Folha de S. Paulo
Manifestantes votariam em Barbosa para presidente
O manifestantes da avenida Paulista são favoráveis à democracia e votariam no presidente do STF (Supremo Tribunal Federal), Joaquim Barbosa, para suceder Dilma Rousseff (PT) na Presidência.
A conclusão é de uma pesquisa Datafolha feita na quinta-feira com 551 entrevistas na Paulista, durante ato que celebrou a redução da tarifa.
A margem de erro é de quatro pontos percentuais para cima ou para baixo, o que, no limite, o deixaria empatado com Marina Silva –a segunda colocada, com 22% das menções dos entrevistados.
Estatisticamente, é improvável um cenário de empate nesse caso, diz o Datafolha.
Notabilizado após ter sido relator do processo do Mensalão, Joaquim Barbosa não quis comentar a pesquisa.
Já Marina tenta viabilizar o seu partido, Rede Sustentabilidade, para concorrer ao Planalto em 2014. Dilma recebeu 10% das citações.
PERFIL
O Datafolha traçou também um perfil do manifestante que foi à Paulista na quinta-feira: a maioria absoluta dos participantes dá apoio à democracia (87%).
Apenas 5% disseram que, sob determinadas circunstâncias, uma ditadura é melhor que o regime democrático.
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A maioria dos manifestantes têm entre 21 e 35 anos (63%), têm ensino superior (78%) e não têm partido –72%, contra 84% do ato de segunda-feira passada, iniciado no largo da Batata, na zona oeste de São Paulo. PT e PSDB obtiveram 6% de simpatizantes cada um.
ORIENTAÇÃO
A orientação política do grupo que foi à Paulista está majoritariamente ao centro (31%) e à esquerda (22%), o que se traduz nas posições que defendem: contrários à adoção da pena de morte, ao porte de armas e defensores de a sociedade aceitar o homossexualismo (88%).
Dilma condena ‘minoria autoritária e violenta’ e diz que vai ‘manter a ordem’
Em seu primeiro pronunciamento em rede nacional de rádio e TV sobre os protestos que tomaram conta do país, a presidente Dilma Rousseff afirmou que vai convidar representantes dos manifestantes para conversar porque a “voz das ruas precisa ser ouvida e respeitada”.
Mas disse que os órgãos de segurança “devem coibir, dentro dos limites da lei, toda forma de violência e vandalismo”. “Asseguro a vocês: vamos manter a ordem.”
“Os manifestantes têm direito de questionar tudo e propor mudanças. Mas precisam fazer isso de forma pacífica e ordeira”, completou.
Enfatizando a necessidade de conter cenas de violência, que prejudicam a imagem do país no exterior, Dilma afirmou que “o governo e a sociedade não podem aceitar que uma minoria violenta e autoritária destrua o patrimônio público e privado, ataque templos, incendeie carros, apedreje ônibus e tente levar o caos aos nossos principais centros urbanos”.
Nenhum partido vai ganhar com protestos, afirma FHC
A trilha sonora na sala do apartamento do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, no final da tarde de quinta-feira, era composta por sirenes de carros e pelo barulho dos helicópteros que passavam a caminho dos protestos na avenida Paulista.
“As passeatas vão ser grandes?”, perguntou à Folha. Aos 82 anos, completados na semana passada, o presidente está lançando um novo livro, sobre intelectuais que elaboraram grandes teorias sobre o país. Mas ele diz que nenhum teórico do passado poderia entender o que acontece hoje nas ruas.
Mais que isso, acredita que os políticos não têm condições de compreender a “insatisfação genérica” nem de capitalizá-la. “Tenho dúvidas se os partidos vão ter capacidade de captar tudo isso e transformar ao menos sua mensagem”, diz. Leia a seguir trechos da entrevista.
Tucano reúne ensaios sobre autores que o influenciaram
Sexto livro lançado por Fernando Henrique Cardoso desde que ele deixou a Presidência, o volume “Pensadores Que Inventaram o Brasil” (Companhia das Letras) reúne textos feitos entre 1978 e março do ano passado.
Os 18 ensaios do livro tratam de velhos conhecidos de Cardoso, o sociólogo.
São antigos professores seus, como o sociólogo Florestan Fernandes (1920-1995), amigos, como o historiador Sérgio Buarque de Holanda (1902-1982), ou autores de seu cânone pessoal, como o político e diplomata Joaquim Nabuco (1849-1910).
Em comum, todos publicaram livros que propõem grandes leituras do que é (ou foi) o Brasil, como “Casa Grande & Senzala”, de Gilberto Freyre (1900-1987), e “Formação Econômica do Brasil”, de Celso Furtado (1920-2004).
O único texto inédito, feito para o livro, aborda a obra do historiador e sociólogo Raymundo Faoro (1925-2003), autor de “Os Donos do Poder”.
Para ex-presidente, país já não se satisfaz apenas com consumo
Para o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso um dos motivos centrais que levaram aos protestos populares das últimas semanas é um fator que ele batizou com o codinome “anti-China”.
“Desde o governo Lula estamos vivendo um estilo de crescimento que é o oposto ao dos chineses. Lá fazem poupança e investem. Aqui consome-se sem investir. A rua está dizendo: não basta o consumo, quero mais.”
Cardoso chama a atenção para o fato de que no Brasil não há ditadura e opressão, como no chamado mundo árabe, nem desemprego, como na Europa.
“Só dividimos com países como Espanha e Itália a crise de representação política.”
Ele acredita que os partidos estão falando sozinhos.
Congresso prepara agenda positiva em resposta a protestos
Em tentativa de responder às manifestações de rua em todo o país, o Congresso Nacional planeja tirar da gaveta projetos que atendam à agenda dos protestos, que cercaram duas vezes na semana a sede do Legislativo.
Os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), encomendaram às assessorias levantamento de medidas em tramitação nas duas Casas que contemplem a “pauta das ruas”.
A ideia é resgatar propostas para as áreas de segurança, saúde, educação e transporte público.
Após rodada de conversas com o vice-presidente, Michel Temer, peemedebistas insistiam também na votação da medida provisória que define a distribuição dos royalties do pré-sal e do FPE (Fundo de Participação dos Estados).
Especialistas aprovam liberação de projeto
Especialistas em direito constitucional ouvidos pela Folha aprovaram a decisão do STF (Supremo Tribunal Federal) de permitir a tramitação de projeto de lei no Senado Federal que cria restrições a novos partidos.
Em uma votação que apontou placar de 7 a 3, os ministros do STF negaram pedido para que o andamento da proposta legislativa fosse interrompido pela corte.
O projeto de lei cria obstáculos para que novas legendas recebam recursos do Fundo Partidário, entre outros benefícios garantidos aos partidos já constituídos.
De acordo com o advogado e ex-ministro do STF Carlos Velloso, a decisão de ontem foi “correta e ajustada à jurisprudência do Supremo Tribunal Federal”.
Sem ambiente para festa, Aécio cancela incursão pelo Nordeste
A tensão política das últimas duas semanas levou o senador Aécio Neves (PSDB-MG) a adiar a viagem que faria a partir de amanhã para Pernambuco e Paraíba, onde iria aproveitar as festividades do São João para incursão política pelo Nordeste.
Provável candidato tucano à Presidência em 2014, Aécio iria a Caruaru (PE) e a Campina Grande (PB), que disputam a condição de “maior festa de São João do país”.
Em Pernambuco, Aécio estaria com o governador Eduardo Campos (PSB), seu potencial concorrente na corrida presidencial do próximo ano.
Aécio telefonou para Campos ontem para explicar os motivos da sua desistência.
O tucano entende que o clima político atual do país não é propício a aparições em ambientes festivos, motivo pelo qual preferiu adiar a viagem, em data a ser ainda marcada.
Pacote contra seca tarda a chegar aos 10 milhões afetados
Anunciado há dois meses pela presidente Dilma Rousseff, o último pacote de medidas contra a seca, estimado em R$ 9 bilhões, demora a chegar ao semiárido.
A entrega de milho atrasou, cisternas estão abandonadas ou apresentam problemas, a oferta de carros-pipa não teve o aumento prometido e apenas 30% dos recursos para perfuração de poços foram liberados.
Diante da maior seca dos últimos 50 anos, que afeta dez milhões de pessoas em 1.418 municípios do norte de Minas Gerais e do Nordeste, foram as poucas chuvas que aliviaram a situação. As precipitações fizeram crescer vegetação rasteira que alimentou os rebanhos, mas foram insuficientes para que houvesse colheita.
Governo tem de se preparar para protestos na jornada, diz ministro
A uma plateia de organizadores da Jornada Mundial da Juventude, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) afirmou ontem que os protestos pelo país podem afetar o evento, mas disse que o governo está “atento” às demandas dos manifestantes.
“Nós temos que estar preparados para a jornada acontecer inclusive num clima em que esteja ocorrendo manifestações no país”, afirmou o ministro.
Carvalho é responsável no governo pela interlocução com os movimentos sociais.
O evento católico será realizado no Rio de Janeiro entre os dias 23 e 28 de julho e terá a presença do papa Francisco.
A previsão é a de que o pontífice seja recebido no Rio pela presidente Dilma Rousseff e, entre outros compromissos, visite uma favela no Rio e vá a Aparecida (SP).
Votar ‘cura gay’ foi um erro, diz presidente da Câmara
O presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), disse ontem considerar “absurda” a aprovação do projeto que permite aos psicólogos realizar tratamentos para promover a “cura” da homossexualidade.
Eduardo Alves admitiu ainda que foi um erro votar essa proposta –em sua opinião “sem sentido”– em meio à onda de protestos no Brasil.
Sob o comando do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP), a Comissão de Direitos Humanos da Câmara aprovou na terça-feira o projeto, conhecido como “cura gay”. O texto terá que passar ainda por outras duas comissões da Casa antes de ir para votação no plenário.
Para o presidente da Câmara, o projeto mostra um “erro de ótica”. “É um absurdo isso. É uma coisa sem sentido tratar [a homossexualidade] como uma doença. Temos que respeitar esse segmento da sociedade que não se considera doente e não considera isso uma doença.”
O Globo
Dilma propõe pacto político e chama líderes de protestos
Com o avanço da onda de protestos pelo país, a presidente Dilma Rousseff quebrou o silêncio e convocou cadeia nacional de rádio e televisão para dar apoio às manifestações pacíficas e condenar, com veemência, a violência. Dilma disse que o governo ouve as vozes das ruas, mas que vai agir com firmeza para manter a ordem e evitar o caos e a arruaça nas cidades brasileiras. Para tentar atender a principal reivindicação dos manifestantes, a presidente afirmou que vai se reunir com os dirigentes do Legislativo, com governadores e prefeitos, e com representantes do movimento pacífico para fazer um pacto de melhoria dos serviços públicos. Defendeu uma reforma política para “oxigenar o sistema político”, combater a corrupção e valorizar os partidos políticos, que foram duramente atacados nas ruas.
– Irei conversar, nos próximos dias, com os chefes dos outros Poderes para somarmos esforços. Vou convidar os governadores e os prefeitos das principais cidades do país para um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos – disse Dilma. – Vou receber os líderes das manifestações pacíficas, os representantes das organizações de jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores, das associações populares. Precisamos de suas contribuições, reflexões e experiências, de sua energia e criatividade, de sua aposta no futuro e de sua capacidade de questionar erros do passado e do presente.
A presidente comentou a oportunidade de aproveitar “o vigor” das manifestações para produzir mais mudanças que beneficiem o conjunto da população brasileira.
Conversas com Lula, ministros e governadores
A decisão da presidente Dilma Rousseff de falar em rede nacional só foi tomada após muitas reuniões e dezenas de telefonemas. A demora dá a dimensão da dificuldade do governo e de todo meio político para compreender os protestos e oferecer uma resposta a eles. Nos últimos dias, com a ampliação do tamanho e da violência das manifestações, a presidente passou a conversar não só com integrantes do governo, mas também com os ex-ministros Franklin Martins e Antonio Palocci, além de falar com frequência com o ex-presidente Lula, que, por sua vez, está conversando, por telefone, com governadores e líderes políticos país afora, em busca de apoio.
Após os protestos barulhentos de quinta-feira, ontem o dia foi longo no Planalto. Dilma começou recebendo os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo; do Esporte, Aldo Rebelo; e o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, que relataram a situação pelo país e, em especial, garantiram que não haveria riscos para a continuidade da Copa das Confederações.
Planalto teme que protestos persistam até vinda do Papa
O governo e a Igreja Católica estão preocupados com os efeitos das manifestações populares na Jornada Mundial da Juventude (JMJ), que ocorre a partir de 22 de julho, no Rio, com a participação do Papa Francisco. Há um temor de que os protestos persistam até o evento, ou que sejam retomados no período. Ontem, o ministro Gilberto Carvalho (Secretaria-Geral da Presidência) disse se preocupar que os episódios de violência dos últimos dias comprometam a realização da Jornada. Em reunião preparativa para a Jornada, ontem de manhã no Palácio do Planalto, o ministro alertou:
– Temos que estar preparados para a Jornada acontecer inclusive num clima em que estejam acontecendo manifestações no país. Dilma está preocupada com isso. E vamos conclamar a sociedade brasileira para tomar medidas de contenção – disse aos participantes da reunião, fechada à imprensa.
A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) também demonstrou preocupação, mas espera que o governo assegure que o evento transcorra sem riscos aos participantes.
– O governo tem a responsabilidade de garantir a realização da Jornada. É um evento mundial, com a presença do Santo Padre, e cabe ao Estado garantir segurança e tranquilidade. Mas acho que as manifestações não vão prejudicar – disse o presidente da CNBB, Dom Raymundo Damasceno, pouco antes de audiência com a presidente Dilma Rousseff. – Sabemos que a violência afasta os turistas. Onde há risco, é prudente que não se vá. Mas acredito que essa não será a grande motivação da ausência de pessoas da Europa.
Governistas e oposição cobram reação firme
O imobilismo e a demora do governo em se manifestar sobre os protestos de rua levaram políticos governistas e de oposição a cobrarem desde as primeiras horas do dia uma reação mais efetiva da própria presidente Dilma Rousseff. Alguns aliados diziam, reservadamente, que o governo estava desorientado e deveria agir com firmeza para acalmar a população. Antes do pronunciamento da presidente na TV, em nome da oposição, o presidente do PSDB e presidenciável Aécio Neves (MG) cobrou que ela falasse à nação. Das tribunas do Senado e da Câmara, os poucos presentes cobraram providências.
O deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), um aliado crítico do Planalto, falou de arrogância e cobrou compromissos com reformas verdadeiras:
– Os governos sempre têm um padrão de arrogância, e o governo Dilma não está diferente. O governo está desorientado e precisa tirar a cera do ouvido. Todo mundo se acha acima da discussão política, mas a população quer, sim, reforma tributária, porque acha que paga muito imposto, e não quer o loteamento de cargos. Ou o governo desperta para a necessidade da política em termos orgânicos, ou continua na prática do “é dando que se recebe”.
No meio da tarde, Aécio cobrou, por nota: “Tendo em vista a dimensão alcançada pelos últimos eventos, o país continua aguardando a palavra da presidente da República aos brasileiros”. O próprio tucano decidiu cancelar, em razão da crise, viagens para um roteiro de festas juninas mais tradicionais do Nordeste que havia programado para o fim de semana, quando encontraria o governador e também candidato à Presidência, Eduardo Campos (PSB).
Especialistas reprovam ação da polícia no Rio
Apesar de admitirem a complexidade de se lidar com manifestações como a de anteontem no Centro, especialistas em segurança pública ouvidos pelo GLOBO acreditam que as cenas de violência demonstram despreparo da polícia. Para o antropólogo Roberto Kant de Lima, do Instituto de Estudos Comparados em Administração de Conflitos (Ineac) da UFF, a ação repete um comportamento já característico das forças de segurança no estado.
– A polícia costuma atuar nos conflitos como protagonista. Vira partícipe, não está acostumada com mediações. É uma tradição da eficácia do controle repressivo.
Kant acrescenta que também não houve uma estratégia definida:
– Houve ações contraditórias, ora agindo mais passivamente, ora de forma radical. O objetivo deveria ser manter a segurança da população e eventualmente coibir depredações.
Cariocas vivem um dia de boataria e medo
Após as cenas de vandalismo e terror ocorridas na longa noite de quinta-feira, em diferentes pontos da cidade, os cariocas foram tomados de assalto ontem por uma onda de boataria e medo, que se espalhou na velocidade da luz e se disseminou, claro, nas redes sociais. As informações, que ninguém sabia de onde partiam, davam conta de novas manifestações seguidas de quebra-quebra, arrastões… Umas se confirmaram, outras não. A sensação de insegurança alterou rotinas escolares e fez lojas fecharem as portas.
O sobressalto foi tanto que a Polícia Militar usou sua página oficial no Twitter (@Pmerj) para desmentir informações falsas. Os cidadãos tuitavam perguntas e a corporação não demorava a esclarecer. Foram criadas duas hashtags: #éboato e #éverdade – inspiradas em uma iniciativa criada pelo jornal “Extra” em novembro de 2010, durante os ataques de traficantes à população.
Neide Iamaguti, mãe de Rodrigo, de 10 anos, aluno do Colégio Cruzeiro, no Centro, tentou não se render às informações desencontradas, mas ficou tensa:
– Quando fui levar meu filho no transporte escolar, o motorista me perguntou se eu realmente iria mandá-lo para o colégio, pois a maioria dos pais tinha optado por deixar as crianças em casa. Havia o boato de que o Centro seria, novamente, palco de manifestações. Acabei deixando ele ir, mas na hora da saída, resolvi eu mesma buscá-lo.
Morte de gari, em Belém, é a segunda na onda de protestos
A gari Cleonice Vieira de Moraes, de 54 anos, morreu ontem em Belém (PA) após as manifestações que ocorreram na última quinta-feira. A servidora pública foi a segunda vítima decorrente dos protestos realizados por todo o país. Em Ribeirão Preto (SP), Marcos Delefrate, de 18 anos, morreu atropelado. Identificado pela polícia como autor do atropelamento, o empresário Alexsandro Ishisato Azevedo, de 37 anos, continua foragido. Ele responde a cerca de 20 processos, sendo cinco deles criminais. A Justiça decretou a prisão de Azevedo na noite de ontem.
Em Belém, segundo Marinete Costa, sobrinha de Cleonice, a gari teria inalado gás lacrimogêneo lançado pela polícia no confronto. Ela passou mal e foi levada para um pronto-socorro da cidade, mas morreu após duas paradas cardíacas.
O IML de Belém não confirmou a causa da morte de Cleonice, que era hipertensa. O laudo deverá ser divulgado em 10 ou 15 dias. A polícia não se pronunciou sobre o caso. Cleonice estava trabalhando na varrição no momento do protesto. Durante o corre-corre, ela e outros garis tentaram se proteger dentro de um depósito, na sede da prefeitura. O local, porém, foi invadido pelos manifestantes. Na tentativa de dispersá-los, a polícia usou bombas de gás lacrimogêneo. Ela passou mal, desmaiou e teve duas paradas cardíacas.
Atos em SP afetam aeroporto e rodovias
Em diversos atos por São Paulo, manifestantes fecharam rodovias, bloquearam avenidas, protestaram em frente ao Instituto Lula e ocuparam a área externa do Aeroporto Internacional (Cumbica), fazendo com que passageiros e funcionários ficassem reféns dentro do terminal, sem poder entrar ou sair.
O aeroporto fechou as portas, já na noite de ontem, depois que um grupo de oito mil pessoas marchou pela Rodovia Presidente Dutra, até chegar ao terminal. No caminho, passageiros com voo marcado tiveram de descer de táxis e carros particulares e seguiram a pé por quilômetros, muitos carregando bagagem.
– Ninguém consegue sair, estamos todos presos aqui – disse ao GLOBO uma comissária de bordo que preferiu não se identificar e que havia acabado de chegar a Cumbica, no início da noite.
As portas do aeroporto foram fechadas e a Tropa de Choque da Polícia Militar montou um cordão de isolamento. O quartel da Aeronáutica em Cumbica também ficou de prontidão. A GRU, empresa que administra o aeroporto, informou que as pessoas foram aconselhadas a não deixar o local porque não havia meio de transporte, já que a Rodovia Hélio Smidt, que leva a Cumbica, estava fechada pelos manifestantes.
Protestos são marcados para hoje e amanhã
A internet continua sendo palco para a marcação de protestos. Agora, parece surgir uma outra onda depois do Movimento Passe Livre. As manifestações estão marcadas para este fim de semana, em eventos que vêm sendo chamados de “Dia do Basta à Corrupção”. A principal reivindicação é a não aprovação da PEC 37, que limita o poder de investigação do Ministério Público. Ao todo, 287 mil pessoas já haviam confirmado, por meio do Facebook, presença nos atos.
Em São Paulo, o protesto acontece hoje, às 15h, no Museu de Arte de São Paulo (Masp). No Rio, o evento ocorre amanhã no posto 4 da Praia de Copacabana, às 16h. Até ontem à noite, 30 mil pessoas haviam confirmado presença no Rio e, em São Paulo, 222 mil. Há ainda manifestações marcadas para este fim de semana em Curitiba, Juiz de Fora, Belo Horizonte e Maceió. Em outras cidades, os atos acontecerão em dias de semana.
Em Brasília, o protesto está marcado para o dia 26, data inicialmente marcada pelo presidente da Câmara dos Deputados, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), para analisar a PEC 37, cuja votação foi adiada em meio às manifestações. Cartaz de “não à PEC 37” era um dos mais vistos nos atos dos últimos dias.
Texto publicado no Facebook pelo grupo “Dia do Basta à Corrupção”, que ajuda a organizar a manifestação, pontua que “Paulo Maluff (sic) é a favor da PEC 37 – Pec da Impunidade” e pergunta “você está com ele?”. O grupo diz que fará outra manifestação, de apoio e vigília, nos dias 25 e 26 de junho, quando pode ocorrer a votação da PEC.
Manifestantes fizeram atos em 438 municípios brasileiros
Levantamento da Confederação Nacional de Municípios (CNM) divulgado ontem revela que foram realizadas manifestações anteontem em pelo menos 438 municípios do país. A entidade estima que a mobilização contou com a participação de mais de dois milhões de pessoas. Em algumas cidades, o foco principal dos vândalos foram as prefeituras e as câmaras de vereadores.
A prefeitura de Belém, por exemplo, foi uma das que sofreu com o vandalismo. O município ainda não estimou o custo do prejuízo. Lá, vidraças foram quebradas, a lateral do prédio foi pichada e pintaram a fachada. Pedras quase causaram danos em obras de arte do museu do Museu de Artes de Belém (MABE), localizado no interior da prefeitura. Houve tentativa de arrombamento.
Ao contrário de Belém, Porto Alegre tem os prejuízos, causados nos dois atos realizados esta semana, na ponta do lápis: R$ 825 mil. O prefeito José Fortunati, que também é presidente da Frente Nacional dos Prefeitos (FNP), destacou que os prefeitos das cidades atingidas por vandalismo e violência estão preocupados e aguardam as manifestações do governo federal. Apenas anteontem, os novos choques entre a Brigada Militar e manifestantes deixaram 15 feridos. Vinte pessoas foram presas. Balanço da Secretaria de Segurança apontou ataques a três prédios públicos, sete bancos e 25 estabelecimentos comerciais.
A prefeitura de Vitória informou que a estimativa de gastos para reparar os danos é de quase R$ 3.500, com seis placas e 11 semáforos destruídos pelos vândalos. Na praça de pedágio da Terceira Ponte, colocaram fogo nas cabines e o dinheiro foi roubado. O pedágio não funcionou ontem por causa da depredação.
Após ataques, Brasília reforça segurança
Após a tensão da noite de anteontem, com quebra-quebra e confronto com a polícia durante a manifestação que levou 60 mil pessoas às ruas em Brasília, a Esplanada dos Ministérios exibia na manhã de ontem um cenário de destruição que era visto no Itamaraty, sede do Ministério das Relações Exteriores, em quatro outros ministérios e até mesmo na Catedral Metropolitana, que foi recentemente restaurada.
No total, 94 pessoas ficaram feridas, sendo 12 policiais e 82 civis. Oito deles foram levados para o Hospital de Base, inclusive um que foi atingido por pedrada e outro por garrafada. Mas todos foram liberados depois de atendidos.
A Polícia Civil deverá abrir inquérito para descobrir a identidade de um grupo de rapazes que quebrou vidraças, lançou bombas incendiárias e tentou invadir o Itamaraty, num dos momentos mais tensos do protesto. A polícia suspeita que pelo menos 10 dos invasores faziam parte do grupo que inflamou os protestos com sistemáticos ataques a policiais ao longo de oito horas de manifestação.
Em repúdio ao vandalismo, servidores abraçam Itamaraty
Em um ato de repúdio aos ataques de vândalos, os funcionários do Ministério das Relações Exteriores abraçaram o Palácio do Itamaraty ontem à tarde. O ato de abraço simbólico foi sugerido pelos próprios servidores da instituição, que teve 60 vidraças quebradas nos primeiro e segundo andares e recebeu pichações.
– Foi um ato de vandalismo covarde, mas um ato isolado. Gostaria de dizer aos jovens que façam manifestações de maneira pacífica e suas vozes serão ouvidas e respeitadas. Destruindo o patrimônio público, vocês não serão respeitados – disse o chanceler Antonio Patriota.
Ele recebeu a solidariedade dos ministros da Defesa, Celso Amorim, e da Secretaria de Direitos Humanos, Maria do Rosário. Amorim evitou fazer declarações. Maria do Rosário disse que o governo não apoia manifestações violentas e negou que a democracia esteja ameaçada:
– A sociedade brasileira é bastante madura. Mas é bom lembrar que nenhum tipo de manifestação violenta é democrática. Os atos de violência são sempre de força, mesmo quando surge de dentro do movimento e não do Estado.
Heróis armados com extintor e bandeira do Brasil
A ação para impedir a invasão do Itamaraty, um dos prédios mais emblemáticos da capital, deu status de herói aos cabos André Vargas e Wesley de Almeida, da PM do Distrito Federal. Com duas armas nada convencionais, um extintor de incêndio e uma bandeira do Brasil, os dois conseguiram deter parte da multidão violenta que tentou invadir e depredar a sede do Ministério das Relações Exteriores.
Os dois cabos e outros cinco policias que faziam o cordão de isolamento do Itamaraty durante as manifestações foram cumprimentados pelo governador Agnelo Queiroz, numa solenidade especialmente dedicada a eles no comando geral da Polícia Militar.
No momento mais tenso, um grupo de manifestantes avançou em direção a uma das entradas do prédio com pedras, barras de ferro e pelo menos uma bomba incendiária. Nesse instante, o cabo Vargas pegou um extintor de incêndio que estava por perto, apagou rapidamente o fogo que começava a se espalhar e, no meio da confusão, teve a ideia de disparar o jato de gás carbônico contra os invasores.
Imediatamente foi aberta uma clareira na multidão. As cenas foram captadas por câmeras de TV que acompanhavam ao vivo uma das ações mais ousadas dos manifestantes desde o início da onda de protestos, na semana passada.
Discordâncias internas prejudicam mobilização
A violência contra militantes de partidos levou o Movimento Passe Livre (MPL), organizador dos primeiros protestos, a abandonar a mobilização dos atos. Para o cientista social e pesquisador da FGV Fernando Lattman-Weltman, as organizações políticas têm o direito de participar das discussões sobre o futuro das manifestações, até para ajudar na elaboração de novas pautas. Na sua opinião, a atitude tomada por alguns manifestantes demonstra a falta de conhecimento sobre a estrutura política do país.
– Para a democracia funcionar, ela precisa dos partidos. Uma coisa é reduzir o preço da passagem, outra é discutir a fundo o problema do transporte público. É muito bonito colocar milhões de pessoas nas ruas, mas isso não resolve a questão – afirma.
No início, o movimento pedia a redução das tarifas de ônibus, objetivo que foi alcançado em quase 60 cidades. No vácuo de uma proposta concreta e tangível, surgiram diversas bandeiras, muitas delas antagônicas. Para o cientista político, a definição de novos objetivos é essencial para a continuidade dos protestos.
Segundo Lattman-Weltman, o movimento passa por um processo de polarização, tanto interno como externo, que pode culminar com o esvaziamento dos atos. No momento, explica, surgem propostas e táticas divergentes, assim como um recrudescimento dos atos violentos contra a polícia e as instituições públicas.
Movimento Passe Livre anuncia fim de atos na rua
Organizar novas bandeiras e buscar a redução da tarifa do transporte público em cidades que ainda não revogaram reajustes. As diretrizes foram tiradas pelo Movimento Passe Livre (MPL), ainda ontem à noite, após o encerramento do ato que comemorou na Avenida Paulista a revogação do aumento da tarifa em São Paulo. Ainda na madrugada, o grupo divulgou uma nota nas redes sociais anunciando oficialmente a saída do movimento das ruas, por enquanto.
– Dada a conquista da revogação da tarifa em São Paulo, é momento agora de debate, de abrir para a sociedade e construir as próximas pautas. (A retirada das ruas) é questão estratégica do movimento – afirmou ao GLOBO o estudante de Filosofia Marcelo Hotimsky, 19 anos, um dos líderes do MPL.
Em relação às manifestações que estão nas ruas com reivindicações das mais diversas, Hotimsky disse que o MPL não se juntará a elas, apesar de ser parceiro de muitos movimentos. Segundo ele, não é porque o MPL deflagrou a onda de atos que tem que continuar nas ruas.
Manifestantes temem novas ações de violência
Saem as flores, entram as bombas. A violência deflagrada em diversas cidades do país após as manifestações que reuniram mais de um milhão de pessoas na noite de ontem, aliada ao receio de um possível uso político dos atos, fez um sinal amarelo acender nas cabeças de muitos adeptos dos protestos. Após o anúncio de que o Movimento Passe Livre (MPL), que deu origem às manifestações contra o aumento das tarifas de transporte, não estaria mais à frente dos atos, uma onda de críticas ao esvaziamento ideológico tomou as redes sociais. A proliferação de petições pelo impeachment de governantes, o vandalismo desenfreado e até a convocação de uma greve geral via Facebook espalharam receio quanto ao rumo dos protestos.
A falta de propostas definidas e a aparente folia coletiva motivada pelas manifestações deixaram o advogado Gabriel Reis, de 28 anos, receoso. Doutorando em Direito Internacional, ele acredita que a hostilidade em relação aos partidos políticos, as tentativas de invasão de prédios de instituições simbólicas como o Congresso Nacional e os atos de vandalismo vistos na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj) podem indicar interesses políticos por trás do discurso antipartidário.
– Os movimentos são ambíguos e de difícil compreensão. Começaram de uma forma bem bonita, e a maior parte deles ainda é assim. Mobilização social democrática é algo incrível, mas certos ataques às instituições da República e à pluralidade partidária por alguns grupos minoritários me preocupam – diz Reis, que esteve na Avenida Paulista na segunda-feira, mas preferiu assistir ao ato de quinta-feira pela televisão. – Tive receio de ser um peão em um tabuleiro, utilizado como massa de manobra por algum interesse oculto de alguém que ainda não consigo identificar.
Senado quer votar mais isenções para transporte
Apesar de o ministro Guido Mantega (Fazenda) ter afirmado que não há mais espaço nas contas do governo federal para desonerações, a base aliada no Senado pretende votar novas isenções fiscais para transporte público na semana que vem. Relator da Medida Provisória (MP) 610/2013, o líder do PMDB, senador Eunício Oliveira (CE), avisou que pretende incluir no texto isenção de PIS/Cofins para o óleo diesel.
Também poderá ser votado outro projeto, que está na Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado e que institui o Regime Especial de Incentivos para o Transporte Coletivo Urbano e Metropolitano de Passageiros (Reitup) – também desonera o diesel do transporte urbano, além de conceder isenção de tributos federais para veículos, pneus e chassis. A matéria está na pauta da próxima terça-feira da Cae.
– Se a área econômica quer desonerar carro de luxo, por outro lado tem que desonerar também para quem tem pouco. O transporte público é muito ruim – disse Eunício, que se reunirá com Mantega na segunda-feira.
O próprio governo não se entende. No início da semana, em meio à onda de manifestações e antes de diversos prefeitos e governadores anunciarem redução da tarifa, a ministra Ideli Salvatti (Relações Institucionais) deu aval para a votação do projeto do Reitup na CAE.
Dois dias depois, Mantega implodiu a proposta que, mesmo assim, continua na pauta da CAE, e ainda garantiu que o governo não cederia mais – um discurso considerado inoportuno para o momento político e considerando as críticas dos manifestantes a alta carga tributária do país. A presidente considerou inapropriada a entrevista coletiva convocada por Mantega para dizer que não há mais espaço para desonerações federais.
EUA e Reino Unido monitoram ‘de perto’ as manifestações
As manifestações sociais e a escalada da violência dos protestos que já duram dias começam a preocupar os governos de outros países, que, discretamente, demonstram inquietação. A Casa Branca está “monitorando de perto” a onda de protestos no Brasil, por meio de seu Departamento de Estado, e o Foreign Office (ministério das relações exteriores britânico) afirmou que “o Reino Unido apoia o direito de protestar pacificamente e está monitorando de perto a situação”.
A avaliação de funcionários de alto escalão do governo dos EUA, que estão desenhando o cenário para a equipe do presidente Barack Obama, é que os protestos, por serem majoritariamente pacíficos e reconhecidos como legítimos pela presidente Dilma Rousseff, expressam, por ora, apenas o “caráter vibrante” da democracia brasileira. Nos círculos políticos da capital americana, já se especula os efeitos do descontentamento social nas eleições de 2014.
– Liberdade de expressão e de reunião são elementos vitais de qualquer democracia vibrante. Protestos pacíficos são maneiras legítimas de apresentar demandas e o governo brasileiro expressou apoio ao direito dos brasileiros de realizá-los. Temos uma forte parceria com o Brasil e buscamos aprofundar esta parceria, em uma gama de assuntos que suscitam a preocupação global – afirmou ao GLOBO um graduado funcionário do governo Obama.
Nas conversas, a administração demonstrou cuidado para afastar qualquer caracterização dos eventos como uma crise política.
O Estado de S. Paulo
Dilma aciona governos e nega crise institucional
Menos de 24 horas depois dos protestos em 13 capitais que levaram às ruas 1 milhão de pessoas, a presidente Dilma Rousseff montou uma estratégia para sair do cerco político. Além de comandar uma reunião com ministros, no Palácio do Planalto, para avaliar o impacto das manifestações no País, Dilma telefonou para governadores e prefeitos, na tentativa de construir um pacto para estancar o clima de insegurança nas ruas, e negou a existência de “crise institucional” no País.
Ministros não esconderam da presidente a preocupação de que protestos despolitizados comecem a ameaçar as instituições. No encontro, todos mostraram perplexidade com as cenas de vandalismo verificadas no dia anterior, com saques de lojas, incêndios, agressões a ativistas e depredações de ministérios e do Banco Central, mesmo após a redução das tarifas de transporte no País.
Segundo relatos de dois ministros presentes ao encontro no Planalto, Dilma afirmou não haver risco de deterioração do quadro institucional brasileiro, embora tenha considerado os protestos um sinal de que o governo precisa agir e não ficar a reboque das manifestações.
Um ministro que participou da reunião reconheceu que se trata de um “momento de alerta”. Mas afirmou que, dentro do governo, “há consciência de que tem de haver uma resposta, que não cabe só ao Executivo, mas também ao Legislativo e ao Judiciário”.
Ministro culpa ‘moralismo’ da imprensa por protestos violentos
Um dia após a intensificação de protestos em todo o País, que culminou com a depredação do Palácio Itamaraty, o ministro-chefe da Secretaria-Geral da Presidência, Gilberto Carvalho, afirmou ontem que a imprensa estimula um atipo de moralismo no sentido despolitizado77 e um “tipo de antipolítica que leva a isso que está acontecendo”
Carvalho também reconheceu que a onda de protestos no Brasil pode afetar a Jornada Mundial da Juventude, prevista para ocorrer de 23 a 28 de julho no Rio de Janeiro com a presença do papa Francisco.
“Estamos vivendo um momento muito particular para o País. Temos de ter suficiente autocrítica, abertura de espírito para perceber o que as manifestações estão nos dizendo”, disse o ministro, durante reunião preparatória para a Jornada Mundial da Juventude, evento organizado pela Igreja Católica.
Apesar do cerimonial do Planalto ter reservado uma área para a imprensa, apenas cinegrafis-tas puderam acompanhar parte do discurso do ministro na reunião o restante do conteúdo foi divulgado pela própria assessoria da Secretaria-Geral.
O governo tem enfrentado dificuldades para lidar com a explosão de manifestações no País. A presidente Dilma Rousseff se irritou com a postura do presidente do PT, Rui Falcão, que conclamou militantes do partido para irem às ruas ajunto com os jovens”. Petistas e militantes de siglas de esquerda, no entanto, acabaram hostilizados por manifestantes contrários à partidarização do movimento.
“Quando se grita “sem partido”, nós vemos aí um grande pedido. E não há democracia sem partido. Não há democracia sem uma forma mínima de instituição. Sem partido, no fundo, é ditadura. Temos de ficar muito atentos a isso”, destacou Carvalho. “E um momento de convidar a sociedade para que haja uma disputa pela democracia de verdade, que se faça representar por partidos que, de fato, representem o povo e que não compactuem com a corrupção”
Congresso prepara ‘agenda positiva’
Um dos alvos da onda de protestos pelo País, o Congresso prepara uma “agenda positiva” para tentar melhorar sua imagem. Dirigentes da Câmara e do Senado querem chamar para os parlamentares a responsabilidade de elaborar um Código de Mobilidade Urbana o mais rápido possível. Líderes partidários nas duas Casas foram convocados a elaborar uma nova pauta a ser votada em breve. Todas as sugestões já pensadas dizem respeito a bandeiras erguidas durante as manifestações. Entre elas, a medida provisória que destina 100% dos royalties do pré-sal para a educação, o Plano Nacionai de Educação e a ampliação de itens isentos de PIS/Cofins para empresas de transporte coletivo.
Também já está decidido que serão postos na gaveta a proposta que tira poderes de investigação do Ministério Público (PEC 37), a emenda constitucional que submete decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) ao Legislativo e o projeto da chamada “cura gay”. Durante as manifestações de rua, esses projetos foram muito criticados.
Os presidentes da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), e do Senado, Renan Calheíros (PMDB-AL), também querem que o Congresso faça um amplo debate sobre mobilidade urbana. “Independentemente de Copa da Fifa, nós temos de criar um conjunto de propostas que visem a acabar com o caos urbano que tumultua a vida dos brasileiros das cidades médias e grandes há tanto tempo” disse o líder do PT, José Guimarães (CE). “Desse debate urgente têm de participar o poder público, sociedade civil e grandes empresários da área de transporte”, afirmou.
Atos podem evitar revisão de penas do mensalão, avaliam advogados
As repercussões das manifestações que tomam as mas de vários Estados, tendo como uma das bandeiras o combate à corrupção, passaram a ser vistas por advogados que atuam no processo do mensalão como uma pressão em potencial ao Supremo Tribunal Federal para a manutenção das penas dos condenados.
O Estado ouviu nos últimos dois dias cinco advogados de réus do mensalão. A possibilidade de redução das penas, livrando alguns dos principais réus do regime fechado, e as chances de novo julgamento para alguns dos condenados poderiam transferir o palco dos protestos para a porta do Supremo. Internamente, ministros contrários à revisão das penas já antecipam, em conversas reservadas, que a redução das punições e o adiamento da conclusão do processo para 2014 não serão bem recebidos pela opinião pública.
Entre os ministros, é dado como certa a possibilidade de novo julgamento para parte dos condenados, incluindo o ex-ministro cia Casa Civil José Dirceu – apontado como mentor do esquema do mensalão. Da mesma forma, vários ministros consideram que o tribunal terá de acolher parte dos recursos movidos pelos réus, o que também poderia. acarretar a redução das penas impostas no ano passado. O julgamento dos primeiros recursos dos réus está previsto para o segundo semestre, conforme anunciado pelo presidente do STF, Joaquim Barbosa.
Advogados que recentemente despacharam com ministros do Supremo afirmam que a tendência hoje no tribunal é corrigir eventuais erros cometidos no julgamento e baixar as penas impostas a alguns réus. Conforme a defesa, o tribunal falhou ao buscar um critério para calcular as penas de forma isonômica.
Presidente do STF vence sondagem em protesto de SP
O Instituto Datafoiha divulgou ontem levantamento feito com 551 pessoas que participaram de manifestação na Avenida Paulista em São Paulo, na quinta-feira, no qual o primeiro colocado, para presidente da República, é o presidente do STF, Joaquim Barbosa, com 30%. A pesquisa foi feita com resposta estimulada – na qual os nomes sao sugeridos pelo perguntador. A margem de erro é de 4 pontos porcentuais para cima ou para baixo.
Na segunda posição, com 22%, ficou a ex-senadora Marina Silva, que tenta criar um novo partido, o Rede, para disputar o Planalto. A presidente Dilma Rousseff (PT) aparece com 10% da preferência, seguida pelo senador mineiro Aécio Neves (PSDB), com 5%, e pelo governador pernambucano, Eduardo Campos (PS8), com 1%.
À exceção de Barbosa, porém, todos obtiveram índices abaixo dos 27% que declaram voto branco, nulo ou não escolhem nenhum dos nomes.
‘Há que se prender mais pessoas’, diz Beltrame
Cinco pessoas foram presas acusadas de atacar policiais e de roubar celulares e três adolescentes, apreendidos durante as manifestações da noite de quinta-feira. O secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, reclamou da pequena quantidade de presos em flagrante. “Há que se prender mais pessoas. Mas, na lei, a prisão tem de cumprir alguns requisitos.” Ele não descartou acionar o Exército para ajudar a garantir a segurança nas próximas manifestações.
Os protestos que deixaram um rastro de depredações no centro se expandiram para a zona sul. Ao todo, 62 ficaram feridos e oito desses eram guardas municipais. Três vítimas foram atingidas por balas de borracha.
Para conter as depredações, a PM disparou balas de borracha e soltou bombas de gás lacrimogêneo em centenas de manifestantes que não tinham nada a ver com os ataques. O Estado presenciou ataques indiscriminados de policiais do Batalhão de Choque nas Ruas do Rosário e Sete de Setembro.
Além da destruição de 98 semáforos, 62 abrigos de ônibus, 77 placas e cinco relógios públicos, a sede da Guarda Municipal foi invadida. Oito carros foram destruídos. Dos 28 radares do corredor de ônibus da Presidente Vargas, 26 foram danificados. O sambódromo e o Terreirão do Samba foram depredados. Uma cabine da PM na calçada da Estação Central do Brasil (onde fica a sede da Secretaria de Segurança) foi incendiada.
Brasília mobiliza reforço policial para ato de hoje
O grande aparato de segurança visto na quinta-feira na Esplanada dos Ministérios em Brasília será novamente mobilizado para as manifestações convocadas para este sábado. A Secretaria de Segurança do Distrito Federal prepara um esquema que pode chegar a envolver 3,5 mil homens, incluindo a cavalaria e o pelotão de choque, caso seja necessário.
O protesto de anteontem reuniu cerca de 35 mil pessoas em seu ápice, segundo a Polícia Militar, e o saldo foi de 94 pessoas atendidas pelos serviços de saúde. Destes, 82 eram manifestantes e 12 policiais. Entre os participantes do protesto, 80 pediram atendimento devido aos efeitos do gás lacrimogêneo, atirado pela polícia contra a massa em momentos de confronto, enquanto outros dois foram alvejados por objetos. Nenhum dos feridos precisou ser internado.
Catedral. A Polícia Militar registrou três ocorrências, mas só um jovem de 19 anos chegou a ser detido, por dano ao patrimônio. Ele foi liberado ainda na noite de quinta-feira.
Além do Palácio do Itamaraty, alguns, dos manifestantes promoveram destruição em pontos de ônibus, lâmpadas de iluminação em ministérios e placas de sinalização.
‘Licitação do playstation’ é suspensa no DF
Depois de construir o estádio mais caro do País – estimado em R$1,2 bilhão – em uma cidade que não possui equipes na elite do futebol brasileiro, o governo do Distrito Federal também lançou uma licitação para comprar nada menos que 40 videogames da marca Sony, modelo Playstation 3 Slim 3D.
Para piorar, o valor estimado no processo é mais do que o dobro verificado nas avaliações de mercado. O aviso de licitação foi suspenso às pressas após as manifestações que tomaram conta de Brasília e do País – uma das bandeiras dos manifestantes é um maior rigor nos gastos públicos com a Copa.
Pelo edital – o aviso de licitação continua disponível na página “e-Compras” da Secretaria de Estado de Planejamento e Orçamento do Distrito Federal (Seplan) -, cada um dos 40 videogames teria de ter dois controles e pelo menos um jogo,
A compra de cada videogame ainda incluiria, conforme a licitação, uma televisão de 32 polegadas com tela de LED Full HD, além de 30 aparelhos “no-breaks”, que são usados para garantir o funcionamento temporário de equipamentos eletrônicos em ca-. sos de queda de energia.
CNBB vai manter programação de visita do papa ao Rio
Apesar da onda de protestos que toma conta das principais cidades do País, o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d, Raymundo Damasceno Assis, disse ontem que não haverá “nenhuma modificação” na programação da Jornada Mundial da Juventude. De acordo com a CNBB, a presidente Dilma Rousseff assegurou que o governo federai garantirá a segurança do evento da Igreja Católica, previsto para ocorrer no Rio de Janeiro entre os dias 23 e 28 de julho, com a presença do papa Francisco. A expectativa é de que o evento reúna cerca de 2 milhões de pessoas.
‘Vadias’ e ‘vinagre’ em disputa no DF
Catalisadora dos movimentos sociais, a internet virou palco de disputa entre as “vadias” e a “turma do vinagre” da capital federal Pelo Facebook, os dois grupos, que chegaram a se apoiar, anunciaram rompimento. Abriga começou porque ambos haviam marcado protestos para hoje, animados pela popularidade da manifestação na Esplanada dos Ministérios anteontem.
O movimento feminista, que luta por causas como a legalização do aborto, alega que definira a data do protesto havia mais tempo e que não quer ser confundido com aquele que luta contra a corrupção..
Em nota de repúdio aos organizadores da Marcha do Vinagre, compartilhada pelo Facebook, elas pedem respeito aos participantes da outra marcha. “Não é questão de picuinha com outras marchas, Não quisemos juntar as marchas porque sabemos que as pautas feministas ficariam em segundo plano”, disse Mayra Cotta, uma das organizadoras.
Em resposta, a turma do vinagre publicou nota retirando apoio ao protesto feminista. “Não há porque apoiar um grupo que nos repudia”, afirmaram. O estudante Wellington Fontenelle, de 18 anos, que participa da organização do evento, atribuiu o desentendimento a um “erro de comunicação entre as organizações”.
Mudanças. A Marcha das Vadias decidiu ontem mudar o ponto de chegada da manifestação que ocorrerá hoje para evitar encontrar a Marcha do Vinagre, no Museu Nacional. No fim do dia, no entanto, os organizadores da passeata do vinagre resolveram desmarcar o protesto para “organizar melhor” a próxima manifestação e evitar situações de vandalismo e violência.
Atos retratam divórcio entre povo e Estado
Os partidos políticos se afastaram da população, a sociedade ficou dividida entre representados e não representados e o divórcio que se criou entre o Estado e o cidadão está na raiz dos protestos que tomaram conta do Brasil nas últimas duas semanas,
Essa é a conclusão de três cientistas políticos que participaram, ontem, de debate sobre as manifestações de rua pelo País, promovido pela TV Estadão. José Álvaro Moisés, da USP, Carlos Melo, do Inspei; e Aldo Fornazieri, da Escola de Sociologia e Política, concordaram que não há democracia sem partidos, mas que as siglas precisam urgentemente voltar a cumprir o seu papel “Os partidos se afastaram do povo. Agora, por exemplo, algum líder do governo, ou do partido no poder, veio a público conversar ou se explicar?”, cobrou Álvaro Moisés. Temas como a PEC 37, a corrupção ou a chamada cura gay estão nos cartazes das passeatas “e não se ouviu uma única resposta dos líderes às cobranças”. Não há democracia sem partidos, prossegue ele, “mas eles têm de fazer a intermediação com a sociedade”
Fornazieri percebe a sociedade dividida “entre representados e não representados”. Estes, no caso, são a classe média baixa e a classe B. A primeira, “ganhou, mas pouco, e o Brasil continua desigual”. A segunda “paga impostos, mas tem de ir buscar no mercado, e muito caro, sua seguridade e educação. Essa é a rebelião”.
‘Empresário’, sem partido, armado e ‘líder grevista’
Com mais de 516 míl participantes confirmados até o inicio da noite de ontem, o evento no Facebook “Greve Geral – Vamos mostrar quem manda nesse país” tem um propósito claro: parar o Brasil no próximo dia 1º. “O povo não deve temer seu Estado. O Estado deve temer seu povo. V de Vingança”, diz o texto de apresentação do evento.
“Isso é o mínimo que podemos pedir, afinal, o dinheiro é nosso e os políticos trabalham pra nós”, argumenta o manifesto, que lista 12 reivindicações da paralisação (mais informações nesta página). “”Vamos parar o País e, se não resolver, vamos ter de demitir cada vereador, deputado, senador, prefeito, governador, e se for preciso, a presidente. Estamos no limite, cuidado, somos brasileiros.”
Na tarde de ontem, muitos usuários passaram a compartilhar posts de alerta, pedindo para as pessoas não aderirem a esse movimento. “O evento Greve Geral é convocado por um cara que faz campanha pelo armamento (na foto do perfil ele tem uma arma na cintura!!!) e apoia um partido chamado Partido da Segurança Pública e Cidadania – PSPC – que está em fase de coleta de assinaturas para se oficializar”, dizia uma dessas mensagens. “Vamos prestar muita atenção antes de confirmar presença, compartilhar e curtir posts, fotos e eventos!!! O momento é delicado e tem muita gente se aproveitando disso!!! Fiquem atentos a estes eventos que estão sendo conclamados por pessoas que não querem o mesmo projeto político que vocês!”, enfatizava o alerta.
Cristovam prega ‘abolição de todas as siglas’ no Senado
O senador Cristovam Ruarque (PDT-DF) disse ontem, em discurso no Senado, que “talvez seja a hora cie dizermos: estão abolidos todos os partidos. E vamos trabalhar para saber o que colocamos no lugar”, A repercussão foi imediata e relatada pelo próprio parlamentar, via Twitter. “Só apanhei, e muito, por dizer que os atuais partidos precisam ser abolidos”, escreveu o senador. Duas horas depois, Cristovam tentou explicar o discurso no Twitter. “A democracia precisa de partidos, para isso precisamos substituir atuais clubes eleitorais”, Ao Estado, o senador disse que o antipartidarismo é “um perigo imenso para a democracia, mas está aí”
“A solução é ignorar e insistir na atual estrutura ou criar uma nova estrutura partidária que o povo passe a gostar do partido?”, perguntou o senador.
Correio Braziliense
Dilma repudia arruaça e pede diálogo nacional
Um dia depois da mais extensa e tensa onda de protestos que levou 1,4 milhão de pessoas às ruas de 109 cidades brasileiras, a presidente Dilma Rousseff defendeu ontem, durante cadeia de rádio e televisão, as manifestações pacíficas. Mas foi dura e incisiva ao declarar que não aceitará a ação dos “arruaceiros” que depredam prédios públicos. “Não podemos conviver com esta violência que envergonha o Brasil. Todas as instituições e órgãos da Segurança Pública devem coibir, dentro dos limites da lei, toda forma de violência e vandalismo”, disse a presidente.
Dilma afirmou que, nos próximos dias, vai se reunir com os presidentes dos demais poderes — senador Renan Calheiros (PMDB-AL), do Legislativo, e Joaquim Barbosa, do Judiciário — e os governadores e prefeitos das principais cidades do país para “um grande pacto em torno da melhoria dos serviços públicos”. O encontro com os governadores deve ocorrer na segunda-feira e, segundo apurou o Correio, é encarado pelo Planalto como uma forma de dividir as responsabilidades sobre o episódio.
Questionada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre seu distanciamento dos movimentos sociais — base eleitoral fundamental para o projeto político do PT —, Dilma prometeu receber os líderes das manifestações pacíficas, os representantes dos jovens, das entidades sindicais, dos movimentos de trabalhadores e das associações populares. “Precisamos de suas contribuições, reflexões e experiências. De sua energia e criatividade, de sua aposta no futuro e de sua capacidade de questionar erros do passado e do presente”, disse Dilma.
Em busca de novos rumos
A preocupação com os rumos das manifestações e a vitória parcial obtida com a redução do preço das passagens do transporte urbano em São Paulo fizeram com que o Movimento Passe Livre (MPL), responsável pela convocação dos primeiros grandes atos de protesto na capital paulista, decidisse sair de cena. Os atos de hostilidade a militantes de partidos políticos também pesaram. Um dos líderes do movimento, Douglas Belome, lamentou o repúdio a legendas de esquerda que vinham apoiando a proposta de transporte público grátis. “Estavam conosco desde o início, não são oportunistas”, disse ele em defesa desse partidos.
Para o MPL, a partir do momento em que o prefeito da cidade, Fernando Haddad, e o governador do estado, Geraldo Alckmin, anunciaram a redução nos preços das passagens do transporte urbano, o objetivo inicial das manifestações foi cumprido.
Alerta aos turistas
A onda de protestos no Brasil levou a embaixada dos Estados Unidos a emitir, ontem, um alerta aos turistas norte-americanos para que evitem se envolver nas manifestações. De acordo com informações da agência France Presse, a mensagem pede que os cidadãos dos EUA evitem as áreas onde possam ocorrer tumultos, com as grandes aglomerações. “Mesmo os eventos pacíficos podem se desencadear em confrontos e, possivelmente, violência”, ressalta o texto. O governo dos EUA solicitou calma aos americanos que estão no país.
Na quinta-feira, por exemplo, a polícia de choque usou gás lacrimogêneo e balas de borracha para dispersar a multidão que protestava no Rio de Janeiro, em resposta a um grupo que hostilizou os policiais. A cidade carioca é o principal destino de lazer dos turistas estrangeiros no país e foi também a cidade que mais reuniu manifestantes nesse dia, em torno de 300 mil. Dados do Anuário Estatístico de Turismo 2013, do Ministério do Turismo, mostram que os Estados Unidos são o segundo país que mais envia turistas para o Brasil.
Ressentimento concentrado
Uma onda heterogênea de demandas se espalhou pelo Brasil, mas isso não significa que uma nova agenda política será moldada a partir dos questionamentos que emanam das ruas. Cientistas políticos ouvidos pelo Correio avaliam que as solicitações populares podem ser diluídas com o passar do tempo.
O professor de ciência política Lúcio Flávio de Almeida, da Pontifícia Universidade Católica (PUC) de São Paulo, avalia que existe um dissociamento grande dos Poderes Legislativo, Judiciário e Executivo em relação ao clamor das ruas. “O risco é isso ser diluído. Essas mobilizações já expressam um ressentimento. Tem uma nova agenda no Brasil. Se essa agenda será diluída ou levada a sério, é o que veremos”, afirmou.
O cientista político Rafael Cortez ressalta que a classe política precisa emitir uma resposta rápida à população. “Existe um esgotamento das imagens dos partidos. Isso é evidente. O que sinto é que o avanço que o Brasil teve do ponto de vista econômico nos últimos anos não foi acompanhado pela qualidade dos serviços públicos. O passe livre foi apenas o gatilho”, avaliou.
Exigências entregues
Sem uma liderança específica, a pauta de reivindicações dos manifestantes, que desde o dia 6 ocupam as ruas do país, parece difusa e sem foco. Entretanto, um grupo de seis manifestantes, que na quinta-feira participaram do ato em frente ao Congresso Nacional, protocolou ontem, na Câmara dos Deputados, uma carta com a lista de demandas.
Assinado pelo “povo brasileiro”, o documento faz 13 pedidos. Os manifestantes exigem, por exemplo, o fim do voto obrigatório e do voto secreto, investimento em transporte público de qualidade, na saúde, na educação e em segurança, a retirada do senador Renan Calheiros (PMDB-AL) da presidência do Senado, além de um estado efetivamente laico e a redução do salário dos parlamentares, entre outros temas.
Recheada de polêmica, a carta também pede o fim do ato médico, aprovado esta semana no plenário do Senado; a cassação e a prisão dos mensaleiros, que, embora tenham sido condenados, ainda não iniciaram o cumprimento de pena; e a consideração da corrupção como crime hediondo. O texto destaca ainda que os representantes do povo têm de pensar no bem-estar da população, que precisa deles, assim como eles, do voto do povo.
Excessos policiais monitorados
Entidades ligadas à garantia dos direitos humanos se posicionaram em apoio às manifestações que tomam as ruas do país há duas semanas e contra excessos no uso de força pela polícia na contenção de atos de vandalismo. Além da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), que se pronunciou ontem (leia mais na página 10), a Associação Nacional dos Defensores Públicos (Anadep), a Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) e o Ministério Público Federal também se posicionaram sobre o assunto.
A Anadep se comprometeu a acompanhar a repressão policial durante as manifestações. “A proporcionalidade é prevista em Constituição. Policiais não podem agir desproporcionalmente. Somos frontalmente contra o uso de balas de borracha, por exemplo, que é algo ultrapassado e pode provocar danos severos”, explica a presidente da associação, Patrícia Kettermann. Comissões de defensores públicos foram organizadas em diversos estados para acompanhar os protestos.
Oposição vê oportunismo
O presidente do PSDB nacional, senador Aécio Neves (MG), criticou o PT ontem por tentar tomar a frente dos protestos que acontecem em todo o país e, ao mesmo tempo, cumprimentou os “brasileiros que vêm se manifestando de forma democrática e pacífica, escrevendo uma importante página da história do país”. O partido, segundo ele, age com “claro intuito de diluir cobranças feitas ao governo federal”.
De acordo com o tucano, “é inevitável também constatar o oportunismo do alto comando do PT, que tenta se apropriar de um movimento independente, ao determinar que militantes do partido se misturem aos manifestantes com o claro intuito de diluir as cobranças feitas ao governo federal”. Na quinta-feira, o presidente do PT, Rui Falcão, conclamou militantes do partido, por meio do microblog Twitter, para uma passeata liderada pelo Movimento Passe Livre (MPL), na Avenida Paulista, em São Paulo. Falcão havia convocado petistas para as manifestações em comemoração à redução nos preços das passagens de ônibus, mas recuou e retirou a hashtag #ondavermelha do seu perfil na rede social.
“Trata-se de decisão irresponsável, que desrespeita o sentido apartidário dos protestos, colocando em risco, inclusive, a segurança de seus próprios militantes, alguns deles hostilizados ontem (quinta-feira) em várias partes do país”, analisou Aécio. O senador afirmou ser “importante que nós, agentes políticos, tenhamos humildade para reconhecer e compreender a dimensão da insatisfação existente hoje no Brasil”.
Minoria leva medo ao Rio e a São Paulo
A violência de uma minoria, mais uma vez, manchou as manifestações no Rio de Janeiro. Ontem, enquanto um protesto pacífico era realizado por diversas regiões da cidade e região metropolitana, dezenas de arruaceiros aproveitaram para saquear lojas e levar medo à Zona Oeste, onde ocorria uma passeata na Barra da Tijuca. Eles depredaram uma cabine da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) na Linha Amarela, invadiram um posto de gasolina e uma concessionária na Avenida Ayrton Senna e ainda roubaram e destruíram vidros de carros.
A Avenida das Américas, na Barra, chegou a ser totalmente interditada em ambos os sentidos. No Leblon, cerca de 500 pessoas se concentraram em frente à casa do governador Sérgio Cabral. Uma barreira formada por policiais impediu que o protesto chegue à portaria do imóvel onde ele vive com a família. O grupo gritava palavras de ordem, e exibia cartazes e faixas. Até o início da noite de ontem, não havia registro de confusão na área.
Em Duque de Caxias, região metropolitana do Rio, mais cenas de violência. Grupos de manifestantes que se concentraram no centro do município, em frente ao Teatro Raul Cortez, depredaram algumas lojas, e pelo menos um jovem foi detido. Diante dos protestos no Rio, informações desencontradas provocavam uma onda de pânico na cidade. Comerciantes de diversos bairros resolveram fechar as portas mais cedo para evitar problemas.
Em São Paulo, assim como em outras capitais e regiões metropolitanas, milhares de pessoas foram às ruas em diferentes pontos da cidade e interditaram várias rodovias e ruas, incluindo a Avenida Paulista e a Via Dutra, bloqueando o acesso de passageiros ao Aeroporto de Guarulhos. Em Teresina, um pequeno grupo de manifestantes tumultuou o centro da cidade. Eles jogaram pedras nos postes da Praça da Liberdade e no Palácio de Karnak, sede do governo do Piauí, acompanhados de perto por policiais militares. Apesar disso, até o começo da noite, não havia registro de confronto. Em Belo Horizonte, milhares de pessoas pediram paz. Porém, em alguns locais, houve explosão de bombas.
Pressão popular
A percepção da presidente Dilma Rousseff sobre as manifestações que lotaram as ruas brasileiras nos últimos dias se modificou à medida que a pressão popular aumentava, encurralando os políticos brasileiros. Na semana anterior, quando a temperatura cresceu e ocorreram os primeiros confrontos com a Polícia Militar em São Paulo, Dilma, em viagem ao Rio de Janeiro, não fez qualquer menção aos episódios. “Nós achávamos que era algo circunscrito a São Paulo. Na segunda-feira, o panorama mudou”, confirmou um aliado da presidente.
Ainda assim, quando cerca de 240 mil pessoas foram às ruas e os atos mais ostensivos de vandalismos ocorreram no Rio de Janeiro, com as depredações na Assembleia Legislativa do Rio (Alerj), a presidente soltou uma nota oficial. Na terça-feira pela manhã, durante solenidade de lançamento do Código de Mineração, ela disse que “a democracia tinha acordado mais forte, apesar de alguns atos isolados de violência e vandalismo”.
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