Escrever um artigo por semana, o que no início me parecia algo difícil, pela falta de experiência, hoje é insuficiente para comentar a conjuntura, que muda a cada dia. E, no período eleitoral que vivemos até domingo passado, mudava em questão de horas.
A conjuntura, na fase preparatória e agora na condução da concretização do golpe de Estado em nosso país, sofre solavancos a todo instante, bem como aparecem atores novos quase que cotidianamente.
Os usurpadores do governo atuam de maneira acelerada para levar o Brasil não à década de 50 deste século XXI, mas à década de 50 do século passado. E uma das ações para este retrocesso é na educação. Fazem o discurso da educação sem partido, como se nossa escola pública fossem cursinhos de formação politica partidária.
Ao completar 80 anos de idade, Luiz Alberto Moniz Bandeira – que os adeptos da escola sem partido, na sua grande maioria, tenho certeza, não sabem quem é - tem recebido várias homenagens e dado várias entrevistas. Dia 29 passado, o jornal A Tarde publicou uma das boas e oportunas entrevistas com Moniz Bandeira.
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Moniz é baiano e, perguntado sobre a Bahia, como parte da resposta, ele diz: “Na Bahia, recebi uma educação humanística, desde o Colégio da Bahia, até o primeiro ano, na Faculdade de Direito, no Portão da Piedade, o que me valeu para toda a minha vida e carreira acadêmica, como cientista político e historiador. Nas duas instituições de ensino tive excelentes professores, dos quais guardo as melhores recordações”.
É justamente este tipo de educação, humana, solidária e libertária que os usurpadores do governo querem botar fim com o discurso da escola sem partido.
Os “intelectuais”, liderados por Alexandre Frota, que defendem a escola sem partido não conseguem sequer fazer um debate aberto e franco com os jovens que agora ocupam, em defesa da educação publica de qualidade, as escolas. Há muitos exemplos da incapacidade destes políticos e intelectuais. O simples fato de buscar a “reforma” através de uma medida provisória é uma fuga ao debate.Outro exemplo está no Paraná. Na falta de argumento, o governador Beto Richa (PSDB) contratou os “inteligentes” militantes do Movimento Brasil Livre (MBL) para atuar como milícia. Na falta de argumentos, usa-se força bruta.
Outro exemplo da incapacidade do debate está na postura do deputado Ademar Traiano, presidente da Assembleia Legislativa do Paraná, e de parte de seus pares, que, embasbacados, assistiram à estudante Ana Julia de 16 anos perguntar de quem é a escola. Não sabendo dar resposta a essa e outras questões levantadas pela jovem estudante, tentou-se dar uma “cala boca” na inteligente garota.
O pretexto para dar o “cala boca” foi quando ela comentou o assassinato de Lucas Eduardo Araújo Mota, de 16 anos, dentro de uma das escolas ocupadas e disse que os deputados estavam com as mãos sujas de sangue. O sentido da frase é figurado, mas até que ponto muitos dos atuais usurpadores do governo não têm as mãos sujas, mesmo que indiretamente, de sangue? Ao não aplicarem o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), contribuem para a violência. Muitos criticam o ECA, mas sequer o leram.
Na semana em que se debate se os jovens brasileiros terão a possibilidade de vislumbrar, através de uma educação de qualidade, se terão um futuro promissor, foi divulgado 10º Anuário de Segurança Pública. Informa este anuário que ao menos nove pessoas morrem por dia por intervenção policial, enquanto na Grã-Bretanha, para alcançar este mesmo numero de mortes, demoraria 25 anos.
Na Inglaterra e no País de Gales, foram dados 55 disparos fatais entre 1990 e 2014. No Brasil, não tenho números oficiais, mas provavelmente é o número mensal de tiros fatais.
É inequívoco, hoje, o recrudescimento do autoritarismo e da violência institucional, dos três poderes (Executivo, Legislativo e Judiciário). Muitos continuarão sujando as mãos.
Ana Júlia Ribeiro participou, na última segunda-feira (31), de audiência pública na Comissão de Direitos Humanos do Senado. Em seu discurso, ela disse que os parlamentares que defendem a PEC do teto de gastos estarão com as “mãos sujas por 20 anos”.
Assino embaixo.
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