Edson Sardinha
Na entrevista coletiva concedida há pouco no Palácio do Planalto, o presidente Lula disse que seria uma “temeridade” tentar voltar ao governo após concluir seus dois mandatos com popularidade recorde e que sua sucessora, a presidente eleita, Dilma Rousseff (PT), tem “todo o direito” de ser candidata à reeleição em 2014.
“Quem sai do governo como vou sair tem a responsabilidade de pensar. Com o reconhecimento e a aprovação do governo, voltar é uma temeridade, porque a expectativa gerada é infinitamente maior. Se tem uma coisa que vocês precisam ter consciência é que eu entendo um pouco de política, de sentimento da sociedade. Se tem uma coisa que sei é conversar com o povo, tudo o que peço a Deus é que Dilma faça as coisas que ela sabe fazer. Não precisa inventar”, declarou o presidente.
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“Ela já sabe, ela já fez, vai ouvir a sociedade. Se fizer tudo o que sabe, tem todo o direito de ser candidata em 2014. É muito pequeno neste momento a gente estar discutindo 2014. Devíamos estar discutindo 2011. Deixar as eleições pouco mais pra frente. Senão, vai ter enxurrada de bolinha de papel chovendo nas nossas cabeças”, emendou.
Acompanhado de Dilma, Lula disse que o Congresso é tratado muitas vezes de forma preconceituosa e reflete a “cara da sociedade” brasileira. O presidente afirmou que sua sucessora terá de dialogar com todos os parlamentares eleitos, mesmo aqueles que ela gostaria que não tivessem sido eleitos.
“Quando chega aqui, cada um vale um voto. Um presidente da República se relaciona com as forças eleitas, e não com as que ele gostaria q fossem eleitas. Dilma vai ter de relacionar com as forças que estão aí, não pode criar novo partido e novos senadores. Ela vai ter de conversar com companheiro do PCdoB e com o Tiririca, com o PT e com a oposição. Essa é a lógica do jogo”, declarou o presidente. “O Congresso é a cara da sociedade. É a média da cara de vocês [jornalistas]. É a síntese da sociedade brasileira, tem gente de todo espectro social, de todas as cores, origens e estados”, acrescentou.
Lula disse acreditar que Dilma terá pela frente uma oposição menos raivosa do que a enfrentada por ele. “O que ela vai ter melhor do que eu tive é uma bancada mais consolidada na Câmara e no Senado. Certamente teremos senadores com menos raiva do que alguns que saíram. Só o fato de o cidadão não ter raiva, ser civilizado, em vez de bater, conversar, teremos um Senado mais civilizado”, disse o presidente.
O petista disse que a oposição cometeu um grande erro ao derrubar a cobrança da Contribuição Permanente sobre Movimentação Financeira (CPMF), que destinava recursos para a saúde. O presidente afirmou, ainda, que não pretende tomar medidas impopulares antes de passar a faixa presidencial.
“Nós não temos pela frente medidas impopulares. Normalmente, as pessoas fazem alguma sacanagem contra o povo antes de deixar o mandato. Não há necessidade, não quero que isso aconteça, nem a Dilma. Vamos fazer o que for necessário para que a Dilma receba o governo com toda tranquilidade”, afirmou.
Sem mágica
Segundo Lula, Dilma sai em vantagem em comparação com seu governo, pois já domina o funcionamento da máquina administrativa e conhece muito mais gente do que ele conhecia na época. De acordo com o presidente, sua sucessora sabe que cuidados terá de tomar, sobretudo, na condução da economia.
“Ela ajudou a colocar o carro em marcha. O carro não está na garagem. O carro está andando a 120 km/h. O motor e os pneus estão calibrados. Se quiser, ela pode acelerar para 140 km/h. Ela não tem por que brecar esse carro. Só tem de dirigir com cuidado, porque a Dilma aprendeu na Unicamp de que em economia não existe mágica. Não existe ninguém capaz de tirar da cartola um coelhinho que vai fazer as coisas acontecerem como se fosse milagre. É previsibilidade”, declarou.
O presidente agradeceu ao eleitor brasileiro por ter feito de Dilma Rousseff sua sucessora. Na avaliação dele, a eleição de Dilma mostra como o povo está “sabido”. “As pessoas precisam aprender que o povo não é mais massa de manobra. Tem gente que trata o povo como se fosse uma boiada. O povo está sabido, está esperto, sabe o que é promessa. Dilma ganhou as eleições sem entrar no jogo das promessas fáceis”, disse Lula.
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