Jornal do Brasil
Fechado o cerco contra Renan
A oposição decidiu ontem tentar jogar o governo contra o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), absolvido quarta-feira pelo plenário da Casa da primeira representação por suposta quebra de decoro parlamentar. Cientes de que não reunirão votos suficientes para apear Renan do cargo, senadores de PSDB, DEM, PDT e PSOL resolveram passar a tentar impedir a votação de projetos importantes para o governo.
Parte da bancada do PMDB e do PSB também aderiu ao movimento, apelidado de "pauta seletiva". Acreditam que a situação de Renan só se tornará insustentável se ele for pressionado pelo governo, que, ao ajudar a salvar seu mandato, tornou-se credor do presidente do Senado.
Greve compromete boletos de cobrança
Durante todo o dia de ontem, Flávia Casal, 38 anos, funcionária de uma agência dos Correios franqueada (ACF) no Rio Comprido, repetiu exaustivamente para os clientes que não havia previsão de entrega para os envelopes que traziam. A greve nacional dos funcionários dos Correios, iniciada ontem, pegou muita gente de surpresa. Os serviços de Sedex Hoje, Sedex 10 e de entrega internacional foram suspensos. Correspondências de serviços essenciais como luz e água estão garantidas, porque já não são feitas pela estatal. Mas boletos de cobrança entregues pelos carteiros correm o risco de atrasar. O mesmo acontece com o prazo de entrega de sites de venda na internet que usam Sedex para enviar produtos.
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Folha de S. Paulo
Renan diz que ficará no cargo e se vê eleito pela terceira vez
Na primeira entrevista que deu após escapar da cassação, Renan Calheiros (PMDB-AL) disse que nenhum dos outros 80 senadores tem condições de presidir o Senado no atual cenário de "absoluta divisão".
Afirmando considerar que a votação representa uma "renovação da confiança da Casa" e uma "terceira" eleição sua ao posto, Renan deu sinais de que não pretende renunciar ou se licenciar do cargo.
"Perdemos apenas cinco votos depois dessa campanha nunca vista no Brasil contra mim. Significa dizer que se eu não tiver condição de presidir o Senado, quem é que vai ter em um quadro de absoluta divisão?", afirmou em entrevista de cerca de meia hora à Rádio Gaúcha, em um programa de uma amiga de seu advogado, o gaúcho Eduardo Ferrão.
Aliados fazem pressão branda por licença
Apesar do aumento da pressão do governo e da oposição para se licenciar da presidência do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) recusou ontem essa possibilidade em público e em conversas com mensageiros do Palácio do Planalto.
"Vou descansar no final de semana. Na segunda-feira, estarei aqui para tocar a vida. Vou propor uma agenda de interesse do país, não só do Executivo. Quero a conciliação." Sobre a possibilidade de licença, Renan declarou: "Não discuto isso".
A Folha apurou que dois senadores e um deputado federal, todos do PMDB, levaram a Renan o desejo do Planalto de que ele deve se licenciar. Ele respondeu que não o fará porque o placar de sua absolvição lhe dá capital político para resistir à hipótese de licença. Renan tentará recompor relações no Senado. Se não houver acordo com a oposição, sua tendência é partir para o conflito, pois avalia que foi correta a estratégia de não abrir mão do comando do Senado.
PT empurra desgaste para Mercadante
Preocupados com o desgaste pela absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), integrantes da bancada do PT criticaram Aloizio Mercadante (PT-SP) por ele ter declarado que se absteve.
Os petistas afirmaram que essa foi uma atitude isolada do senador, mas todos estavam sob suspeita na Casa. As seis abstenções foram decisivas para arquivar o pedido de cassação. Esse foi o número que faltou para completar os 41 votos necessários para Renan perder o mandato. "Essa história de abstenção foi um movimento isolado de Aloizio Mercadante. Ele que assuma o que fez e não fique arrolando os outros", disse a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC).
Após a divulgação do resultado, cinco petistas riam em plenário e comemoravam o desfecho do processo. "Somos a bancada da abstenção", disse Fátima Cleide (RO). Ela estava acompanhada de Ideli, João Pedro (AM), Serys Slhessarenko (MT) e Sibá Machado (AC).
Oposição ameaça fazer "obstrução seletiva"
Partidos de oposição e alguns senadores que integram a base do governo anunciaram ontem um pacote de medidas "anti-Renan", que, na prática, representará uma obstrução "seletiva" das votações no plenário e em comissões importantes.
O anúncio foi feito após uma reunião com a presença de senadores de seis partidos. Participaram do encontro: Tasso Jereissati (PSDB-CE), Sérgio Guerra (PSDB-PE), Arthur Virgílio (PSDB-AM), Marco Maciel (DEM-PE), José Agripino (DEM-RN), Cristovam Buarque (PDT-DF), Patrícia Saboya (PSB-CE), José Nery (PSOL-PA) e Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE).
O acordo prevê que nenhum líder da oposição participará de qualquer reunião de trabalho comandada pelo presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL).
Além disso, foi anunciada uma obstrução "seletiva" das votações no plenário e em comissões estratégicas, como a de Orçamento.
"A oposição votará somente matérias que sejam imprescindíveis ao país até que Renan Calheiros se licencie do cargo", afirmou José Agripino, que ameaçou: "Ou ele sai da presidência ou o Congresso pára".
"É preciso acatar os resultados das instituições", diz Lula, sobre Senado
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva ficou ontem a um passo de festejar a absolvição de Renan Calheiros, mas não pôde deixar de acrescentar um "se" pelo qual admite que o problema continua no ar.
"O problema começou no Senado e terminou no Senado, se é que terminou", afirmou Lula, ontem pela manhã, no saguão de entrada da Confederação Dinamarquesa de Indústrias, em breve contato com os jornalistas brasileiros que cobrem sua visita aos países nórdicos.
O presidente aceitou que os jornalistas fizessem uma pergunta -e só uma-, já sabendo que seria sobre a votação da véspera. Sônia Bridi, repórter da Rede Globo, quis saber se Lula conhecia e concordava com "a ação da bancada do PT no Senado na defesa do senador Renan Calheiros".
Lula escapou com um longo circunlóquio, carregado de platitudes, como "poderia ter tido uma maioria contra o Renan, teve uma maioria favorável ao Renan".
O Estado de S. Paulo
Melhor para cargo sou eu, diz senador
Apesar da pressão dos partidos de oposição, que ameaçaram ontem paralisar a agenda de votação do governo no Congresso, e do próprio Palácio do Planalto, que deseja pelo menos seu afastamento temporário do cargo, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), deixou explícito ontem que não pretende deixar o posto de forma alguma – seja por renúncia, licença ou férias. "Deus não me deu o dom da desistência", disse, em entrevista exclusiva à Rádio Gaúcha – a única que concedeu ao longo do dia.
Indagado se ainda mantém as condições políticas para continuar comandando o Senado em votações polêmicas como a prorrogação da Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF), não deixou dúvidas sobre sua disposição: "Sempre. O Senado renovou a confiança em mim. Depois dessa campanha nunca vista no Brasil, significa dizer que, se eu não tiver condições de presidir o Senado, quem é que vai ter, num quadro de absoluta divisão?"
"Temos a CPMF para votar", pede Lula
Ao comentar ontem, em Copenhague, na Dinamarca, a absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que o mais importante, neste momento, é que "o Senado volte a funcionar com normalidade". "Temos muitas coisas importantes a serem votadas. Temos a CPMF, temos a reforma tributária, temos coisas que interessam ao povo brasileiro. É isso o que conta na verdade", disse.
O presidente falou sobre a absolvição em rápida entrevista num encontro com empresários na Confederação Dinamarquesa das Indústrias. "Nós precisamos nos habituar a acatar o resultado das instituições a que nós nos submetemos. Eu não posso admitir que eu só possa acatar o resultado quando ele favorece aquilo que eu pensava. Houve uma votação pelas regras do Senado e o Renan foi absolvido."
Preocupação com inflação na ata do Copom indica fim de cortes do juro
Recheada de alertas sobre os riscos que o aquecimento da demanda traz para a inflação, a ata da última reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), divulgada ontem pelo Banco Central, deixou em boa parte dos analistas a impressão de que o BC prepara o terreno para interromper o processo de queda dos juros. A revelação de que os integrantes do Copom cogitaram manter a taxa Selic inalterada também alimentou a expectativa de que o BC vai dar uma parada no ciclo de alívio monetário, iniciado há exatos dois anos, que reduziu a taxa de 19,75% para 11,25% ao ano.
Correio Braziliense
E ele não está nem aí
Apesar dos apelos do governo e dos aliados, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), continua resistindo à pressão para deixar o cargo. Ele não aceita discutir nem a renúncia nem uma licença temporária. Um dia depois de ser absolvido pelo plenário, disse a aliados que sente-se fortalecido pelo resultado. Diante de sua resistência, aliados como Roseana Sarney (PMDB-MA) tentam articular uma saída alternativa. Querem que ele tire férias de pelo menos duas semanas. Seria uma maneira de desanuviar o clima no Senado. Até ontem, o peemedebista descartava até mesmo essa idéia.
A defesa do afastamento de Renan é quase uma unanimidade. A idéia agrada ao Palácio do Planalto, que gostaria de ver o Senado pacificado antes da votação da emenda constitucional que prorroga a CPMF. Também atrai os aliados de Renan, cansados do desgaste de fazer sua defesa diária. “Vou sugerir que ele tire férias, até por uma questão humanitária”, diz a líder do governo no Congresso, senadora Roseana Sarney (PMDB-MA). “Minha opinião é que ele deveria se licenciar, mas esse é um direito dele”, diz Aloizio Mercadante (PT-SP).
Gosto amargo depois da absolvição
Ninguém discute no Senado que o voto secreto salvou o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), no julgamento da última quarta-feira. A procura agora é pelos senadores responsáveis por sua absolvição. Em clima de ressaca política, o Senado viveu ontem um dia de balanço da votação. Nas contas da oposição e de governistas, o PT aparece como protagonista da maioria das seis abstenções e integrantes do DEM e do PSDB surgem entre os 40 votos a favor de Renan. Ao todo, 35 optaram pela cassação, seis a menos que o necessário.
Nos corredores vazios, bem diferente da confusão de quarta-feira, senadores avaliaram ontem a responsabilidade pelo resultado. Há um consenso de que a absolvição não deve ser debitada somente na conta petista. A oposição admite traições, embora não pretenda, por enquanto, seguir o caminho da retaliação. “O PT foi responsável pela abstenção. Mas houve traições nos outros partidos”, disse Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), desafeto político de Renan e sempre apontado como eventual candidato da oposição para sucedê-lo.
PSol tenta retomar demais processos
Como não tem força parlamentar para criar dificuldades ao governo e ao presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o PSol planeja ir às ruas para reagir à absolvição do peemedebista. É a única ferramenta disponível neste momento para tentar pressionar pelo andamento dos demais processos contra Renan que tramitam no Conselho de Ética. Apesar da derrota no plenário, integrantes do partido acreditam que podem ganhar politicamente ao empunhar a bandeira da ética e ao ocupar o espaço deixado pelo PT.
O PSol planeja realizar atos públicos no final de semana contra a absolvição. Como não é possível identificar quem votou para salvar o mandato de Renan, pois o voto foi secreto, a intenção é expor declarações públicas de senadores sobre a cassação. Foram poucos os parlamentares, mas alguns chegaram a defender explicitamente o presidente do Senado. “Quem não se posicionou também vai ser cobrado. Afinal é exigido do homem público um posicionamento”, disse o líder do PSol na Câmara, Chico Alencar (RJ).
Oposição prepara boicotes
No dia seguinte à absolvição do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), no plenário da Casa, a oposição exerceu o direito de espernear contra a decisão. Caciques do DEM e do PSDB e dissidentes de três partidos aliados reuniram-se para definir uma linha de atuação em protesto contra a permanência de Renan na presidência. Na lista de medidas estão boicotar reuniões presididas pelo peemedebista e acelerar projetos para tornar abertos a sessão e o voto em pedidos de cassação.
A tática da oposição tem dois objetivos claros. Do ponto de vista da guerrilha contra o presidente do Senado, a reação terá poucos resultados concretos. A avaliação é a de que dificilmente Renan deixará o cargo por um apelo dos aliados ou por pressão dos oposicionistas. Se não surgirem fatos novos para alavancar os processos que tramitam no Conselho de Ética, dificilmente o destino das representações deixará de ser o arquivo. Logo, não terá qualquer efeito a pressão sobre Renan. O que a oposição deseja mesmo é desvencilhar-se da imagem de ter absolvido o presidente do Senado. A estratégia é a intenção de posicionar-se contra a decisão de quarta-feira. O líder do DEM, José Agripino (RN), sintetizou essa preocupação em uma simples frase, logo após deixar um almoço ontem com oposicionistas: “O que nos preocupa é a vala comum”, resumiu.
Clima ruim para CPMF ser votada no Senado
A líder do governo no Congresso, senadora Roseana Sarney (PMDB-MA), não conseguia disfarçar a preocupação com o ambiente de desconfianças e ressentimentos pessoais que encontrou no plenário do Senado ontem à tarde. Um dos esteios da articulação que livrou o presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), da cassação, Roseana teme que a continuidade do embate entre o presidente do Senado e seus adversários acabe prejudicando a votação do projeto de emenda constitucional que prorroga a Contribuição Provisória sobre Movimentação Financeira (CPMF). Segundo ela, para aprovar a CPMF, “será preciso negociar com a oposição”. Ocorre que a oposição, em retaliação ao decisivo apoio do Palácio do Planalto à preservação do mandato de Renan, promete obstruir as votações do Senado e pode querer derrubar o imposto.
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