Mário Coelho
Os manifestantes que ocupavam o plenário da Câmara Legislativa do Distrito Federal (CLDF) deixaram o prédio em definitivo após seis dias de ocupação. A retirada dos cerca de 30 estudantes que permaneciam no local só aconteceu depois de uma longa negociação da Polícia Militar com os líderes do movimento.
Além dos estudantes, também estavam no prédio manifestantes favoráveis ao governador do DF, José Roberto Arruda (DEM). Também estimados em 30 pessoas, eles acabaram gerando um conflito dentro das galerias da Câmara. Isso ocorreu durante a sessão extraordinária da manhã desta terça-feira, quando foram lidos os novos pedidos de impeachment contra Arruda.
Com a ameaça de confronto, o presidente da Câmara, Cabo Patrício (PT), acabou dispensando todos os servidores e ordenando o fechamento de todos os gabinetes. Cerca de 700 policiais militares – sendo 300 do Batalhão de Operações Especiais (Bope) – cercaram o prédio. A entrada de pessoas foi proibida. Quem saísse, não poderia mais voltar, mesmo se fosse funcionário da Casa.
Por volta do meio-dia, dois negociadores da PM começaram a conversar com os manifestantes. O início do processo é considerado pelos militares como o mais complicado. Dependendo da maneira com que o manifestante responde à abordagem policial, a negociação pode fluir ou não. Depois de quatro horas de conversa, os manifestantes concordaram em sair.
Para que isso acontecesse, a PM organizou um corredor de aproximadamente 100 policiais na entrada da Câmara. Para transportar os manifestantes, dois ônibus, um de turismo e outro de transporte urbano, foram estacionados no fim do paredão de militares. Eles foram alugados pela Central Única dos Trabalhadores do DF (CUT-DF) e pelos próprios estudantes.
Um a um, os estudantes foram saindo. Muitos tiveram de ser carregados por policiais. “Eles tiveram debilidades físicas, por isso foram carregados”, explicou o coordenador da comunicação social da PM, coronel Alberto Pinto. Mas, segundo pessoas do movimento, era uma forma de protestar pela última vez contra a situação.
De um lado da fila, manifestantes pró Arruda gritavam palavras de ordem e xingamento. Do outro, colegas do movimento que protesta contra o governador apoiava e tentava duelar no grito.
Alguns deputados da oposição, como Erika Kokay (PT) e Reguffe (PDT), acompanharam a entrada dos estudantes nos ônibus. “A desocupação foi um sucesso, já que nenhum manifestante foi lesionado”, afirmou o presidente da CLDF. Neste momento, policiais militares e legislativos fazem uma varredura no prédio da Câmara. A intenção é saber se houve algum dano ao patrimônio. A PM espera liberar a sede do Legislativo para as atividades normais até amanhã de manhã.
Pró-Arruda
A chegada dos manifestantes favoráveis a Arruda causou estranheza entre deputados, servidores da Casa e manifestantes. O distrital Paulo Tadeu (PT) chegou a dizer, em plenário pela manhã, que eles eram funcionários comissionados do GDF. Já Chico Leite (PT) adiantou que vai pedir ao Ministério Público do DF (MPDF) uma investigação para saber se eles foram forçados a sair dos empregos e fazer um movimento pró-governador.
“A nossa bandeira é o Arruda”, disse o manifestante Alessandro Araújo, que não quis dizer a idade e nem sua ocupação profissional. Ele diz que dá ao governador o “benefício da dúvida”, e comenta que imagens em vídeo podem ser montadas, assim como vozes imitadas. “Ele falou que o dinheiro foi declarado. Eu acredito nele”, disse Alessandro. Cerca de 100 manifestantes chegaram no início da sessão, às 10h, e dividiram a galeria com os estudantes. Houve troca de insultos.
Votação
Por enquanto, somente deputados podem entrar e sair da Câmara. Os funcionários que permaneceram, caso decidam sair, só podem voltar quando acabar a varredura. Cabo Patrício convocou sessão para às 15h desta quarta-feira. A expectativa dos deputados distritais é eleger um novo corregedor, que vai investigar os parlamentares envolvidos na Operação Caixa de Pandora nos processos de decoro parlamentar, e escolher os membros da comissão especial destinada a analisar os pedidos de impeachment contra Arruda.
A expectativa da oposição é saber como os distritais de partidos que anunciaram sua saída do governo vão se portar. As executivas do PMDB, do PSDB e do PPS decidiram sair do governo. Porém, os parlamentares dessas siglas, até o momento, comportam-se como aliados do governador. Essa atuação vai influenciar na composição das comissões e na abertura dos processos de impeachment.
“O nosso grande temor é a tropa de choque de Arruda”, disse Kokay, que é líder do PT na Câmara. Nos próximos dias, reassumirão seus mandatos dois distritais intimamente ligados com o governador: Eliana Pedrosa (DEM), que estava na Secretaria de Desenvolvimento Social, e Paulo Roriz (DEM), então secretário de Habitação. Na semana passada, voltou Alírio Neto (PPS), outro aliado de longa data de Arruda.
Deixe um comentário