Em entrevista a quatro emissoras de TV, o presidente reeleito Lula desautorizou ontem os ministros que na véspera haviam decretado o fim da "era Palocci". Segundo Lula, a política econômica não era do ex-ministro da Fazenda, mas sim do governo. A economia vai crescer, disse ele, com a "mesma seriedade na política fiscal". No domingo, os ministros Tarso Genro e Dilma Rousseff deram declarações de que havia acabado o período de "taxas baixas de crescimento, preocupação neurótica com a inflação sem pensar em distribuição de renda".
O presidente classificou as declarações de Tarso, que chegou a dizer que "acabou a era Palocci", como uma "produção independente", porque não foi discutida com ele. "Isso [o que Tarso disse] não quer dizer nada porque não teve era Palocci, como não tem era Guido Mantega", afirmou à TV Record. "Não era uma decisão do Palocci. Era uma decisão do governo, do presidente da República", declarou o presidente à Band.
Palocci e Mantega
Lula ainda defendeu as medidas de Palocci à frente da Fazenda. "O que precisamos entender é que nós estamos colhendo hoje coisas que foram plantadas no tempo do Palocci. A política econômica está mais sólida."
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Ao tentar afastar os rumores da saída de Guido Mantega, o presidente manteve o suspense sobre a permanência do atual ministro da Fazenda. Em nenhuma das entrevistas Lula confirmou Mantega no novo governo. "Eu não tenho pressa, eu tenho até 1º de janeiro para indicar o novo ministério e Guido fica no ministério [até lá]", disse. "Vamos trabalhar os grandes projetos. Não posso parar para discutir governo. No Brasil, convocação da seleção e do ministério todo mundo acha que pode dar palpite", emendou.
Em entrevista ao Jornal Nacional, Lula também afirmou que o programa Bolsa Família pode melhorar. "Nós queremos que as pessoas possam ter emprego e ganhar salário em função do seu trabalho". O presidente ressaltou a redução na ordem de 19,3 % da pobreza no Brasil. "Nós precisamos exterminar a miséria nesse pais", ressaltou Lula.
Diálogo com a oposição
O presidente reeleito frisou a necessidade de a oposição agir com responsabilidade. "O que é importante para nós é que deve ter uma diferenciação entre uma oposição eleitoral e uma oposição que não quer que o país dê certo. Eu espero que a oposição seja responsável para votar o que for de interesse do Brasil. O que não pode é atrapalhar o Brasil por disputas eleitorais".
O presidente afirmou que chamará todos, inclusive da oposição, para conversar. "Perdi muitas eleições e nunca fui chamado para conversar. Nós temos um Congresso Nacional muito diferenciado. São vários partidos políticos. Pretendo, junto com a coordenação política, trabalhar para formar a maioria e votar os projetos importantes".
Lula declarou que pretende reunir os governadores para uma conversa na próxima semana. "Eu pretendo chamar os governadores na próxima semana para um almoço. Eu tenho relações com o Aécio, com o Serra. A única pessoa que eu não tenho uma relação próxima é com a governado eleita do Rio Grande do Sul".
No que diz respeito à reforma política, Lula destacou a fidelidade partidária e o financiamento público das campanhas. "Todos eles falam em fidelidade partidária. É preciso construir o financiamento público de campanha. Eu acho que essas coisas devem ser feitas pelos partidos. Eu quero que os líderes do governo tratem de trabalhar essa reforma política com os líderes da oposição".
Petistas aloprados
Em entrevista concedida ontem ao Jornal da Band, o presidente Lula declarou que durante a campanha, o "pessoal do partido" deu "mais trabalho" do que o candidato adversário, Geraldo Alckmin. "Eu acho que o pessoal do partido acabou dando mais trabalho. Eu acho que alguns companheiros nossos meteram os pés pelas mãos".
Sobre o futuro do PT, Lula afirmou: "Eu penso que o PT deve ter uma direção compatível com a sua grandeza. O PT precisa ter uma direção muito forte para fazer jus à confiança que o povo deu ao partido nessas eleições".
Emprego e cargos
Sobre a geração de empregos no próximo mandato, Lula afirmou que as medidas estão sendo tomadas. "Vai continuar caindo os juros, vamos continuar controlando a inflação e o país vai crescer. Nós estamos há dois anos preparando o crescimento da construção civil. Nós temos grandes projetos industriais para o Brasil. O crescimento está vindo. O presidente também declarou que não existe possibilidade do Brasil não crescer 5% ao ano.
No que diz respeito à distribuição de cargos no próximo mandato, Lula afirmou: "Eu vou montar um governo baseado na competência técnica, no compromisso político e no compromisso programático. Aprendi muito nesses quatros anos. Vamos montar o governo de acordo com as forças políticas da nação, não tem como ser diferente".
Para Lula, 2º turno foi dádiva que facilitou sua vida
Reeleito para mais quatro anos de mandato, o presidente Lula disse ontem que o segundo turno da eleição foi uma "dádiva de Deus" e "facilitou" sua vida, por ter explicitado as diferenças entre sua candidatura e a de seu adversário, Geraldo Alckmin (PSDB).
"Estou convencido de que este segundo turno foi uma dádiva de Deus. Teve gente que achou que o segundo turno iria facilitar a vida deles. Na verdade, facilitou a nossa, porque deixou claro para a sociedade o que estava em disputa no país", disse Lula, logo após sua chegada a Brasília.
Em seu desembarque, Lula foi saudado pela banda da Aeronáutica com a música usada como tema das vitórias de Ayrton Senna na Fórmula 1 e ao som de Aquarela do Brasil, de Ary Barroso. O comboio do presidente foi seguido por diversos veículos desde a Base Aérea até o Palácio do Alvorada. Acompanhando da primeira-dama Marisa Letícia, o petista fez questão de descer do carro para abraçar e cumprimentar eleitores.
"Deixa o homem descansar", diz Lula
O presidente fez um trocadilho com um dos jingles de sua campanha para dizer que precisa de férias: "A gente usou na campanha o slogan deixa o homem trabalhar. Agora, em algum momento, vamos ter que dizer deixem o homem descansar um pouco", comentou.
Segundo o chefe de gabinete especial da Presidência, Gilberto Carvalho, Lula já recebeu cumprimentos pela reeleição do presidente do Paraguai, Nicanor Duarte, e da presidente chilena, Michelle Brachelet. De acordo com Carvalho, o presidente já conversou com alguns governadores eleitos, como Ana Júlia (PT), do Pará, e Eduardo Campos (PSB), de Pernambuco.
Carvalho disse que o presidente pretende convocar todos os governadores para uma reunião em Brasília nos próximos dias. Agora à tarde, Lula deve atender telefonemas de chefes de Estado estrangeiros e definir a agenda de trabalho. Nesta terça-feira, o presidente concederá uma coletiva à imprensa.
Na volta a Brasília, Lula é recepcionado por petistas
De volta a Brasília, após comemorar a reeleição em São Paulo, Lula foi recebido por cerca de 300 militantes que o aguardavam, por volta das 11h, em frente à base aérea da capital federal.
Sorridente e acompanhado da primeira-dama, Marisa Letícia, Lula distribuiu beijos e abraços aos petistas, que usavam camisetas e bandeiras do partido e entoavam palavras de ordem para saudá-lo. O comboio presidencial seguiu para o Palácio da Alvorada onde mais militantes petistas aguardavam o presidente reeleito.
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