O ex-presidente Lula disse nesta quinta-feira (22) que a Polícia Federal jogou no “lixo” toda “tese de humanitarismo” ao prender o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega nas dependências do Hospital Albert Einstein, onde sua esposa se preparava para uma cirurgia na mais nova etapa da Operação Lava Jato. Em entrevista à Rádio Povo/CBN, do Ceará, em Fortaleza, Lula disse que o seu ex-auxiliar deveria ter sido tratado como todo ser humano merece, pelo cargo que ocupou e por ter residência fixa. O petista contou que não sabia ainda dos motivos que levaram à decretação da prisão temporária do companheiro de partido, mas que vê no ato uma “perseguição” ao PT às vésperas das eleições municipais.
“O que me preocupa nessa operação de hoje – não sei qual é o fundamento que eles têm, porque estava gravando de manhã e não consegui ler a notícia – é que o ex-ministro foi preso dentro da sala de cirurgia que a mulher dele estava se preparando para fazer, porque está com um câncer, me parece que no abdome ou no estômago. Se isso for verdade, qualquer tese de humanitarismo foi jogada no lixo. O Guido foi ministro da Fazenda, é um homem que tem residência fixa, portanto, as pessoas poderiam tratá-lo como todo ser humano tem de ser tratado”, criticou.
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Em entrevista coletiva, o delegado Igor Romário de Paula, da Lava Jato, disse que os policiais não sabiam que a esposa de Mantega passava por uma cirurgia. Mas, segundo ele, o ex-ministro não estava no centro no cirúrgico no momento da prisão. “Ele não estava no centro cirúrgico [quando foi feita a abordagem]. Não houve entrada de hospital, nem no centro cirúrgico”, disse o delegado federal.
Lula citou uma expressão já utilizada por outras lideranças do PT nesta quinta para chamar a nova fase da Lava Jato: Operação Boca de Urna. “Parece até que se chama operação boca de urna. Está chegando perto das eleições, eles vêm para cima do PT”, declarou.
Na entrevista ao repórter Luiz Viana, o ex-presidente voltou a criticar as delações premiadas. Esse instrumento de colaboração baseia as denúncias que levaram o juiz Sérgio Moro a aceitar esta semana a denúncia por corrupção e lavagem de dinheiro contra ele e outras sete pessoas.
“Pessoalmente, não costumo acreditar nas delações. Uma pessoa que delata porque está presa, porque está ameaçado de ser preso, porque estão ameaçando prender a mulher ou o filho, é preciso fortalecer os setores de investigação deste país. Ninguém tem direito de roubar. Quem roubar tem de pagar mesmo. O que é preciso é que as pessoas não sejam julgadas pelas manchetes dos jornais antes de ser apurado se houve crime ou não. Porque essa pessoa pode ser inocentada depois de estar condenada pela imprensa”, afirmou.
O petista disse, ainda, que exige um pedido de desculpas das autoridades que o acusam caso seja inocentado na Justiça. “Estou à disposição da Justiça para ser investigado. A única coisa que gostaria é que, terminadas as investigações, se não encontrarem o que pensam que há de errado, que pedissem desculpas ao Brasil pela sacanagem que estão fazendo”, declarou.
Confira a entrevista de Lula à Rádio Povo/CBN:
Arquivo X
A nova etapa, batizada de Arquivo X, investiga fraudes em processo de licitação e corrupção de agentes públicos. O nome faz referência às empresas do grupo OSX, de Eike Batista.
Foram expedidos 33 mandados de busca e apreensão, oito de prisão temporária e oito de condução coercitiva em São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Bahia e no Distrito Federal. Antes de prenderem Mantega, os agentes foram até a casa do ex-ministro, no bairro de Pinheiros, para cumprir mandado de busca e apreensão. Lá foram informados que ele estava no hospital.
De acordo com as investigações, Mantega negociou com uma empresa contratada pela Petrobras o repasse de propina para o pagamento de dívida de campanha de partidos aliados do governo.
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