Fábio Góis
O governador do Distrito Federal, José Roberto Arruda (DEM), disse neste domingo (1º) ao jornalista Kennedy Alencar, em entrevista ao programa “É notícia”, da Rede TV!, que mentiu no episódio da violação do painel eletrônico de votação do Senado porque era igual a todos os políticos brasileiros, e que estava contaminado pelo “vírus” que ataca a classe. A calúnia a que o governador se refere o levou a renunciar ao cargo, depois de discurso na tribuna do plenário em que negara com veemência ter participado da violação.
“O me levou a mentir foi ser igual a todos os políticos brasileiros”, disse Arruda, que chegou a chorar em seu discurso no plenário. “Eu estava ali inoculado por este vírus que ataca, principalmente, um sujeito como eu, na época jovem, que tinha chegado com 40 anos ao Congresso.”
Para Arruda, que era líder do governo na época do episódio, a arrogância foi outro fator que o levou a mentir em plenário. “Não só minha, mas de todos os que participaram”, disse, acrescentando “talvez” saber quais outros parlamentares viram a lista de votações que resultou na cassação do então senador Luiz Estevão (PMDB-DF).
Instado pelo jornalista a revelar nomes, Arruda se esquivou. “O erro que eu cometi não vai diminuir se eu incluir nele alguns outros que erraram”, tergiversou Arruda, pré-candidato do DEM à reeleição ao governo do DF. “Graças a Deus, eu me recuperei no momento em que falei: ‘Gente, eu errei, eu não quero ser igual aos outros políticos que erram e ficam mentindo. Então vou falar a verdade logo, eu vi mesmo a lista’. Os outros que viram terão o resto da vida para confessar ou não’.”
Memória
O escândalo do painel eletrônico aconteceu no ano 2000, quando da sessão de votação que cassou o mandato de Luiz Estevão, em junho daquele ano. Tinha como pano de fundo uma disputa política entre senadores Jader Barbalho (PMDB-PA) e Antônio Carlos Magalhães (DEM-DF), então presidente do Senado. A violação da votação sigilosa levou à renúncia de ACM, Arruda e Jader. Em março de 2000, depois de um bate-boca entre Jader e ACM, o Conselho de Ética aprovou um voto de censura contra os dois.
“Fui levado na rede por uma briga que não era minha”, relembra Arruda, admitindo ter pagado “um preço muito alto” pela participação no caso.
Quase um ano depois, Jader se elegeu presidente do Senado. ACM transformou-se, então, em um franco-atirador e fez uma série de denúncias contra o rival, chegando a romper com o governo Fernando Henrique Cardoso. Em meio às denúncias, o baiano confessou ter quebrado o sigilo do painel eletrônico na sessão acima mencionada. Na época da votação, ACM presidia a Casa.
Em depoimento à comissão de inquérito aberta para investigar o caso, a ex-diretora do Prodasen (Secretaria Especial de Informática do Senado), Regina Borges, confirmou que o painel fora violado a pedido de ACM e do então líder do governo, José Roberto Arruda.
No início de 2001, Jader, envolvido em denúncias de corrupção, e ACM e Arruda, em vias de terem processo de cassação aberto pelo Conselho de Ética, renunciaram aos respectivos mandatos. Nas eleições de 2002, Jader e Arruda foram eleitos deputados federais, enquanto ACM, morto em 2007, retornou ao Senado. Jader Barbalho se reelegeu deputado.
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