Lúcio Lambranho, enviado especial
Ocotal (Nicarágua) – Oficialmente as fronteiras entre Honduras e Nicarágua estão abertas e sem restrições, como mostrou ontem o Congresso em Foco (leia mais). Mas na prática, a entrada de nicaraguenses e de cidadãos dos países da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba) depende da boa vontade dos guardas hondurenhos que controlam a divisa entre os dois países.
Ontem (10), a reportagem do site tentou entrar em Honduras com um guia “nica”, apelido dado para os nicaraguenses na região, mas não conseguiu. Eram 6h30 da tarde quando chegamos em El Espinho, uma das quatro fronteiras entre os dois países, próxima de El Salvador.
Logo na chegada os guardas da Nicarágua na Aduana advertiram. “Você está com um nica e, por isso, não vai passar. Se tentar, ele pode ser deportado. Você, estrangeiro, não tem problema, mas vai ter que seguir a pé”, disse um dos oficiais da Aduna.
A advertência e a chegada da noite caindo nos forçou a regressar até a cidade de Ocotal, situada a cerca de 60 quilômetros da fronteira hondurenha. Em Honduras, desde o golpe de estado no último dia 28, existe um toque de recolher a partir das 22hs. Por isso, já não havia mais segurança e tempo para entrar no país e chegar até Tegucigalpa, a capital hondurenha, pela entrada de Las Manos, outra cidade nicaraguense na fronteira e apenas 20 quilômetros distante de Ocotal.
“Creio que tem relação com a hora e a proximidade da noite, mas ontem uma amigo tentou passar com um grupo de turistas norte-americanos perto do meio dia e não pode seguir viagem. Teve que deixar os seus passageiros na fronteira e regressar obrigado pelos guardas de Honduras”, explica Ricardo Dávila, nosso guia nica desde a saída em Manágua, capital nicaraguense.
Em Ocotal um dos chefes da imigração local, que preferiu não se identificar, disse ao site que os guardas hondurenhos estão ameaçando e até mesmo impedindo a passagem em alguns casos de grupos inteiros de cidadãos dos países integrantes da Alternativa Bolivariana para as Américas (Alba), Venezuela, Bolívia, Cuba, Equador e Nicarágua.
Daniel Ortega
Comandada pelo presidente da Venezuela, Hugo Chavez, a Alba se converteu no principal alidado do presidente deposto de Honduras, Manuel Zelaya.
Desde que o sandinista Daniel Ortega assumiu o governo da Nicarágua em 2007, pela segunda vez, um acordo com Chávez permite a importação de petróleo com 40% de desconto e a Nicarágua deixou de ter apagões de energia. Caminhões (foto) com a logotipo da Alba circulam pelo país transportando combustíveis até as usinas termoelétricas também construídas com a ajuda da Venezuela.
Por isso, o governo interino de Roberto Micheletti tem feito de tudo para impedir mais protestos com a ajuda dos nicas em Honduras. “No final de semana passada muita gente aqui em Ocotal e Las Manos protestou contra o golpe com carros de som em frente à imigração de Honduras em Las Manos. Por isso, os guardas fazem ameaças e encontram motivos para deportar os nicas sem motivos reais”, confidenciou ao site a autoridade nicaraguense na fronteira.
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