Tales Faria *
O senador Ney Suassuna (PMDB-PB) é uma figura até simpática. Circula pelo Congresso com balas e bombons nos bolsos, oferecendo docinhos e pequenos agrados a seus colegas e aos jornalistas. À custa dessa humildade estudada, chegou a líder do seu partido.
Mas estava na cara que, após o escândalo dos sanguessugas, Suassuna tinha que deixar o cargo. Até deixou, mas foi por causa do escarcéu que o velho guerreiro Pedro Simon (PMDB-RS) vinha promovendo, cobrando insistentemente a saída do líder. Afora Simon, o restante do partido bem que aceitaria a permanência de Suassuna.
E, para o lugar dele, a bancada colocou outra figura curiosa, Wellington Salgado (MG). Um grandalhão e desengonçado ricaço do Rio de Janeiro, que representa Minas Gerais no Parlamento. É que ele chegou ao Senado como suplente do amigo e ministro Hélio Costa, eleito pelo PMDB mineiro, a quem deve ter ajudado de alguma forma. O deputado Fernando Gabeira (PV) o classifica publicamente como "um constrangimento para o Parlamento".
Mas o PMDB não se constrange. O líder do governo no Senado também é uma indicação da legenda: o senador Romero Jucá (PMDB-RR). Sim, exatamente! Aquele Jucá que foi ministro da Previdência e tantos constrangimentos causou ao governo que acabou sendo obrigado a largar o posto.
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Destemido, o PMDB enfrentou toda a opinião pública também quando indicou para ministro do Tribunal de Contas da União (TCU) o senador Luiz Octavio (PMDB-PA).Trata-se daquele senador que foi acusado de ter sumido com R$ 13 milhões de um empréstimo do Banco do Brasil. Foram tantos os protestos contra sua indicação ao TCU que ele nunca conseguiu assumir. Mas o PMDB não se dobrou: não indicou mais ninguém! Até hoje há um posto vago de ministro no tribunal.
Por isso me pergunto: o que há com o PMDB? Que estranho fenômeno é este que faz desse partido o maior do país, mesmo ele desprezando tanto a opinião pública na luta pelo butim do Estado?
Só encontro uma pista de resposta numa aula da velha Faculdade de Comunicação da UFRJ. Há 24 anos, o mestre Nilson Lage, falando de um grande jornal que começava a definhar, explicava: "São raros, muito raros os casos em que uma grande instituição ou empresa acaba de uma hora para a outra. Em geral, ela leva anos morrendo".
De fato, há quantos anos definha o velho PRI do México, que perdeu as eleições mas funciona como fiel da balança entre oposição e governo no Congresso? Uma situação bastante semelhante à do PMDB hoje. O partido é grande o suficiente para aglutinar todos aqueles que ainda sonham em arrancar nacos do poder, e deve sair das urnas ainda enorme. Mas – não se iludam! – o PMDB, na verdade, está definhando.
· Tales Faria foi, em Brasília, diretor da revista Istoé e repórter especial de política de O Globo e da Folha de S. Paulo. No Rio de Janeiro, além de repórter de polícia do Globo, atuou de rádio-escuta a diretor da sucursal da Folha. Ele está para lançar, com um grupo de jornalistas, o site www.quidnovi.com.br.
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