Edson Sardinha
Em seu programa semanal de rádio, o presidente Lula disse hoje (22) que o Brasil pode contribuir para o processo de paz no Oriente Médio e criticou a falta de empenho da Organização das Nações Unidas (ONU) na resolução do conflito entre árabes e judeus. “Na medida em que a ONU não cumpre esse papel, existe um vácuo, ou seja, todo mundo fala sobre a crise do Oriente Médio, mas ninguém resolve. O Brasil está tentando dar a sua contribuição, a partir do instante em que as pessoas confiam no Brasil”, afirmou. De acordo com o jornal britânico The Times, Lula se movimenta para ser o próximo secretário-geral da ONU assim que deixar a Presidência.
Durante o programa Café com o Presidente, Lula admitiu que é difícil precisar o papel do Brasil no processo de negociação entre israelenses e palestinos. “Não é que o Brasil queira se meter na discussão. É que nós estamos compreendendo que as pessoas e os países, que estão envolvidos na questão da crise do Oriente Médio, estão percebendo que o Brasil pode ajudar, pela boa relação que o Brasil mantém com todos os países e com todas as facções políticas do Oriente Médio”, afirmou.
Na avaliação dele, há interesse da parte das autoridades israelenses e palestinas de que o governo brasileiro facilite o diálogo na região. “O Brasil só pode se meter na crise do Oriente Médio, se o Brasil for convidado. E o Brasil foi convidado por Israel, foi convidado pela Jordânia, foi convidado pela Palestina, para tentar contribuir. E o Brasil vai contribuir, porque nós achamos que o Oriente Médio precisa de paz. Aliás, se tem um país que pode dar exemplo é o Brasil, porque aqui nós temos uma colônia de dez milhões de árabes e descendentes e 200 mil judeus, que vivem em harmonia”, declarou.
Lula considerou positiva a visita que fez na semana passada a Israel, à Palestina e à Jordânia por causa do estreitamento dos laços comerciais e econômicos entre o Oriente Médio, o Brasil e o Mercosul.
Veja a íntegra do Café com o Presidente ou ouça aqui o programa:
“É difícil, Luciano, definir qual seria o papel do Brasil, porque essa coisa é muito delicada, ou seja, por exemplo, Israel quer a contribuição do Brasil para conversar com interlocutores que eles têm dificuldades. A Palestina quer a interlocução do Brasil para conversar com outros interlocutores. A Jordânia pediu para que o Brasil interceda junto a alguns interlocutores que o Brasil pode contribuir.
Apresentador: Presidente, o senhor percorreu na semana passada alguns países do Oriente Médio. Depois de passar por Israel, Palestina e Jordânia, como está o processo de paz naquela região? O senhor acha possível, presidente?
Presidente: Olha, Luciano, nós não fomos ao Oriente Médio discutir apenas o problema de paz no Oriente Médio. Nós fomos ao Oriente Médio discutir a relação Brasil-Oriente Médio, Brasil-Israel, Brasil-Palestina, Brasil-Jordânia. Nós temos um acordo estratégico entre Mercosul e Israel, queremos fazer com a Palestina, queremos fazer com a Jordânia e queremos fazer com outros países do Oriente Médio, o acordo do Mercosul, porque, para nós, interessa aumentar o comércio entre o Oriente Médio e o Brasil, Oriente Médio e o Mercosul. Essa é a primeira parte. A segunda parte é a questão da paz no Oriente Médio, ou seja, o Brasil tem interesse na paz. Primeiro, porque nós temos uma história de um país pacifico. Segundo, porque nós entendemos que a paz interessa a Israel, interessa à Palestina, interessa à Jordânia, interessa aos Estados Unidos, interessa ao Irã, interessa à Síria, interessa a todo mundo, porque somente a paz é que pode permitir que haja desenvolvimento econômico, distribuição de renda e justiça social. Então, discutimos isso com Israel, discutimos isso com a Palestina e discutimos isso com a Jordânia. Não é que o Brasil queira se meter na discussão. É que nós estamos compreendendo que as pessoas e os países, que estão envolvidos na questão da crise do Oriente Médio, estão percebendo que o Brasil pode ajudar, pela boa relação que o Brasil mantém com todos os países e com todas as facções políticas do Oriente Médio.
Apresentador: Presidente, e na sua avaliação, qual seria o papel do Brasil nesse esforço para garantir o avanço nas negociações de paz?
Presidente: É difícil, Luciano, definir qual seria o papel do Brasil, porque essa coisa é muito delicada, ou seja, por exemplo, Israel quer a contribuição do Brasil para conversar com interlocutores que eles têm dificuldades. A Palestina quer a interlocução do Brasil para conversar com outros interlocutores. A Jordânia pediu para que o Brasil interceda junto a alguns interlocutores que o Brasil pode contribuir. Ou seja, as pessoas estão percebendo o seguinte, ou seja, a ONU criou o estado de Israel em 1948. Eu tenho defendido a tese de que a ONU é que poderia estabelecer o processo de paz do Oriente Médio; na hora que demarcasse as fronteiras, na hora que delimitasse os parâmetros para o acordo e resolvesse assumir a responsabilidade de fazer cumprir aquele acordo. É um problema de um conjunto de países que, representados pela ONU, poderia resolver definitivamente os conflitos do Oriente Médio. Na medida em que a ONU não cumpre esse papel, existe um vácuo, ou seja, todo mundo fala sobre a crise do Oriente Médio, mas ninguém resolve. O Brasil está tentando dar a sua contribuição, a partir do instante em que as pessoas confiam no Brasil. O Brasil só pode se meter na crise do Oriente Médio, se o Brasil for convidado. E o Brasil foi convidado por Israel, foi convidado pela Jordânia, foi convidado pela Palestina, para tentar contribuir. E o Brasil vai contribuir, porque nós achamos que o Oriente Médio precisa de paz. Aliás, se tem um país que pode dar exemplo é o Brasil, porque aqui nós temos uma colônia de dez milhões de árabes e descendentes e 200 mil judeus, que vivem em harmonia. E esse exemplo é o que a gente pode levar para a paz do Oriente Médio.
Apresentador: Você está ouvindo o Café com o Presidente, o programa de rádio do Presidente Lula. Presidente, depois de todas essas conversas, o senhor está otimista em relação a esse processo?
Presidente: Ah, eu estou muito otimista. Eu sempre estou otimista, Luciano, porque eu não acredito em coisas impossíveis. Eu acredito em coisas difíceis. E para resolver as coisas que são difíceis a política precisa estabelecer política de diálogo, de conversações, sabe, de entendimento. Não existe, nada, nada, nesse mundo que não seja, eu diria, consertado. Nós temos um problema de, às vezes até passional, entre palestinos e israelenses, sabe E e eu acho que o Brasil, com a sua formação política, com a sua história, com a experiência pacifista do Brasil, a gente pode dar uma contribuição enorme para a paz no Oriente Médio. E aí, meu caro, eu sei que tem gente que acha que: “ah, mas o Brasil não deve se meter, porque o Brasil não entende do assunto, porque o Brasil é pequeno”; aqueles que sempre acham que o Brasil não pode nada. E como eu acho que o Brasil pode, e o Brasil pode conseguir, eu estou convencido que o Brasil não pode voltar atrás. Nós precisamos conversar com iranianos, com sírios, com Israel, com palestinos, com o Hamas, com o Hezbolah; ou seja, com que tiver problema, com conflito no Oriente Médio, o Brasil tem que conversar e tentar ajudar a encontrar uma solução, para que a gente viva em paz definitivamente no Oriente Médio.
Apresentador: Muito obrigado, presidente Lula, e até a próxima semana.”
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