Istoé
Todos os homens do propinoduto tucano
Na última semana, as investigações do Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) e do Ministério Público mostraram a abrangência nacional do cartel na área de transporte sobre trilhos. A tramoia, concluíram as apurações, reproduziu em diversas regiões do País a sistemática observada em São Paulo, de conluio nas licitações, combinação de preços superfaturados e subcontratação de empresas derrotadas. As fraudes que atravessaram incólumes 20 anos de governos do PSDB em São Paulo carregam, no entanto, peculiaridades que as diferem substancialmente das demais que estão sendo investigadas pelas autoridades.Leia também
O esquema paulista distingue-se pelo pioneirismo (começou a funcionar em 1998, em meio ao governo do tucano Mário Covas), duração, tamanho e valores envolvidos – quase meio bilhão de reais drenados durante as administrações tucanas. Porém, ainda mais importante, o escândalo do Metrô em São Paulo já tem identificada a participação de agentes públicos ligados ao partido instalado no poder. Em troca do aval para deixar as falcatruas correrem soltas e multiplicarem os lucros do cartel, quadros importantes do PSDB levaram propina e azeitaram um propinoduto que desviou recursos públicos para alimentar campanhas eleitorais.
Pelo menos cinco autoridades envolvidas na engrenagem criminosa, hoje sob investigação por terem firmado contratos irregulares ou intermediado o recebimento de suborno, atuaram sob o comando de dois homens de confiança de José Serra e do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin: seus secretários de Transportes Metropolitanos. José Luiz Portella, secretário de Serra, e Jurandir Fernandes, secretário de Alckmin, chefiaram de perto e coordenaram as atividades dos altos executivos enrolados na investigação. O grupo é composto pelos técnicos Décio Tambelli, ex-diretor de operação do Metrô e atualmente coordenador da Comissão de Monitoramento das Concessões e Permissões da Secretaria de Transportes Metropolitanos, José Luiz Lavorente, diretor de Operação e Manutenção da CPTM, Ademir Venâncio, ex- diretor de engenharia da estatal de trens, e os ex-presidentes do metrô e da CPTM, José Jorge Fagali e Sérgio Avelleda.
A conta do cartel em Brasília
Diferentes auditorias realizadas por órgãos de fiscalização e controle, como o Tribunal de Contas do Distrito Federal, da União e Controladoria-Geral da União (CGU), obtidas por ISTOÉ, revelam pela primeira vez a conta do rombo na capital federal com o esquema do metrô. Segundo os documentos, reforçados por relatos de fontes da Polícia Federal e do Ministério Público, os desvios podem chegar a meio bilhão de reais. O valor é superior ao das fraudes de São Paulo, onde o sistema de trens subterrâneos – com 65,3 km de rede, 58 estações e 150 trens – tem mais que o dobro do tamanho do metrô de Brasília, que, apesar da extensão de 42,4 km, opera apenas com 24 estações e 32 trens. Para chegar ao valor da soma desviada pelo esquema do metrô do DF, os investigadores levaram em conta que o preço praticado pelo consórcio Brasmetrô, liderado pela francesa Alstom, embutia as maiores margens de lucro da empresa no País, superiores a 50%, e pagamento de propina de até 10%, margem superior à recebida por agentes públicos em São Paulo.
Boa de voto, ruim de política
Com o legado de 20 milhões de votos e um folgado segundo lugar nas recentes pesquisas de intenção de voto, a ex-senadora Marina Silva patina no mesmo ponto que a tirou do Ministério do Meio Ambiente há cinco anos: a política. Votos ela tem, mas não demonstra capacidade de articulação para transformar um eleitorado que provoca inveja tanto no tucano Aécio Neves como no socialista Eduardo Campos em força organizada para disputar a Presidência em 2014. Em atividade desde fevereiro, quando reuniu militantes e seguidores em Brasília para lançar a Rede de Sustentabilidade, Marina até conseguiu coletar um bom número de assinaturas – mais de 800 mil – pelo País inteiro. A dificuldade é que, até agora, menos da metade das fichas de filiação foi certificada pela Justiça Eleitoral. Pelos números obtidos durante seis meses, só um milagre pode transformar o projeto da Rede numa legenda de verdade até o dia 30 de setembro, prazo máximo para a filiação.
Época
Lobista aponta mais empreiteiras com que tinha negócios na Petrobras
Na noite da sexta-feira, dia 9 de agosto, quando a última edição de ÉPOCA se alastrava como pólvora pela internet e pelo mundo político, a pressão do poder desabou sobre o lobista João Augusto Henriques, que denunciara um esquema de propina do PMDB na Petrobras. João Augusto estava em Paris e, de lá, passou a ser atingido pela ira dos chefes do PMDB implicados por ele. Na edição que começava a circular, ÉPOCA – com base em contratos de gaveta dos lobistas do PMDB, em entrevistas, feitas em Brasília, no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, com os envolvidos no caso e, posteriormente, no testemunho do próprio João Augusto – narrava detalhes do esquema.
Ele dissera que de “60% a 70%” do dinheiro que arrecadava das empresas que faziam negócio na Diretoria Internacional da Petrobras, comandada pelo PMDB, era repassado a deputados do partido em Brasília. João Augusto denunciou, assim como outros envolvidos entrevistados por ÉPOCA, três casos em que isso acontecera. Num deles, segundo João Augusto, a construtora Odebrecht, que conseguira um contrato bilionário da Petrobras, repassara, por orientação dele, o equivalente a US$ 8 milhões ao PT, em plena campanha presidencial de Dilma Rousseff. João Augusto afirmou que o repasse tinha por objetivo vencer as dificuldades impostas pelo então presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, do PT, à assinatura do contrato. Dias antes da eleição de Dilma, Gabrielli o aprovou.
Examinando as tabelas e planilhas, percebe-se que boa parte dos negócios envolve obras, manutenção ou construção de plataformas e prestação de serviços. Com a Andrade Gutierrez, foram assinados quatro contratos, incluindo um consórcio para construir uma unidade de tratamento de resíduos de petróleo, por cerca de R$ 2 bilhões. Foram 11 contratos com a UTC Engenharia de 2009 para cá, sete deles entre 2011 e 2012, num total de R$ 1 bilhão – muitos para pintura de plataformas na Bacia de Campos. João Augusto afirmou que tinha influência para operar fora da área internacional.
No segundo ponto, o pagamento da propina aos deputados, a investigação de ÉPOCA avançou mais. Para essa tarefa, segundo ele e outros três lobistas envolvidos, contava com dois parceiros: o sócio Ângelo Lauria e o lobista Felipe Diniz, filho do deputado Fernando Diniz. Fernando – um dos responsáveis, em 2008, por indicar à Petrobras João Augusto e Jorge Zelada, depois diretor da área internacional – morrera no ano seguinte.
Veja
Fantasmas profissionais
Por alguns segundos, o cabeleireiro Mario Gular conseguiu a atenção do deputado Roberto Freire, o presidente nacional do PPS. Tempo mais que suficiente para provocar um estrago. “Freire é cada vez mais ridículo, se vendeu para a extrema direita. Usa foto de há vinte anos”, provocou o rapaz em sua conta no Twitter. O parlamentar decidiu responder: “Não lhe sigo e nem o conheço. Estranho, portanto, que venha me agredir chamando-me de ridículo””. A discussão foi replicada pelos seguidores do cabeleireiro, pelos seguidores do deputado, pelos seguidores dos seguidores de cada um deles e se espalhou pela rede. Divulgada assim, a informação pode atingir milhares de pessoas e até levar incautos a acreditar que Freire, um político correto, possa ter cometido alguma transgressão. Porém, o único fato verdadeiro da mensagem é que o deputado não conhece o cabeleireiro — e nem poderia, porque ele não existe. Gular é um dos inúmeros perfis falsos criados no mundo virtual para esconder a verdadeira entidade dos difamadores profissionais remunerados para denegrir a imagem de pessoas honestas e atacar adversários políticos.
Pareceres desaparecidos
A ministra Cármen Lúcia, há sete anos no Supremo Tribunal Federal (STF), é conhecida por não se envolver nas ruidosas contendas que com frequência fazem pesar o ambiente na mais alta corte do país. Mineira, ela corre de confusão. Na quinta-feira da semana passada, por exemplo, enquanto seus colegas Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski discutiam com dedo em riste ao final de mais uma sessão destinada a julgar os recursos dos mensaleiros, a ministra apressou-se em sair da sala contígua ao plenário onde o bate-boca se desenrolava. Agora, como presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Cármen Lúcia está diante de um dilema que porá à prova seu hábito de evitar divididas. Na semana passada, Veja revelou que o TSE sumiu com pareceres técnicos que sugeriam a reprovação das contas do PT no período do mensalão e da campanha da presidente Dilma Rousseff — e que o desaparecimento de tais documentos ocorreu por interferência direta de Lewandowski, então presidente do tribunal. A pressão exercida pelo ministro consta do relatório final de uma sindicância realizada pelo próprio TSE cujo resultado está nas mãos de Cármen Lúcia. Caberá a ela decidir o que fazer diante da revelação: adotar providências para passar o episódio a limpo ou deixar que o caso fique como um estranho mal-entendido.
Mais perto do fim
O Supremo Tribunal Federal (STF) selou, na semana passada, o destino do ex-deputado Roberto Jefferson, um dos personagens mais importantes do escândalo do mensalão. Delator do maior esquema de corrupção da história, Jefferson, condenado a sete anos e catorze dias de prisão, tentava reduzir a pena alegando que sua colaboração fora decisiva para o desfecho do caso. Queria ainda incluir o ex-presidente Lula no rol de 25 réus. Por unanimidade, os ministros rejeitaram todos os recursos. Derrota idêntica impuseram a outros seis condenados, entre eles o deputado Valdemar Costa Neto, sentenciado a sete anos e dez meses de prisão por corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Com os recursos reconhecidamente protelatórios, Jefferson e os demais mensaleiros desejavam apenas adiar um encontro que está cada vez mais próximo: o dos corruptos com a prisão.
A riqueza de Cabral
O escritório Coelho & Ancelmo Advogados Associados chama atenção no Rio de Janeiro por duas características. A primeira é ter experimentado nos últimos seis anos um crescimento espetacular. De três profissionais e 500 processos em carteira, saltou para um empreendimento com vinte advogados e cerca de 10.000 ações. A receita do escritório era de 2,1 milhões de reais em 2006 e foi para 9.5 milhões no ano passado. A segunda característica a ressaltar é o fato de a banca ter como sócia-proprietária a advogada Adriana Ancelmo, de 43 anos, mulher de Sérgio Cabral, governador do Rio de Janeiro, a quem ele trata pelo apelido de Riqueza. Adriana tem ganhos mensais de 184.000 reais por sua participação. E essa seria apenas urna bela história de um jovem casal bem-sucedido, não fosse uma terceira circunstância: pode não ser mera coincidência o progresso da banca durante os mandatos de Cabral como governador do estado.
Carta Capital
O trem da corrupção atropela os tucanos
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, os secretários estaduais José Aníbal e Julío Semeghini e o líder do governo no Legislativo paulista, Barros Munhoz, todos do PSDB, receberam dinheiro da Siemens e da Alstom, empresas investigadas por formação de cartel em obras de trem e metrô, em um esquema que remontaria aos anos 90e incluiria o suborno de políticos tucanos, Mas, calma, não se trata de propina. Neste caso, foram doações de campanha, em 2002 e 2006. E nada generosas, principalmente para quem ganha uma fortuna em negócios com o Estado. Cheques que variam de 1 mil a 5 mil reais, conforme as prestações de contas apresentadas pelos candidatos à Justiça.
O apoio eleitoral, dentro da lei e em quantias irrisórias, não prova a corrupção. E, porém, uma descoberta inquietante. Pelo baixo valor, teve caráter simbólico: expressou simpatia, talvez gratidão. Partiu de empresas que pela via legal praticamente só apoiaram tucanos paulistas naquelas duas campanhas. Multinacionais que nos últimos anos foram condenadas em tribunais estrangeiros por comprar servidores públicos em vários países. Tudo isso alimenta a suspeita de um conluio entre o PSDB, a Siemens e a Alstom para desfalcar o Erário. Uma denúncia antiga, mas nunca esclarecida, que voltou a atormenta r o tucanato e prenuncia uma acirrada eleição estadual em 2014.
Fora do eixo
Na esteira dos protestos de junho, o Mídia Ninja emergiu como uma novidade instigante, um novo modelo de jornalismo. A concepção é simples e barata: por meio de celulares, os repórteres ninjas enviam as imagens dos acontecimentos. Não há texto nem edição, apenas os vídeos em estado bruto em transmissões que facilmente duram seis horas. Na página do grupo no Facebook, há ainda fotos dos atos.
O trem da corrupção atropela os tucanos
O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, os secretários estaduais José Aníbal e Julío Semeghini e o líder do governo no Legislativo paulista, Barros Munhoz, todos do PSDB, receberam dinheiro da Siemens e da Alstom, empresas investigadas por formação de cartel em obras de trem e metrô, em um esquema que remontaria aos anos 90e incluiria o suborno de políticos tucanos, Mas, calma, não se trata de propina. Neste caso, foram doações de campanha, em 2002 e 2006. E nada generosas, principalmente para quem ganha uma fortuna em negócios com o Estado. Cheques que variam de 1 mil a 5 mil reais, conforme as prestações de contas apresentadas pelos candidatos à Justiça.
O apoio eleitoral, dentro da lei e em quantias irrisórias, não prova a corrupção. E, porém, uma descoberta inquietante. Pelo baixo valor, teve caráter simbólico: expressou simpatia, talvez gratidão. Partiu de empresas que pela via legal praticamente só apoiaram tucanos paulistas naquelas duas campanhas. Multinacionais que nos últimos anos foram condenadas em tribunais estrangeiros por comprar servidores públicos em vários países. Tudo isso alimenta a suspeita de um conluio entre o PSDB, a Siemens e a Alstom para desfalcar o Erário. Uma denúncia antiga, mas nunca esclarecida, que voltou a atormenta r o tucanato e prenuncia uma acirrada eleição estadual em 2014.
O desfile golpista
As manifestações de junho começaram com a defesa do transporte público gratuito e de qualidade por militantes do Movimento Passe Livre (MPL), mas depois tomaram rumos novos e uma proporção inesperada. Aglutinados pelas redes sociais da internet, milhares de jovens foram às ruas contra “tudo isso que está aí”, sobretudo os partidos políticos. Nas mesmas redes sociais há quem tente articular outra explosão de protestos, agora no Dia da Independência. Não se sabe se o plano vai funcionar, mas uma coisa é certa: ao contrário dos acontecimentos de junho, o movimento nada tem de apartidário.
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