Veja
Espionagem oficial
O senador Marconi Perillo, do PSDB de Goiás, foi alertado sobre a trama há um mês. Sua vida estava sendo devassada por um grupo de detetives particulares. Ex-governador do estado, o senador tomou duas providências. Primeiro, ele pediu à polícia de Goiás que investigasse.
Depois comunicou o caso ao corregedor do Senado, Romeu Tuma. Discreto, Perillo atribuiu a história a razões provincianas. Estava enganado. Os policiais goianos descobriram um autor bem mais notório e razões bem diferentes para o triste episódio. Dois escritórios de detetives – um em Brasília e outro em Goiânia – haviam sido contratados para bisbilhotar a vida do senador.
Estavam orientados a identificar desde supostos negócios fraudulentos realizados entre o parlamentar e empresários até a existência de contas bancárias dele no exterior. Seguindo o rastro dos arapongas, os investigadores goianos descobriram algo ainda mais escandaloso: a espionagem foi contratada pelo próprio Senado Federal. Segundo relato dos agentes, a Polícia do Senado acionou um conhecido escritório de espionagem política de Brasília – a Central Única Federal dos Detetives do Brasil – para levantar as informações financeiras de Marconi Perillo. Os telefones do senador foram grampeados e violaram seu sigilo bancário e fiscal. A invasão de privacidade está sendo investigada, em sigilo, pela Polícia Federal.
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"É o fim do mundo alguém usar a estrutura do Senado para investigar ilegalmente os senadores", disse o senador Perillo. É o segundo caso envolvendo o senador tucano com espionagem nos últimos dois meses. No primeiro, também revelado por VEJA há oito semanas, o então assessor da presidência do Senado, Francisco Escórcio, foi pilhado planejando instalar câmeras de vídeo no hangar do Aeroporto de Goiânia.
A mamata continua
Senado decidiu manter os privilégios da República Sindical. Em regime de urgência, os parlamentares aprovaram a continuidade do imposto obrigatório recolhido em favor de sindicatos, federações e confederações. Com isso, os trabalhadores brasileiros permanecerão arcando com a boa vida dos chefões sindicalistas, por meio do desconto, todo ano, de um dia de seu salário.
Os parlamentares também acataram o projeto do governo federal que estende o benefício às centrais sindicais. Elas ganharam reconhecimento formal e passarão a ter direito a 10% de tudo o que for arrecadado. Foi a vitória de um lobby vergonhoso. Nas últimas semanas, os manda-chuvas de organizações como CUT e Força Sindical fizeram marcação cerrada sobre os senadores.
Tudo porque, antes de chegar ao Senado, o projeto havia passado pela Câmara e sofrido duas emendas importantes. A primeira previa o fim da obrigatoriedade do imposto. Caberia ao trabalhador decidir se queria ou não contribuir para o sindicato. A segunda determinava a fiscalização desses recursos – 1 bilhão de reais por ano – pelo Tribunal de Contas da União. Os marajás do sindicalismo queriam o veto às duas alterações. No fim, foi mantida a emenda de fiscalização pelo TCU. O projeto ainda voltará à Câmara para uma última apreciação, mas são mínimas as chances de mudança.
Época
A Elite da Influência
A lista dos brasileiros que mais fazem acontecer
A posição destacada do presidente Lula na política brasileira deriva das duas formas como ele é visto e avaliado. De um lado, está o mito político, representado pelo homem que veio de baixo e chegou à Presidência da República. De outro, o governante, que não só tem enorme popularidade, como incorporou diversas forças políticas e sociais em torno de si, criando um fenômeno chamado lulismo.
O lado mitológico é respeitado até pelos adversários. Aqui não há como evitar a paráfrase preferida do momento: “Nunca antes na história política deste país” alguém enfrentou condições tão adversas para conquistar o poder. A biografia de Lula tem elementos para todos os gostos. Para a classe média mais escolarizada, ele é visto como um dos mais importantes líderes da redemocratização brasileira. A população mais pobre o reconhece como um entre os seus, pelas agruras por que passou e pela forma como se comunica. No dia em que venceu a primeira eleição, em 2002, começava o teste de fogo para o mito.
Como o próprio presidente já admitiu, quando era oposição, ele dizia muitas bravatas. E a chegada ao poder obrigou-o a um choque de realismo, algo condizente com sua trajetória de pragmatismo tanto no sindicalismo como no Partido dos Trabalhadores.
O torneio de vaidades só diminui Lula e FHC
Certos assuntos mexem com os nervos e com a alma de uma nação. O destino do Corinthians no Campeonato Brasileiro, por exemplo. Foi motivo de muita notícia, torcida e expectativa ao longo da semana passada, antes de ser resolvido por 11 jogadores e uma bola de futebol na partida marcada para domingo contra o Grêmio, em Porto Alegre. Outros temas despertam paixões em círculos restritos, mas não mobilizam o país – ou porque são irrelevantes, ou porque vêm à tona fora de hora, de maneira artificial.
É o caso da polêmica, também ocorrida na semana passada, entre o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre as qualidades intelectuais e administrativas de cada um.
O pontapé inicial, já que começamos falando em futebol, foi dado por Fernando Henrique numa declaração tão desastrada para seu partido quanto oportuna para Lula. Num rompante de oratória partidária (que nunca foi seu forte) na convenção nacional do PSDB, o ex-presidente criticou Lula por não ter buscado elevar sua educação formal. É uma crítica surrada e esvaziada pelo sucesso eleitoral do petista. Serve, no máximo, como grito de guerra para uma parcela da sociedade que divide o mundo entre pessoas com diploma e sem diploma. Outros dividem o mundo entre quem tem votos e quem não tem. As duas visões são limitadas.
Carta Capital
Do discurso para a ação
“Lá não tem favela como aqui, os barracos são feitos de palha de babaçu”, explica Bismarque de Sousa Miranda, maranhense que vive no Tocantins. Ele coordena o Movimento Nacional de Luta pela Moradia e está em Brasília para a 3ª Conferência Nacional das Cidades. Na bagagem, a constatação de que nem a mais jovem capital brasileira, Palmas (de 1989), escapa de problemas comuns às grandes metrópoles. “O trabalhador mora em cortiços na periferia enquanto a elite mora no centro. O próprio estado criou um bairro para moradia popular, mas fica distante 30 quilômetros”, diz e crava: “A cidade foi planejada para excluir”.
Miranda e outros quase 3 mil participantes da conferência, que aconteceu entre 25 e 29 de novembro, acreditam ser possível transformar a realidade urbana com a participação da sociedade.
Na edição anterior da conferência, em 2005, o presidente Lula não compareceu. Desta vez, foi recebido com aplausos na cerimônia de abertura e fez um discurso afinado com as expectativas do público, formado em boa parte por representantes de movimentos sociais.
Istoé
"O PSDB tem que se modernizar"
Quando o primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso começou, o senador Sérgio Guerra nem do PSDB era. Como deputado do PSB, fazia oposição a ele. Há quem aponte esse fator como um exemplo da renovação que a sua chegada ao comando do partido dos tucanos representa.
No PSDB, esse político pernambucano de 60 anos já esteve próximo do governador de São Paulo, José Serra, e foi o coordenador da campanha de Geraldo Alckmin à Presidência da República. Transita, assim, entre os diferentes grupos que se digladiam no partido. Uma característica que talvez facilite um pouco as difíceis tarefas que Sérgio Guerra terá como presidente do PSDB.
Ele precisa manter coesos os grupos que se dividem hoje entre as pré-candidaturas de Serra e do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, para a sucessão de Lula em 2010, e as viúvas ligadas a FHC e a Alckmin. Conciliar as pressões que todos eles fazem quanto ao tom oposicionista que o partido adotará. E dar consistência a uma legenda que, distante das bases e sem capilaridade, encontra dificuldades para enfrentar a máquina do PT e o presidente Lula.
Com a saúde renovada depois de enfrentar no início do ano uma delicada cirurgia que lhe extraiu boa parte do intestino por causa do agravamento de uma diverticulite, Sérgio Guerra acredita que terá condições de vencer tais desafios. É o que ele conta nesta entrevista à ISTOÉ.
ISTOÉ – Quem é o seu padrinho: José Serra, Aécio Neves, FHC ou Alckmin?
Sérgio Guerra – Nenhum deles. Ou todos eles. A indicação inicial foi feita pelo senador Tasso Jereissati, que era o presidente do partido. E hoje é encampada por todos esses citados.
ISTOÉ – É inegável que o PSDB vive uma disputa entre os projetos desses personagens. Como é que o sr. pretende administrar isso?
Guerra – Há mais discussão no PSDB do que divisão. A divisão mais notória é essa entre os pretensos candidatos à Presidência. Mas há uma convicção sólida de que o partido não se dividirá. Eu acho que os dois têm a perfeita compreensão de que é necessário que o PSDB cresça, se consolide, se modernize, para que o PSDB no plural e eventuais candidatos em particular tenham chances de ganhar a próxima eleição presidencial.
(*Nota atualizada às 14h21)
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