IstoÉ
Presos querem mensalão
Descoberto plano de presidiários para extorquir Marcos Valério na penitenciária de Contagem. A ameaça pode fazer com que o empresário vá para uma cadeia menos rígida
Na penitenciária da Papuda, Marcos Valério é o condenado número 4 da Ação Penal 470. Mas os dias do operador do mensalão no sistema prisional do Distrito Federal estão perto do fim. Valério já tem matrícula, cela e o uniforme vermelho da penitenciária Nelson Hungria reservados e aguarda apenas um despacho do Supremo Tribunal Federal (STF) para cumprir o primeiro de seus 40 anos de pena em Minas Gerais. Mesmo sem pisar no pátio do presídio de Contagem, Valério já alterou o esquema de segurança da penitenciária. Há quatro anos, quando receberam o ex-goleiro Bruno como o preso mais ilustre da instituição, o Comando de Operações Especiais (Cope) criou um sistema de monitoramento de conversas dos presos para detectar possíveis ameaças ao jogador. E foi esse sistema que, logo depois do anúncio do pedido de transferência de Valério para o presídio mineiro, descobriu que líderes da facção Comando Mineiro de Operações (Comop) estavam combinando um plano para arrancar dinheiro do operador do esquema. “Sabem que o Valério tem dinheiro, posses e poder. Por isso se articularam”, disse um agente penitenciário à ISTOÉ.
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A trama foi confirmada pelo coordenador do Comando de Operações Especiais do presídio. “Com o intuito de coibir isso, redobramos a vigilância para monitorar individualmente esse preso com poder aquisitivo. Não queremos trazer um fato político para dentro da nossa unidade”, disse Adeilton Souza Rocha, que também preside o sindicato dos agentes penitenciários de Minas Gerais. Para evitar maiores transtornos, a penitenciária de Contagem já providenciou a transferência dos líderes do movimento para outro pavilhão. Segundo Adeilton Rocha, Valério também terá de passar o primeiro mês isolado e “em observação”. “Ele pode ser trocado de cela ou de unidade, se necessário”, afirmou.
Durante os quatro meses em que ficou preso na penitenciária do Tremembé, em São Paulo, em 2009, Marcos Valério relatou a amigos que sofreu violências físicas e psicológicas de facção criminosa. No presídio de Contagem, no entanto, há quem desconfie da tramoia. É que, graças a essa articulação de presos, Valério pode vir a receber um grande privilégio: garantir a transferência para uma das quatro unidades das associações de Assistência e Amparo ao Condenado (Apac). Essas associações têm política de atendimento humanizado ao preso e nem sequer contam com agentes penitenciários para evitar fugas. As visitas são feitas sem que os familiares passem por revistas. “No fim das contas, ele quer mesmo ir para a Apac e, se requerer, ganha o direito em poucos dias”, atesta o deputado estadual Durval Ângelo (PT), da Comissão de Direitos Humanos que fiscalizou os presídios mineiros. Antes, porém, o operador do mensalão terá de receber a autorização do STF para desembarcar no presídio de Nelson Hungria.
Jantar do barulho
Governo tenta esconder pernoite de Dilma e de comitiva presidencial, em Lisboa, com direito a jantar em luxuoso restaurante da capital portuguesa. O episódio reacende a polêmica relação entre o público e o privado nas mordomias do poder
No sábado 25, enquanto protestos contra a Copa do Mundo ocorriam em diversas cidades do País, a presidenta Dilma Rousseff participava de um animado jantar na companhia de auxiliares em Lisboa, Portugal, regado a peixes bem selecionados e bons vinhos. O local escolhido foi o elegante restaurante Eleven, um dos mais badalados de Portugal, com vista para o Rio Tejo e classificado com estrela Michelin, referência da boa gastronomia no mundo. Mais cedo, pela manhã, Dilma havia aberto mão de se hospedar no palácio do século XVII – mantido pelo governo brasileiro e que serve de embaixada em Portugal –, preferindo ficar num dos hotéis mais caros da capital portuguesa, o Ritz Four Seasons, inaugurado há 54 anos pelo Rei Humberto de Itália e os príncipes de Saboia. Uma parte da equipe acomodou-se no mesmo hotel que o dela. Outra, no Tivoli. No total, a comitiva presidencial ocupou 45 quartos. Só a diária da suíte onde Dilma pernoitou no sábado, mobiliada com a coleção Espírito Santo e cabides de seda acolchoados nos armários, custou R$ 26 mil – o equivalente a 36 salários mínimos.
A prática de hospedar-se em hotéis caros, esbaldar-se em restaurantes renomados e confundir o público com o privado – ou seja, desfrutar dos encantos e das delícias do poder – é uma tradição dos governantes brasileiros. Não se trata de um privilégio deste governo ou do PT, partido inquilino do Palácio do Planalto desde 2003. Remonta ao Império. Os esplendores gastronômicos do período são famosos até hoje. Por exemplo, a predileção da extravagante dona Leopoldina, mulher de d. Pedro I, por salmões salgados importados era conhecida. Na República, o presidente João Figueredo acabou enfrentando um problema com dona Dulce, uma primeira-dama de modos exuberantes que gostava de levar o cabeleireiro em suas viagens internacionais. Até que o SNI (Serviço Nacional de Informações) entrou em ação e recolheu o passaporte dele, para evitar polêmica.
A questão é que a estada de Dilma e de sua equipe em Portugal ocorreu às escondidas, com direito a entradas sorrateiras no hotel e foto-flagrante em rede social ao lado do chef do restaurante, e foi tratada pelo governo como segredo de Estado. Aí reside o problema. A ida de Dilma a Lisboa só passou a constar da agenda oficial da presidenta às 13h50 do domingo, horário de Brasília, quase 24 horas depois de a presidenta chegar à capital portuguesa. Para tentar explicar o inexplicável o governo foi constrangido a desfiar uma série de versões, o que fez com que o jantar e a hospedagem da comitiva presidencial em Lisboa se transformassem numa trapalhada ainda maior e gerassem muito mais barulho e polêmica do que se tudo fosse feito às claras, com a transparência exigida pelo cargo. A viagem só começou a ser explicada pelo governo depois que o jornal “O Estado de S.Paulo” revelou o momento em que Dilma entrou no hotel Ritz.
A estratégia de Dilma
Governo monitora comitês populares e líderes anarquistas para evitar que protestos, que certamente acontecerão durante a Copa do Mundo, adquiram maiores proporções e inviabilizem acesso aos jogos
Num ano que já teve rolezinho, ônibus incendiados e até um ataque covarde contra um trabalhador que dava carona em seu Fusca, o Planalto aguarda pela Copa do Mundo com a certeza de que o País irá conviver com protestos de natureza variada. A dúvida é o tamanho e a tonalidade. Na semana passada, ao iniciar um périplo pelas 12 cidades que irão sediar a Copa, o ministro dos Esportes, Aldo Rebelo, procurava colocar a discussão em termos políticos. “A Copa vai ser um sucesso porque a população quer ver os jogos, quer torcer pelo Brasil e quer receber bem as torcidas estrangeiras.” Um levantamento do Datafolha junto a 10.403 torcedores, realizado um mês após os protestos apocalípticos de junho de 2013, mostra um ambiente favorável. Se 21% disseram não apoiar a Copa, 37% se disseram a favor e 26% deram apoio em parte. Para 75%, a Copa irá reforçar o “orgulho de ser brasileiro”. Para 51%, a Copa deixará um legado positivo. Nas cidades-sede, o otimismo é maior: 59% acreditam num saldo favorável.
Na Secretaria-Geral da Presidência da República, emissários sob comando do ministro Gilberto Carvalho monitoram tanto Comitês Populares da Copa, que reúnem famílias que foram retiradas de suas casas para a abertura de avenidas e demais obras públicas, quanto aquilo que o governo chama de “o pessoal de Seattle”: anarquistas que irão se mobilizar em torno dos estádios em busca de confronto permanente. Com os primeiros o Planalto acha que tem diálogo e desde já procura debater reivindicações. Com os segundos não haverá muito o que fazer – a não ser torcer para que sejam menos numerosos do que no ano passado e possam ser contidos em limites aceitáveis de cidadania.
Complicou para a máfia dos sindicatos
Comissão de Ética e Ministério Público investigarão denúncias de pagamento de propina no Ministério do Trabalho e no governo do Paraná, feitas por ISTOÉ. Manoel Dias poderá ter que ir ao Congresso se explicar
Afastado do Ministério do Trabalho após ser acusado de liderar esquema de corrupção em 2011, o presidente do PDT, Carlos Lupi, volta a colocar a pasta e seu partido na pauta de escândalos. A denúncia de que Lupi recebeu R$ 200 mil de propina no prédio do Ministério do Trabalho, revelada com exclusividade por ISTOÉ, será investigada pela Comissão de Ética da Presidência da República. Em pleno período de reforma ministerial, seu sucessor, Manoel Dias, pode ser convocado a dar explicações ao Congresso. Na volta do recesso, a Comissão de Fiscalização Financeira e Controle votará requerimento do deputado Fernando Francischini (SDD) chamando o ministro a prestar esclarecimento. Em meio à crise, na quinta-feira 30, o chefe de gabinete de Manoel Dias, Rodrigo Minotto, foi exonerado.
De acordo com Ana Cristina de Aquino, sócia da transportadora AG Log, a propina de R$ 200 mil a Lupi foi apenas a entrada de um pagamento de R$ 3 milhões para a criação do Sindicato de Cegonheiros de Pernambuco (Sincepe). Quando Lupi foi substituído por Brizola Neto, o processo de criação do sindicato parou. Ela diz que a tramitação do pedido foi retomada depois que Manoel Dias assumiu o cargo. Tanto Lupi como o ministro negam as acusações. O presidente do PDT usa adjetivos histriônicos para rebater Ana Cristina e Manoel Dias diz que ela não tem como provar o pagamento de propina. “Me nego a responder sobre esse assunto”, afirmou o ministro, em evento no Rio de Janeiro. Lupi se esquiva do assunto. Mas, à Comissão de Ética da Presidência, o ex-ministro terá que dar relatório detalhado respondendo às acusações até o dia 10 de fevereiro, prazo máximo estabelecido pelo colegiado. Se a comissão considerar inconsistentes as explicações de Lupi, ele pode sofrer uma “censura”, mancha indelével no seu currículo no serviço público. Ao menos por ora, João Graça, assessor especial do Ministério do Trabalho e ex-sócio de Ana Cristina na AG Log, saiu ileso das investigações. Ele exerce cargo de DAS 4 na pasta e a comissão de ética só investiga funcionários acima de DAS 5, postos de chefia.
A força dos vices
A nove meses das eleições, os três principais candidatos a presidente praticamente definiram seus vices. Saiba por que eles têm pressa
Ainda faltam nove meses para a eleição presidencial, mas a gestação para a escolha dos candidatos a vice já está em fase final. Ao contrário do que se costuma observar na maioria das disputas eleitorais, quando as definições das candidaturas se dão no limite estabelecido pela legislação (confira quadro na página 40), este ano a presidenta Dilma Rousseff (PT), o senador Aécio Neves (PSDB-MG) e o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), tentam apressar a escolha dos vices. Na semana passada, os três praticamente definiram a questão. Por razões diferentes, eles têm pressa.
O tucano Aécio Neves assimilou como poucos as últimas derrotas do PSDB e tem dito aos auxiliares mais próximos estar convencido de que só terá chance de vitória se chegar em abril com o partido absolutamente unido. Uma tarefa que nem José Serra e Geraldo Alckmin conseguiram realizar nas disputas de 2002, 2006 e 2010. Visando não repetir os erros do passado, Aécio e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso vêm conduzindo as negociações para a formação de uma chapa puro-sangue. “Só assim poderemos pacificar o partido”, disse FHC a um dirigente nacional do PSDB. E a definição da chapa foi praticamente sacramentada durante um almoço em um restaurante francês de São Paulo, na quarta-feira 29. Além de FHC e de Aécio, estavam presentes o ex-senador Tasso Jereissati (CE) e o vereador tucano Andrea Matarazzo. No encontro, Tasso foi convencido a concorrer ao Senado pelo Ceará. A candidatura abrirá um palanque para Aécio no Estado. O mais importante, no entanto, foi a discussão a respeito do vice de Aécio. Está praticamente sacramentado que a vaga será ocupada pelo senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), senador mais votado da história, com 11 milhões de votos. Além de unificar o partido, a escolha de Aloysio contempla na chapa os dois maiores colégios eleitorais do País, Minas Gerais e São Paulo.
Violenta, sem controle e impune
Com extrema agressividade, mostrando despreparo e ignorando seus superiores, a polícia do governador Geraldo Alckmin volta a agir de forma desproporcional durante manifestações na capital
Na segunda-feira 27 a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo divulgou números locais sobre a violência em 2013 que até poderiam ser comemorados. Ainda que boa parte dos indicadores de crimes contra o patrimônio tenha registrado alta, a taxa de homicídios dolosos, considerada o principal dado internacional de criminalidade, registrou queda de 8,2%, a maior desde 2011. Mas a verdade é que os paulistas não têm muito o que comemorar, com a sua polícia violenta com os cidadãos, alheia às ordens de seus superiores, livre para agir com a certeza da impunidade e que tem protagonizado verdadeiros absurdos. Os últimos, registrados no dia 25, aniversário da cidade de São Paulo, durante manifestações contrárias à Copa do Mundo, dão uma medida do quão grave é a situação. “Estamos falando de uma violência que foge a qualquer padrão tolerável de segurança pública”, diz Luis Flávio Sapori, associado do Fórum de Segurança Pública e coordenador de um centro de estudos sobre o tema na Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC-Minas). “Não há nada que justifique o que estamos testemunhando”, diz.
Época
O risco Copa
Confrontos em protestos, obras pela metade e custos que assustam turistas. O Mundial de 2014 enfrenta ameaças graves – e exige um esforço final que garanta uma festa cativante e segura
O suíço Joseph Blatter, presidente da Fifa, estava desconfiado desde o início. No dia 30 de outubro de 2007, ao anunciar o Brasil como sede da Copa de 2014, ele disse: “O Comitê Executivo decidiu, unanimamente, dar a responsabilidade, não apenas o direito, mas a responsabilidade de organizar a Copa de 2014 ao Brasil”. Responsabilidade. A palavra nunca aparecera em anúncios anteriores. “A Copa do Mundo de 2010 será organizada na África do Sul”, disse Blatter ao abrir o envelope em maio de 2004. “O vencedor é a Alemanha”, afirmou, em julho de 2000. Para 2014, não houve disputa. A Fifa criara um rodízio entre continentes, hoje abandonado, e era a vez da América do Sul. Como único candidato, o Brasil recebeu a Copa com pouco esforço – e Blatter quis dizer, para o mundo ouvir, que os brasileiros tinham obrigação de realizar um bom trabalho. Semanas atrás, ele afirmou: “O Brasil é o país com mais atrasos desde que estou na Fifa”.
A impaciência parece justificada. Blatter lembrou que o Brasil foi o único a ter sete anos para organizar a Copa do Mundo. A Alemanha e a África do Sul tiveram seis. A Fifa também não queria uma Copa tão complexa como a que o Brasil decidiu organizar. Preferia um torneio com dez cidades sedes, como fez a África do Sul. Em 1994, os Estados Unidos fizeram sua Copa em nove cidades. O governo brasileiro insistiu em realizar um Mundial com 12 sedes – mesmo número da Alemanha em 2006 –, com logística mais complexa e gastos mais vultosos. Nos últimos anos, o custo do Mundial subiu de forma escandalosa. A previsão inicial de gastos era de R$ 17 bilhões. Em junho último, o Grupo Executivo da Copa do Mundo (Gecopa) atualizou o total para R$ 28 bilhões e anteviu um acréscimo de ao menos R$ 5 bilhões até a bola rolar – um total de R$ 33 bilhões. Dessa quantia, a União será responsável por 85,5%, e o setor privado por 14,5% – cerca de R$ 4,7 bilhões. Em 2007, em Zurique, o então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, afirmara: “Tudo será bancado pela iniciativa privada”.
A apenas quatro meses do início do Mundial, as cidades brasileiras deveriam estar coloridas com as cores do Mundial. Banners, bandeiras, Brazucas e Fulecos gigantes deveriam já alimentar um clima festivo no país. Em vez disso, o Brasil segue tomado pela dúvida sobre sua capacidade de organizar a Copa de forma satisfatória. Na semana passada, as inquietações foram estampadas na capa da tradicional revista francesa France Football, com a manchete “Medo sobre o Mundial”. Para a publicação, a Copa tornou-se uma “fonte de angústia”. A presidente Dilma Rousseff repete que o Brasil fará “a Copa das Copas”. Apesar das dificuldades, isso ainda é possível. Poucos países desejaram tanto receber o Mundial de futebol quanto o Brasil, e os ingredientes necessários para uma competição profissional, cativante e histórica continuam presentes. Para realizá-la, será preciso superar as várias ameaças e desafios que cresceram nos últimos anos. ÉPOCA relaciona na reportagem de capa desta semana os principais riscos.
João Paulo Cunha ainda acredita que pode escapar da cadeia
Condenado por corrupção, ele – que já ocupou a Presidência da República – viu sua ambição abatida no auge
A decoração do escritório político de João Paulo Cunha reflete suas devoções, paixões, memórias e aspirações. Há imagens de São Francisco de Assis, bibelôs do São Paulo Futebol Clube, retratos de família – e, em quadros devidamente emoldurados, páginas do Diário Oficial do período em que o deputado petista, então presidente da Câmara, ocupou a cadeira de presidente da República. Isso ocorreu duas vezes. Numa delas, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva cumpria uma agenda fora do país e seu vice, José de Alencar, estava internado com pneumonia. Na outra, ambos haviam viajado para o exterior. Ocupar a Presidência, ainda que como substituto, foi o ponto mais alto da carreira política de João Paulo. O mais baixo ele vive agora. O Supremo Tribunal Federal decretou sua prisão no dia 6 de janeiro. João Paulo continua em liberdade até que o presidente do STF, Joaquim Barbosa, volte de suas férias – isso está previsto para esta segunda-feira, dia 3 de fevereiro. De camiseta polo vermelha, calça jeans e tênis Vans, João Paulo parecia relaxado na terça-feira passada em seu escritório em Osasco, um sobrado amarelo de frente para uma praça arborizada. Na manhã quente de verão – provavelmente seu último verão em liberdade –, João Paulo ainda achava que poderia escapar da prisão. “Acredito nas pessoas, né? O ministro pode aguardar a definição final da pena e só depois decretar minha prisão”, afirmou. O rosto dele, como se pode ver pelo retrato ao lado, misturava tensão à calma aparente.
João Paulo tem 55 anos e foi o primeiro político a ser condenado por corrupção na história brasileira. Foi também o primeiro a ser condenado no processo do mensalão. O escândalo truncou uma carreira política que parecia fulminante – e, entre os condenados, poucos estiveram tão intimamente ligados ao caso quanto ele. João Paulo foi o primeiro petista a contratar os serviços da SMP&B, a agência de Marcos Valério – para fazer sua campanha à presidência da Câmara dos Deputados, em 2003. Em 2004, quando tentou celeremente a reeleição ao mesmo cargo, ajudou a criar um clima de animosidade no Congresso, decisivo para as denúncias que trouxeram o mensalão à tona. Entre esses dois momentos, fundamentais para sua derrocada, João Paulo viveu seu auge. E sonhou com glórias ainda maiores. Reeleito presidente da Câmara, seria um possível candidato do PT ao governo do Estado de São Paulo, em 2006. “Certamente teria um espaço grande”, diz. “Tinha condições de crescer bastante.” Tinha mesmo. Poderia ir ainda mais longe numa trajetória de ascensão constante, que começara 25 anos antes.
As escapadas da presidente Dilma
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Carta Capital
Quem pretende parar o Brasil em 2014?
Editorial: Do ridículo ao grave e sério
Caso pudesse aconselhar a presidenta Dilma, diria a ela que não confie às cegas no Guia Michelin: quando fala de restaurantes estabelecidos fora das fronteiras francesas, comete amiúde erros grosseiros. Entra nisso um tanto de chauvinismo, uma dose de ideologia culinária, uma pitada robusta de business. Já a mídia nativa, que pouco entende de boa comida a ponto de enxergar em São Paulo uma capital gastronômica universal, preocupa-se não com a escolha feita pela presidenta de um restaurante lisboeta, mas com a conta do próprio. A qualidade dos nossos perdigueiros da informação avulta também nesta ocasião. Pretendem que o restaurante em questão teria sido premiado com uma estrela do Guia Michelin, mas nem isso corresponde à verdade factual. A turma é muito criativa.
O jornalismo pátrio sustenta que todos nós pagamos pelos excessos de Dilma e de sua comitiva. E, além de tudo, hospedam-se em hotéis de luxo… A acusada apressa-se a esclarecer que as contas pessoais ela paga do seu bolso. Mais pagaria se viajasse a São Paulo, ou Rio, mesmo em outros cantos do País. Temos restaurantes e hotéis que, em matéria de preços (sublinho, de preços), ombreiam com os mais luxuosos e requintados do mundo. Verdade factual esta que os nossos heróis midiáticos, premiados por salários e emolumentos variados muito superiores àqueles recebidos por qualquer profissional europeu, conhecem de cor e salteado. E nem se fale dos seus patrões.
A presidenta, de todo modo, esmera-se em incomodar. Não somente vai à Celac, cúpula dos Estados latino-americanos, que reúne em Cuba os representantes de 33 países, entre eles os presidentes, além de Dilma, de Argentina, Bolívia, Venezuela, México, Uruguai e Costa Rica. Que faz, porém, a presidenta? Cumprimenta os donos da casa, os irmãos Castro, comunistas históricos e subversivos atuantes. Não é de pasmar? O Estadão espumeja de puríssima e vetusta indignação.
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