Veja
O que Valério contou ao MP, e o que ainda resta contar
Em setembro, VEJA trouxe à tona alguns dos segredos guardados por Marcos Valério, operador financeiro do mensalão. Entre eles, a informação de que o ex-presidente Lula teve papel de protagonista no esquema.
Veja: Marcos Valério narra chantagem por silêncio sobre assassinato
Tudo sobre o mensalão
Pouco depois, o empresário informou o STF, por meio de um fax, que estava disposto a contar o que sabe. Ele também foi ouvido pelo Ministério Público. Valério disse ao MP, na tentativa de obter um acordo de delação premiada – um instrumento pelo qual o envolvido em um crime presta informações sobre ele, em troca de benefícios – ter detalhes sobre outro caso escabroso envolvendo o PT: o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em janeiro de 2002.
O relato do publicitário é de que Lula e seu braço-direito Gilberto Carvalho (atual secretário-geral da Presidência) estavam sendo extorquidos por figuras ligadas ao crime de Santo André – em especial, o empresário Ronan Maria Pinto, apontado pelo Ministério Público como integrante de um esquema de cobrança de propina na prefeitura.
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Procurado pelos petistas para dar aos achacadores o dinheiro que eles buscavam, Valério recusou: “Nisso aí, eu não me meto”, disse ele em um encontro com Sílvio Pereira, então secretário-geral do PT, e Ronan. Quem relata é o próprio publicitário.
O operador do mensalão afirma que não aceitou entrar no jogo, mas sabe quem acertou as contas com Ronan: um amigo pessoal de Lula, utilizando-se de um banco não citado no esquema do mensalão.
Mais “bombas”
As declarações são apenas parte do arsenal de Valério. Como VEJA havia mostrado já em setembro, o publicitário, que diz temer por sua vida, cogita trazer à luz detalhes sobre o envolvimento de Lula no esquema do mensalão.
Mais do que isso: diz ser capaz de desvendar o mistério sobre a origem do 1,7 milhão de reais apreendidos pela Polícia Federal no escândalo do dossiê dos aloprados, em 2006. E de dar detalhes comprometedores sobre a participação do ex-ministro Antonio Palocci na arrecadação de recursos para o caixa do PT.
Valério foi condenado a 40 anos de prisão. É provável que sua delação tardia não tenha grandes efeitos sobre a pena que terá de cumprir. Mas pode ajudar o país a resolver questões que ficaram sem resposta nos últimos anos.
Istoé
O PT repaginado
O Partido dos Trabalhadores não é mais o mesmo. Uma revolução silenciosa, cujo signo é o sentimento da mudança, faz nascer novas lideranças, oblitera velhos caciques e desencadeia a maior transformação da história da legenda. Basta olhar os resultados das eleições municipais para entender a dimensão desse processo. Eleito prefeito em São Paulo, Fernando Haddad, 49 anos, é um dos símbolos da transformação. Em seu discurso da vitória, Haddad falou em autocrítica, na reconstrução do partido e agradeceu efusivamente à presidenta Dilma Rousseff e ao ex-presidente Lula, os principais fiadores de sua candidatura. No texto, escrito de véspera, fez ainda um chamamento à intelectualidade, às forças produtivas e aos movimentos sociais, num claro resgate das raízes partidárias do PT da década de 1980. O teor do discurso de Haddad resume a diretriz que Dilma estabeleceu em seu governo: a opção por políticos de perfil técnico, dedicados à boa gestão e sem os ranços do tradicional fisiologismo partidário.
Nas primeiras tratativas para a montagem de seu gabinete, Haddad seguiu a cartilha da presidenta e avisou que não se renderá ao “toma lá dá cá”. A referência ao modo de governar de Dilma ganha cada vez mais espaço dentro do PT, serviu de slogan para centenas de candidaturas e passou pelo primeiro grande teste nas urnas. O resultado foi a maior votação de um partido em eleições municipais, com mais de 17,2 milhões de votos em todo o País. Foram 635 prefeitos eleitos, o que significou um crescimento de 14% no número de municípios nas mãos do PT. Dilma foi uma das grandes vitoriosas da eleição. Seu governo, pela primeira vez, foi submetido ao escrutínio público – e os resultados, para ela, não poderiam ter sido melhores.
A hora da fatura
Encerrado o segundo turno eleitoral, os partidos da base do governo já fazem seus cálculos políticos para preparar as faturas que apresentarão ao Palácio do Planalto. O crescimento de cada uma das legendas e o apoio negociado nos palanques municipais se tornam agora instrumentos de barganha essenciais para a manutenção das alianças no plano nacional. Com a vitória de 1.032 prefeitos, o PMDB, por exemplo, se manteve como o maior partido do País. Pelo tamanho da legenda e pela fidelidade ao PT de Dilma, os peemedebistas avaliam que estão sub-representados no governo. ?Não temos nenhum ministério com capacidade de atendimento efetivo à bancada parlamentar?, diz um integrante da cúpula do PMDB. Segundo ele, a reivindicação é de mais ?espaço de ação política? para que o partido consiga ?abastecer sua base e executar políticas públicas que atendam às demandas dos seus prefeitos?. O líder do PMDB na Câmara, deputado Henrique Eduardo Alves, deixa escapar a ansiedade do partido. “Estamos cautelosos”, afirma. “Mas é fato que perdemos substância sem os ministérios da Saúde e da Integração. Agricultura e Turismo não dão visibilidade.”
Rindo à toa
Acostumados a desfrutar de benesses às escuras e frequentemente surpreendidos pela pressão da sociedade que exige o fim das mordomias, deputados e senadores estão adotando um novo modo de operar. As vantagens desfrutadas por políticos e servidores do Congresso começaram a se tornar oficiais, na forma de resoluções internas aprovadas discretamente pelos parlamentares. Nos últimos meses, a Câmara desafiou a opinião pública para, às vésperas das eleições, permitir o uso da verba de gabinete – ou seja, dinheiro do contribuinte – para a produção de panfletos de cunho eleitoral. Os deputados também colocaram no papel que as votações em plenário só ocorrerão às terças, quartas e quintas, oficializando assim as folgas às segundas e sextas, além de terem aumentado em 30% a verba de gabinete, que desde julho é de R$ 78 mil. “Apenas oficializamos uma situação que já existia”, diz o presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS). “Não há motivos para polêmica.”
Carta Capital
Aécio, a bola é sua
Aécio Neves saiu de Belo Horizonte rumo ao seu gabinete no Senado, em Brasília, na manhã da quarta-feira 31, antevéspera do Dia de Finados, data em que os brasileiros acendem velas aos mortos. Três dias antes, o ex-governador mineiro acompanhou de casa o enterro político de seu maior adversário no PSDB, o paulista José Serra. Embora, durante o velório, ou melhor, durante o discurso em que reconheceu a derrota na disputa pela prefeitura de São Paulo, Serra tenha se declarado “revigorado”, conta-se nos dedos quem apostaria em seu renascimento.
O mineiro acena com o retorno ao protagonismo perdido pelo PSDB nas últimas eleições, em novas bases. Quem sabe por engano muitos ainda supervalorizam o fato de Serra ter chegado ao segundo turno nas presidenciais de 2010 e na disputa municipal deste ano. Ilusão. O tucano paulista foi coadjuvante em ambas as eleições, beneficiado por fatores inesperados e empurrado pela mídia e pelo sentimento antipetista. Nunca pelos eventuais méritos de sua campanha.
De volta ao mundo dos vivos: Aécio está perfilado na coluna dos vencedores destas eleições, ao lado de Lula, Dilma Rousseff e Eduardo Campos. Sua vitória não pode, porém, ser constatada pela simples análise dos números. O PSDB ficou menor em 2012. Perdeu 90 prefeituras e centenas de vereadores, recebeu menos votos do que em 2008 e foi varrido das capitais do sudeste. O DEM e o PPS, os demais componentes da bancada oposicionista, também se deram muito mal. A grande conquista tucana, relevante apenas pelo simbolismo e pelas circunstâncias, ocorreu em Manaus, onde Arthur Virgílio derrotou uma ampla aliança montada para apoiar Vanessa Grazziotin, do PCdoB, que contou inclusive com o empenho de Lula.
Por que Aécio deve então ser considerado um vencedor? Por causa do cenário no campo de batalha. Serra é um corpo estendido no chão à espera da passagem de uma valquíria. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, outra estrela partidária, herdou a solitária missão de proteger a cidadela ocupada há duas décadas pelos tucanos. Também em terras paulistas o PSDB contabilizava perdas importantes para seu principal adversário.
O neto de Tancredo Neves e o neto de Miguel Arraes tornaram-se, antes de tudo, amigos. São os maiores expoentes da nova geração de políticos brasileiros, porém jovens o suficiente para ter paciência. Encaram os dilemas do país de outra maneira e um dos motivos é o fato de terem vivido os estertores da ditadura e não os seus anos mais sombrios. Buscam um caminho para superar a polarização PT-PSDB e se notabilizaram em seus estados por um colossal arco de alianças que quase não deixa espaço para a sobrevivência da oposição. Por fim, comungam de visões semelhantes sobre o exercício do poder, a começar pela defesa de um certo gerencialismo na administração pública. “Eficiência na gestão”, define Aécio sobre sua prioridade, caso se tornasse presidente da República.
Época
Qual deles é melhor para o Brasil: Barack Obama ou Mitt Romney?
Nos dias finais da campanha presidencial dos Estados Unidos, o presidente Barack Obama e seu adversário, o republicano Mitt Romney, foram obrigados a mudar de assunto. A destruição causada pelo Furacão Sandy na cidade de Nova York e no Estado de Nova Jersey tomou conta do noticiário, e os dois candidatos tiveram de declarar trégua – algo impensável numa disputa que está apertadíssima e ainda não permite nenhuma previsão confiável sobre o resultado nesta terça-feira, dia 6. O que não mudou, entretanto, foi a posição de Obama e Romney sobre o Brasil – ou melhor, a falta de posição. O país foi ignorado nos planos de governo, nos pronunciamentos e nos debates. Numa das campanhas mais acirradas da memória recente, os candidatos se concentraram em três itens: a recuperação da economia, o Oriente Médio e a China.
Por que, então, esse aparente desinteresse de Obama e Romney? Para Peter Hakim, presidente emérito do centro de estudos Inter-American Dialogue, a resposta é simples: entre as muitas preocupações dos eleitores americanos, o Brasil certamente não está. “Mas a Índia também não está, assim como a União Europeia, a Turquia…”, diz Hakim. “O Canadá é o maior parceiro comercial dos Estados Unidos. Mas você não ouve nenhum dos candidatos falando do assunto.” O fato de os eleitores americanos estarem mais preocupados – justamente, diga-se – com a geração de empregos e a reforma do sistema de saúde, porém, não quer dizer que a escolha do novo presidente americano não terá impacto sobre o Brasil.
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