Isto É
Os tucanos voam mais alto
Personagem quase lendário da história de Minas Gerais, o ex-governador Benedito Valadares ensinou que a política se move como nuvem. E ganha novas formas a cada instante, para perplexidade do próprio meio político. Na quinta-feira 17, o jovem governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), encarregou-se de mostrar que a lição de Valadares está mais viva do que nunca: num movimento surpreendente, anunciou sua desistência de concorrer à Presidência da República em 2010, abrindo caminho para a candidatura do governador de São Paulo, José Serra. Aguardada apenas para meados de janeiro, a súbita definição de Aécio sobre seu futuro eleitoral veio exatamente quando seu nome dá sinais de rápido crescimento nas consultas de opinião. Segundo pesquisa realizada para ISTOÉ pelo instituto Vox Populi, entre os dias 11 e 14 de dezembro – a primeira feita no País depois da mais recente rodada de programas eleitorais de televisão e com chapas fechadas –, Aécio Neves, como candidato do PSDB, venceria a corrida presidencial, com o deputado do PSB e ex-ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, de vice. De acordo com a pesquisa, se as eleições fossem hoje, a dupla Aécio/Ciro bateria a chapa da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), com o presidente da Câmara, Michel Temer (PMDB), por 35% a 21% dos votos. Esta é a primeira vez que Aécio aparece em uma pesquisa à frente de Dilma. Em seguida, ficaram a senadora Marina Silva (PV-AC) e o sócio da Natura, empresário Guilherme Leal, com 13%.
Em todos os cenários da pesquisa ISTOÉ/Vox Populi, os candidatos tucanos aparecem como vencedores. A chapa Serra com a vice Kátia Abreu, senadora pelo DEM de Tocantins, é a que alcança o maior índice: 44%, contra 21% da dobradinha Dilma/Temer e 10% da dupla Marina Silva/Guilherme Leal. Na pesquisa estimulada com apenas cabeças de chapa, a situação se agrava para a ministra Dilma, quando Ciro não figura entre os candidatos. Neste caso, Serra praticamente liquida a eleição no primeiro turno. Aparece com 46% das intenções de voto, contra 21% de Dilma e 11% de Marina. Mas, com Ciro na disputa, a vantagem de Serra diminui. Fica com 39%, ao passo que Dilma aparece em segundo com 18% seguida de Ciro com 17% e Marina com 8%. Em outra simulação, quando Serra é substituído por Aécio como o candidato do PSDB, o governador de Minas também mostra força no jogo sucessório. No cenário com a presença de Ciro e Dilma, Aécio aparece em primeiro lugar, com 24%, em empate técnico com o pré-candidato do PSB, com 23%. Em terceiro, vem a ministra com 17% e depois Marina com 11%. Na amostragem sem o nome de Ciro, o governador de Minas permanece na frente, mas sobe para 28% das intenções de voto. Em segundo, aparece Dilma com 24% e em terceiro, Marina com 15%. Outra questão pesquisada, a de quanto cada candidato é conhecido pelo eleitor, revela: Aécio é o que possui os menores índices de identificação pelos entrevistados, ou seja, o que teria maior potencial de crescimento a partir de uma intensa campanha eleitoral (confira os resultados nos quadros ao longo da reportagem).
A despeito de o vento estar a favor, dentro da melhor tradição mineira, o jovem governador entendeu que o tempo da política tem dinâmica própria. E o importante agora é evitar que a divisão no ninho tucano se aprofunde. “Deixo a partir deste momento a condição de pré-candidato do PSDB à Presidência da República, mas não abandono minhas convicções e minha disposição para colaborar para a construção das bandeiras da social-democracia brasileira”, disse ele, em carta ao presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE). Nos bastidores, porém, políticos próximos a Aécio garantem que a desistência foi estratégica. Seu real objetivo seria expor José Serra a chuvas e trovoadas, forçando-o a assumir a candidatura. Tudo que ele não quer, pois considera temerário bater de frente com a popularidade recorde do presidente Lula. Serra prefere entrar em cena só a partir de março, para, então, competir com sua adversária de fato, a ministra Dilma Rousseff. Acredita-se que, ao entrar na disputa, Serra pode se desgastar rapidamente, o que, mais à frente, forçaria o PSDB a retomar o projeto de candidatura de Aécio para presidente. Em torno de abril de 2010, o governador mineiro retornaria ao jogo sucessório como a salvação da lavoura tucana. Foi exatamente esta a leitura que o presidente do PT, Ricardo Berzoini, fez ao comentar a desistência: “Aécio ainda não fechou a porta. Caso Serra desista da disputa no ano que vem, pode ser que Aécio, sob muita insistência do PSDB, volte como candidato.”
A versão da ex de Arruda
A atriz Mariane Vicentini, ex-mulher do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, não se surpreendeu com as denúncias e as imagens de corrupção que colocam seu ex-marido como o chefe da quadrilha do Mensalão do Demo. “Ele se aliou a pessoas que são sujas e perigosas, e há muito mais para ser investigado” disse Mariane à ISTOÉ, referindo-se a Durval Barbosa (ex-secretário de Relações Institucionais), Marcelo Toledo (braço direito de Durval) e Fábio Simão (ex-chefe de gabinete). Segundo a ex-mulher de Arruda, além do dinheiro entregue em espécie, o governador teria gastos pessoais pagos com dinheiro ilegal através de cartões de crédito usados por seus principais auxiliares. Ela se recorda, por exemplo, de uma viagem para Aruba e depois Paris, no final de 2006. “A viagem foi feita pouco antes da posse dele como governador. Em Paris, nos hospedamos no hotel Plaza Athénée e todas as despesas foram pagas no cartão de Simão”, afirma. “O dinheiro tinha sido arrecadado junto a empresários que têm interesses no governo do DF.” A ex-mulher acusa Arruda e seu grupo de estarem usando o dinheiro arrecadado na compra de propriedades e citou um haras nos arredores de Brasília. “Não sabia que Arruda gostava tanto de cavalos, mas soube que ele comprou um haras e recentemente deu de presente para nosso filho de quatro anos um cavalo puro-sangue”, lembra. De acordo com ela, nem todas as propriedades do governador estão em seu nome.
O casal se conheceu em 1990. Três anos depois, Arruda deu para Mariane um apartamento em Ipanema, no Rio de Janeiro, e em 2000 os dois passaram a viver juntos em Brasília. No mesmo ano, ISTOÉ revelou que Arruda e ACM fraudaram o painel do Senado e ambos renunciaram. Na ocasião, Mariane foi uma das poucas pessoas que ficaram ao lado de Arruda. A separação veio no início de 2007, meses depois da posse de Arruda como governador. No acordo da separação extrajudicial, Mariane recebeu cerca de R$ 15 milhões. Faz parte da pequena fortuna uma casa avaliada em R$ 2,8 milhões. “A casa estava no nome de um construtor que tem contratos com o governo do Distrito Federal, foi transferida para os filhos mais velhos de Arruda e depois para mim”, conta Mariane. Em 2006, quando se candidatou ao governo, Arruda declarou à Justiça Eleitoral possuir um patrimônio de R$ 598 mil, composto de um apartamento em Brasília, um apartamento, uma casa e dois terrenos em Itajubá (MG), um OMEGA 2009, uma Ranger 2001 e um Gol 2001. “Muitas propriedades dele ficam em nome de laranjas e até de pequenos construtores”, diz a ex-mulher. “É só investigar que muita coisa pode vir à tona.”
Segundo Mariane, o esquema do governo de Arruda não difere do que funcionou em governos anteriores. Ela diz que, já durante a campanha, Durval, Simão e outros começaram a gravar Arruda e empresários para que depois de eleito o governador fosse obrigado a abrigar a quadrilha. “Lembro que deixava os comícios para correr para casa e amamentar o nosso filho; enquanto isso, esse grupo alimentava a discórdia para provocar a minha separação, pois nunca o recebi em minha casa. Fui saber depois que, enquanto eu amamentava nosso filho, Arruda se encontrava com mulheres apresentadas por esses assessores que o gravavam e filmavam para chantageá-lo depois”, afirma. “Até o carro usado por Arruda na campanha foi todo grampeado pelo Simão.”
Briga no palanque
A eleição nos diretórios estaduais do PT escancarou o racha no partido e mostrou que a repetição da aliança com o PMDB nos Estados está cada vez mais complicada. Em conversa com auxiliares nos últimos dias, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva admitiu que, em pelo menos cinco Estados importantes, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, pré-candidata à Presidência, terá que subir em dois palanques. São eles: Minas Gerais, Bahia, Rio de Janeiro, Santa Catarina e Pará. Em São Paulo, o senador Eduardo Suplicy (PT-SP) confirmou à ISTOÉ que lutará para viabilizar sua candidatura ao governo do Estado. Apesar do desejo de Lula de lançar o deputado Ciro Gomes (PSB-CE) como candidato de consenso, Suplicy é o sexto petista a apresentar seu nome ao Palácio dos Bandeirantes. Além dele, postulam a vaga o ex-ministro da Fazenda Antônio Palocci, a ex-prefeita Marta Suplicy, o prefeito de Osasco, Emídio de Souza, o deputado Arlindo Chinaglia e o ministro da Educação, Fernando Haddad. “Acredito que conseguirei as assinaturas para oficializar meu nome”, disse Suplicy.
A situação mais difícil para o PT é a de Minas Gerais. De um lado da trincheira, o ex-prefeito de Belo Horizonte Fernando Pimentel, e do outro, o ministro do Desenvolvimento Social, Patrus Ananias, ambos pré-candidatos ao governo de Minas no ano que vem. Diante dos recursos pedindo a impugnação do pleito – vencido por Reginaldo Lopes, ligado a Pimentel –, a apuração de cerca de 15 mil votos foi interrompida. O clima é belicoso e não há dúvida de que deixará sequelas para 2010. Na quarta-feira 9, Patrus, que apoiou Gleber Naime, mandou uma carta à direção do partido pedindo intervenção nacional no processo eleitoral no Estado. “Herdaremos dessa eleição um partido dividido, sangrando e exposto ao escárnio público”, disse à ISTOÉ o ex-deputado estadual Rogério Corrêa, aliado de Patrus. Mesmo que Reginaldo seja declarado vencedor, Patrus não abrirá mão de disputar com Pimentel as prévias para decidir quem será o candidato do PT ao governo.
Em busca de popularidade
O Brasil adota sistema presidencialista de governo e não tem um primeiro-ministro. Mas, desde a exibição do programa oficial do PT em horário nobre de televisão, na quinta-feira 10s, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, foi ungida, na prática, ao cargo máximo do parlamentarismo. Afirmou-se que todas as mudanças no País se devem ao trabalho de uma grande equipe, comandada por Dilma. “Uma equipe que faz tudo com muito amor e competência”, disse o presidente Lula, ressaltando que “é possível haver democracia com crescimento econômico”. De terno vermelho, maquiada e sorridente, Dilma deu prova do perfeito entrosamento com o chefe: “Penso igual ao sr., presidente. A gente fez muito, mas sabe que é preciso fazer muito mais.”s O diálogo amistoso entre Lula e Dilma serviu para antecipar qual será a estratégia adotada pelo PT. Apresentada como gestora das grandes obras e responsável tanto pela exploração do pré-sal quanto pelo programa Minha Casa, Minha Vida, a ministra vai bater na tecla de que “o que Lula está fazendo não pode parar”. A peça de resistência será, sem dúvida, a dobradinha Lula-Dilma. Dessa forma, o PT espera conquistar seu maior desafio: transformar a imensa popularidade de Lula em votos para a sua candidata.
Os responsáveis pelo marketing eleitoral da ministra acreditam que, ao colar a imagem de Lula a Dilma, os dividendos eleitorais serão líquidos e certos. O PT aposta que, após a exibição do programa de tevê, Dilma se tornará mais conhecida e sua campanha ganhará novo ritmo. “Quando a população conhecer a ministra, o atual percentual de rejeição vai despencar”, prevê o líder do PT na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (SP), um dos integrantes do núcleo político que aconselha a ministra. Ele se refere aos resultados da pesquisa CNI/Ibope divulgada no dia 7. Apesar de conhecida apenas por 32% dos brasileiros, Dilma mostrou um índice de rejeição de 41%. O que fez surgirem rumores, em Brasília, de que a campanha de Dilma estaria sendo reavaliada. Além do bem-sucedido marqueteiro petista João Santana, passariam a cuidar da imagem de Dilma outros dois papas da publicidade: Duda Mendonça e Nizan Guanaes. Dentro do PT, nega-se o reforço com veemência. “Isso é coisa de gente que quer dar um pitaco na campanha. Estamos satisfeitos com o trabalho de João Santana. Basta ver a qualidade do programa de tevê”, afirmou à ISTOÉ uma fonte ligada à Presidência.
Época
O império do vice de Arruda
Três adolescentes que andavam juntos em Brasília nos anos 60 ficaram conhecidos de todo o país pouco mais de duas décadas depois. Fernando Collor de Mello foi o primeiro presidente eleito depois da ditadura militar e sofreu impeachment pelo Congresso Nacional acusado de corrupção. Luiz Estevão entrou para a história como o primeiro senador cassado pelos colegas, também acusado de corrupção. Paulo Octávio Pereira, o terceiro da turma, foi parceiro dos outros dois na Operação Uruguai, a farsa montada para tentar salvar Collor, mas que desmoralizou a defesa do então presidente. Atual vice-governador do Distrito Federal, Paulo Octávio tornou-se, até agora, um sobrevivente nesse roteiro. No mundo empresarial, ele criou um verdadeiro império em construção civil, hotelaria e comunicações, com movimento financeiro de bilhões de reais. Tornou-se um dos homens mais ricos de Brasília. Sua carreira política também é um sucesso: foi deputado federal e senador, antes de chegar ao segundo cargo mais importante do governo local. Agora, porém, seu império poderá ruir. Paulo Octávio é alvo de duas investigações da Polícia Federal, que juntaram provas surpreendentes nas apurações sobre corrupção na capital.
Uma delas é a Operação Caixa de Pandora, que expôs ao país imagens do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda, secretários, deputados distritais e empresários pagando ou recebendo dinheiro em espécie. Em alguns vídeos, o personagem é Marcelo Carvalho, principal executivo dos negócios de Paulo Octávio. Ele fala em nome do chefe, negocia valores e faz confidências sobre a prestação de contas. A defesa de Paulo Octávio diz que ele não pode ser acusado, pois não surgiu nenhuma imagem em que ele apareça recebendo dinheiro. Essa versão não resiste a outra apuração da Polícia Federal, a Operação Tucunaré, mantida sob sigilo. De acordo com os investigadores, há vídeos em que Paulo Octávio distribui dinheiro a deputados aliados de Brasília.
A Operação Tucunaré começou na Polícia Civil do DF para investigar lavagem de dinheiro e evasão de divisas por doleiros. Ela foi assumida pela PF em junho deste ano, quando a polícia grampeou uma conversa entre o doleiro Fayed Trabously – personagem citado em escândalos do PMDB e do antigo PFL – e o policial aposentado Marcelo Toledo Watson. Tucunaré é o apelido de Toledo, policial que saiu da ativa, aos 28 anos, depois de ser baleado durante o resgate da filha do senador Luiz Estevão, vítima de um sequestro em 1997.
Sindicalista e emergente
O sindicalista Genival Beserra Leite tem um gosto especial em mostrar as dependências de um prédio ao lado do Pátio do Colégio, a primeira edificação da cidade de São Paulo. Onze dos 20 andares do prédio pertencem ao Sindeepres, um sindicato cujo nome completo tem 32 palavras, mas é conhecido como Sindicato dos Trabalhadores Terceirizados. Fundado e presidido por Leite desde 1993, o Sindeepres tem mais de 100 mil associados e representa cerca de meio milhão de trabalhadores no Estado de São Paulo. Apenas com o imposto sindical, uma de suas fontes de renda, sua arrecadação anual é calculada em R$ 5 milhões. Paralelamente à carreira de líder de um dos sindicatos que mais cresceram no país nos últimos anos, Leite construiu também uma bem-sucedida vida empresarial e financeira. Esse lado, Leite procura não exibi-lo.
Fora do ambiente de negociações salariais, ameaças de greve e conversas com políticos e patrões, Leite atua como empresário do setor de turismo. Ele é dono de um hotel e de uma pousada em Ilhabela, no Litoral Norte de São Paulo. Além dessas duas propriedades, Leite tem um patrimônio imobiliário avaliado em, pelo menos, R$ 3 milhões. A coleção de bens é composta de duas casas, dois apartamentos e um terreno em São Paulo e uma casa de veraneio em Ilhabela.
Como a maioria dos sindicalistas, a carreira de Leite começou por baixo. Ele foi assessor de base do Sindicato dos Metalúrgicos de São Paulo na região de Santo Amaro, Zona Sul de São Paulo. Seu trabalho era distribuir panfletos entre os trabalhadores. Pouco depois, Leite deixou o Sindicato dos Metalúrgicos. Aproveitou a tendência da terceirização de mão de obra, na década de 1990, e fundou o Sindeepres.
Serra nem precisa decidir
O governador de São Paulo, José Serra, estava de saída de Copenhague, na Dinamarca, na semana passada, quando soube que seria tratado como candidato à Presidência da República ao chegar ao Brasil. Pouco antes de embarcar, Serra recebeu uma ligação de Aécio Neves, governador de Minas Gerais. Aécio avisava que estava definitivamente fora da disputa pela vaga de candidato do PSDB à Presidência. Ao desembarcar, Serra foi direto a um compromisso no interior de São Paulo. Chegou mal-humorado e, mais tarde, cancelou uma entrevista coletiva marcada para falar sobre um programa do governo paulista. A um amigo, Serra reclamou do modo repentino como Aécio fez seu anúncio. Mas ele também estava contrariado porque deixara de ser o condutor da presença do PSDB na sucessão presidencial para se transformar em refém da dinâmica da eleição de 2010.
Aécio anunciou, na tarde da quinta-feira, que não insistiria na disputa para ser o candidato tucano à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Busco contribuir, dessa forma, para que o PSDB e nossos aliados possam, da maneira que compreenderem mais apropriada, com serenidade e sem tensões, construir o caminho que nos levará à vitória em 2010”, disse, ao lado do presidente do PSDB, Sérgio Guerra. Aécio anunciou a decisão numa carta de 1.000 palavras. A principal informação no texto era uma ausência. Em nenhum momento ele menciona o nome de José Serra.
A decisão colocou Serra na posição que ele procurava evitar havia meses. A presença de Aécio na disputa servia como uma espécie de proteção a sua candidatura. Na intimidade, Serra jamais acreditou que o concorrente de Minas Gerais pudesse ameaçá-lo, nem mesmo quando a direção do PSDB fingiu que levaria a sério a ideia de escolher o candidato ao Planalto em prévias eleitorais. Com a sombra de Aécio, Serra podia inaugurar obras, percorrer o país e comparecer a programas de TV sem responder a questões desgastantes sobre a disputa presidencial. Líder nas pesquisas, seu principal cuidado sempre tem sido evitar situações que possam lhe trazer qualquer tipo de prejuízo eleitoral. Horas depois de Aécio anunciar a decisão, Serra se dizia disposto a manter a mesma estratégia silenciosa – até março de 2010.
Os campeões da planilha
Um dos atuais motivos de grande frenesi no meio político-empresarial-judicial são 51 planilhas encontradas em um pen drive apreendido pela Polícia Federal em março, durante a Operação Castelo de Areia. Os arquivos foram encontrados na casa de Pietro Francesco Giavina Bianchi, um executivo da empreiteira Camargo Corrêa. Alguns dos melhores advogados do país estão mobilizados por causa do documento.
Ao lado de valores em dólar, convertidos para reais pela cotação da época, entre os anos de 1995 e 1998, as planilhas relacionam obras da Camargo Corrêa, empresas estatais e nomes. Para a Polícia Federal, as planilhas descrevem uma contabilidade paralela. Os valores mencionados seriam supostos pagamentos feitos pela empreiteira por caixa dois. Os advogados da Camargo Corrêa dizem desconhecer as planilhas. “Eu considero o vazamento e a divulgação dessa lista uma temeridade”, afirma Celso Villardi, advogado da Camargo Corrêa. O Ministério Público Federal em São Paulo juntou as planilhas a pedidos de investigações encaminhados à Procuradoria-Geral da República e a outras unidades do MPF no Brasil para apurar suspeitas de fraude em 14 obras com participação da Camargo. Os pedidos de investigação mencionam também suspeitas de crimes eleitorais e de corrupção ativa e passiva cometidos por funcionários públicos e políticos.
ÉPOCA teve acesso às planilhas apreendidas pela PF. Nelas, dois nomes aparecem com destaque, por causa dos altos valores associados a eles. O campeão em valores é B. Carraro, ou simplesmente Carraro. Esse nome aparece, em várias linhas das planilhas, ligado às inscrições Machadinho, Tucuruí e Eletrobrás. São referências às usinas hidrelétricas de Machadinho, na divisa entre Santa Catarina e Rio Grande do Sul, e de Tucuruí, no Pará, e à Eletrobrás, estatal do setor elétrico que controla seis subsidiárias de geração e transmissão de energia – entre elas Furnas e Eletrosul. A Camargo Corrêa participou das obras de Machadinho e de Tucuruí. Ao lado de Carraro e B. Carraro, aparecem valores que somam US$ 2,5 milhões (R$ 3,2 milhões) entre os anos de 1996 e 1998. Entre 1995 e 1999, o diretor de planejamento e engenharia da Eletrobrás era Benedito Carraro, engenheiro com 40 anos de experiência no setor elétrico, hoje na presidência da Companhia Energética de Brasília (CEB), por nomeação do governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (ex-DEM).
O desafio do Supremo
Em 30 de abril, após o julgamento que aboliu a Lei de Imprensa de 1967, o ministro Carlos Ayres Britto, do Supremo Tribunal Federal (STF), redigiu um acórdão que parecia anunciar uma nova era de liberdade. Num documento de 334 páginas, fez afirmações firmes e categóricas: “Não há liberdade de imprensa pela metade ou sob as tenazes da censura prévia, inclusive a procedente do Poder Judiciário”. Em outra passagem, escreveu: “A crítica jornalística não é aprioristicamente suscetível de censura, mesmo que legislativa ou judicialmente intentada”. Em mais um trecho, acrescentou: “Não cabe ao Estado, por qualquer de seus órgãos, definir previamente o que pode e o que não pode ser dito por indivíduos e jornalistas”.
Oito meses depois, em 10 de dezembro, o STF examinou um recurso jurídico do jornal O Estado de S. Paulo contra uma sentença do Tribunal de Justiça do Distrito Federal que proíbe o veículo de publicar reportagens com escutas obtidas na Operação Boi Barrica, que investigou as empresas dirigidas pelo empresário Fernando Sarney. Citando vários parágrafos redigidos por Ayres Britto, o argumento do jornal era simples e lógico: se não existe “liberdade pela metade”, por que a censura prévia?
Esse argumento não convenceu o plenário. O veto ao jornal foi mantido por 6 votos a 3. Em parte, trata-se de uma decisão de alcance limitado. É verdade que o STF desperdiçou a chance de suspender a censura prévia a um órgão de imprensa – atitude que sempre faz bem a um tribunal vinculado a valores democráticos –, mas o alcance da decisão não envolve o conjunto da mídia nem abre nenhum tipo de precedente jurídico. Não se discutiu, ali, o mérito da proibição, mas a pertinência daquele recurso específico. Ao proferir seu voto, vários juízes fizeram questão de se colocar como adversários da censura prévia. Afirmaram, porém, que o jornal optara por um caminho tecnicamente errado para livrar-se dela. “Nossa ação teve como base o acórdão e a ementa do ministro Carlos Ayres Britto”, diz Manoel Alceu Affonso Ferreira, advogado do jornal. “É difícil imaginar um instrumento melhor que uma decisão do próprio STF para discutir a questão.”
Veja
Proibido estacionar
Para acabar com os problemas de estacionamento em Goiânia, a prefeitura do município tirou da gaveta um projeto que parece bom demais para ser verdade. A ideia é instalar 20 000 parquímetros na cidade sem desembolsar um único tostão e, melhor, ficar com parte dos recursos arrecadados. A empresa encarregada de fazer o serviço foi a Enatech/GDT, que, criada três meses antes da assinatura do contrato, não precisou enfrentar os processos convencionais de licitação. Ela foi convidada a executar o trabalho de instalação, operação e manutenção dos aparelhos e receberá até 112 milhões de reais. É muito? É um terço da arrecadação prevista nos próximos cinco anos. Nesse ponto, o que parecia bom demais para ser verdade chamou a atenção das autoridades. O belo, estranho e lucrativo negócio dos parquímetros de Goiânia tem ainda outro componente meio, digamos, fora da curva da normalidade. Quem está por trás da transação é Delúbio Soares, ex-tesoureiro do PT e um dos principais personagens do escândalo do mensalão.
O projeto dos parquímetros estava guardado na gaveta da administração municipal do PT desde 2004. Para apoiar o atual governo, do peemedebista Iris Rezende, os petistas reivindicaram cargos, entre os quais os da Agência Municipal de Transportes. No órgão, materializou-se a ideia – e alguém lembrou que a empresa Enatech, por coincidência, já tinha o projeto prontinho na gaveta. Para driblar a lei das licitações, a prefeitura fez um contrato com a Câmara de Diretores Lojistas (CDL), uma entidade privada, que, por sua vez, subcontratou a Enatech. O dono da empresa, Jaime Ferreira de Oliveira, é companheiro de longa data de Delúbio Soares. Garante Jaime: “O Delúbio é um grande amigo, mas nada tem a ver com esse negócio, que é totalmente normal”. O Ministério Público de Goiás não pensa assim. “São escandalosas as evidências de irregularidades nesse contrato”, diz a promotora Villis Marra, que vai ingressar com ação civil pública por improbidade administrativa contra o prefeito Iris Rezende, o presidente da estatal de trânsito, o petista Miguel Tiago, e o presidente da CDL, Melchior Abreu Filho. “Esse negócio só aconteceu por causa da força política do Delúbio”, acusou da tribuna o vereador Santana Gomes, do PMDB. O ex-tesoureiro petista não quis comentar o assunto.
A hora de Serra
Faltam dez meses e meio para que os eleitores brasileiros escolham o próximo presidente da República. A base aliada do governo Lula já sabe há algum tempo que irá para a disputa tendo à frente a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff. A oposição, no entanto, resistia a definir o seu representante no pleito. Essa dúvida acabou na quinta-feira passada. O candidato que enfrentará Dilma nas urnas será o tucano José Serra, atual governador de São Paulo. O caminho dele ficou livre por uma decisão tomada em Belo Horizonte pelo governador mineiro, Aécio Neves. Muitíssimo bem avaliado em seu estado e festejado por políticos de todo o país, Aécio era o único que ameaçava disputar com Serra a cabeça da chapa presidencial do PSDB, mas decidiu retirar sua pré-candidatura. A partir de agora, todo o campo oposicionista, que além do PSDB abarca o DEM e o PPS, voltará integralmente sua atenção para o Palácio dos Bandeirantes, sede do Executivo paulista. Serra personifica a esperança de alternância de poder no Brasil. É a melhor aposta para romper com a hegemonia alcançada pelo PT na política brasileira durante os últimos sete anos.
Serra não anunciará oficialmente sua candidatura agora. Ele avalia que, se fizesse isso, teria a perder. Afinal, já está muito bem posicionado para 2010, pois aparece em primeiro lugar em todas as pesquisas de intenção de voto. Na visão de Serra, se assumir a candidatura neste momento, ele só estará se expondo à intensificação dos ataques adversários. O governador pretende provar que não estava brincando quando disse, recentemente, que tem “nervos de aço na política”. Vai deixar o anúncio oficial para a última hora, em março, quando expira o prazo legal para que os candidatos renunciem aos cargos públicos e se dediquem exclusivamente à campanha. Enquanto isso, deixará nas mãos do presidente do PSDB, Sérgio Guerra, a missão de negociar por ele as formações de palanques estaduais com aliados fora de São Paulo.
Aécio, por seu lado, cresceu em admiração dentro do PSDB. A decisão de abrir espaço para Serra foi muito bem recebida pelos tucanos, que atribuem a divisões internas – entre outras questões – a derrota do partido para o PT em 2006. A movida de peças de Aécio pode significar que o PSDB, enfim, marchará unido. Como Serra se tornou o candidato natural, todos os grupos do partido – além do DEM e do PPS, que também integram a oposição ao governo Lula – deverão trabalhar com afinco por sua candidatura. Dessa vez, afirmam tucanos graúdos, não haverá fissuras.
A disputa na arena digital
Os políticos brasileiros estão se armando para usar bem a internet em 2010. A rede oferece várias maneiras de chegar aos eleitores – e-mails, newsletters, blogs e a criação de websites interativos são as mais comuns. A fronteira das redes sociais já começa também a ser desbravada. Nessas redes as pessoas criam páginas em que seus amigos e os amigos dos amigos trocam informações de interesse comum, formando extensas comunidades virtuais. Entre elas a mais dinâmica é o Twitter, serviço de troca de mensagens curtas com até 140 caracteres que se tornou uma febre mundial. Nele, as pessoas se interligam de um modo peculiar: elas seguem e são seguidas. Um “tuiteiro” de muito sucesso pode ter milhares de seguidores. Seguir significa cadastrar-se no Twitter de alguém e, então, habilitar-se a receber automaticamente todas as mensagens mandadas por aquele usuário.
Na política, o Twitter pode funcionar como um palanque eletrônico com muito maior potencial para dar uma estocada em um adversário do que para construir uma reputação. Imagine um candidato a governador que consiga, por exemplo, 50 000 seguidores em seu Twitter e que, em média, cada um dos seus seguidores tenha, digamos, outra centena de seguidores. Cada mensagem desse político chegaria quase instantaneamente a 5 milhões de pessoas. Uma velha raposa da política comparou o papel eleitoral do Twitter ao poder que os padres católicos desfrutavam nas paróquias do interior do Brasil nos anos 50 e que os pastores protestantes têm hoje: “Padre ajuda pouco e atrapalha muito”. Ou seja, uma palavrinha a favor de um político dita no púlpito não motiva muito, mas uma ameaça de excomunhão, que pode ser feita com menos de 140 caracteres, se espalha destrutivamente com o poder das fofocas entre os paroquianos.
A pedido de VEJA, a empresa Direct Labs monitorou durante uma semana os quase 10 milhões de usuários de Twitter no Brasil. O interesse era descobrir o que os tuiteiros andam falando dos candidatos potenciais à Presidência da República em 2010. A Direct Labs valeu-se do Scup, um serviço digital que monitora o conceito de pessoas e empresas no mundo digital. O Scup rastreia as conversações dos chamados “perfis abertos” (usuários que não acionaram os mecanismos de privacidade do Twitter). Para a pesquisa pedida por VEJA, os analistas cruzaram os nomes dos candidatos com os adjetivos associados a eles nas trocas de mensagens dos tuiteiros brasileiros entre 8 e 14 de dezembro. Com base nesses dados, foi possível obter uma boa ideia da imagem do candidato.
Agora, Lula terá de despachar Battisti
O terrorista italiano Cesare Battisti completou 55 anos na sexta-feira da semana passada numa cela da penitenciária da Papuda, em Brasília. É o terceiro aniversário que Battisti comemora na prisão. Desta vez, ele ganhou presente: uma passagem só de ida a Roma, cortesia do Supremo Tribunal Federal (STF). Battisti foge da Justiça italiana desde meados dos anos 80, quando foi condenado pelo assassinato de quatro pessoas. No ato final de um difícil e longo debate, os ministros do STF retificaram o resultado do primeiro julgamento de Battisti, proclamado há cinco semanas, no qual autorizavam a extradição do italiano, embora com a ressalva de que caberia ao presidente Lula a opção final sobre o destino do terrorista italiano. A ressalva feita pelo STF foi de rara infelicidade política, equilibrada sobre uma insustentável arquitetura jurídica.
A decisão da semana passada desenrolou o nó original. Os ministros reconduziram a questão ao seu leito jurídico natural, tirando os poderes extras concedidos ao chefe do Executivo e obrigando-o a seguir as normas do tratado de extradição assinado entre Brasil e Itália. Na prática, isso significa que Lula não tem alternativa a não ser devolver Battisti ao sistema judicial do país onde ele está condenado pelos assassinatos. O tratado prevê que a extradição de criminosos é uma obrigação mútua dos países signatários.
Não existem atenuantes. O terrorista não se encaixa em nenhuma das exceções que poderiam impedir a extradição. “O presidente não tem opção”, diz um ministro. Se Lula não extraditar Battisti, não só o Brasil poderá ser denunciado pela Itália na Corte de Haia como o STF certamente enquadrará o presidente. O responsável por essa monumental barafunda é o ministro Eros Grau, cujo voto no caso, de tão hermético, não foi compreendido nem pelos colegas. Melindrado com as admoestações dos ministros, que lhe pediam clareza ao explicar suas razões, Eros Grau acabou votando com quem achava que cabia a Lula a decisão final no caso. Na semana passada, o ministro reconheceu o óbvio: não é facultado ao presidente de um país desobedecer às leis e tratados vigentes. Eros Grau, que se aposentaria em agosto de 2010, saiu de férias dizendo aos colegas que pensa em abandonar a corte já no começo do ano que vem.
Babel em Copenhague
A 15ª Reunião das Nações Unidas para Mudanças Climáticas (COP15) tinha uma missão difícil. Fazer com que representantes de 192 países e sessenta comitivas de chefes de estado chegassem a um acordo mundial para a redução de gases de efeito estufa na atmosfera era um desafio e tanto, mesmo na visão dos mais otimistas. Ainda assim, foi surpreendente o que se passou em Copenhague na sexta-feira. Esperava-se que, depois de uma reunião de emergência que começou na noite de quinta-feira e só terminou no dia seguinte, as respeitáveis autoridades conseguissem pelo menos manter as aparências. No entanto, presidentes, primeiros-ministros e príncipes foram embora da Dinamarca de mãos abanando. Deixaram para seus negociadores a tentativa de salvar algum compromisso minimamente palatável, que se traduziu em um documento político. As preocupações legítimas com o fenômeno climático transmutaram a reunião da ONU num espetáculo pouco útil aos interesses do planeta, porém ao gosto da indústria de ONGs e empresas que se beneficiam da paranoia em torno do assunto. Mas atropelos e desencontros da reunião de Copenhague não significam que o mundo está irremediavelmente fadado ao cataclismo. O mundo não vai acabar desta vez. O que acabou foi a COP15, uma das reuniões de um processo de negociação que já se desenrola há dezessete anos. Tudo o que não ficou decidido ali estará em discussão novamente em 2010, na COP16, que acontecerá em dezembro, no México. De qualquer modo, foi um fim melancólico.
Para que a conferência fosse bem-sucedida, seria necessário ter passado a limpo cinco itens de sua agenda. Até o encerramento desta edição de VEJA, na sexta-feira à noite, ainda havia muitas dúvidas. O único acordo claro deu-se em torno do que já se sabe à exaustão: é preciso limitar o aumento da temperatura global, e esse limite é de 2 graus. Mas tudo o que precisa ser feito para que isso aconteça ficou para depois.
n A segunda questão-chave para o sucesso da reunião era trazer os EUA, o segundo maior emissor de gás carbônico do mundo (foram ultrapassados pela China), para dentro do acordo que impõe metas obrigatórias e de médio prazo aos países. Os EUA, que não assinaram o Protocolo de Kyoto, seguiram sem ceder nesse ponto.
Carta Capital
O bode Meirelles
Insatisfeito com os rumos da aliança eleitoral entre o PT e o PMDB, Lula colocou um bode na sala. O bode responde pelo nome de Henrique Meirelles, presidente do Banco Central e cristão-novo no antigo MDB. A manobra de Lula parece ter um único objetivo: barrar a escolha do paulista Michel Temer, presidente da legenda e da Câmara dos Deputados, à vaga de vice na chapa encabeçada pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff.- A rejeição a Temer vem da época do chamado mensalão, quando o deputado tergiversou na hora de apoiar o governo, ao contrário do que fizeram Renan Calheiros e José Sarney, aliados de primeira hora do Planalto.
Vem daí o alvoroço recente dos peemedebistas. Quanto às chances de Meirelles, com a palavra o deputado Henrique Eduardo Alves, líder do partido no Congresso: “Chance zero”. Alves admite o mal-estar na legenda desde que Lula afirmou a duas rádios maranhenses, na quinta-feira 10, de que o PMDB deveria apresentar uma lista tríplice com sugestões à vaga de vice. “O correto é o PMDB discutir dentro do partido e indicar três nomes para a ministra Dilma, para que ela possa escolher”, afirmou o presidente.
Jango como Eduardo Frei?
Em novembro do ano passado, em cerimônia realizada durante a conferência da Ordem dos Advogados do Brasil, em Natal, o governo brasileiro anistiou postumamente o ex-presidente João Goulart, atendendo à ação movida pela ex-primeira-dama Maria Teresa.
Jango, como era conhecido, deposto por um golpe militar em 1964, morreu em 6 de dezembro de 1976, no Uruguai. No atestado de óbito, assinado por um médico uruguaio, a causa da morte foi diagnosticada descuidadamente como enfermedad e, posteriormente, rebatizada de “ataque cardíaco”. Nada mais suspeito para uma morte já cercada de suspeição.
À margem do diagnóstico oficial, consolidou-se a versão de assassinato. Jango constava da lista de crimes perpetrados, pela Operação Condor, contra líderes políticos sul-americanos. Ele teria sido envenenado. Jango foi enterrado sem a autópsia pretendida pela família.
Alerta ligado
Cauteloso com as palavras, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, sabe que, se deixar, corre o risco de ver as ideias que defende dentro do governo serem deturpadas pelo viés financista que domina o debate econômico no País. Foi assim poucos dias atrás, quando circulou a informação de que Mantega estaria despreo-cupado com a valorização do real em relação ao dólar. Subtexto implícito: os negócios cambiais seguiriam adiante, como desejam os investidores financeiros, sem cuidados maiores com os desdobramentos do dólar barato sobre o setor produtivo.
Na sala de seu gabinete em São Paulo, na sede regional da Caixa Econômica Federal, onde recebeu CartaCapital para a entrevista a seguir, Mantega apresenta a sua versão. Diz que esse não é um problema superado, mas “encaminhado”, o que é bem diferente. E completa: “Se os empresários brasileiros forem corajosos e souberem aproveitar esse câmbio que não vai perdurar a vida toda, é um momento também de eles irem às compras de empresas no exterior”.
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