Veja
O PAC empacou
Há dois anos, quando foi lançado, o Programa de Aceleração do Crescimento, batizado de PAC, chamou atenção pela exuberância de seus números. O mais ambicioso projeto do governo prevê, até o fim do segundo mandato do presidente Lula, investimentos públicos e privados em energia, transporte e infraestrutura urbana no valor total de 636,2 bilhões de reais, cifra superior ao PIB da Argentina. Com seu nome sonoro, o PAC também tem um inegável apelo eleitoral. O presidente Lula deu incontáveis provas disso no ano passado, ao chamar a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, sua candidata ao Palácio do Planalto em 2010, de "mãe do PAC". Na semana passada, porém, a divulgação de um balanço produzido pelo próprio governo revelou que o PAC empacou. De acordo com os dados oficiais, transcorrida metade do prazo para sua execução, o programa só alcançou 15% da meta. Se continuar nesse ritmo, será concluído apenas em 2019, quase uma década depois de encerrada a administração Lula. Assim como a maternidade do PAC deu fôlego à candidatura de Dilma, um eventual fracasso poderá deixar a ministra a pé na próxima eleição presidencial.
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A guerra dos quatro dias
A lógica tribal tem regras simples: se você me ataca, eu ataco de volta. Se quiser me destruir, eu o destruo primeiro. Se eu puder, uso dez vezes mais violência. Ou cem. Ou mil. Sei que você vai querer se vingar, mas estarei preparado, à espera. Eternamente, se for preciso. Essa é a lógica da guerra dos quatro dias, mas que pode se estender, desfechada por Israel contra um dos lugares mais desgraçados do mundo, a Faixa de Gaza. O pedaço estreito de terra desértica e superpovoada ficou ainda mais perigoso depois que o Hamas, uma organização nacionalista permeada pela ideologia dos radicais muçulmanos, o transformou numa espécie de segundo estado palestino – o primeiro fica no território conhecido como Cisjordânia e é governado pelo Fatah; os dirigentes de cada um dos pedaços de uma futura e já tão alquebrada nação palestina se odeiam.
O fundo da discórdia
O Fundo Soberano do Brasil é um desejo antigo do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Inspirado em iniciativas de grandes países exportadores de petróleo, como os Emirados Árabes e a Noruega, seu objetivo original era conter a desvalorização excessiva do dólar, preservando a competitividade das exportações locais. Essa era a ideia antes da falência do banco de investimentos Lehman Brothers, em setembro, e do vendaval externo que se seguiu a ela. Com a crise, o problema se inverteu. O preço do dólar já aumentou mais de 30% no ano e a arrecadação fiscal passou a cair. Não há mais excesso de recursos, mas falta deles. Diante do novo cenário, imaginava-se que o projeto de um fundo soberano fosse enterrado. Mas o governo o manteve. Só mudou seus propósitos. Os recursos, segundo a última versão da proposta, serão em reais, e não mais em dólares. Além disso, o fundo soberano brasileiro funcionará no Brasil, e não mais no exterior. Financiará empresas e projetos de infraestrutura, ajudando, quem sabe, a desemperrar as obras do PAC, o Programa de Aceleração de Crescimento. Da ideia original, só restou o nome.
Perdeu o lugar
O delegado Paulo Lacerda é um tira muito resistente. Ex-diretor-geral da Polícia Federal, Lacerda caiu pela primeira vez, em outubro de 2007, quando foi transferido para a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) em circunstâncias nunca totalmente esclarecidas. Há quatro meses, depois de VEJA revelar que a Abin grampeou ilegalmente o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, o delegado caiu pela segunda vez. Lacerda foi afastado temporariamente do comando da agência oficial de espionagem, por ordem do presidente Lula, até que a PF elucidasse seu papel na trama. Na semana passada, antes mesmo de a investigação ser concluída, o delegado caiu pela terceira vez ao ser exonerado definitivamente da Abin. Mas, como sempre acontece quando Lacerda tropeça, ele não ficará ao relento. Por determinação do presidente, o ex-diretor da Abin será nomeado adido policial do Brasil em Portugal. Sua viagem, que inverte a rota dos degredados que aportaram no Brasil no período colonial, deve ocorrer já no próximo mês.
Uma medida exemplar
O Tribunal de Contas da União está prestes a dar um passo importante rumo à punição dos maus gestores públicos. Um processo que será julgado no princípio deste ano pode condenar quatro administradores da Secretaria de Saúde de Campo Grande, em Mato Grosso do Sul, por omissão e ineficiência. Segundo o relatório do TCU, a falta de ação permitiu o surgimento de uma epidemia de dengue na cidade em 2007. A doença atingiu 46.000 pessoas e provocou duas mortes. O caso abre precedente para a instauração de processos não apenas quando há desvio ou malversação de dinheiro público, mas também quando esse dinheiro não é gasto no que deveria. Embora desde a Constituição de 1988 o TCU tenha autoridade para punir o mau gestor, o tribunal reluta em entrar nesse mérito, pelo receio de interferir na autonomia do Executivo. Mas no caso da dengue as consequências são claras, e os responsáveis têm ficado impunes.
O fim da festa
A euforia deu lugar à ressaca. A Bolsa de Valores de São Paulo, que em maio atingira o seu recorde histórico de valorização ao superar os 73.000 pontos, encerrou 2008 com uma queda de 42%, o seu segundo maior tombo. Foi a primeira retração da Bovespa desde 2002. No acumulado do ano, 871 bilhões de reais evaporaram do valor das ações da bolsa. Os papéis das duas maiores empresas do país, a Petrobras e a Vale, encerraram 2008 com um desempenho sofrível, depois de ter alcançando preços recordes. O patrimônio de quem tinha investido nessas ações, comprando diretamente ou por meio de fundos, encolheu pela metade.
Época
Viver bem com pouco
No início do século XIX, quando a economia dos Estados Unidos ainda engatinhava em direção ao que viria a ser a maior nação capitalista do planeta, o escritor americano Henry David Thoreau (1817-1862) já questionava o consumismo desenfreado que tomara conta de seus conterrâneos. Desiludido com os rumos da “terra das oportunidades”, Thoreau trocou a vida na cidade por uma experiência de dois anos na Floresta de Walden, em Massachusetts. Em plena expansão da economia capitalista, ele buscava a simplicidade de viver em harmonia com a natureza. Nascia ali uma das primeiras vozes modernas a pregar a frugalidade. “Um homem é rico na proporção do número de coisas das quais pode prescindir”, escreveu Thoreau no livro Walden, a vida nos bosques, obra em que ele relata seu período como eremita. Quase 150 anos depois, o despojamento perseguido por Thoreau parece enfim estar na moda – inclusive no Brasil. Ele é motivado, em parte, pela crise financeira mundial. A atual escassez de crédito pode encerrar o ciclo de esbanjamento dos últimos anos e dar início a uma nova era de austeridade.
De malas prontas para Lisboa
Depois de emprestar arapongas para a PF investigar Daniel Dantas, Paulo Lacerda perde a direção da Abin, mas ganha um exílio de luxo.
O Estado contra a crise
Para tentar conter a desaceleração em 2009, o governo apressa a aprovação do Orçamento e põe a máquina estatal para gastar. Qual é o custo disso?
O morro tem jeito
A experiência no Dona Marta mostra que, para erradicar a violência no Rio de Janeiro, o Estado precisa retomar – e manter – o controle das favelas.
Obs.: o conteúdo da primeira edição de 2009 das revistas semanais IstoÉ e Carta Capital ainda não está disponível na internet.
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