, o deputado Reinaldo Azambuja (PSDB-MS) pagou R$ 500 para emplacar matérias em um site de Maracaju, cidade de Mato Grosso do Sul que tem menos de 40 mil habitantes. “Teremos a missão de fiscalizar a aplicação eficiente dos recursos públicos”, diz Azambuja em trecho da reportagem intitulada “Deputado Reinaldo Azambuja é eleito 2º vice-presidente da Comissão Mista de Orçamento”.
A número 1 da Esplanada
Considerada a ministra mais bonita da Esplanada, a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, odeia quando a sua descrição começa pela exaltação às características físicas. “É uma forma de esvaziar as qualidades”, reclama ela, que já admitiu, contudo, ter feito plástica nos seios após amamentar, aplicações de botox para amenizar as rugas e orações para que o tempo passe mais devagar. Tenta fugir, mas, desde cedo, a beleza a persegue: o nome Gleisi é uma homenagem à princesa de Mônaco, Grace Kelly. Não aparenta os 46 anos que tem, mantém o estilo de menina do nariz arrebitado e quase sempre deixa uma impressão errada aos seus interlocutores. “Não se engane. Passar a Gleisi para trás é quase impossível”, avisa um assessor palaciano.
Gleisi não é alta, mas manda que nem gente grande. Durante a primeira semana de janeiro, praticamente comandou o país enquanto a presidente Dilma Rousseff estava de férias na Base Naval de Aratu (BA), e o vice-presidente Michel Temer permaneceu em São Paulo. “Na primeira reunião ministerial do ano passado, a presidente deixou claro que Gleisi seria sua grande interlocutora ao avisar que os ministros deveriam reportar-se a ela”, lembrou o assessor.
Louis Vuitton e crediário na Renner
Um dos cartões postais do Paraná, as cataratas de Foz do Iguaçu também são um dos locais preferidos da ministra Gleisi Hoffmann para passear com o marido, Paulo Bernardo, e os dois filhos, João Augusto e Gabriela Sofia. Depois de um início de ano corrido, enquanto a presidente descansava na Bahia, foi lá que o casal ministerial se refugiou para descansar neste fim de semana.Gleisi não é muito de sair. Gosta de filmes, mas tem tido pouco tempo para ir ao cinema. Nunca usou aliança, mas não dispensa um bom vinho ao lado do marido. Se sobrar tempo, passear com as crianças – João tem 11 anos e Gabriela, 7 – é um programa infalível. Dura nas cobranças, não é vista dando broncas em Paulo Bernardo. Mas sabe separar vida profissional da pessoal.
Arapongagem na Abin sem solução
Mesmo diante da veemente cobrança pública feita em setembro do ano passado pelo ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que ordenou absoluto rigor e celeridade na apuração do caso revelado pelo Correio de arapongagem na Agência Brasileira de Inteligência (Abin), a Polícia Federal sequer concluiu a investigação. Na mesma ocasião, Cardozo ressaltou que a apuração em relação ao servidor da Abin que espionava informações dos próprios colegas era prioritária para o governo federal. A informação repassada na época indicava que todos os trabalhos seriam finalizados em um mês. “Isso é uma determinação de governo, ou seja, é uma situação que obviamente exige investigação com rapidez”, afirmou o ministro.
Dilma reúne ministros nesta semana
A presidente Dilma Rousseff deve retomar, nesta semana, as conversas sobre infraestrutura e investimentos, mas agora com os ministros. Na quinta e na sexta-feira passadas, a presidente esteve com empresários e ouviu deles cobranças e sugestões. Correndo contra o relógio para evitar outro “pibinho” em 2013, Dilma se reúne com os titulares das pastas das áreas afins para traçar as novas medidas do governo para estimular a competitividade e o crescimento do país. Ainda não há definição sobre o formato desses encontros. Como muitos ministros ainda estão de férias até amanhã, ela pode intercalar conversas individuais com reuniões setoriais.
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