VEJA
O Brasil e a crise: Dez razões para otimismo e uma para preocupação
Avaliada pelos últimos indicadores de desempenho econômico e em vista de seu brilhante passado recente, a economia brasileira inspira preocupação. Milhares de profissionais valiosos perderam seu emprego nas indústrias mais dependentes do ambiente externo, como a Embraer, em que 4 200 demissões foram anunciadas – 20% de toda a força de trabalho da empresa. A inadimplência das famílias atingiu em janeiro o maior nível desde maio de 2002. A desaceleração do PIB é severa. Parece, portanto, não haver espaço para otimismo. Mas, como o otimismo tem de ser encontrado justamente nesses momentos mais duros, VEJA foi buscar razões que, realisticamente, nos permitissem afirmar que o Brasil vai escapar – mesmo que com escoriações – da surra que a economia mundial está levando nos cinco continentes. Logo no começo da encrenca, VEJA afirmou em uma Carta ao Leitor que o Brasil tinha chance de ser um dos últimos países a entrar na crise e poderia estar entre os primeiros a sair dela. É o que esta reportagem reafirma.
Corrupção: Os bastidores da luta do PT com o PMDB pelos bilhões de um fundo de pensão
O silêncio foi a única resposta do PMDB às afirmações do senador Jarbas Vasconcelos de que o partido só pensa em assumir cargos para praticar corrupção. Na semana passada, houve mais uma. Numa crua demonstração de que as palavras do senador não embutiam um milímetro de exagero, o PMDB partiu para a briga com o PT pela nomeação de dois cargos de direção da Fundação Real Grandeza, o fundo de pensão dos funcionários de Furnas e da Eletronuclear. Em público, sem nenhum constrangimento e falando alto, o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, do PMDB, defendeu a substituição imediata do presidente e do diretor financeiro de investimentos do fundo, ambos apadrinhados do PT. A contenda é apresentada como uma legítima busca por maior eficiência administrativa na gestão da aposentadoria dos servidores. Não é. O que o PMDB deseja é o controle absoluto do conglomerado que administra um patrimônio superior a 7 bilhões de reais – um tesouro cobiçado tanto por quem tem o hábito de ganhar dinheiro fácil e enriquecer de forma ilícita como por aqueles que planejam forrar o caixa de campanhas políticas. Para usar as palavras do senador Jarbas Vasconcelos, são cargos perfeitos para quem gosta de praticar corrupção em geral – uma vocação da maioria dos peemedebistas.
A disputa entre o PMDB e o PT pelos dois cargos mais importantes do fundo Real Grandeza mostra como o fisiologismo se entranhou de maneira escancarada na política brasileira. Antes, litígios como esse eram discutidos a portas fechadas, às escondidas. Sem nenhuma cerimônia, o ministro de Minas e Energia, que certamente tem deveres muito mais relevantes a cumprir, se envolveu pessoalmente no caso: "Isso é uma bandidagem completa. Esse pessoal está revoltado porque não quer perder a boca", disse Lobão, referindo-se aos atuais dirigentes do fundo, indicados pelo PT. A resposta foi no mesmo tom: "Se tem quadrilha, não é no Real Grandeza, e sim no PMDB, como disse o senador Jarbas Vasconcelos", devolveu Geovah Machado, um dos conselheiros do fundo. Na primeira vez que dois partidos da base do governo entraram em choque publicamente pela disputa de poder (o PT de José Dirceu e o PTB de Roberto Jefferson), em 2005, o país teve a oportunidade de conhecer o mensalão. Para evitar uma nova e desagradável surpresa, o presidente Lula entrou no circuito e promoveu um cessar-fogo entre a turma da "bandidagem" e a da "quadrilha".
Impunidade: O MST agora mata e depois quer proteção do estado
Começou com um bate-boca entre um grupo de sem-terra e cinco homens contratados para evitar que a fazenda Jabuticaba, no agreste pernambucano, reintegrada por ordem judicial, fosse novamente invadida por membros do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra, o MST. Dos seguranças, apenas João Arnaldo da Silva, de 40 anos, era profissional. Rafael Erasmo da Silva, de 20, e Wagner Luís da Silva, de 25, trabalhavam como mototaxistas em São Joaquim do Monte, a 137 quilômetros do Recife. José Wedson da Silva, de 20, e Donizete Souza, de 24, eram agricultores. Para fazerem bico como guardas, eles recebiam de 20 a 30 reais por dia trabalhado. Naquele sábado, era João quem estava à frente da discussão com os sem-terra, numa fazenda vizinha à Jabuticaba. No meio da briga, um dos invasores acertou-lhe um tiro na perna. João caiu e, imediatamente, recebeu uma bala na cabeça. Rafael, ao seu lado, foi o segundo a ser morto – também com um tiro na cabeça, que trespassou o capacete de motociclista que ele usava. Ao ver os colegas tombarem mortos, Wagner, Wedson e Donizete correram. Donizete conseguiu escapar. Wagner e Wedson, alcançados pelos sem-terra 1 quilômetro adiante, foram igualmente mortos como cães. Wagner levou um tiro na perna e dois na cabeça, um deles na nuca. Wedson recebeu um tiro na perna e dois no rosto – morreu de braços abertos, como quem pede clemência.
Com base nas marcas dos tiros e no depoimento de duas testemunhas oculares, o delegado Luciano Francisco Soares diz que os assassinatos não foram cometidos em legítima defesa, como afirma o MST. "As vítimas foram executadas", resume ele. A polícia prendeu em flagrante e indiciou por homicídio qualificado Aluciano Ferreira dos Santos, líder do MST na região, e Paulo Alves, participante do grupo. Eles são acusados de perseguir e matar Wagner e Wedson. Os dois sem-terra apontados como assassinos de João e Rafael estão foragidos. Depois do crime, o MST teve o desplante de pedir "proteção" policial para seus integrantes. Como se isso não bastasse, o coordenador nacional do movimento, Jaime Amorim, numa declaração que deixa evidente a régua moral pela qual seu grupo se pauta, afirmou: "O que matamos não foram pessoas comuns. Eles foram contratados para matar, eram pistoleiros violentos". É mais uma declaração delinquente de um dos chefões do bando que, a pretexto de lutar pela reforma agrária, aterroriza o campo brasileiro desde 1990. Naquele ano, durante uma manifestação no centro de Porto Alegre, uma turba de sem-terra cercou um carro de polícia e, a golpes de foice, degolou o cabo Valdeci de Abreu Lopes, de 27 anos. Desde então, ao menos outros quarenta integrantes do MST foram acusados de homicídio (dois deles já foram condenados em primeira instância).
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