Istoé
Patrimônio para eleitor ver
Bens declarados ao TSE pelos candidatos são uma peça de ficção. Há subavaliação de até 300% nos imóveis de alguns deles
Em nome da transparência, o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) exige a declaração de bens dos postulantes a cargos eletivos no ato do registro da candidatura. Mas o efeito é inócuo. Como não compete ao órgão passar um pente-fino sobre os rendimentos e a declaração nem sequer precisa ser coerente com a apresentada à Receita Federal, existe uma grande disparidade entre aquilo que é declarado e o valor real do patrimônio do candidato.
Não há ilegalidade nisso. Mas trata-se de um mau exemplo que vem de cima – quem declara seus bens por valor menor sabe bem o que está fazendo.
A reportagem de ISTOÉ visitou os principais imóveis declarados pelos concorrentes ao Palácio do Planalto e seus respectivos vices e os submeteu à avaliação de experientes corretores, além de empresas do ramo imobiliário e sindicatos estaduais de habitação.
Ficou evidente que todos os imóveis foram subestimados no documento entregue ao TSE pelos candidatos à Presidência da República. Em geral, eles preferem registrar os imóveis conforme suas declarações de Imposto de Renda, nas quais a Receita não permite a atualização de valores. Mas ISTOÉ também procurou analisar outros bens declarados pelos candidatos e as aplicações que eles fazem com seus salários. A situação de defasagem é idêntica.
A subavaliação de alguns imóveis passa de 300%. É o caso da propriedade descrita pelo deputado Michel Temer (PMDB-SP), candidato a vice na chapa de Dilma Rousseff, como um “prédio” com área de 546 metros quadrados.
Trata-se do sobrado número 37 da rua Bennet, onde ele mora, cuja frente dá para a valorizada praça Conde de Barcelos, no Alto de Pinheiros, em São Paulo. De acordo com um corretor autônomo que atua na área, o metro quadrado do terreno na região custa em média R$ 2 mil. Assim, o sobrado de Temer poderia valer no mínimo R$ 1,9 milhão. Sem avaliar a parte interna do imóvel, o corretor acredita que ele poderia ser colocado à venda, como uma excelente oferta, por R$ 2,2 milhões. Na declaração entregue à Justiça Eleitoral, o imóvel valeria R$ 722.977.41.
“Se ele colocar à venda pelo dobro, em cinco minutos tem fila na porta para comprar”, comenta o corretor. A meio quarteirão da valorizada praça Conde de Barcelos, há uma casa térrea, em mau estado, à venda por R$ 1,6 milhão.
No documento remetido ao TSE, Temer ainda avaliou um apartamento na rua Pedroso Alvarenga, Itaim-Bibi, em R$ 100 mil. O vice de Dilma, que declarou um patrimônio total de R$ 6 milhões, não informou o tamanho desse imóvel. Ocorre que, de acordo com a empresa especializada Caspannas, o apartamento pode valer o dobro. O menor flat na região, de 42 metros quadrados, não sai por menos de R$ 180 mil.
Cabeça da chapa governista, Dilma teve o seu patrimônio conhecido pela primeira vez, pois nunca havia disputado um cargo eletivo. Pelo valor declarado, os bens da petista somam R$ 1,06 milhão. Mas, dos cinco imóveis declarados, quatro estão abaixo do valor de mercado. Entre eles, um apartamento localizado na rua Couto de Magalhães 1.155, no bairro Higienópolis, em Porto Alegre (RS).
O imóvel foi orçado em R$ 250.520. Segundo relatório do Sindicato da Habitação (Secovi) do Rio Grande do Sul, o preço médio de um apartamento similar ao de Dilma localizado no mesmo bairro é de R$ 422.360,78.
O valor pode chegar a R$ 750.000, dependendo das condições da propriedade. Outro imóvel subavaliado é o apartamento, no Condomínio Solar, na av. João Pinheiro, em Belo Horizonte (MG), avaliado em R$ 118.611, que Dilma recebeu de herança. De acordo com a empresa que administra o condomínio do edifício, os apartamentos no prédio custam entre R$ 270 mil e R$ 450 mil.
A ex-ministra da Casa Civil também estimou em R$ 49.542,47 um lote no Condomínio Alphaville, em Porto Alegre. Na semana passada, um terreno no mesmo local estava à venda por R$ 300 mil. Mas o que mais chamou a atenção na declaração de Dilma ao TSE foram os R$ 113 mil em espécie que ela diz guardar em casa. A ex-ministra justificou: “É uma decisão minha. Não há nada de ilegal nisso.”
(…)
O cabeça da chapa tucana, José Serra, declarou um patrimônio total equivalente ao de Índio: R$ 1,42 milhão. Mas poderia ser o dobro se a casa onde reside há mais de 15 anos no Alto de Pinheiros, área nobre de São Paulo, não estivesse registrada no nome de sua filha, Verônica, conforme confirmou à ISTOÉ a assessoria de campanha de Serra na quinta-feira 8.
O imóvel foi adquirido em 2001 por R$ 475 mil, mas hoje está avaliado em R$ 2 milhões. Serra revelou ainda ter uma casa de veraneio no loteamento da fazenda Angico, situado na estância turística de Ibiúna, a 70 quilômetros da capital paulista, onde, por coincidência, foi realizado o famoso Congresso da UNE de 1968. Ele não descreve o imóvel, que diz valer R$ 61.069,81. Mas pesquisa feita em imobiliárias de Ibiúna indica que os preços de casa na região variam de R$ 200 mil a R$ 2 milhões, dependendo da localização do terreno em relação à represa de Ituparanga.
Caos aéreo rende votos?
Controladores que se rebelaram e provocaram o apagão nos aeroportos querem ser deputados
Em setembro de 2006, um grupo de controladores de tráfego aéreo rebelou-se contra o regime de trabalho, alegou que as condições de segurança nos céus eram precárias e detonou o caos nos aeroportos.
O motim virou de ponta-cabeça a vida de milhares de brasileiros. Só em dois dias de greve, 18 mil passageiros foram prejudicados. O governo demitiu 40 desses controladores e afastou do trabalho outros 150, mas pouco fez para melhorar a rotina dos aeroportos. Agora os responsáveis pelas rotas decidiram organizar nova batalha: desta vez nas urnas, o que não deve representar um pesadelo para os cidadãos.
“O governo não fez as reformas que prometeu por falta de vontade política. Então vamos montar a nossa própria bancada”, afirmou o controlador Wellington Rodrigues, que se lançou candidato do PSol à Câmara dos Deputados.
Com a experiência de quem foi preso pela FAB durante a rebelião, o sargento Wellington aponta a desmilitarização do controle do tráfego aéreo como a principal bandeira da campanha. Ele não acredita que os controladores rebelados serão estigmatizados pelo eleitor.
“Nossas denúncias foram um divisor de águas. Vamos cobrar mais fiscalização dos voos e transparência na investigação de acidentes”, afirma. Ele é contra a privatização dos aeroportos, assim como o presidente da Associação Brasileira de Controladores de Voo, sargento Edleuzo Cavalcante, candidato a deputado distrital pelo PSol no DF.
Os controladores miram, na verdade, um nicho eleitoral. O sargento Cavalcante afirma que seu mandato pertencerá a “todos os militares”. Promete que vai “defender uma reformulação do plano de carreira e uma política habitacional específica”. Wellington Rodrigues engrossa o coro: “Não somos contra a FAB, mas o controle de tráfego deve ficar nas mãos de civis, como no resto do mundo.”
Do seringal ao convento
Como foi a trajetória de Marina Silva, a candidata do PV à presidência, do seringal do Bagaço, onde trabalhou dos 11 aos 16 anos, até o abrigo no convento das Servas de Maria Reparadoras
Em boa parte de sua infância, Marina Silva cumpriu uma rotina dura demais para qualquer criança. Levantava às 4h30 da madrugada, tomava o café que ela mesma moía em pilão, calçava os sapatos que fazia em látex, ligava o rádio e esperava pacientemente, sentada em silêncio na soleira da porta, a turma que sairia em caminhada para mais um dia de trabalho.
Com a lua baixa e o sol ainda por nascer, o corpo demorava a despertar no trajeto de 15 quilômetros até a estrada de seringa. Depois, embrenhava-se na densa floresta em busca da “madeira”, como os acrianos chamam as seringueiras centenárias. O longo percurso era repetido quatro vezes ao dia. Foi assim dos 11 aos 16 anos.
“De manhã a gente fazia o corte e à tarde voltava para recolher o leite em sacos de até 15 quilos”, contou à ISTOÉ a irmã mais velha de Marina, Maria Deuzimar da Silva, que até hoje vive na região do antigo seringal Bagaço, onde nasceram. As duas dividiram a lida com o pai, Pedro Augusto da Silva, e outra irmã, Maria Lúcia da Silva, um ano mais nova que a candidata a presidente da República pelo Partido Verde.
Já naquela época, a presença de crianças no trabalho de extração surpreendia. “As pessoas achavam um absurdo. Ficavam assustadas, porque não era comum meninas trabalhando no corte da seringa”, diz Deuzimar. “Normalmente, as mulheres cuidavam do roçado e os homens do seringal.”
O problema é que na casa de Marina, de homem só havia o pai. O caçula, Antônio Arleir da Silva, nasceria mais tarde. Com sete filhas e a contingência de uma dívida com o dono do seringal, não restou a Pedro Augusto outra opção. “Fui tentar a sorte em Manaus e Belém, mas não deu certo.
Quando voltei para o Bagaço, o patrão foi quem bancou as passagens. Tinha que pagar de volta”, explica o pai de Marina. Ele ainda resistiu à ideia de pôr as filhas no seringal, mas a mãe das crianças, Maria Augusta, foi firme.
“Ela era muito orgulhosa e não queria ficar devendo”, diz Deuzimar. Em pouco tempo, as pequenas aprenderam o ofício. Começaram cortando até 150 seringueiras por dia. Logo, passaram a encarar as estradas mais compridas, com até 280 árvores. Também passaram a compreender a relação de amor que os seringueiros têm com a floresta. “Ela nos dá o sustento e nos faz sentir livres”, resume o pai. Além disso, segundo ele, “Marina achou que era melhor trabalhar à sombra das seringueiras do que debaixo do sol no roçado”.
A mais de 70 quilômetros de Rio Branco, o seringal era abastecido de mercadorias levadas em lombo de burro. Ali não havia escolas, e as brincadeiras se resumiam aos bonecos de madeira e pano feitos pela avó. Quem viu Marina crescer na floresta lembra de uma criança brincalhona e muito criativa.
“Às vezes, ela parava o corte e pegava a água que a gente levava para beber para tirar borboletas e cigarras que caíam na tigela do látex. Ficava alegre só de ver o bicho voar de novo”, diz Deuzimar. A outra irmã, Maria Lúcia, recorda também um episódio curioso.
“Um dia a gente estava chegando na estrada de seringa e ouvimos um rugido de onça. Ficamos com tanto medo que nos empoleiramos numa árvore. Ela riu um bocado, apesar do susto”, conta. O pai também se diverte ao relembrar a vez em que a filha, cansada da rotina, decidiu plantar seu próprio seringal em volta da casa. “Depois de fechar o corte, as irmãs foram embora. E ela ficou ali colhendo várias mudinhas nos pés das seringueiras mais próximas. Daí foi pro meio do roçado e plantou um pezinho aqui, outro acolá”, diz.
Das dezenas de seringueiras que Marina plantou no local, três sobreviveram à ruína do seringal Bagaço. Onde ficava a antiga propriedade, hoje é o curral de uma grande fazenda às margens da BR-364. O capataz Manoel Francisco Oliveira, também ex-seringueiro, foi quem derrubou a antiga casa da família de Marina. “Sempre que tinha eleição, vinha gente fazer comício.
Então o patrão mandou derrubar”, explica. Depois de alguma conversa, Francisco permitiu a entrada da reportagem de ISTOÉ, junto com Deuzimar. Ela se emocionou ao voltar a pisar no pedaço de quintal em que brincava com a irmã. “Não entro aqui há 30 anos”, disse, com a voz embargada. De meados dos anos 70 até a década seguinte, os seringais daquelas terras definharam. O declínio da atividade extrativista levou o regime militar a impulsionar a ocupação do Acre por fazendeiros, a maioria pecuaristas do centro e do sul do País.
“As autoridades só não consideraram que havia gente dentro daquelas áreas, famílias inteiras de seringueiros”, relata o jornalista Élson Martins, um veterano na cobertura dos “empates”, como ficaram conhecidos os violentos choques entre seringueiros e jagunços. Só no Bagaço, havia mais de 30 famílias.
Época
A Ficha Limpa vai pegar?
Criada para afastar da política corruptos ou condenados por irregularidades, a lei está sob o assédio dos recursos judiciais. Seu alcance deve ser agora decidido pelo Supremo
O ex-deputado estadual José Carlos Gratz foi acusado de comandar o crime organizado que dominou os poderes no Espírito Santo na década de 1990.
Ele foi preso e condenado a dez anos de cadeia pelo Tribunal de Justiça do Estado por formação de quadrilha, entre outros crimes. Gratz cumpre pena em liberdade e tenta voltar à política como candidato a senador pelo PSL.
Ele registrou sua candidatura, mas está ameaçado pela Lei Ficha Limpa. Na semana passada, Gratz apresentou uma reclamação ao Supremo Tribunal Federal (STF) contra a lei com o argumento de que ainda não foi condenado em definitivo. Ela não foi aceita.
Gratz vai recorrer da decisão, mas seu caso mostra o que pode ser uma mudança na política brasileira. Por impedir que condenados em segunda instância se candidatem, a Lei Ficha Limpa é um obstáculo ao acesso de criminosos a cargos eletivos e ao uso do mandato político por pessoas interessadas nos benefícios do foro privilegiado.
O principal desafio agora é resistir aos questionamentos jurídicos que virão. Desde que a lei foi sancionada, há um mês, o STF e o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) autorizaram, por meio de medidas liminares, o registro da candidatura para as eleições de três políticos que deveriam ser barrados pela lei.
Ao mesmo tempo, pedidos feitos por outros 12 políticos foram negados por ministros do mesmo Supremo. Juristas dão como certo que o alcance da lei será examinado em breve pelo plenário do Supremo.
A Lei Ficha Limpa diz que pessoas condenadas por decisões judiciais colegiadas – ou seja, tomadas por mais de um juiz – não podem se candidatar. De acordo com o presidente do TSE, ministro Ricardo Lewandowski, a Lei Ficha Limpa terá de ser examinada pelo Supremo porque sua aplicação envolve o confronto entre dois dispositivos da Constituição.
Um deles é o princípio da presunção de inocência. Segundo ele, uma pessoa só é considerada culpada – e, portanto, não poderia ser candidata – depois que se esgotam todos os recursos contra sua condenação. O outro é o princípio que protege a probidade administrativa.
“Serão esses dois valores que serão sopesados quando os tribunais superiores examinarem o tema”, afirma Lewandowski. Em resumo, o Supremo vai decidir se deve prevalecer o direito individual de um político “ficha suja” ser candidato ou um desejo coletivo da sociedade de que ele não se candidate.
Um indício que fortalece o segundo princípio é o fato de a Ficha Limpa ser resultado de um projeto de iniciativa popular, que contou com 1,5 milhão de assinaturas. Sua aprovação – mesmo com modificações – foi obtida por pressão sobre um Congresso debilitado por denúncias.
“A lei vai fazer muitos fichas sujas desistir de se candidatar”, diz o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ)
A Lei Ficha Limpa é uma criação brasileira para contornar a corrupção na política e a lentidão da Justiça em puni-la. Segundo pesquisa do site Congresso em Foco, dos 513 deputados federais, 147 são processados no Supremo. Dos 81 senadores, 21 estão na mesma situação.
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A maioria está ligada a irregularidades com verbas públicas. Mas, desde 1985, apenas dois políticos foram punidos pelo Supremo: Cássio Taniguchi (DEM-PR) e José Gerardo (PMDB-CE). Nenhum deles perdeu o mandato. De acordo com o diretor da Transparência Brasil, Cláudio Weber Abramo, não há nada como a Ficha Limpa nas principais democracias. Mas, nesses lugares, a Justiça é rápida. “O filtro dos candidatos não é feito pela Justiça, mas pelos partidos: eles não aceitam corruptos”, diz Abramo.
Por enquanto, três candidatos conseguiram contornar a lei. O caso mais conhecido é do senador Heráclito Fortes (DEM-PI). O ministro Gilmar Mendes, do Supremo, por meio de uma liminar permitiu a Fortes registrar sua candidatura por causa do atraso do julgamento de seu processo pelo Supremo. Fortes recorre contra um condenado do Tribunal de Justiça do Piauí. Ele é acusado de ter usado verbas publicitárias da prefeitura de Teresina para se autopromover.
Por causa das dificuldades de descobrir um “ficha suja”, não se sabe se a Justiça decidirá sobre cada caso antes da eleição. Existe o risco de candidatos eleitos serem impugnados depois, o que alteraria o resultado da eleição.
A Lei Ficha Limpa já produz efeitos. O principal deles é ter chamado a atenção para a eleição de deputados federais e estaduais. “O eleitor vai olhar para o parlamentar”, diz o deputado Miro Teixeira (PDT-RJ), veterano de nove mandatos na Câmara dos Deputados.
“Agora existe um foco, criado por todo o debate em torno da lei.” Para Miro, a lei causa um efeito intimidatório. “Muitos fichas sujas desistiram de se candidatar porque o sujeito não quer ver sua vida revolvida.”
O ex-governador do Distrito Federal Joaquim Roriz poderá ser um dos afetados pela lei. Em 2007, Roriz foi gravado tratando da partilha de um cheque de R$ 2,2 milhões do empresário Nenê Constantino, um dos donos da empresa aérea Gol.
Ele encanta Marta e enciúma o PT
No início do ano passado, o grupo de petistas que orbitava em torno de Marta Suplicy decidiu dar um tempo. Após a segunda derrota na eleição para a prefeitura de São Paulo, em 2008, os “martistas”, como eles eram chamados no PT paulista, se afastaram de sua estrela política.
O objetivo era repensar a relação e, quem sabe, buscar novos caminhos dentro das microgaláxias petistas. Confiante em seu brilho próprio, Marta não se importou muito e fez o mesmo. Saiu de cena. A separação parecia correr bem até maio, quando fotos de Marta em Nova York foram publicadas na imprensa brasileira.
As imagens fizeram sentimentos represados aflorar e abalaram o clima de harmonia que vigorava no PT paulista desde a indicação em abril, sem a necessidade de prévias, das candidaturas do senador Aloizio Mercadante ao governo de São Paulo e da própria Marta ao Senado.
Tudo porque, além de Marta, de 65 anos, quem aparece bem na foto é o empresário Márcio Toledo, de 50, seu atual namorado. O casal, em quase todos os registros dessa turnê nova-iorquina, está sorrindo, ao lado da candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff. Em algumas imagens, é possível ver também Antônio Palocci.
Dilma e Palocci estavam nos Estados Unidos a pretexto de participar de uma homenagem ao presidente do Banco Central do Brasil, Henrique Meirelles, e de encontros com empresários e líderes políticos. Mas e Marta e Toledo? O que eles faziam lá?
No PT paulista, há duas versões. Na mais prosaica, Marta atendeu a um convite da amiga Dilma, que precisava de uma “assessoria feminina” em terras estrangeiras, e aproveitou para levar o namorado. Na segunda, turvada pelas emoções e difundida por nove entre dez “ex-martistas”, Toledo, presidente do Jockey Club paulistano, convenceu a namorada a usar a proximidade com Dilma para convencer a candidata a incluí-los na comitiva.
As aparições ao lado da candidata à Presidência e do todo-poderoso ex-ministro de Lula, coordenador da campanha petista ao Planalto, serviriam para Toledo reforçar no empresariado uma imagem que ele vem cultivando: a de ser o “neopetista da vez”, com trânsito livre na cúpula do partido e do governo Lula.
Toledo se apresenta profissionalmente como presidente da Interbanc Agropecuária, braço do grupo de investimentos Interbanc que se dedica à criação de cavalos de raça.
Outras atividades do grupo são voltadas para a administração de fundos de investimentos e para as telecomunicações. No site do Interbanc, há, entre outros, o logotipo da Embratel. Nos últimos anos, porém, a maior parte do tempo de Toledo é dedicada à função de presidente do Jockey e à interlocução com segmentos bem colocados na sociedade que o cargo possibilita. Procurado por ÉPOCA, Toledo não quis dar entrevista.
Negócios à parte, Toledo ganhou papel importante na carreira política de Marta, a exemplo do que já havia acontecido com o senador Eduardo Suplicy (PT), seu primeiro marido, e com Luís Favre, o segundo. O casal assumiu publicamente o romance em novembro do ano passado. De lá para cá, Toledo passou a organizar eventos voltados à política, como um almoço para Dilma e Marta em março na sede do Jockey.
Qual é a verdadeira Dilma?
Pelo calendário oficial das eleições de 2010, as campanhas dos candidatos começaram na segunda-feira da semana passada. Depois de meses de propaganda disfarçada, os políticos podem, enfim, pedir os votos dos brasileiros sem correr o risco de ser multados pela Justiça Eleitoral.
Uma das novidades da disputa deste ano é a obrigação de que os concorrentes aos cargos de presidente e governador apresentem, junto com o registro das candidaturas, as diretrizes dos programas de governo.
A regra foi estipulada com o nobre objetivo de obrigar as coligações partidárias a ter um mínimo de consistência programática e dar mais elementos para a escolha do eleitor.
O que se viu na semana passada, porém, foi um profundo descaso dos partidos com a exigência. Em vez de mostrar o que pensam e o que pretendem fazer se forem eleitos, os candidatos a presidente com mais chances de chegar ao Planalto cumpriram a formalidade sem se preocupar com o conteúdo das propostas.
O principal candidato de oposição, José Serra (PSDB), apresentou um documento provisório, com ideias genéricas copiadas de dois discursos feitos durante a fase de pré-campanha. O texto contém até erros de digitação e não reflete o que defendem os aliados DEM e PPS sobre gestão pública. O Democratas defende uma radical autonomia do Banco Central na gestão da política monetária. Serra é contra.
Uma falta de cuidado semelhante levou o comando da campanha da candidata governista, Dilma Rousseff (PT), a cometer uma grande trapalhada. Na pressa de registrar a candidatura, Dilma rubricou sem ler os papéis apresentados ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Quando o documento se tornou público, descobriu-se que as 24 páginas protocoladas no TSE continham propostas identificadas com os setores mais radicais do PT, como o controle social da mídia, a revogação de atos que impedem invasores de terra de se beneficiarem da reforma agrária, taxação de grandes fortunas e redução da jornada de trabalho para 40 horas semanais.
Nenhuma dessas propostas tem o apoio do PMDB, o maior dos dez partidos que compõem a coligação de Dilma. A repercussão negativa obrigou a coordenação da campanha a, poucas horas depois, substituir o texto por uma versão mais amena para evitar uma crise com os aliados logo na largada da campanha.
O primeiro documento apresentado ao TSE reproduzia as 79 resoluções aprovadas pelo 4o Congresso do PT, realizado em fevereiro. “Foi um erro de impressão, meramente formal”, disse o deputado José Eduardo Cardozo (PT-SP), coordenador jurídico da campanha de Dilma.
A segunda versão manteve a estrutura do primeiro texto, com alterações e cortes. Foi suprimida a proposta de redução da jornada de trabalho. Houve mudança no trecho relacionado ao controle social da mídia, embora tenham sido mantidas críticas ao “monopólio e concentração dos meios de comunicação”, jargão de origem esquerdista usado para atacar a imprensa.
Também foram suprimidos trechos críticos ao governo Fernando Henrique Cardoso. Um deles dizia: “Os preconceitos ideológicos hegemônicos nos anos 90 fizeram com que o Estado brasileiro passasse naquele período por um processo de desconstrução”.
A volta dos nanicos
Eles prometem reformas bombásticas, um mundo sem violência, imposto mínimo, fim do Senado, extinção do ensino pago e salários excepcionais para todos. Antes disso, porém, sonham em atingir 1% das intenções de voto para ao menos aparecer nas pesquisas que ignoram as casas decimais depois da vírgula.
Eles são os nanicos, personagens com chances de vitória inversamente proporcionais à grandeza de seus propósitos. Nas últimas eleições, andavam sumidos. Em 2002, só dois postulantes tinham menos de 1% das intenções de voto. Em 2006, apenas três. Agora, a disputa tem seis microcandidatos. Eles ocuparão cerca de 25% do tempo destinado à propaganda eleitoral na TV.
Um nanico isolado tem pouca influência. Unidos, eles podem causar impacto. Numa eleição acirrada e com poucos nomes competitivos, a soma de seus votos pode ser decisiva para a realização de um segundo turno. Em 1989, 13 nanicos conseguiram 4,8%. Em 1998, oito nanicos tiveram 2,2%.
Depois, nunca chegaram a 1%. A pesquisa mais recente que apresentou resultados sem desprezar os valores à esquerda da vírgula mostrou que os nanicos inscritos na atual disputa teriam 0,9% dos votos.
A presença de nanicos tem uma segunda importância: são eles, na prática, que podem determinar a realização de debates na TV no primeiro turno. Como a lei obriga as TVs a convidar todo mundo, o excesso de nanicos acaba inibindo algumas emissoras. Elas alegam desinteresse em promover um falatório que pode parecer improdutivo.
Ser nanico não significa necessariamente ser desconhecido. Um dos mais tradicionais representantes da classe é o advogado gaúcho José Maria Eymael, dono do famoso jingle “Ei, ei, Eymael”. De tão tocada em tantas eleições, a musiquinha virou uma espécie de hino do naniquismo eleitoral.
Agora, está presente até em celulares. Para alegria de Eymael, 6.114 internautas não quiseram esperar e já baixaram o ringtone pelo site do PSDC. Isso representa mais downloads que toda votação do próprio Eymael em 2006 em Minas Gerais, o segundo maior colégio eleitoral do país. Entusiasmado, o PSDC criou três novas versões do jingle: em axé, sertanejo universitário e milonga.
Esta é a terceira vez que Eymael disputa a Presidência. Por esse critério, ele empata com seu xará e nanoconcorrente José Maria de Almeida (PSTU), candidato em 1998, 2002 e 2010, e com o mais bem-sucedido nanico da história, Enéas Carneiro (Prona), morto em 2007, que foi candidato em 1989, 1994 e 1998. Em 1994, Enéas teve 7,4% dos votos.
Ficou em terceiro, na frente de nomes como Orestes Quércia (PMDB) e Leonel Brizola (PDT). Tecnicamente, deixou de ser nanico. Anos depois, virou o deputado mais votado do país, com 1,5 milhão de votos.
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A revista informa que a edição da semana estará disponível a partir da próxima 6ª feira (16/7)
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