O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Marco Aurélio Mello, ironizou nesta terça-feira a conclusão da Polícia Federal de que não há grampos nos telefones de magistrados da corte. "É algo realmente surpreendente. Talvez seja um instituto desconhecido no Brasil, o grampo", afirmou. A conclusão da PF baseia-se em laudo de perícia feita pelo Instituto Nacional de Criminalística no TSE.
A suspeita de violação das linhas veio à tona há duas semanas, depois que a empresa Fence fez uma varredura de rotina e encontrou três grampos. Dois estavam nas linhas diretas dos ministros Marco Aurélio e Cezar Peluso instaladas no gabinete deles no Supremo Tribunal Federal (STF). O terceiro estava numa linha de fax utilizada pelo ministro Marcelo Ribeiro, no próprio TSE.
Segundo Marco Aurélio, a Fence presta serviço para o TSE há vários anos e nunca havia encontrado suspeita de grampo, o que, na opinião dele, atentaria em favor do trabalho da empresa. Ele lembrou ainda que houve inspeção em telefones de outros ministros, nos quais não foram detectadas irregularidades. "Não encontramos grampos em relação aos telefones de um quarto ministro, Carlos Aires Britto, o que bem sinaliza que houve critérios táticos", disse.
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Indagado se a empresa poderia ter intenções eleitoreiras, o ministro afirmou que não pode raciocinar "a partir do extravagante". "Temos que imaginar a lisura. Não podemos supor que todos sejam salafrários", declarou.
Marco Aurélio questionou se a conclusão da PF foi baseada em dados concretos e, perguntado se a corporação poderia estar escondendo provas com intenções políticas, foi categórico: "Não posso presumir o absurdo e o absurdo estaria no acobertamento dos fatos. As instituições estão fortes e a PF merece respeito".
Ele salientou que a intenção ao divulgar a suspeita de grampo, mesmo sem a confirmação, não era encontrar os responsáveis pelo ocorrido, mas tornar pública a vulnerabilidade dos ministros. "O importante era a divulgação do episódio. O grampo, evidentemente, com a divulgação, foi retirado. Foi algo muito sintomático."
Investigação do dossiê
Em relação ao processo de investigação aberto pelo TSE para apurar o escândalo da compra de dossiês contra candidatos tucanos, Marco Aurélio afirmou que não vai ceder às pressões da oposição, que cobra rapidez nas investigações. Segundo ele, o Plenário do tribunal precisa estar aparelhado para fazer um julgamento correto, que só deve ocorrer em 2007.
Ele explicou que, se Lula vencer as eleições e for considerado culpado, os autos do processo seguirão para o Ministério Público, que decidirá se pede a impugnação do mandato. Questionado se a oposição planeja um golpe branco, ele respondeu que não há espaço para tal prática no Brasil porque as instituições estão consolidadas.
Reunião com coordenador de Lula
Sobre o encontro com o coordenador da campanha do presidente Lula à reeleição, Marco Aurélio Garcia, ele afirmou que a reunião foi apenas para tratar sobre as eleições. Segundo ele, os dois não conversaram sobre o episódio da compra de dossiês.
De acordo com o ministro, Garcia reclamou das sucessivas derrotas sofridas pelo PT no plenário do TSE, que já custaram mais de 40 minutos do tempo de Lula no horário político. Em relação à comparação do escândalo dos dossiês com o caso do Watergate, que causou atrito entre os dois na semana passada, o presidente do TSE disse que mantém sua opinião.
"Mantenho (a comparação com o Wategate) considerando não o acontecimento retratado no dossiê, mas o todo que tivemos até aqui, a partir do mensalão", afirmou. Indagado se apóia a participação de Lula nos debates eleitoral, disse que "como cidadão, gostaria de presenciar o debate com todos os candidatos". (Diego Moraes)
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