ISTO É
Os caras-lavadas
Na véspera da renúncia do reitor Timothy Mulholland, os estudantes que na semana anterior haviam invadido a reitoria da Universidade de Brasília (UnB) promoveram uma ampla lavagem do prédio – e transformaram a rampa principal em tobogã. Para um caso que ganhou proporções nacionais a partir da denúncia de que Mulholland equipara seu apartamento funcional com três lixeiras automáticas (R$ 818, R$ 930 e R$ 990), a limpeza ética da UnB não poderia ter cena mais simbólica. Afinal, os rostos que simbolizam o novo movimento estudantil rejeitam matizes partidários, exigem transparência nos gastos públicos e, ao mesmo tempo que estão declaradamente preocupados com seus desempenhos acadêmicos, também querem se divertir. São os caras-lavadas, expressão de uma geração mais individualista e pragmática. Em São Paulo, os caras-lavadas emparedaram o reitor Ulysses Fagundes Neto, da Unifesp, que fez das suas despesas com cartões corporativos um deboche à inteligência dos estudantes. Depois de gastar cerca de R$ 5 mil em compras pessoais em lojas da Nike e da Adidas, em 2006, em Berlim, e R$ 2 mil na Samsonite, da China, em 2007, ele se explicou na quarta-feira 16 com a seguinte frase: "Não recebi as normas por escrito, com instruções claras."
Os dez mais da câmara
Oficialmente, a Receita Federal trata como informação sigilosa os dados sobre a variação patrimonial dos cidadãos brasileiros que declaram Imposto de Renda. Auditores da Receita, no entanto, asseguram que a variação patrimonial média dos brasileiros que prestam contas ao Fisco varia entre 4,5% e 6% a cada quatro anos. Tratase de um índice muito inferior àquele registrado pelas declarações de renda dos deputados federais. Em média, o patrimônio desses parlamentares cresce 40% a cada mandato, segundo levantamento feito com base nos documentos apresentados pelos próprios parlamentares à Justiça Eleitoral. Entre os dez deputados campeões em crescimento patrimonial, os números são enormes. Esses, em períodos que variam de quatro a dez anos, conseguiram aumentar seus bens entre 9,1 e 106,6 vezes. Todos eles, porém, asseguram que multiplicaram a riqueza em razão da competência profissional ou por herança. Nenhum afirma que a política seja um bom negócio.
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Governador do Ceará aluga jato com dinheiro público e leva família à Europa
A longa temporada de caça aos possíveis sucessores do presidente Lula na base governista – que já abateu José Dirceu, Antônio Palocci e feriu com gravidade Dilma Rousseff – agora atinge de raspão o deputado Ciro Gomes (PSB-CE). O tiro não pegou Ciro, mas seu irmão, o governador do Ceará, Cid Gomes. No Carnaval, Cid Gomes fretou um jatinho e viajou pela Europa, acompanhado de sua mulher, Maria Célia, de sua sogra, Pauline Carol Moura, e mais alguns assessores, também acompanhados das respectivas esposas. O vôo custou R$ 388,5 mil.
VEJA
Frios e dissimulados
O "monstro" que matou a menina Isabella e que seu pai, Alexandre Nardoni, em carta divulgada à imprensa, prometeu não sossegar até encontrar estava, afinal, diante do espelho. E a mulher, que também em carta afirmou ser a criança "tudo" na sua vida, ajudou a matá-la com as próprias mãos. Tal é a conclusão a que chegaram os responsáveis pelo inquérito policial que apura o assassinato de Isabella Nardoni, de 5 anos, ocorrido no dia 29 de março. A polícia está convencida de que Alexandre Nardoni e Anna Carolina Jatobá combinaram jogar Isabella pela janela na tentativa de encobrir o que supunham já ser um assassinato. Para os investigadores, Anna Carolina Jatobá asfixiou Isabella ainda no carro, no trajeto entre a casa dos pais dela e o apartamento da família. A menina ficou inconsciente e o casal achou que ela estava morta. Na sexta-feira, vinte dias depois da morte de Isabella, Nardoni e Anna Carolina foram indiciados por homicídio doloso e co-autoria de homicídio.
A fraude documentada
As Organizações Não-Governamentais (ONGs) ficaram conhecidas nos últimos tempos como um instrumento eficaz de roubar dinheiro público. Sem observar critérios elementares de boa gestão, o governo federal despejou, nos últimos cinco anos, 12 bilhões de reais nos cofres dessas entidades. Em vez de grandes resultados sociais, as ONGs vêm encabeçando uma infinidade de escândalos. Descobriu-se que muitas delas são entidades de mentirinha, cujos dirigentes, quase sempre subordinados a partidos políticos, simulavam serviços, montavam prestações de contas e dividiam os lucros entre si. Uma CPI foi instalada no Congresso para tentar desvendar os caminhos do dinheiro desviado, mas pouco conseguiu até agora. VEJA localizou uma testemunha que ajuda a entender como muitas ONGs se transformaram em verdadeiras minas de ouro. Do que ela confessa e pode provar, emergem as engrenagens criminosas de uma entidade de Brasília que se associou a comunistas e socialistas que comandam os ministérios do Esporte e da Ciência e Tecnologia e conseguiu desviar, sozinha, 3,4 milhões de reais. Fácil, fácil.
Política de resultados
"Estou de bem com a vida", diz o governador Aécio Neves, de Minas Gerais, enquanto toma um gole de cappuccino numa cafeteria em frente à Union Square, em Nova York. Acreditar em confissão de político pode ser o mesmo que fazer lista de presentes ao Papai Noel, mas não faltam razões para o bem-estar do governador. Na quarta-feira passada, Aécio saboreava em Nova York o saldo positivo de suas movimentações políticas mais recentes. Em Belo Horizonte, patrocinou a aliança entre PSDB e PT para a prefeitura da capital mineira, que está prestes a ser sacramentada. É um trunfo que poderá ser exibido ao país como exemplo de habilidade política e, eleitoralmente, é mais rentável para o governador do que para os petistas. Em Brasília, ele tem sido paparicado pelo PMDB, como ocorreu recentemente, num cortejo que uns interpretam como aceno para que mude de partido, mas outros, talvez mais espertos, entendem que é salamaleque destinado a vitaminar a ambição presidencial de Aécio dentro do PSDB mesmo.
CARTA CAPITAL
De que morreu Jango?
De que morreu João Goulart? Dizem os livros de história que o presidente, deposto pelo golpe militar de 1964, teria sido vítima de ataque cardíaco em sua fazenda, La Villa, em Mercedes, na Argentina. Mas as suspeitas de que Jango possa ter sido assassinado persistem 32 anos depois de sua morte. O suposto envenenamento do ex-presidente por um agente da repressão voltou à baila na quinta-feira 17, em audiência pública na Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados. A Comissão está investigando a chamada Operação Condor, cooperação entre os governos ditatoriais da Argentina, do Brasil, do Chile, do Paraguai e do Uruguai, em meados da década de 70, para perseguir e eliminar opositores. Um dos pontos que o grupo parlamentar pretende esclarecer é justamente a morte de Jango. Foi assinado um convênio com o Congresso argentino, o que, segundo o deputado Pompeo de Mattos (PDT-RS), que preside a Comissão, é um primeiro passo para levar o tema ao Parlamento do Mercosul.
Fantasmas convenientes
Nos pés do Monte Roraima, extremo norte do Brasil, uma praça-de-guerra foi montada nas últimas semanas por uma questão que assola grande parte dos sertões do País: o conflito fundiário em terras indígenas. De um lado está a Polícia Federal, pronta a cumprir a lei que determina a retirada de fazendeiros da reserva Raposa Serra do Sol. De outro, um grupo de produtores rurais, liderados por Paulo César Quartiero, a prometer resistência até a morte. Quartiero chegou a contratar pistoleiros em Manaus e na Venezuela para defender sua propriedade. No meio, 18 mil indígenas declarados donos de uma área de 1,74 milhão de hectares e que esperam obter, de fato, o que de direito conseguiram em 2005, quando a área foi homologada pelo governo federal. Como pano de fundo, uma discussão que faz reaparecer velhos fantasmas dos ultranacionalistas, entre eles o risco de internacionalização da Amazônia.
ÉPOCA
A nova aposta de Marta Suplicy
Beneficiada pela disputa entre Alckmin e Kassab, ela lidera a corrida pela Prefeitura de São Paulo e seu nome já é cogitado para a sucessão de Lula.
Os novos aliados do MST
O Abril Vermelho dos sem-terra mostra que o movimento trata agora de ganhar apoio para suas ações entre garimpeiros e prefeitos
Cid Gomes Air Lines
um luxo O governador Cid Gomes e o jatinho usado na viagem (acima). O dinheiro gasto com avião particular seria suficiente para comprar passagens de primeira classe.
Show de amadorismo
Um anúncio precipitado sobre reservas gigantescas de petróleo mostra como as agências reguladoras deveriam ser lugar para profissionais.
Página atualizada às 15h25
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