O deputado Ricardo Berzoini (SP), presidente nacional do PT, defendeu hoje (23), em entrevista ao site do PT, uma maior participação do partido no primeiro escalão do governo.
“Existem forças importantes no PT que não estão contempladas no primeiro escalão do governo. Como nós buscamos um equilíbrio no relacionamento interno, o ideal é que nós possamos fazer isso em conjunto com o governo, evidentemente dentro do que se poderia chamar de cota do PT, se é que há cota do PT. Evidentemente os setores que estão se sentindo menos representados estão irritados, estão reivindicando, e isso é natural”, afirmou Berzoini.
O petista criticou a possibilidade de duas CPIs do Apagão Aéreo funcionarem simultaneamente no Congresso, uma na Câmara e outra no Senado. Nesta quarta-feira (25), o Supremo Tribunal Federal decidirá se a CPI será instalada ou não Câmara.
“Independentemente da investigação, que pode sempre ocorrer, eu pessoalmente acho que o melhor instrumento para esse caso específico não é a CPI, mas caso ela venha a ocorrer, tem que ser tratada com o máximo de responsabilidade”, disse. (Rodolfo Torres)
Leia também
Confira a íntegra da entrevista de Berzoini
Qual sua avaliação sobre a reunião do Diretório Nacional e a resolução aprovada?
Foi uma boa reunião, um debate que começou com apresentação do ministro Fernando Haddad sobre o Programa de Desenvolvimento da Educação que, do ponto de vista político, para nós, é a outra perna da estratégia do segundo governo Lula. Uma é o PAC e a outra é dar um salto de qualidade na educação em geral, conforme compromisso de campanha, com foco na educação fundamental. Fizemos um debate interessante. O ministro foi bastante eloqüente e todas as intervenções que se seguiram foram muito positivas. Em relação à resolução, acho que foca bem a conjuntura, analisando a situação geral do país, a relação do PT com a coalizão, a relação do PT com o governo como um todo, e os desafios do próprio período. Temos muitos desafios importantes, entre os quais, assegurar que a aprovação do PAC e de outras medidas governamentais gerem uma confiança e credibilidade na nova arquitetura política que o presidente Lula desenhou, que é a arquitetura da coalizão, com solidariedade entre os partidos e com um nível de integração entre ação administrativa e ação parlamentar.
Ao noticiar a reunião do Diretório Nacional, os jornais focam fundamentalmente a inclusão, na resolução, da posição do PT contra à reeleição. Isso de fato estava na pauta prioritária da reunião?
Não, esse não foi o ponto principal. Eu inclusive tinha dado uma entrevista ao Portal do PT, na semana passada, que havia repercutido a minha posição pessoal contra a reeleição. Acredito que a imensa maioria dos petistas é contra a reeleição, mas há muita gente a favor. E ambas são posições respeitáveis. Esse não é um tema que nos separe ideologicamente. É uma visão só sobre como organizar a estrutura diretiva do Estado. Portanto, não tem nada de profundo no debate sobre a reeleição. Algumas pessoas, como eu, acreditam que a reeleição não é um bom mecanismo. O ideal seria um mandato maior com eleições unificadas. Outras pessoas acreditam que a possibilidade de reeleição é democrática — e é mesmo —, e permite um maior horizonte administrativo respaldado pelo povo. Ou seja, o povo só reelege quem quer. São duas opiniões respeitáveis e nós não temos que nos dividir em torno disso.
Existe, no PT, algum temor em pautar essa discussão e facilitar para a oposição, que já tem potenciais candidatos para 2010?
Não. Esse é um tema que, na minha opinião, não pode ser pautado casuisticamente. Se aprovar o fim da reeleição beneficia mais A ou B, isso não é razão para nós nos pautarmos por isso. Obviamente há quem acredite que há uma tática do PSDB em torno disso. Eu, pessoalmente, não levo isso muito a sério, até porque o PSDB tem suas divisões internas a respeito do tema, a respeito de interesses relativos à reeleição. Para nós, não interessa nos pautar por problemas do PSDB.
O sr. considera possível que o governo atenda a reivindicação de alguns setores do PT de que a composição do governo leve em conta a representação do conjunto do partido?
Essa é uma questão real. Existem forças importantes no PT que não estão contempladas no primeiro escalão do governo. Como nós buscamos um equilíbrio no relacionamento interno, o ideal é que nós possamos fazer isso em conjunto com o governo, evidentemente dentro do que se poderia chamar de cota do PT, se é que há cota do PT. Evidentemente os setores que estão se sentindo menos representados estão irritados, estão reivindicando, e isso é natural. Eventualmente o governo ainda não encontrou uma solução para atender essa reivindicação, mas acredito que podemos evoluir para resolvê-la. Eu espero que o governo tenha sensibilidade em relação a isso.
O PMDB vem reclamando da demora no processo de composição do segundo escalão e, segundo os jornais, já estaria ameaçando dificultar a vida do governo no Congresso. O PT teme esse processo?
Eu não acredito que nenhum partido trabalhe com essa lógica de dificultar caso não esteja satisfeito com o ritmo ou com o resultado da discussão. Nós não podemos trabalhar com essa lógica. Agora, obviamente, a demora gera ansiedades. Não só no PMDB, mas em todos os partidos, inclusive no PT. Então o ideal é que possamos concluir no espaço mais breve possível, até porque tem uma questão política e outra administrativa. A ausência de definição leva muitos setores do governo a terem um ritmo inferior ao desejado.
A possibilidade de se criarem CPIs do Setor Aéreo tanto no Senado quanto na Câmara é um sinal claro de que a intenção da oposição é desgastar o governo. Faz algum sentido termos duas CPIs sobre o mesmo tema correndo paralelamente?
Não. Na verdade temos que trabalhar com a lógica da governabilidade. Independentemente da investigação, que pode sempre ocorrer, eu pessoalmente acho que o melhor instrumento para esse caso específico não é a CPI, mas caso ela venha a ocorrer, tem que ser tratada com o máximo de responsabilidade. Temos uma perspectiva muito boa, neste ano, para diversas decisões na área econômica, que vão levar o Brasil a um novo patamar —talvez até uma queda mais significativa da taxa de juros a partir do investment grade —, e eu acho que nós não temos razão para ajudar quem quer desestabilizar. Agora, obviamente é um direito da oposição lutar por instrumentos de fiscalização em relação ao Poder Executivo. O que nós acreditamos é que, a própria oposição terá mais vantagens em sua relação com a opinião pública se adotar uma política mais responsável. A irresponsabilidade não agrada o eleitor.
O sr. acredita que a divisão de opiniões na última decisão do Copom sobre a taxa de juros sinaliza que, daqui em diante, a queda da Selic será mais acentuada?
Não vejo necessariamente os sinais materializados. Houve uma divisão no Copom, o que é bom, porque mostra que tem setor que já entendeu que o ritmo pode ser maior. Mas isso não significa que, na próxima decisão, já haverá queda maior. Depende da conjuntura até lá, depende do convencimento. Eu acredito que estamos gastando dinheiro demais com pagamento de juros, numa situação em que o risco-país caiu fortemente, que a inflação não dá sinais de instabilidade e que o Brasil está com um horizonte econômico muito positivo. Então não há razão para não baixarmos mais rapidamente e chegarmos a um juro real na faixa de 7%, por exemplo, que seria o juro ideal para o Brasil.
O ministro Luiz Marinho, em entrevista à Folha, afirmou que pretende rever as regras da pensão por morte. O sr. concorda?
Já debatemos isso na época da reforma da Previdência, em 2003, em relação ao sistema como um todo e, mais especificamente, em relação ao sistema dos servidores públicos. De fato, uma das distorções que nós verificamos no sistema brasileiro são determinadas regras que permitem até comportamentos, digamos, mal intencionados por parte de um setor minoritário dos segurados. No entanto, acho que esse é um tema que deve ser debatido com toda a cautela do mundo, com calma. E o debate deve ser feito no fórum da Previdência. O PT vai acompanhar atentamente para não deixar que essa discussão fique somente no âmbito administrativo. O ministro Marinho é uma pessoa de alta responsabilidade, compromisso com os trabalhadores, portanto, não nos preocupa qualquer discussão, até porque ele vai conduzir o debate interno com muita democracia.
Leia outras notícias publicadas hoje (23)
Lula diz que não dará palpite sobre fim da reeleição
O presidente Lula garantiu hoje, durante o Café com o Presidente, seu programa semanal de rádio, que não vai dar palpite nas discussões sobre o fim da reeleição para cargos do executivo. "Eu sempre fui contra a reeleição. Acontece que tem o instituto da reeleição, e eu sou um presidente reeleito, portanto, eu não posso agora dar palpite na reforma política no que diz respeito à reeleição. Não me peçam opinião que eu não vou dar", disse.
Para o presidente, acabar ou não com o instituto da reeleição é um problema dos partidos políticos que terá que ser resolvido pelo Congresso Nacional. "E eu estarei torcendo para que o Brasil aprove o que for melhor para o povo brasileiro".
Dando indícios de que concorda com os críticos que avaliam que a possibilidade de concorrer a um novo mandato tornou sua primeira gestão mais conservadora do que o esperado, Lula admitiu que a reeleição pode limitar o trabalho do presidente em exercício. "Eu estou convencido de que quando o presidente da República não tem mais no seu horizonte a disputa presidencial, fica muito mais fácil, fica muito mais leve a gente governar o país. Por quê? Porque eu não tenho mais o que disputar em 2010. Eu tenho apenas que deixar o Brasil em 2010 infinitamente melhor do que o Brasil que eu recebi".
Segundo o presidente, não ter que pensar em uma nova disputa eleitoral lhe dá liberdade para "procurar todos os setores da sociedade para conversar", inclusive os partidos de oposição.
Em referência a encontros recentes com os senadores Antônio Carlos Magalhães (DEM-BA) e Tasso Jereissati (PSDB-CE), Lula disse que, "na hora de discutir questões administrativas, não há oposição nem situação". "E vou conversar muito mais daqui para a frente, mas a luta política não vai acabar nunca", completou.
O presidente também aproveitou o programa de rádio para, dentro da mesma linha de incentivo ao diálogo com a oposição, defender a aprovação das propostas do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) na Câmara e no Senado. "Todos são projetos de interesse de 190 milhões de brasileiros, não é nenhum projeto de interesse pessoal do presidente da República. Vai ter o debate político, discursos mais fervorosos, mas na hora de votar as pessoas vão ter que escolher entre melhorar o Brasil ou piorar o Brasil. Certamente, todo mundo quer melhorar o Brasil". (Carol Ferrare)
Tuma admite mudar de partido após encontro com Lula
Após um encontro com o presidente Lula no Palácio do Planalto, o senador Romeu Tuma (DEM-SP) afirmou nesta noite que pode mudar de partido. “Não sou líder, estou renegado ao segundo plano. O Gilberto Kassab [prefeito de São Paulo] não me convida nem para um café, está submisso ao Serra [José Serra, governador de São Paulo]”. “Eu não tenho mais espaço”, complementou o senador paulista.
Tuma afirmou que foi convidado pelo ex-presidente Fernando Henrique para ingressar no PSDB. O PTB também teria interesse no senador. Em relação à pauta do encontro com Lula, Tuma afirmou que o assunto foi “governabilidade e coalizão”.
O senador do Democratas negou a intenção de migrar para a base do governo. “Eu sempre venho aqui no Palácio do Planalto. Esse ano já vim umas cinco vezes. O problema é que essa foi a primeira vez que colocaram na agenda”, afirmou.
"O presidente tem simpatia por mim pelo tratamento que recebeu quando ficou preso no Dops", afirmou o senador Romeu Tuma, que ocupou o cargo de diretor-geral do Departamento de Ordem Política e Social (Dops) quando, em 1979, Lula foi preso por 31 dias por liderar greves de metalúrgicos no ABC paulista.
Na semana passada, o presidente Lula recebeu o presidente nacional do PSDB, Tasso Jereissati (CE). O encontro com integrantes da oposição é visto como uma tentativa do governo de facilitar a aprovação no Congresso das medidas que compõem o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). (Rodolfo Torres)
MG: Dilma destaca parceria com estados e municípios
A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, se reuniu hoje (23) com o governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), e com o prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel (PT). Ela destacou a necessidade de parcerias entre União, estados e municípios para o sucesso dos projetos que compõem do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
"Sem parceria entre estados, municípios e União é muito difícil certas obras de infra-estrutura serem encaminhadas devidamente", disse. De acordo com a ministra, que discutiu em Belo Horizonte projetos de saneamento básico e habitação, a relação "civilizada entre oposição e governo" favorece um ambiente mais favorável para investimentos.
"Começamos os processos de discussão para alavancar os projetos que sejam passíveis de execução imediata e que contemplem regiões metropolitanas mais carentes, tanto no que se refere à captação e tratamento de esgoto, quanto no que se refere à água", disse.
Dilma afirmou que uma das prioridades do governo federal será a urbanização de favelas, o que beneficiária grande parte da população de baixa renda. (Rodolfo Torres)
Deixe um comentário