Cada vez mais nos convencemos de que o maior problema da baixa qualidade da representação política no Brasil não é uma questão de legalidade.
O que deve mover um ocupante de cargo público não é tão simplesmente o frio cumprimento das leis. Acima de tudo, ele deve levar em conta a questão da moralidade pública, coisa não é muito comum aqui por estas bandas.
Não é por outro motivo que nas duas últimas eleições presidencias temos visto uma “terceira via”, que acabou simbolizando os anseios da sociedade por uma representação política mais ética, moralmente responsável e preocupada com o bem coletivo e não com interesses pessoais ou partidários de ocasião, nem sempre transparentes.
Por isso, alguns grupos tentam se organizar em forma de partidos políticos para fazer frente a esse déficit. Há algum tempo acompanhamos a organização de grupos políticos como a Rede Sustentabilidade e do Partido Novo. Nesses dois casos, inclusive, um dos pontos que mais chama a atenção é a proposta de redução das reeleições para cargos públicos, um dos principais requisitos para o fim do chamado “político profissional”.
E, esta semana, tivemos notícia de mais um grupo que tenta interferir na representação política “por dentro” do sistema. O Instituto Res Novae, liderado pelo economista paranaense Mario Braga, está buscando apoio para o Partido da Representação da Vontade Popular, o PRVP. O objetivo do grupo parece ser um só, e muito ambicioso: o fim do político profissional com um exemplo que corta na própria carne. Pelo estatuto proposto, um candidato eleito pelo PRVP fica automaticamente inelegível por 10 anos, contados a partir do fim do seu mandato. Ou seja, ele cumpre normalmente o mandato para o qual foi eleito, e só. Nova candidatura só uma década depois. Quem se habilita?
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Mario Braga, em oportuno artigo, afirma que as passeatas de protesto são importantes, mas de pouca eficácia para transformar nossa cultura política. Para ele, é preciso atuar, mais do que reclamar: “Precisamos mostrar claramente que estamos fartos da classe política e buscamos alternativas”.
Evidentemente, esta é uma proposta bem radical, mas dá um recado inequívoco aos nossos políticos: precisamos sempre de renovação de cargos na vida política. A sociedade acordou e exige que a questão da moralidade pública seja colocada de uma vez acima das desculpas cínicas e esfarrapadas que a legalidade proporciona. Afinal, nem tudo o que é legal, é moralmente aceitável, principalmente quando estamos falando do poder público.
Aliás, já se disse aqui, nos depoimentos para o programa Agentes de Cidadania da Voz do Cidadão, que política não é profissão. É algo que todos devemos participar.
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