Fábio Góis
As mais de cinco horas de sessão deliberativa no Plenário do Senado parecem ter tirado o senador Mário Couto (PSDB-PA) do sério. Em discurso na tribuna, o tucano disse que alguns senadores estão traindo a si mesmo ao votar favoravelmente ao projeto de lei que estipula o valor do salário mínimo em R$ 545, além de garantir ao Executivo o poder de corrigir por decreto, anualmente, os valores posteriores ? o que seria, na visão dos oposicionistas, uma afronta à Constituição. A certa altura, a fala de Mário descambou para o surreal e chegou ao reino dos mortos.
Na passagem mais hilária na sessão desta quarta-feira (23), Mário dava socos na mesa de madeira do parlatório quando, dirigindo-se ao busto do patrono do Senado, Rui Barbosa ? a escultura está instalada acima da Mesa Diretora ?, imaginou como o ex-senador reagiria em sobre a postura dos colegas do século 21.
?Eu peço a vossa excelência, coloque um algodão nos ouvidos de Rui Barbosa?, sapecou Mário, arrancando risadas generalizadas em plenário. Ele queria impedir, de maneira mais do que metafísica, que Rui testemunhasse do Além a iminente vitória governista, cuja base no Senado conta com o voto de, ao menos, 54 dos 81 representantes da Casa. Mário pedia a providência surreal ao presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que o olhava pacientemente, com um olhar que mal escondia a impressão que sinalizava algo entre a descrença e a indiferença.
A reação impávida de Sarney não adiantou, o que revelava o tácito desdém em relação ao discurso: Mário empunhava um exemplar a Constituição e, logo depois de rasgar uma foto histórica em que petistas simbolizam com os dedos polegar e indicador a concessão mínima da direita ao piso salarial, parecia que rasgaria também a Carta Magna. Mas a configuração de crime de lesa-pátria deve tê-lo demovido da ideia.
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