Época
O que o Brasil quer de Dilma Rousseff
Os brasileiros de todos os estratos sociais perderam a confiança para investir e consumir. Todos eles, especialmente os mais pobres, dependem de melhorias na economia. Esta deve ser a prioridade da presidente Dilma
A presidente da República reeleita, Dilma Rousseff, tem uma prioridade. E ela não é a reforma política, mera espuma lançada no discurso de posse para agradar à militância do PT . A prioridade é fazer com que o país volte a crescer e a gerar empregos. Disso depende todo o resto, até mesmo a continuidade de programas sociais como o Bolsa Família. Para que isso aconteça, Dilma precisa recuperar a confiança dos brasileiros que trabalham, poupam, consomem, geram empregos e fazem o país crescer. Dilma se diz aberta ao diálogo, e esses brasileiros querem ser ouvidos. ÉPOCA entrevistou alguns deles – e suas histórias estão nesta reportagem.
“Confiança” é a palavra que resume tudo. É o alimento que sustenta os empregos já existentes, abre espaço para a criação dos novos e permite que ambos, o assalariado antigo e o recém-contratado, sonhem com aumentos de salário. Quando confiam que o futuro será bom, consumidores compram e empresários pensam em como vender mais. Por isso, medir a confiança no futuro é um exercício útil. No Instituto Brasileiro de Economia (Ibre), da Fundação Getulio Vargas, o exercício é feito há 20 anos. Os gráficos nesta página mostram a curva da confiança ao longo dos últimos dez anos. Fazem duas revelações interessantes. Primeiro, que o sentimento de consumidores e empresários está igualmente ruim. Quem está de mau humor é o brasileiro, não apenas os ricos ou o mercado financeiro. A segunda revelação é que Dilma conseguiu, em seu primeiro mandato, elevar a confiança dos consumidores ao píncaro do otimismo, no primeiro semestre de 2012 – e, de lá, deixou que esse otimismo despencasse.
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A presidente Dilma Rousseff estava na metade de seu discurso da vitória, na noite do domingo, e já repetira quatro vezes a palavra “diálogo”. Numa construção retórica típica do “dilmês”, disse: “Esta presidente está disposta ao diálogo, e esse é meu primeiro compromisso no segundo mandato: o diálogo”. Dilma apelava à conciliação após uma vitória apertada numa disputa eleitoral agressiva. Rouca e com um microfone ruim, que reproduzia sua voz abafada, num volume baixo, ela padecia por não conseguir ordenar que a militância, incontrolavelmente empolgada, fizesse silêncio. Foi quando sacou o compromisso com a reforma política, o receituário preferido do PT para os momentos difíceis – o mesmo adotado pelo governo depois das ruidosas manifestações de junho de 2013. “Meu compromisso, como ficou claro durante toda a campanha, é deflagrar essa reforma. Que deve ser realizada por meio de uma consulta popular. Como instrumento dessa consulta, o plebiscito, vamos encontrar a força e a legitimidade exigidas neste momento de transformação para levarmos à frente a reforma política. Quero discutir profundamente esse tema com todo o Congresso e toda a sociedade brasileira.” Foi interrompida por aplausos e por gritinhos de “Uhuuu!!!”.
A plateia partidária estava ganha. O Congresso mostrou-se bem menos receptivo ao discurso de Dilma. Dois dias depois veio o troco. Irritados com a iniciativa do plebiscito, os deputados, alguns deles amargurados com derrotas nas urnas, na primeira votação pós-eleição, anularam os efeitos de um decreto presidencial que cria conselhos populares com autonomia para interferir em decisões de órgãos do governo. O Senado avisou que confirmará a decisão. Em seguida, a Comissão de Agricultura aprovou as convocações dos ministros Neri Geller, da Agricultura, e Edison Lobão, de Minas e Energia, para prestar esclarecimentos, apenas com a intenção de criar constrangimentos a eles e a Dilma. Foi a maneira como os parlamentares, principalmente do PMDB da Câmara, mostraram a Dilma que ela não terá trégua após a reeleição, principalmente se mantiver os métodos de governo usados até agora.
A ligação entre um jatinho com R$ 116 mil e o governador eleito de Minas Gerais, Fernando Pimentel
O jatinho em que a PF encontrou R$ 116 mil pertence a Benedito de Oliveira, compadre e homem influente na campanha do governador eleito de Minas Gerais, Fernando Pimentel
Há três semanas, logo após o primeiro turno das eleições, a Polícia Federal fez uma batida num jatinho em Brasília e descobriu R$ 116 mil, em dinheiro vivo, com pessoas ligadas à campanha de Fernando Pimentel, do PT, governador eleito de Minas Gerais. Pimentel disse, em nota, que não poderia ser considerado responsável pela “conduta de fornecedores”. Admitiu apenas que o empresário Benedito de Oliveira, um dos passageiros do avião, fornecia material gráfico para sua campanha. A PF encontrou o dinheiro com Benedito e Marcier Moreira, assessor de Pimentel na campanha. Moreira ocupara cargos em dois ministérios dos governos Lula e Dilma. Sob a suspeita de que se tratava de sobra de campanha, abriu-se inquérito na PF para investigar a origem do dinheiro. Nenhum dos investigados confessou. Desde então, Bené, como é conhecido no mundo político, ou o mero “fornecedor”, como define a nota de Pimentel, recusa-se, assim como o próprio Pimentel, a falar sobre o caso. O silêncio persistente de ambos leva à indagação: o que eles têm a esconder?
Muito, segundo entrevistas com pessoas próximas a ambos e documentos obtidos com exclusividade por ÉPOCA. A reportagem de ÉPOCA levantou evidências de que a participação de Bené no caso investigado pela PF é extensa. Obteve provas também de que a ligação de Bené com Pimentel e a campanha dele vai além da relação comercial entre cliente e fornecedor sugerida na nota de Pimentel. Os dois são amigos há anos, apesar de Bené já ter se envolvido em escândalos e ter sido acusado de desvio de dinheiro público pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Bené ganhou contratos em vários ministérios no governo Lula. Ele exerceu influência decisiva na campanha de Pimentel ao governo de Minas – e até no Ministério do Desenvolvimento e Comércio, comandado por Pimentel desde o começo do governo Dilma. Pimentel se afastou do cargo apenas em fevereiro, para concorrer ao governo de Minas Gerais.
A ascensão de Pimentel coincide com a ascensão de Bené. Enquanto um subia na política, o outro subia nos negócios. Segundo pessoas próximas, Bené se aproximou do PT após o mensalão, em 2005. Por coincidência, aproximou-se por meio do mesmo homem que apresentara o operador Marcos Valério ao partido: o deputado Virgílio Guimarães, do PT de Minas. No segundo mandato de Lula, enquanto sua Gráfica Brasil e sua empresa de eventos ganhavam contratos milionários e, segundo o TCU, superfaturados, Bené acumulava influência no PT e no PP. Em 2009, aproximou-se de Pimentel, que coordenava a primeira campanha de Dilma. Bené alugou a casa, em Brasília, onde trabalhava a equipe de imprensa de Dilma. Pagava o aluguel em dinheiro vivo. Equipou-a com computadores. Assessores de Dilma logo passaram a produzir dossiês contra o PSDB. Na metade de 2010, quando o caso veio a público, Bené e Pimentel foram obrigados a se afastar da campanha.
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A história recente do Brasil tem algumas lições para o juiz federal Sérgio Fernando Moro. Relator do processo do mensalão, o ex-ministro Joaquim Barbosa recebeu do PT a alcunha de traidor e foi atacado, de forma impiedosa, antes mesmo de decretar a prisão da cúpula do partido. Autor do pedido de condenação no caso, o então procurador-geral Roberto Gurgel foi transformado por petistas e asseclas em personagem de uma CPI, sendo ameaçado, inclusive, com um processo de impeachment. Os dois resistiram, e o Supremo Tribunal Federal (STF) condenou os mensaleiros. Descrita como “ponto fora da curva”, a decisão, em vez de atenuar, agravou uma lógica perversa — quanto maior o esquema de corrupção, maior o peso de certas forças para engavetá-lo. Moro agora é quem carrega as responsabilidades que foram de Barbosa e Gurgel. Ele está na mira dos interesses contrariados.
Nascido em Maringá, no norte do Paraná, Moro é um dos maiores especialistas do país na área de lavagem de dinheiro. Obstinado pelo trabalho e discreto a ponto de a maioria de seus colegas desconhecerem detalhes de sua vida pessoal, como a profissão da esposa (advogada) e a quantidade de filhos (dois). Aos 43 anos de idade e dezoito de profissão, Moro é um daqueles juízes intocáveis, incorruptíveis, com uma carreira cujos feitos passados explicam seu comportamento no presente e prenunciam um futuro brilhante. Moro conduziu o caso Banestado, que resultou na condenação de 97 pessoas de diversas maneiras responsáveis pelo sumiço de 28 bilhões de reais. Na Operação Farol da Colina, decretou a prisão temporária de 103 suspeitos de evasão de divisas, sonegação, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro – entre eles, um certo Alberto Youssef. No ano passado, um processo sob a responsabilidade de Moro resultou no maior leilão de bens de um traficante já realizado no Brasil. Foram arrecadados 13,7 milhões de reais em imóveis que pertenciam ao mexicano Lucio Rueda Bustos, preso em 2006. Com sólida formação acadêmica, coroada por um período de dois anos de estudos na Universidade de Harvard, nos Estados Unidos, Moro também atuou como auxiliar da ministra do STF Rosa Weber no processo mensalão. Com frequência, suas teses eram citadas por colegas dela nos debates em plenário.
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Mau começo
O País clama por mudanças, mas, depois da eleição, Dilma segue na mesma toada. Em menos de uma semana, atropelou o Congresso, adiou as trocas na equipe econômica e, ao contrário do que pregou na campanha, assistiu ao Banco Central aumentar a taxa de juros
Na manhã da quinta-feira 30, a presidenta Dilma Rousseff viajou para a Base Naval de Aratu, na Bahia, para alguns dias de descanso. Exausta devido aos quatro meses de acirrada campanha eleitoral, Dilma se recolheu para recarregar as baterias e refletir sobre o segundo mandato, conquistado nas urnas com os votos de 54,5 milhões de brasileiros – o equivalente a 51,6% do eleitorado, a margem mais estreita sobre o segundo colocado desde a redemocratização. A missão que Dilma tem pela frente não é nada fácil. Mas já na largada ela mostrou que está mais perto de cometer os erros que marcaram seus quatro primeiros anos de governo do que compreender o clamor das ruas.
Foi um mau começo. Quando a população esperava definições concretas sobre os rumos econômicos e renovação das práticas políticas, o governo se limitou a promover o lançamento de balões de ensaio com nomes para o Ministério da Fazenda e a manter o relacionamento conflituoso com o Congresso Nacional. Ainda não houve uma ampla reunião ministerial entre Dilma e os integrantes do primeiro escalão para tratar do novo governo. Ela limitou-se a despachar com a equipe econômica na terça-feira 28 para revisar a lei orçamentária. Também não foram registradas audiências com governadores eleitos. Apenas conversas com auxiliares mais próximos, como o chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, o vice-presidente, Michel Temer, e diletos companheiros de sempre, como o ex-presidente Lula. Responsável por fazer a ponte com os movimentos sociais, Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral da Presidência, nem sequer esteve com a presidenta nos dias que em tese deveriam ser os primeiros sete dias do segundo mandato. No governo, comenta-se que Gilbertinho, como é conhecido no PT, está com os dias contados no Planalto, o que justificaria essa atitude de Dilma. Antes mesmo do resultado da eleição, ele já teria conversado com a presidenta sobre sua saída, provavelmente para um cargo de segundo escalão na área social. Nesse caso, a troca já poderia ter sido concretizada, mas a presidenta preferiu adiar também essa questão.
Como conciliar o Brasil
As urnas dividiram o País por renda e escolaridade. Dilma venceu entre os beneficiários das políticas assistencialistas. Aécio, entre os que pagam essa conta. O desafio que se impõe à sociedade e aos políticos é como pôr fim à divisão
O Brasil que saiu das urnas é um País claramente rachado em dois. O resultado eleitoral no segundo turno disputado entre Dilma Rousseff e Aécio Neves mostrou que eleitores das regiões Norte e Nordeste, mais dependentes de programas de transferência de renda, como o Bolsa Família, optaram por manter no poder o partido que ampliou o assistencialismo, o PT, enquanto os das regiões Sul e Sudeste, mais produtoras e que mais pagam impostos, apostaram na oposição, representada pelo PSDB. Nessa geografia econômica do voto, Dilma – que no total bateu Aécio por uma diferença de apenas três milhões de votos – só se sagrou vitoriosa na disputa direta com o tucano entre os eleitores cujos salários somam até dois salários mínimos. Na faixa entre dois e cinco salários, houve empate. Nas demais, deu Aécio. Se categorias de brasileiros foram separadas de acordo com a renda familiar, o mesmo pode-se dizer do nível de escolaridade. A segregação do País por grau de informação – no caso, a falta de acesso a ela – também influenciou no resultado final favorável a Dilma.
Não só no calor da campanha como também nos dias pós-eleição, o reflexo dessa divisão pôde ser observado nas ruas e nas redes sociais. Na semana passada, pipocaram nas redes abaixo-assinados em favor da separação do País entre Norte-Nordeste e Sul-Sudeste. Milhões de assinaturas foram recolhidas por meio do Facebook. Por mais absurdas que sejam essas propostas, a quantidade de adesões revela o racha existente hoje no País. O desafio que se impõe à sociedade e à classe política é como conciliar esse Brasil que emergiu das urnas.
A nova oposição
Reforçados com a eleição de líderes experientes e estimulados pelo apoio popular recebido durante a disputa presidencial, os oposicionistas liderados por Aécio Neves prometem inaugurar no Congresso uma era de vigilância e fiscalização permanente às ações
O resultado das urnas mostra que o governo do PT terá pela frente uma oposição como jamais enfrentou desde que chegou ao planalto em 2003. Aécio Neves conseguiu unir o PSDB e deverá comandar no congresso uma frente que já tem o apoio de quase metade do eleitorado. Passados os dias de descanso para se recuperar da acirrada disputa presidencial, o senador Aécio Neves (PSDB), que saiu das eleições bem maior do que entrou, voltará aos salões azuis como o líder de um aguerrido time político selecionado pelas urnas. O tucano promete ser o fiscal dos 51 milhões de brasileiros desgostosos com o governo e que o escolheram como alternativa de mudança. “Fiquem tranquilos, pois estarei atento e vigilante para que cada compromisso da campanha seja agora cumprido, se não for cumprido, será denunciado”, afirmou Aécio, dois dias depois do resultado das eleições, em vídeo direcionado a seus eleitores. Na tentativa de entusiasmar seus apoiadores, Aécio repetiu uma frase cunhada pelo avô Tancredo Neves, ao ser eleito presidente pelo colégio eleitoral, após a rejeição da emenda constitucional que restabeleceria as eleições diretas no País: “Não vamos nos dispersar.”
Nas mãos de Lula
De olho em 2018, o ex-presidente espera ser mais ouvido e ter maior participação no segundo mandato da presidenta Dilma Rousseff
Minutos antes de a presidenta Dilma Rousseff proferir o seu primeiro discurso, depois de reeleita, uma cena chamou a atenção de todos que se amontoavam à sua espera. Ao entrar no palco armado num hotel em Brasília, Dilma ergueu um dos braços do ex-presidente Lula, o agradeceu pela vitória e o saudou como “militante número 1 das causas do Brasil”. Estava sepultada ali a tese que previa Lula exercendo menos influência num futuro governo Dilma. Não bastasse aquela reveladora e simbólica imagem, os dias que sucederam a data do segundo turno das eleições mostraram que Lula está e estará mais atuante no governo do que há quatro anos, quando carregou Dilma para o seu primeiro triunfo eleitoral.
Na última semana, o ex-presidente sugeriu nomes para o novo ministério e, a interlocutores, disse que espera ser atendido. A principal indicação de Lula é Henrique Meirelles. O ex-presidente do Banco Central durante os oito anos de seu governo – período de inflação baixa, forte crescimento, acúmulo de reservas internacionais, baixa volatilidade e alta confiança empresarial – é o preferido de Lula para o Ministério da Fazenda. Por mais que correntes à esquerda do PT bombardeiem o retorno de Meirelles e considerem sua nomeação uma “rendição ao mercado”, sua confirmação seria, na verdade, uma rendição da presidenta aos anseios de seu antecessor e eventual sucessor – uma vez que Lula já manifestou a aliados sua intenção de concorrer em 2018.
A nova vida de Pizzolato
Conheça o itinerário que será traçado na Itália pelo ex-diretor do Banco do Brasil, em liberdade desde a semana passada quando a Justiça italiana negou sua extradição
“Eu não fugi, salvei minha vida. Qualquer um teria feito isso. Você acha que salvar a vida não vale a pena?” Essas foram as primeiras palavras de Henrique Pizzolato, que, após nove meses de prisão, deixou a penitenciária Sant’Anna, de Modena, na Itália, e voltou a ser um homem livre. Na tarde da terça-feira 28, a Corte de Apelação de Bolonha negou a sua extradição ao Brasil. Por volta das 20h30, horário local, o ex-diretor de marketing do Banco do Brasil, condenado a 12 anos e 7 meses no processo do mensalão, deixou para trás os velhos portões cinzas que o mantinham preso e deu o passo inicial para recomeçar uma nova vida na Itália ao lado da mulher, Andrea Haas.
O primeiro paradeiro de Pizzolato após deixar a cadeia será a região da Spezia, para onde rumou já na quinta-feira 30. O mensaleiro conhece muito bem o local, visto que já havia alugado uma casa próxima ao mar, na cidade de Porto Venere. Segundo revelou à ISTOÉ um conhecido de Pizzolato, ele e a mulher aproveitarão para descansar alguns dias nessa bela cidade da Itália, depois de ele recuperar seus documentos verdadeiros, como a carteira de identidade e o passaporte italiano, que foram remetidos pelo Ministério Público de Bolonha aos procuradores locais. Na sentença, a Corte de Apelação da Itália autorizou a restituição de todos os bens sequestrados no momento da prisão, com exceção daqueles inerentes ao processo de pedido de rogatória internacional. Pizzolato, como se sabe, tem dupla cidadania e, de posse dos documentos, poderá circular livremente pela Itália, enquanto aguarda o julgamento do recurso da extradição, que deve demorar pelo menos um ano.
Redes nada sociáveis
As mídias sociais da internet ainda vivem sob o clima de guerra que se instalou com as eleições e provocou inimizades entre os usuários
Danusa Maroto, uma analista de planejamento de 29 anos moradora de Santo André, a cidade que representa o A do ABC Paulista, por pouco não encerra uma amizade familiar por conta das eleições deste ano. Filha de nordestinos, Danusa ficou revoltada quando viu a namorada de seu irmão, a atriz Caroline Santos, 20 anos, postar comentários ofensivos no Facebook atribuindo a reeleição da presidenta Dilma Rousseff aos brasileiros da região Nordeste. “Eu lembrei que a sogra dela era uma nordestina, mas ela estava tão inflamada pelo resultado que piorou o discurso. Não tive dúvida, fiz o bloqueio na hora, para não agravar as coisas”, diz, que viu o irmão ter de entrar no meio da discussão para não deixar que a briga escalasse para níveis irreparáveis entre as cunhadas.
Danusa e Aline, felizmente, acertaram os ponteiros depois de trocas de mensagens pelo celular, em que a futura cunhada pedia desculpas pelos comentários desmedidos na rede. Casos de rupturas temporárias em amizades próximas e antigas como a das duas foram rotina nestas eleições, em especial na polarização que tomou conta do País no segundo turno. De uma hora para outra o Brasil foi dividido em “coxinhas” e “petralhas”, que passaram a guerrear nas redes sociais como se inimigos étnicos milenares fossem.
Carta Capital
O diálogo não basta
As dificuldades de Dilma ao contar com uma base governista interessada apenas nas benesses concedidas pelo governo
Debruçado sobre o resultado das eleições para o Congresso, Senado e Câmara, o cientista político Fabiano Santos olha para os números tendo em perspectiva o segundo governo Dilma e se vê tomado de preocupação. Uma dobrada preocupação, diga-se, possivelmente refletindo no mundo acadêmico as mesmas inquietações sofridas pela presidenta, reeleita após uma disputa eleitoral duríssima.
“Dilma terá de cuidar com muito mais atenção das relações com o Parlamento. Mais especificamente com a Câmara dos Deputados”, acentua Santos, numa das salas do Instituto de Estudos Sociais e Políticos (Iesp) da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), onde trata do tema com o pesquisador Júlio Canello.
À frente deles, na tela do computador, espalham-se números, porcentuais e votações obtidas pelos 28 partidos, incluindo os seis novos, representados na Câmara dos Deputados na legislatura de 2015. Com esse amontoado de informações Santos e Canello formaram, com a precisão possível, o cenário de governabilidade para Dilma, considerando as relações com o Congresso.
No Senado, a oposição será menor, porém, mais dura. Uma coligação de apenas 18 senadores certamente mais sintonizados.
“A vantagem numérica do governo no Senado pode ser compensada, do ponto de vista das estratégias e processo deliberativo, pelo peso político e experiência de nomes da oposição, como os do próprio Aécio Neves, de José Serra, Tasso Jereissati e Aloysio Nunes Ferreira”, lista Fabiano Santos.
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Seja ou não candidato do PT para 2018, convém que Lula esteja mais presente na retaguarda da presidenta reeleita
Ao entrevistar a presidenta Dilma no domingo 19 de outubro, eu a percebi serena e firme, solitária, contudo, como que perdida naquele imenso Alvorada. Confesso que Brasília me assusta com seus cenários stalinistas-mussolinianos, fruto de uma arquitetura que repele o ser humano, de sorte a isolar cada um em perfeita solidão, mesmo sem dar-se conta deste triste destino.
Reencontrei a presidenta no vídeo, na noite do domingo seguinte, 26, a celebrar a vitória recém-conquistada. Desapareceu a impressão de uma semana antes. Firme, serena, e algo mais, decisivo: a consciência da liderança. E ouvi um discurso de estadista. Não pratico a retórica, apenas a sinceridade.
Muito me tocaram as duas referências emocionadas que do palco Dilma fez a Lula, cujo desempenho na fase final da campanha foi determinante. Creio que a estreita parceria Dilma-Lula nos próximos quatro anos será garantia de êxito, a despeito das dificuldades previsíveis, ao menos na primeira metade do segundo mandato. Geradas tanto pela crise internacional quanto pela situação interna.
Desde a eleição de 2010 até hoje, a discrição do criador em relação à criatura ficou patente aos olhos de todos. Como se o antecessor quisesse deixar a ribalta toda para a sucessora. Não é por acaso que, a partir de 2011, Lula não comparece às festas anuais de CartaCapital, bem como de muitos outros eventos nos quais Dilma surge como personagem principal.
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