Em entrevista concedida à revista IstoÉ Dinheiro desta semana, o presidente Lula conferiu ao desequilíbrio nas contas internas e externas dos últimos 20 anos a responsabilidade pelo crescimento econômico inferior que o Brasil teve em relação aos países emergentes (7% ao ano enquanto o percentual brasileiro foi de 2,5% ao ano).
"Era necessário preparar o país para crescer. Assim como você faz comparação com outros países, dou o exemplo de área em que o Brasil teve desempenho superior ao do resto do mundo: as exportações. De acordo com números do FMI, no ano passado as vendas externas brasileiras subiram 23%, contra 13% da média mundial", respondeu o petista.
Depois de apresentar o exemplo das exportações, o presidente foi mais uma vez questionado pelo jornalista Octávio Costa sobre o crescimento. "Temos, hoje, um conjunto de fatores positivos: crescimento econômico com inflação baixa e geração de empregos, expansão das exportações com ampliação do mercado interno, aumento do crédito e do investimento com redução constante da taxa de juros e do Risco País. Essa combinação de fatores é excepcional na história do Brasil. A casa está arrumada. E devemos crescer este ano em torno de 4%", argumentou Lula.
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Em relação à alta carga tributária cobrada no país, que é considerada um dos maiores entraves ao crescimento econômico, Lula disse que tudo dependia da forma como era vista a questão. "Se você vê a carga tributária como a relação do que o governo arrecada em função do PIB, vai dizer que houve aumento. Mas se enxergá-la como aumento de impostos, isso não ocorreu. (…) Além disso, reduzimos o IPI sobre praticamente todos os bens de capital e também o PIS/Cofins que incidia sobre a cesta básica e outros produtos. No total, desoneramos mais de R$ 19 bilhões em impostos: na indústria de máquinas, no arroz, no feijão, na farinha de mandioca, no leite e no material de construção", ressaltou.
Quanto às taxas de juros, o presidente afirmou que conseguiu baixar bastante esses índices nos últimos quatro anos. E que, apesar de ainda estarem altas, o governo criou condições para que continuem reduzindo, mas de modo equilibrado e consistente.
Gastos públicos
"O gasto público está sob controle e cumpriremos a meta estipulada para este ano. Vamos aos fatos: elevamos as transferências previdenciárias e assistenciais para as famílias de 8,6% do PIB em 2005 para cerca de 9,1% do PIB este ano; e aumentamos o gasto com pessoal e encargos sociais de 4,8% do PIB em 2005 para cerca de 5% do PIB em 2006. Esse aumento é pontual, decorrente do reajuste de algumas carreiras-chave de Estado, e será eliminado nos próximos anos com o maior crescimento do PIB", disse Lula ao ser questionado se os aumentos dos gastos públicos neste final de mandato não resultariam em um forte ajuste fiscal no próximo governo.
Agronegócio
Para Lula, não existe uma crise geral na agricultura brasileira. Pois, segundo ele, enquanto a produção de soja não vai tão bem, o café está sendo produzido e comercializado muito satisfatoriamente. De acordo com o presidente, o "governo tomou medidas especiais, procurando atender às demandas dos segmentos mais prejudicados por intempéries e dificuldades do câmbio". Além disso, afirmou que no próximo mandato ampliará o crédito rural para financiamento da produção agropecuária e renegociará mais dívidas com os produtores.
Máquina pública
Ao ser questionado se a máquina pública tinha inchado nesses anos de governo, Lula respondeu que não. "O que fizemos foi dar um basta no enfraquecimento e na terceirização do Estado, levando-o a voltar a ter um papel essencial de indutor do desenvolvimento e de prestação de serviços de melhor qualidade à população", disse.
Sobre o "aparelhamento" do Estado, o presidente afirmou que não há diferenças significativas entre o governo atual e o do antecessor no que diz respeito à ocupação de cargos de confiança.
"Pelos dados disponíveis no site do Ministério do Planejamento, em novembro de 2001, um ano antes do final do governo anterior, 70,5% dos DAS eram ocupados por funcionários públicos de carreira. Esse percentual não se modificou significativamente de lá para cá. Em novembro de 2005, 68,9% dos cargos de confiança do nosso governo também eram ocupados por funcionários públicos de carreira. Desde 2005, 75% dos DAS de um a três e 50% dos DAS 4 – que, no total, representam 94,5% dos cargos – devem, necessariamente, ser ocupados por funcionários de carreira. Isso não é aparelhamento", ressaltou.
Educação
"O empenho do governo em melhorar a qualidade da educação já tem sido enorme. Num segundo mandato, a educação terá prioridade absoluta. Para garantir a qualidade no ensino, vamos continuar investindo fortemente em todos os níveis, da creche à universidade. Enviamos ao Congresso o projeto de criação do Fundeb, que aumentará em dez vezes os recursos para o ensino básico. Além disso, criamos dez universidades públicas e 48 extensões universitárias. Por meio do Prouni, concedemos 204 mil bolsas de estudo para que alunos de baixa renda pudessem entrar na universidade. O governo mudou também a lei que impedia o Estado de criar escolas técnicas federais e já criamos 32 Cefets, dos quais quatro são escolas agrotécnicas", disse Lula.
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