Rodolfo Torres
Maior carnaval fora de época do país, o Carnatal (micareta que começou ontem e vai até o próximo domingo) pode ser um risco para a saúde de milhares de pessoas que estão em Natal (RN). De acordo com documento elaborado pela Sociedade Riograndense do Norte de Infectologia (SRNI) no fim de novembro, o evento pode aumentar consideravelmente o número de casos da gripe A na capital potiguar.
“Pelo mecanismo de transmissão da doença, espera-se que o risco seja diretamente proporcional à intensidade da aglomeração”, afirma a nota (confira abaixo a íntegra do documento).
“Em termos de mortalidade, somos o segundo do país. Só perdemos para o Paraná”, afirmou ao Congresso em Foco o presidente da SRNI, Hênio Godeiro Lacerda.
Produzido a pedido da Promotoria de Justiça e Defesa da Saúde Pública e da Secretaria de Saúde do Rio Grande do Norte, o parecer médico destaca que é “crescente” o número de casos graves e mortes no estado em virtude da nova gripe.
Além disso, os médicos ressaltam que o número de leitos para atender os doentes é insuficiente, e que não há recomendação para o uso de máscaras durante o evento.
“É essencial que os gestores locais adquiram vacina para proteger a população do RN imediatamente, pois o período anual de incidência da influenza sazonal local, difere das regiões Sul e Sudeste do país. Enquanto nessas regiões as vacinas poderão ser aplicadas em março ou abril de 2010, no nordeste brasileiro deveríamos ter iniciado a campanha vacinal em outubro, acrescenta a nota.
O outro lado
Ao Congresso em Foco, a assessoria jurídica da Destaque Promoções, empresa que promove o Carnatal, destacou que, durante dois dias, participou de reuniões com autoridades públicas de saúde para debater os efeitos da nova gripe no evento.
“Fazer uma medida restritiva não seria a mais adequada”, explica. De acordo com a empresa, não foi observado o aumento da Gripe A após a realização de eventos de dimensões maiores do que a micareta em Natal. Como exemplo, ela cita a Oktoberfest (realizada em Santa Catarina), o Círio de Nazaré (em Belém) e a Parada Gay de São Paulo.
Além disso, a assessoria ressalta que o Ministério da Saúde reconhece que o vírus já está disseminado e medidas restritivas não têm utilidade nesse contexto.
“Juntamos experiências regionais e internacionais. Não restaram dúvidas de que a melhor medida é a orientação… A única empresa no Brasil que realiza um evento e orienta sobre a Gripe A é a nossa. Desconheço outra que faça isso”, complementou.
Confira a íntegra da nota:
“Sociedade Riograndense do Norte de Infectologia
Federada da Sociedade Brasileira de Infectologia
Natal, 30 de novembro de 2009.
Em resposta à solicitação da Promotoria de Justiça e Defesa da Saúde Pública e da Secretaria Estadual de Saúde Pública do Rio Grande do Norte, para um parecer técnico sobre os riscos da realização do Carnatal em relação à pandemia de Influenza A H1N1, a Sociedade Riograndense do Norte de Infectologia (SRNI) reuniu-se às 17 horas do dia 29 de novembro de 2009 e deliberou o seguinte documento:
Considerando o crescente número de casos graves e óbitos em âmbito regional a partir da semana epidemiológica 41 de 2009;
Considerando que muitos dos casos graves necessitam de assistência ventilatória e, consequentemente, internação em leitos de Unidades de Terapia Intensiva;
Considerando que todos os casos internados devem ter isolamento respiratório, em quartos privativos, com vedação de portas, boa ventilação e, preferencialmente, com pressão negativa;
Considerando que a disponibilidade dos leitos supracitados é insuficiente para atender a demanda atual e, portanto, não daria suporte a um aumento do número de casos;
Considerando que toda aglomeração humana é propícia para disseminação das doenças de transmissão aérea;
Considerando que não há recomendação para o uso de máscaras em ambientes abertos;
Considerando que o número de casos confirmados são referentes aos de maior gravidade, já que não são realizados exames confirmatórios dos indivíduos sem critérios de gravidade e que, sendo assim, não sabemos a real taxa de ataque do vírus;
Considerando que o período de transmissibilidade da doença se inicia um dia antes dos primeiros sintomas e persiste até o sétimo dia;
Considerando que a aplicação da vacina em massa é a mais eficaz forma de prevenir o avanço da pandemia;
Considerando que todos os pontos levantados neste documento são condizentes com as recomendações do Ministério da Saúde e da Organização Mundial de Saúde, emitimos o seguinte parecer:
A realização do evento denominado Carnatal pode aumentar consideravelmente o número de casos, assim como qualquer outra forma de aglomeração humana. Pelo mecanismo de transmissão da doença, espera-se que o risco seja diretamente proporcional à intensidade da aglomeração.
A rede assistencial do Rio Grande Norte é deficiente e necessita de melhorias para atender a demanda atual, podendo a situação se agravar substancialmente com uma possível elevação da incidência de doentes graves.
É essencial que os gestores locais adquiram vacina para proteger a população do RN imediatamente, pois o período anual de incidência da influenza sazonal local, difere das regiões Sul e Sudeste do país.
Enquanto nessas regiões as vacinas poderão ser aplicadas em março ou abril de 2010, no nordeste brasileiro deveríamos ter iniciado a campanha vacinal em outubro.
Recomendamos ainda, que haja veiculação em massa nos meios de comunicação (tv, rádio, jornal, outdoor, etc), sobre as medidas de prevenção da Gripe.
Certos de estarmos cumprindo com nosso dever social, reiteramos a disposição da Sociedade Riograndense do Norte de Infectologia em contribuir para os esclarecimentos julgados necessários.
Atenciosamente,
Hênio Godeiro Lacerda
Presidente da SRNI”
Deixe um comentário