Isto É
Quero te ver pelas costas
Lá se vão mais de 30 dias do segundo turno da eleição presidencial e o PSDB ainda não conseguiu juntar os cacos da derrota. O partido continua zonzo e sem rumo como um boxeador nocauteado. E, para piorar as coisas, os tucanos começaram a brigar entre si pelo controle da legenda. No centro da disputa está o ex-governador José Serra, candidato derrotado ao Planalto. Ao voltar da Europa, mal refeito do revés nas urnas, ele avisou que quer ocupar a presidência do PSDB, desalojando do cargo o pernambucano Sérgio Guerra, senador em fim de mandato e deputado federal eleito. Sem função pública pelo menos até 2013, Serra antecipa uma disputa que só ocorreria em maio, na escolha da nova Executiva Nacional do partido.
A briga no PSDB é resultado de uma campanha que deu preferência à figura do cacique político, representado exatamente por Serra. “Os caciques foram importantes nas sociedades indígenas antigas, mas isso não pode perdurar nas democracias”, diz o sociólogo Antonio Lavareda. Sem dúvida, repercutiu muito mal no PSDB a pretensão de Serra de controlar o partido, apesar de derrotado na corrida para o Planalto. Há dez dias, o ex-governador esteve em Brasília e bateu boca com Guerra, que, então, buscou o apoio do futuro governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, e do senador eleito por Minas Aécio Neves. Na segunda-feira 28, Alckmin tratou de lançar uma alternativa que, na prática, enterra as aspirações de Serra: “A discussão deve começar pelos diretórios municipais”, sugeriu. “Não se pode iniciar pelo fim, mas pela base.”
Intriga internacional
A diplomacia é feita de gestos públicos, rigorosamente ensaiados, além de uma penca de encontros sigilosos e contatos privados. Expor os segredos que levaram aos gestos públicos pode ter consequências desastrosas. Foi o que aconteceu na semana passada quando a ONG WikiLeaks despejou na internet mais de 250 mil telegramas diplomáticos dos Estados Unidos. A divulgação de documentos recheados de intrigas, críticas e lobbies abalou o mundo inteiro e feriu seriamente a política externa americana. No meio de toda esta confusão, Brasília também foi atingida em cheio. Os telegramas vazados revelaram inconfidências cometidas por autoridades locais e apreciações poucos lisonjeiras de diplomatas americanos sobre questões brasileiras. O resultado é que as relações entre o Brasil e os Estados Unidos, que já não andavam muito bem, esgarçaram de vez. “Estão desnudando a sabedoria dos EUA”, reagiu o presidente Lula. “Todo mundo pensava que os americanos eram melhores que os outros e você percebe que eles fazem as bobagens que todo mundo faz”, afirmou.
Acordos em massa
Faltando poucos dias para o Natal, a digitalizadora Elisabete Grigartis Soares, 47 anos, ganhou o presente que esperava há um ano e meio: conseguiu se divorciar de Valmir Ferreira Soares. Aliviados, agora os dois podem seguir seus caminhos. E sem dever nada à Justiça. “Não gastamos nem uma hora, resolvemos nossa vida e não desembolsamos R$ 1 para isso”, comemora a nova solteira, que não se divorciou antes por não ter como arcar com as despesas dos advogados. Elisabete foi uma das mais de 470 mil pessoas atendidas durante a Semana Nacional da Conciliação, organizada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ). O evento, que ocorreu em todo o País de 29 de novembro a 3 de dezembro e contou com a participação de tribunais na esfera estadual, federal e do trabalho, consistiu em um esforço dos tribunais e da população para desafogar o moroso judiciário. O fechamento parcial da edição deste ano indicou que o número de acordos deverá superar o da edição de 2009. Até a quinta-feira 2, foram realizadas 206 mil audiências.
As escolhas de Dilma
A presidente eleita Dilma Rousseff está escolhendo os nomes do seu Ministério com cuidados redobrados. Primeiro, para tranquilizar mercado e investidores, tratou de apontar os nomes de sua equipe econômica, como prova de que a continuidade não era apenas promessa de campanha. Depois, indicou o núcleo duro de petistas que a acompanhará no Palácio do Planalto, tendo à frente o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, na Casa Civil. A primeira seleção não trouxe surpresa, até porque é bastante identificada com o presidente Lula. Mas deu origem a comentários sobre a excessiva influência do padrinho de sua candidatura. “Esse raciocínio só pode partir de gente que não conhece Dilma Rousseff”, disse à ISTOÉ o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins.“Quem conviveu com ela no Palácio sabe que é natural que se cerque de pessoas que conhece. E também que ouça o presidente Lula, e não o José Serra ou o DEM. Vocês vão conhecer o pulso firme de Dilma Rousseff a partir do dia 1º de janeiro.”
“A barbárie não é natural e nem inevitável”
Presidente da Comissão de Direitos Humanos da Assembleia Legislativa do Rio, o deputado Marcelo Freixo (Psol) é hoje um dos maiores especialistas brasileiros em violência urbana. Reconhecido por seu trabalho como parlamentar – em 2008 presidiu a CPI das milícias e revelou ao Brasil um esquema sujo dominado por policiais e ex-policiais dentro das favelas – Freixo é militante e ativista de direitos humanos há 25 anos. Já deu aula de história e alfabetizou adultos dentro dos presídios, além de ter negociado, junto com o Bope, diversas rebeliões nas cadeias. Esse ano foi reeleito com uma votação expressiva de 177 mil votos, que o consagrou como o segundo deputado estadual mais votado do Rio. Tanta história serviu como inspiração para o personagem Fraga, do filme “Tropa de Elite 2”, que assim como ele também luta por uma segurança pública calcada na garantia dos direitos humanos constitucionais. Em entrevista à ISTOÉ, Freixo falou sobre os graves e atuais problemas de violência enfrentados pelo Estado. Contou ainda como é conviver sob ameaça de morte constante e com escolta policial 24 horas por dia.
A força de Beltrame
O secretário Estadual de Segurança Pública do Rio de Janeiro, José Mariano Benincá Beltrame, deu nos últimos 4 anos uma notável demonstração de força. Desde que assumiu o cargo, Beltrame se notabilizou por colocar em prática iniciativas que causaram estragos em áreas em geral blindadas contra o poder do Estado. A primeira grande obra de Beltrame foi o combate à corrupção policial, que culminou na expulsão de 850 agentes. Outra importante marca de sua gestão foi a implementação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs), que melhoraram significativamente a vida dos moradores das favelas. Por fim, ele é o homem que coordenou as operações que acabaram por enfraquecer as quadrilhas de traficantes que dominam as comunidades pobres do Rio de Janeiro.
O papel do consumidor
Enquanto emissoras de tevê exibiam na quarta-feira 1º as toneladas de drogas apreendidas no Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, o escritor J., 57 anos, assistia às imagens envolto em fumaça. Sentado na poltrona de seu confortável apartamento no Leblon, na zona sul, ele fumava mais um dos cigarros de maconha que volta e meia costuma acender. “Uso desde os 19 anos”, conta. Apesar da distância que o separa das favelas de onde a polícia expulsou os traficantes, J., assim como outros usuários, é apontado pelas autoridades como um dos financiadores da gigantesca engrenagem das facções criminosas. Eles estão longe geograficamente, mas conectados pela velha lógica de mercado: um não existe sem o outro. Não tem fornecedor se não tiver consumidor. Simples assim. “O dinheiro que o tráfico busca sai de quem consome”, define o secretário de Segurança Pública do Rio, José Mariano Beltrame. Por seu lado, J. culpa a lei que proíbe a droga. “Se a venda fosse liberada, não haveria traficantes”, diz, repetindo o mantra dos movimentos pela descriminalização das drogas. Não é tão simples, uma vez que se sabe que todas as drogas são nocivas à saúde. Combater o consumo é a parte mais difícil da luta contra os entorpecentes. Por isso, é preciso que a sociedade olhe para si própria e decida encarar esta questão.
Época
Mais aliados, mais confusão
O deputado Henrique Eduardo Alves e o vice-presidente eleito, Michel Temer, em reunião do PMDB. Eles não se entenderam sobre a indicação de Moreira Franco, protegido Há duas semanas, o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, tomou uma atitude inusitada. Ao encontrar a senadora Rosalba Carlini (DEM-RN) nos corredores do Senado, Temporão pediu seu apoio para permanecer no cargo no futuro governo Dilma Rousseff. Governadora eleita do Rio Grande do Norte, Rosalba lembrou a Temporão que não poderia ajudar muito. Filiada aos Democratas, partido de oposição, sua influência seria nula. Temporão, que é do PMDB, não desistiu. Insistiu para que Rosalba intercedesse por sua indicação junto a seu conterrâneo, o deputado Henrique Eduardo Alves, líder do PMDB na Câmara.
A atitude desesperada de Temporão, um ministro com chances quase nulas de permanecer no cargo, não é isolada. Na semana passada, políticos do PMDB, do PT, do PSB e do PP usaram todos os recursos disponíveis para tentar assegurar um lugar no futuro governo. Todos disputam ministérios onde poderão empregar centenas de pessoas, gerir orçamentos bilionários e influenciar negócios de dezenas de bilhões de reais (leia o quadro na pág. 62). No posto de maior partido aliado da campanha de Dilma, o PMDB exibiu sua ânsia por cargos. Suas divisões, que haviam ficado ocultas na campanha, reapareceram. Seus líderes se desentenderam publicamente em uma série de episódios inusitados. A autoridade do vice-presidente eleito, Michel Temer, foi arranhada diante da desarticulação do partido. Ficou claro que, a curto prazo, o maior desafio político de Dilma será atender, na formação do ministério, às reivindicações de sua imensa e heterogênea base de apoio no Congresso
Dilma tem pouco tempo e muito a fazer em 2011
é doutor em economia e palestrante, conselheiro de empresas, autor de livros como A grande bolha de Wall Street. Mantém o Blog da Bolha (blogdabolha.com.br) e escreve quinzenalmente em ÉPOCA. A meteorologia política indica nuvens carregadas no horizonte econômico da presidente eleita, Dilma Rousseff. A inflação fecha 2010 em alta, e o déficit fiscal para 2011 ameaça furar as metas. Dilma e sua equipe não podem contemporizar com tais indicadores sem arriscar o descontrole político. O novo time, que é experiente e foi escolhido com critérios técnicos razoáveis, entrará em campo com um desafio de menor magnitude, mas de natureza semelhante ao enfrentado por Lula em 2003.
Em 2002, já eleito, Lula negociou com a equipe do então presidente, FHC, no Banco Central (BC), uma alta preventiva do juro, que então subiu aos píncaros de 25% em dezembro. Armínio Fraga, que se despedia da presidência do BC, pagou o pedágio de elevar o juro básico na saída do cargo. Eram tempos extremamente delicados e difíceis.
Sérgio Lazzarini: “O Estado não saiu da economia”
Desde a primeira privatização, no começo dos anos 90, 165 empresas estatais foram vendidas e geraram uma receita de US$ 87 bilhões para o Estado brasileiro. Um observador desavisado poderia ter a impressão de que o governo abandonava a economia ao capital estrangeiro e às forças do livre mercado. Duas décadas depois, o economista Sérgio Lazzarini diz que nada poderia estar mais distante da realidade. Ele pesquisou a composição acionária de 804 empresas brasileiras entre 1996 e 2009 e mapeou as relações entre elas. Montou uma espécie de rede social dos sócios das empresas. E concluiu que aqueles com mais contatos na rede de proprietários eram braços do Estado. Um exemplo é o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Em 1996, ele estava no capital de 30 empresas. No ano passado, em 90. O Estado não apenas permaneceu no centro nervoso econômico, mas conseguiu se irradiar em consórcios e dirigir, em certa medida, os investimentos privados. Lazzarini batizou essa dinâmica de “capitalismo de laços”.
Depois que a casa cai
Renato, ex-traficante, trocou as armas por um curso de mecânica de automóveis“Cansei de me esconder. Posso refazer minha vida, sou muito novo”, disse Jones de Oliveira, o Joninho, de 21 anos, cabeça baixa e algemas no pulso, na quarta-feira passada. Ao lado dele estava a mãe, a doméstica Noêmia Flor da Silva, moradora da Favela Nova Brasília, no Complexo do Alemão, Rio de Janeiro. Antes da ocupação da polícia, Jones fazia parte do bando que controlava o tráfico de drogas na área. Em vez de fugir, o rapaz ficou. Convencido pela mãe, ele desceu até o primeiro posto policial e se entregou. “Ver minha família sofrer, minha mãe, que é da igreja, se preocupar comigo, isso eu não quero mais. Ela vivia falando para eu sair dessa vida.”
Quais são as opções para os bandidos quando a “casa cai”? A ação da polícia do Rio no Complexo do Alemão em reação a uma onda de atentados pela cidade foi um duro golpe à facção criminosa que dominava a área. O Comando Vermelho (CV) é também o principal alvo do governo fluminense com a implantação das Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs). “Tem um montão de amigo largando o crime e abandonando nossa facção”, escreveu (omitidos os erros de ortografia) um dos chefes do tráfico do Alemão, em carta destinada ao líder maior do CV, Marcinho VP, que estava no presídio de segurança máxima de Catanduvas, no Paraná, mas agora foi transferido para mais longe, Porto Velho, Rondônia. Já foram inauguradas 13 UPPs, e as favelas dos complexos do Alemão e da Penha passaram a figurar entre as próximas a ser pacificadas. A polícia entra, os bandidos armados saem, e implanta-se um batalhão de policiamento comunitário. Entre fugir, ser preso e morrer, uma nova saída ganha adeptos nas favelas cariocas: largar o crime e recomeçar a vida.
Philippe Bourgois: “Endurecer as leis não resolve”
Nascido em Upper East Side, um bairro de gente rica em Nova York, Philippe Bourgois cresceu vendo com desconfiança os lugares da cidade em que pessoas como ele jamais punham os pés. Mais tarde, depois de se formar em antropologia e morar na América Central, ele percebeu que havia sido menos tolerante com os pobres de Nova York que com os pobres de outros países. Alugou um apartamento no Harlem, região então tomada por traficantes de crack. Passou cinco anos lá. Suas experiências foram contadas em dois livros. Na semana passada, antes de vir ao Brasil dar palestras numa universidade, ele falou com exclusividade a ÉPOCA.
Para a Infraero, quanto mais cheio, melhor
Loja do McDonald’s no aeroporto de Guarulhos, São Paulo. O aluguel passa de R$ 650 mil por mês Para os brasileiros que viajam de avião, os aeroportos nacionais lembram problemas. Eles representam filas longas, poucos lugares para sentar, tempo perdido em espera, voos atrasados, voos cancelados. Graças ao bom momento da economia, no ano passado cerca de 60 milhões de pessoas viajaram de avião no país. A infraestrutura deficiente fez com que esse aumento na demanda se tornasse um problema para a Infraero, estatal que administra os 67 aeroportos do país. Se é alvo de queixas por causa disso, a Infraero também tem sabido aproveitar o lado positivo do fenômeno. O aumento na demanda e a perspectiva futura de um crescimento ainda maior, devido à realização da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, têm gerado lucros expressivos à estatal. Há uma corrida em busca de espaço nos aeroportos. Em licitações recentes para alugar espaços a lojas e restaurantes, a Infraero tem visto seu caixa engordar.
Uma noite no coração do mal carioca
Vista do alto do Morro da Pedra do Sapo, às 18h50 da quarta-feira. A igreja da Penha parece em paz. Mas há trovões no horizonteO calor é sufocante e úmido, daqueles que antecedem temporais. Chegamos ao pé do Morro da Pedra do Sapo, do lado norte do Morro do Alemão, às 16h45. O complexo de favelas está ocupado por policiais e militares desde domingo 28 de novembro. Subimos eu, o fotógrafo André Valentim e duas pessoas que fazem um trabalho social na região. Serão nossos guias locais e o salvo-conduto, caso encontremos com algum marginal. Logo na entrada do morro, três soldados do Exército e dois policiais fazem a guarda. A polícia espalhou blocos de concreto para impedir o acesso de carros. Os militares perguntam o que vamos fazer lá. Revistam nossas mochilas calmamente, sem intimidação. O acesso é liberado. Subimos a escadaria ofegantes até o topo do morro. A vista é deslumbrante. Surge o Rio de Janeiro sob um ângulo que não aparece nos cartões-postais. O céu cor de chumbo é riscado por raios, com o mar no horizonte. Outro mar, de barracos, faz da igreja da Penha uma ilha. Impossível não pensar na imagem da igreja no meio do inferno. De lá, vamos caminhar pelas vielas do Complexo, dormiremos na favela e só sairemos no dia seguinte, depois de passar 24 horas no lugar chamado pela polícia carioca de O coração do mal. Veremos o Rio sob outro ponto de vista.
O que falta fazer
Policiais mostram uma das bazucas apreendidas do arsenal deixado por traficantes no Complexo do Alemão. Reduzir o poder de fogo do tráfico é essencial para manter a pazA ocupação dos territórios que eram controlados por traficantes nos complexos da Penha e do Alemão foi comemorada como um passo vital no combate à violência no Rio de Janeiro. Não houve banho de sangue. Segundo pesquisa do Ibope, 88% dos cariocas aprovam a operação, 41% já se dizem mais seguros e 82% confiam na capacidade da polícia. E agora? Quais são os maiores desafios para manter a paz? De que forma transformar comunidades que estiveram por mais de uma década sob o domínio do crime em espaços de cidadania? Como impedir que o tráfico se recupere com força renovada e novos comandos?
“A essência de tudo o que estamos fazendo é preparar o Rio para o cidadão, e não para eventos importantes”, afirmou o secretário de Segurança José Mariano Beltrame. As mudanças estruturais só virão com investimentos pesados e a determinação de vencer obstáculos em várias frentes. ÉPOCA ouviu especialistas para listar os maiores desafios da pacificação do Rio.
O que mais vai vazar?
Julian Assange, o fundador do WikiLeaks. A polícia britânica disse que só não o pegou por falhas no mandado de prisãoO termo em inglês que melhor define o site WikiLeaks é “whistleblower”. Na tradução literal, seria o soprador de apito, aquele que chama a atenção. O apito do WikiLeaks, que até então soava mais forte só nos Estados Unidos e no Reino Unido por conta das revelações de abusos nas guerras do Iraque e do Afeganistão, foi ouvido no mundo inteiro na semana passada. Pela primeira vez, ecoou no Brasil. Desde o dia 28, o site especializado em publicar documentos secretos de governos e instituições privadas começou a divulgar os 251.287 telegramas de diplomatas americanos emitidos de dentro do Departamento de Estado e de 274 embaixadas e consulados. Foi possível saber, sem filtros, como Washington faz diplomacia e enxerga líderes de outros países. O resultado foi o maior constrangimento recente para os EUA
Carta Capital
Ministério de Dilma tem a cara da continuidade
Nesta sexta foram oficializados Antonio Palocci (Casa Civil), Gilberto Carvalho (Secretaria Geral da Presidência) e José Eduardo Cardozo (Justiça). Sem surpresas, para surpresa de alguns. São dadas como certas as indicações de 3 ministérios para o PMDB: Nelson Jobim, Edison Lobão e Wagner Rossi, para a Defesa, Minas e Energia e Agricultura, respectivamente. A participação do partido não vai parar por aí, deve chegar a 5 ou 6 cadeiras. A definição daqueles nomes visa aplacar a crise causada pela divulgação do nome de Sergio Luiz Cortês para a Saúde, anúncio feito não pela presidente eleita, mas sim por Sérgio Cabral. Este teve que vir a público para se desculpar pela inconfidência. Havia acertado tudo com Dilma, mas, óbvio, não que seria o porta-voz da notícia.
O episódio mostrou quão é complicada a negociação com a federação de interesses que é o PMDB. Garantir um dos ministérios mais importantes do governo, como é o da Saúde, ao contrário de deixar exultantes os membros do partido, causou o maior rebuliço. A conexão direta de Cabral com Dilma incomoda demais ao vice-presidente eleito Michel Temer. E ao PMDB da Câmara, ao PMDB do Senado e aos vários PMDBs regionais. Incomoda também a muitos petistas, mas isso é outra história.
Uma proposta fora do tempo
Os economistas da Casa das Garças, próximos à PUC do Rio e à ortodoxia, não pensaram duas vezes antes de falar mal da ideia lançada pelo ministro da Fazenda. Idem os profissionais do mercado e seus porta-vozes sempre consultados pela mídia. Até aí nada de novo. Guido Mantega não contava, contudo, com as críticas de desenvolvimentistas à sua iniciativa, em geral mencionadas nos bastidores, ante seu anunciado desejo de discutir o método de cálculo da inflação.
O que desagradou à ala heterodoxa não tem tanto a ver com a proposta em si, mas principalmente com a forma e o momento em que foi manifestada por Mantega. Em outras palavras, ficou a impressão de que ele teria, na melhor das hipóteses, antecipado um debate que ainda não está maduro nem mesmo para seus colegas de equipe econômica. Ficou a sensação de que o ruído causado lançou mais nebulosidade que luz ao debate.
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