Época
A obra fantasma da Delta
No epicentro da CPI do Cachoeira, instalada pelo Congresso, a empreiteira Delta despertou a atenção dos parlamentares da comissão pela voracidade com que abocanhou obras espalhadas por todo o país, especialmente as previstas no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Por causa da eficácia suspeita da construtora em conquistar obras federais, a oposição e o Ministério Público acusam a Delta de usar uma influente rede política para alavancar seus negócios. Duas decisões do Tribunal de Contas do Estado de São Paulo (TCE) mostram que a empreiteira foi beneficiada em licitações. As decisões do TCE paulista trazem vários indícios de que duas concorrências públicas vencidas pela Delta em obras do PAC na cidade de Guarulhos foram dirigidas para a escolha da Delta. Guarulhos é a segunda mais populosa cidade paulista e a maior administrada pelo PT no Estado, com 1,2 milhão de habitantes.
Além das decisões do TCE com condenações às licitações, feitas pela Secretaria de Obras de Guarulhos, uma das obras está completamente parada e outra ainda não terminou – o prazo de conclusão era o ano passado. Dinheiro público é desperdiçado justamente no programa que é uma vitrine do governo federal e esteve na origem da candidatura ao Palácio do Planalto da presidente Dilma Rousseff, a “mãe do PAC”, como foi batizada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva durante a campanha eleitoral.
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A poucos metros do intenso vaivém de aviões no aeroporto de Guarulhos, o mais movimentado do Brasil, um matagal e uma rua de terra ajudam a traçar um quadro real das irregularidades que cercam os negócios da Delta. No local, deveria estar localizada a Avenida Cumbica, parte de um programa de reurbanização da Cidade Industrial Satélite de Cumbica, financiado com recursos do PAC. Até agora, R$ 1,3 milhão de um total de R$ 4,6 milhões foram pagos à Delta. Não há, porém, sequer 1 metro de rua pavimentado onde deveria estar pronto o leito da via pública. No mesmo bairro, a Delta também deveria ter finalizado a obra da Avenida Projecta. Mesmo após um robusto reforço de verbas, o serviço ainda não foi concluído. A prefeitura de Guarulhos já liberou R$ 4,6 milhões para a obra da Projecta.
Os dois contratos com a Delta foram assinados em fevereiro de 2008 pelo então prefeito de Guarulhos, Elói Pietá (PT). Naquele período, Pietá começava a articular a campanha por sua sucessão. Em outubro, Pietá saiu vitorioso das urnas ao eleger Sebastião Almeida (PT) para o comando da cidade.
A origem do desperdício de verba, segundo o TCE, pode estar nos vícios do processo licitatório. Ele excluiu, de uma só tacada, quase todas as empresas que se interessaram pelas obras. A concorrência para a obra da Avenida Cumbica foi aberta em janeiro de 2008. Das 43 empresas que se interessaram, apenas oito chegaram à fase final do certame, vencido pela Delta. Um fato estranho, porque, segundo o TCE, em termos históricos, pelo menos metade das empresas que retiram o edital de licitação costuma se habilitar para apresentar suas propostas. As obras em Guarulhos são relativamente simples e preveem apenas a colocação de guias e a pavimentação de ruas.
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A invasão dos robôs
A organização dos Jogos de Londres recebeu mais de 30 mil candidatos a carregar a pira olímpica. Entre eles, estava iCub. Um robô. Com 1 metro de altura e articulações que imitam as de um ser humano, ele pode segurar a tocha e correr os 300 metros do revezamento. “O iCub tem a inteligência de um bebê de 18 meses”, diz o criador, Giorgio Metta. “Maneja pequenos objetos, tem expressões faciais, reconhece cores e formas e repete palavras ditadas a ele.” Os argumentos não convenceram o Comitê Organizador. Menor de 12 anos e sem residência no Reino Unido, o iCub foi barrado. Melhor sorte tiveram os 11 robôs fotógrafos da agência Reuters. Pendurados em cabos e orientados à distância, registraram pontos de vista inéditos de esportes como salto em distância e ginástica artística. No encontro Rio+20, em junho, no Rio de Janeiro, o robô Hermes, da Força Aérea Brasileira (FAB), garantiu a segurança de 93 chefes de Estado. Hermes é um drone (também chamado de Vant, ou Veículo Aéreo Não Tripulado), capaz de ficar 15 horas seguidas no ar, a 5.000 metros de altitude. Inaugurado pela FAB em 2011 na patrulha das fronteiras brasileiras, atuou pela primeira vez num grande centro urbano. Sonhados pelos homens há centenas de anos – Leonardo da Vinci chegou a rascunhar alguns, no século XV –, os robôs estão tomando o mundo. Este e outros: na última segunda-feira, Curiosity chegou a Marte, na mais ambiciosa missão de busca por vida extraterrestre já feita. Quarenta anos após o último homem pisar na Lua, cabe a robôs astronautas dar grandes passos pela humanidade.
IstoÉ
O vice problema
Ao ser anunciado há dois meses como vice na chapa de José Serra na disputa pela Prefeitura de São Paulo, Alexandre Schneider logo assumiu a linha de frente dos ataques à gestão do candidato petista Fernando Haddad no Ministério da Educação. A experiência de seis anos como secretário municipal de Educação e sua formação em administração seriam credenciais suficientes para a tarefa. O problema é que a gestão de Schneider também começa a ser alvo de sérios questionamentos. A Polícia Federal investiga a atuação nacional de um cartel de empresas fornecedoras de uniformes escolares que, em São Paulo, atuou livremente com o aval de Schneider – um tucano-serrista que se converteu ao PSD de Gilberto Kassab.
O ponto de partida da investigação dessa suposta “máfia dos uniformes” é um pregão realizado pela Secretaria de Educação em janeiro de 2009. O objetivo da concorrência era comprar roupas para estudantes da rede municipal em “kits” compostos por camisetas, bermudas, meias, tênis, além de jaquetas e calças em tactel e helanca. A PF encontrou indícios de que o pregão foi manipulado num conluio entre as empresas Mercosul Comercial, Capricónio e Diana Paolucci S/A para controlar o limite dos lances. O resultado foi a vitória da Mercosul com um preço unitário de R$ 117. Schneider homologou a concorrência e encomendou um primeiro lote de 724.666 kits por R$ 84,7 milhões. Em agosto daquele ano, ele assinou aditivo ao contrato, para a compra de 20.461 kits por R$ 2,4 milhões. Um novo contrato com a Mercosul, para mais 727.631 kits, foi feito em dezembro.
PT paga a conta…
Apresença do antigo comando partidário no banco dos réus por envolvimento no maior caso de corrupção da história recente do País pode não ter alterado as práticas do PT. O partido parece seguir omitindo da Justiça parte de suas despesas. Desta vez, a contabilidade suspeita se refere aos repasses aos advogados responsáveis pela defesa de petistas envolvidos no mensalão. Com honorários que variam entre R$ 600 mil e R$ 6 milhões, alguns advogados admitiram à ISTOÉ que parte da fatura é paga pela legenda. As prestações de contas do PT encaminhadas ao Tribunal Superior Eleitoral nos últimos três anos, no entanto, não incluem nenhuma referência a pagamentos feitos a escritórios jurídicos que prestam serviços aos personagens do escândalo.
Questionado, o presidente do PT, Rui Falcão, disse que em sua gestão “nenhum contrato foi assinado com advogados envolvidos na ação penal” do mensalão. Ocorre que, segundo funcionários do PT ouvidos por ISTOÉ, parte dos recursos para ajudar na defesa dos réus sai do diretório de São Paulo, abastecido financeiramente pelo PT nacional. Internamente, a conta que se faz é de que já foram desembolsados mais de R$ 3,5 milhões para a defesa de ex-caciques partidários. O PT tem bancado, por exemplo, a defesa do ex-presidente da legenda José Genoino e do ex-tesoureiro Delúbio Soares.
Genoino é representado no processo por Luiz Fernando Pacheco, que cobra em média R$ 1,2 milhão para atuar em processos com a complexidade do mensalão. “O partido tem ajudado, porque o Genoino não é rico”, admite Pacheco, se referindo ao salário de R$ 8,9 mil que Genoino recebe no Ministério da Defesa. No caso de Delúbio, o advogado Arnaldo Malheiros sustenta que ele é “pobre” e vive exclusivamente dos rendimentos de uma pequena imobiliária virtual. Malheiros acredita que a dificuldade financeira do cliente justifica a ajuda dada pelo PT. O que ninguém sabe explicar, no entanto, é o motivo de a contribuição nunca ter aparecido na contabilidade petista.
O grande teste das greves
A lua de mel entre o Palácio do Planalto e o movimento sindical parece ter chegado ao fim, após nove anos de governo do Partido dos Trabalhadores. Como num efeito dominó, a cada dia, nas últimas semanas, novas categorias de servidores federais cruzavam os braços ou entravam em operação-padrão por reajustes salariais. A greve do funcionalismo federal se alastrou pelo País, como não se via desde o governo de Fernando Henrique Cardoso. Até a sexta-feira 10, cerca de 300 mil profissionais de 30 categorias, como agentes da PF, professores universitários e fiscais da Receita, integravam o movimento, que já provocou longas esperas nos aeroportos, filas de carros em rodovias e mercadorias presas nos portos. Numa demonstração que não pretende abrir mão da austeridade fiscal num ano de dificuldades econômicas, a presidenta Dilma Rousseff resolveu endurecer o jogo. Cortou o ponto de grevistas, ameaçou substituí-los por outros profissionais e ingressou na Justiça para a manutenção de serviços essenciais, conforme determina a legislação. “Não é normal parar de trabalhar e ganhar por isso”, disse a ministra do Planejamento, Miriam Belchior.
Os escolhidos de Lula
Na última semana, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que vinha se resguardando da atividade eleitoral por ordens médicas, ganhou o sinal positivo para entrar de corpo e alma na campanha. “Ele pode subir em um palanque e ficar falando por 24 horas”, atestou o cardiologista Roberto Kalil Filho. A liberação de Lula foi comemorada efusivamente pelos petistas e aliados de norte a sul do País. Afinal, desde o início da campanha os planos petistas para as eleições municipais estavam associados à recuperação de Lula e à sua presença nos palanques. Nesse primeiro momento, porém, o ex-presidente irá frustrar a maioria dos candidatos interessados em tê-lo como cabo eleitoral. Lula decidiu restringir sua presença física a quatro cidades: São Paulo, Belo Horizonte, Recife e São Bernardo do Campo. Ou seja, os escolhidos do ex-presidente são os candidatos do PT Fernando Haddad, Patrus Ananias, Humberto Costa e Luiz Marinho. “Estávamos todos rezando para que esse dia chegasse logo”, entusiasma-se Fernando Haddad, candidato do PT à Prefeitura de São Paulo, cuja campanha até agora não deslanchou.
O elo entre Dirceu e Valério
Os argumentos apresentados pela defesa dos réus no processo do mensalão na semana passada fizeram ressurgir uma personagem esquecida nos últimos anos, cuja importância no caso vinha sendo subestimada por advogados e pelo próprio Ministério Público Federal. A psicóloga Maria Ângela da Silva Saragoça é uma das três ex-mulheres de José Dirceu e o principal elo entre ele, o publicitário Marcos Valério e o núcleo operacional do esquema. É com base nas relações que ela manteve com alguns dos acusados que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, sustenta a tese de que o ex-ministro da Casa Civil comandava a quadrilha de mensaleiros e tirava vantagens pessoais. Foi para Maria Ângela Saragoça que Marcos Valério articulou, em 2003, um empréstimo bastante vantajoso junto ao Banco Rural para que ela pudesse comprar um apartamento no bairro de Perdizes, em São Paulo. Os termos do financiamento foram negociados por Valério com a cúpula da instituição, cujos dirigentes também são réus no processo. Usando sua influência, o publicitário mineiro ainda arrumou um emprego no banco BMG para ajudá-la a pagar as prestações do imóvel. Para mostrar como e em que circunstâncias essa personagem central da acusação vive hoje, a reportagem de ISTOÉ reconstituiu os passos de Maria Ângela desde que ela foi levada para o epicentro do escândalo.
Embora seja discreta, avessa a badalações e aparições públicas, a ex-mulher de Dirceu não se preocupou em se livrar do imóvel que, na avaliação do Ministério Público, representa a principal ligação de Dirceu com Valério. Conforme verificou ISTOÉ, Maria Ângela mora até hoje no apartamento de Perdizes, na capital paulista, de 110 metros quadrados. O Banco Rural afirma que o financiamento de R$ 42 mil em 36 parcelas foi quitado em 18 de dezembro de 2006. No entanto, de acordo com a escritura do imóvel, a quitação teria ocorrido apenas em maio deste ano. Até 2008, ela amortizava as prestações com o salário de R$ 3,2 mil que recebia no BMG como funcionária do setor de recursos humanos.
Carta Capital
O triste fim de Policarpo
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Duelo no tribunal
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