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Considerado o mais talentoso especialista brasileiro em marketing político, o premiado publicitário baiano Duda Mendonça leva no currículo como principal feito a eleição de Lula em 2002. Ontem, porém, o político que ele colocou lá – no Palácio do Planalto – foi a principal vítima do explosivo depoimento dado por Duda à CPI dos Correios. Duda até que tentou poupar Lula. Disse que nunca tratou das dívidas de campanha do PT com o presidente e ressaltou que acredita na honestidade do homem que ajudou a eleger. O publicitário chegou a declarar que, se ficar comprovado o envolvimento do petista em esquema de corrupção, nunca mais vai fazer campanhas presidenciais. “Eu não quero usar minha inteligência para fazer mal ao meu país”, afirmou. Mas, decidido a falar a verdade, de modo a preservar a imagem profissional construída ao longo de três décadas, o publicitário atingiu violentamente o presidente da República ao afirmar que recebeu cerca de R$ 11,5 milhões em dívidas remanescentes da campanha eleitoral de 2002 por meio de esquemas ilegais. Leia também A maior parte desse dinheiro, cerca de R$ 10,5 milhões, foi paga a uma empresa que Duda montou em um paraíso fiscal por orientação do empresário Marcos Valério, indicado pelo então tesoureiro do PT, Delúbio Soares. O restante foi pago em espécie, no Brasil, pelo próprio empresário. Em ambos os casos, o pagamento foi feito sem emissão de notas fiscais. Duda surpreendeu os parlamentares da CPI ao comparecer espontaneamente ao auditório no momento em que era aguardada a sua sócia, Zilmar Fernandes. Ela fez uma exposição inicial sobre o funcionamento da empresa. Em seguida, o presidente da CPI, senador Delcídio Amaral (PT-MS), passou a palavra ao publicitário. Ele repassou à comissão cópias de vários faxes enviados pela SMP&B que autorizavam o repasse de recursos no exterior. Uma das instituições responsáveis pela transferência foi o Banco Rural Europa. O publicitário também afirmou que o PT ainda lhe deve R$ 14 milhões relativos a trabalhos de 2004, quando suas empresas coordenaram as campanhas de marketing para prefeito dos candidatos petistas em cinco capitais: São Paulo (Marta Suplicy), Belo Horizonte (Fernando Pimentel), Curitiba (Ângelo Vanhoni), Recife (João Paulo) e Goiânia (Pedro Wilson). Apenas João Paulo e Pimentel saíram vencedores das urnas. Emocionado, o publicitário disse estar ciente dos riscos que corre com as revelações mas que prefere pagar pelas irregularidades cometidas a ficar com problemas de consciência. Em quatro ocasiões, Duda foi às lágrimas ao se lembrar da família. "Eu prefiro acabar logo com esse pesadelo de uma vez e assumir a minha parte de culpa com a polícia, com os senhores. E pagar o preço que for necessário. Mas ir para minha casa, com a consciência tranqüila, e beijar meus filhos", desabafou. Veja os principais trechos do depoimento de Duda Mendonça: Caixa dois “Delúbio orientou Zilmar a procurar Marcos Valério para receber o atrasado. O PT ainda nos devia R$ 11 milhões do pacote de publicidade de 2002” “Ficamos recebendo de Valério e do próprio Delúbio, que também pagava em dinheiro. Até que o Valério pediu a Zilmar: indique uma conta lá fora para receber o resto” “Esse dinheiro era claramente de caixa dois, a gente não é bobo. Nós sabíamos, mas não tínhamos outra opção, queríamos receber” “Essa conta (aberta em uma offshore nas Bahamas) foi aberta 100% para receber o dinheiro dele (Marcos Valério)” "Não quero ficar de santinho, hipócrita ou cínico. Ou recebia assim ou não recebia. Eu tinha contas a pagar. Ou recebia assim ou tomava o cano." Lula “Lula é um homem de bem. Se ficar provado de alguma forma que esse não é o presidente do meu sonho, eu nunca mais vou fazer campanha política. (…) Ele é um idealista” “Eu queria fazer aquela campanha (de Lula) a qualquer preço” Questão de consciência “Eu realizei meu trabalho, entreguei meu trabalho, e era a única forma que tinha para receber pelo meu trabalho. Assumo os riscos de dizer tudo isso. E as responsabilidades diante da polícia e da Justiça. É a maneira que tenho de ficar em paz com a minha consciência. E de preservar minha imagem de profissional sério” “Eu prefiro acabar logo com esse pesadelo de uma vez e assumir a minha parte de culpa com a polícia, com os senhores. E pagar o preço que for necessário. Mas ir para minha casa, com a consciência tranqüila, e beijar meus filhos” “Eu não estou dando versão. Estou dando os fatos” Regra do jogo “Sou uma pessoa que fez o seu trabalho. A regra do jogo era essa e eu aceitei a regra” Jogo perigoso “Comecei a sentir que a coisa estava numa escala perigosa. Ele (Marcos Valério) queria insinuar que quem mandou dinheiro para o exterior fui eu. Eu não mandei nada para fora. Graças a Deus, tenho como provar. Não posso dizer exatamente que foi o Marcos Valério, mas posso provar que empresas autorizadas por enviaram o dinheiro” Mau negócio “Pelo preço do dólar hoje, eu entrei pelo cano. Aliás, nessa história toda eu só entrei pelo cano, esse dinheiro hoje vale muito menos. Ele foi para lá por R$ 3,20 e agora vale bem menos e deve cair mais” Nome a zelar “Meu dinheiro é limpo, minha empresa é séria, eu sou um cara honesto, eu pago todos os meus tributos. Eu tenho uma situação confortável porque ganhei dinheiro às custas do meu esforço. Eu sou um publicitário bem-sucedido e cada tostão é às custas do meu trabalho” Veja os principais trechos do depoimento de Zilmar Fernandes: Pagamento “Nunca recebi da SMP&B. O pagamento era feito na agência do Banco Rural. (…) Não mentimos. Não recebemos diretamente de Marcos Valério. Queríamos preservar nossos clientes, mas chegou a um ponto em que não era mais possível” Emissário do PT “Marcos Valério foi um emissário do PT. Para pagar o que o PT ficou nos devendo” |
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