Mário Coelho
Mesmo com o pedido de demissão de Antonio Palocci da Casa Civil, a oposição vai insistir em convidá-lo para prestar depoimento na Câmara por conta do aumento do seu patrimônio em 20 vezes nos quatro anos em que foi deputado. A expectativa é que, a partir de amanhã (8), oposicionistas apresentem requerimentos de convite para o petista comparecer em uma comissão permanente da Casa. Por não ser mais ministro, ele não pode ser convocado pelos deputados.
Gleisi Hoffmann substitui Antonio Palocci
?O momento da crise se encerra, mas Palocci continuará a ter de dar explicações ao Parlamento e, principalmente, ao Ministério Público. Vamos encaminhar as seis representações contra o ex-ministro ao MP e a oposição, no momento adequado, vai apresentar convite para que Antonio Palocci venha à Câmara?, disse o líder do DEM, ACM Neto (BA). Para o demista, Palocci perdeu as condições de permanecer no cargo com as denúncias feitas recentemente. “A oposição utilizou instrumentos legais e deu demonstração de que não concorda com a impunidade”, completou.
Com a demissão de Palocci, o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), decidiu que vai considerar prejudicado o requerimento de convocação aprovado na Comissão de Agricultura na semana passada. No mesmo dia, ele suspendeu o pedido. A expectativa hoje era que ele cancelasse a decisão do colegiado. Depois, começou uma articulação para que Palocci fosse convidado em alguma comissão permamente. A ideia seria levada ao Palácio do Planalto. No entanto, antes de isso acontecer, o então chefe da Casa Civil renunciou.
Para oposicionistas, a demissão de Palocci deve facilitar a investigação sobre o crescimento do seu patrimônio. “A demissão do ministro Antonio Palocci facilita a investigação sobre o seu enriquecimento súbito. Não haverá mais blindagem do governo Dilma na Câmara para convocação, por exemplo; o foro privilegiado acaba e a sociedade não fica refém da decisão do procurador-geral, que foi omisso e se negou a investigar o ministro?, afirmou o deputado Roberto Freire (PPS-SP).
Já o líder do PSDB na Câmara, Duarte Nogueira (SP), avaliou que, apesar de a saída do ministro permitir a retomada dos trabalhos legislativos, a oposição ?se reserva o direito? de buscar os esclarecimentos ainda não conhecidos pelo povo brasileiro”. ?Essa é uma vitória da sociedade, mas fomos um instrumento para insistir que as denúncias não caíssem no esquecimento?, disse o tucano.
“Dignidade preservada”
Para parlamentares governistas, Palocci saiu do governo para diminuir a “temperatura política” atual. Depois da primeira matéria do jornal Folha de S. Paulo, oposicionistas passaram a ameaçar o governo com a possibilidade de convocar o então ministro para prestar depoimento na Câmara e no Senado. Também passaram a recolher assinaturas para a criação de uma CPI mista. Além disso, apresentaram propostas de fiscalização e controle que ainda não saíram do papel.
“O ministro Palocci se afasta no momento em que o procurador-geral da República diz que não há fatos que possam remeter a uma investigação na empresa do até então ministro. Não há prova, não há crimes. Por isso, o ministro Palocci se afasta do governo com sua dignidade preservada”, disse o líder do PT, Paulo Teixeira (SP). O petista afirmou que o gesto político de Palocci ocorreu para “contribuir para a continuidade do governo”. “Ele se afasta não para responder às acusações, mas sim para diminuir a temperatura política. O governo da presidenta Dilma Rousseff está mudando o Brasil”, disse.
O líder do governo, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), defendeu o ex-ministro-chefe da Casa Civil e afastou a tese de que o governo estaria paralisado por conta da crise e da falta de unidade na base aliada. Segundo ele, não existe desarticulação do governo no Congresso e a crise não diminuiu o governo. ?Palocci saiu porque o quadro político inviabilizava a sua atuação na Casa Civil?, disse Vaccarezza, que reafirmou a inocência do colega. ?Não houve tráfico de influência. Palocci nunca usou dados sigilosos do governo para favorecer empresas, e esses fatos ocorreram no ano passado, quando ele não era ministro?, ressaltou.
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