Pesquisa CNT/Sensus a ser divulgada hoje confirma a tendência de recuperação do presidente Lula e ameaça tirar da disputa presidencial o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB). Na rodada de fevereiro, Lula bate Serra com uma vantagem de 10 pontos percentuais na simulação de um eventual segundo turno entre os dois. No levantamento anterior, em novembro, o tucano aparecia 3,9 pontos à frente do petista.
De lá pra cá, Lula passou de 37,6% para 47,6%. Serra foi de 41,5% a 37,6%, uma oscilação negativa de 3,9 pontos. A margem de erro da pesquisa é 3 pontos. Também caiu a soma dos indecisos e dos que votariam em branco ou nulo: 14,9%, agora, contra 21%, da pesquisa anterior. O dado revela que Lula avançou principalmente no eleitorado que estava indefinido no final do ano passado.
A divulgação completa da pesquisa, marcada para esta manhã na sede da Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, deve provocar turbulência no PSDB. Os tucanos precisam se definir até março entre Serra e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, para que o escolhido deixe o cargo antes do prazo legal e entre na disputa contra Lula. Até agora, as pesquisas mostravam que o prefeito paulistano venceria Lula, enquanto Alckmin seria derrotado.
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O avanço do petista na corrida contra Serra reflete a melhor avaliação do desempenho pessoal do presidente em relação a novembro. O índice de aprovação passou de 46,7% para 53,3%. Por outro lado, a desaprovação caiu de 44,2% para 38%. O contingente dos que não souberam ou não quiseram responder a essa pergunta oscilou negativamente de 9,1% para 8,7%.
A pesquisa também aponta que um em cada quatro eleitores (25%) acredita que haverá danos à campanha de Serra caso o prefeito deixe a prefeitura no meio do mandato. Para 59,4% dos ouvidos, a decisão não prejudicaria a imagem do tucano. Se quiser ser candidato à presidência da República, o prefeito terá que renunciar ao cargo no começo de abril, quase dois anos e nove meses antes do término.
O levantamento da CNT/Sensus ouviu 2 mil pessoas entre os dias 6 e 9 deste mês em 195 municípios e foi registrado no TSE.
PT em festa
Lula tomou conhecimento do resultado da pesquisa ontem à noite, enquanto participava de um jantar em comemoração aos 26 anos do PT. O presidente foi recebido em clima de campanha. Até chegar ao palco para discursar, abraçou e beijou crianças. Os militantes gritavam: “Um, dois, três, Lula outra vez!” e “Olê, olê, olá, Lula lá, Lula lá!”.
O presidente evitou fazer referência direta aos escândalos políticos e afirmou que o partido "não pode baixar a cabeça" e que pedir desculpas "é uma grandeza, não uma fraqueza". O petista afirmou que os que cometeram erros não podem ser "execrados" porque "errar é humano". Lula reafirmou que irá "até o limite da lei" para decidir se tenta ou não a reeleição. "O PT não precisa definir agora se terá candidato", discursou. Depois completou: "O PT está analisando o quadro político", arrancando risos dos presentes.
"Não posso deixar de governar para entrar na campanha. É isso o que os meus adversários querem. Vou governar até o limite da lei. Vou viajar e inaugurar obras", afirmou Lula.
Estavam presentes na festa deputados do PT acusados de envolvimento no escândalo do mensalão, que ainda aguardam julgamento de seus processos por quebra de decoro, como João Paulo Cunha, Professor Luizinho e José Mentor, todos de São Paulo. O ex-deputado Paulo Rocha (PA), que renunciou para escapar do processo de cassação, também compareceu. O ex-ministro José Dirceu e o ex-presidente do partido José Genoino não participaram da festa.
Colaboração de FHC
O ministro da Coordenação Política, Jaques Wagner, comemorou o resultado da pesquisa e atribuiu parte do crescimento de Lula à elevação do tom dos ataques do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso contra o atual governo. Em entrevistas, à revista Istoé e ao programa de TV Roda Viva, FHC afirmou que “a ética do PT é roubar”.
"A entrevista do Fernando Henrique acabou ajudando. Ao povo interessa a investigação e a punição dos culpados. Quando se prorroga, acaba se perdendo o tom. Acaba cansando esse tipo de noticiário e acaba mostrando que não é uma investigação sincera, mas um processo de desgaste", disse o ministro. Outros dois fatores, segundo ele, teriam pesado a favor de Lula: o anúncio do pagamento antecipado da dívida com o FMI e a entrevista que o presidente deu ao “Fantástico” no início do ano.
O resultado da pesquisa CNT/Census confirma uma tendência de recuperação do presidente, cuja imagem foi afetada pelo escândalo do mensalão. O Datafolha, por exemplo, mostrou que, no primeiro turno, Serra e o presidente estão empatados tecnicamente: 34% para o tucano, contra os 33% obtidos pelo petista. No segundo turno, o prefeito de São Paulo ganhava com oito pontos percentuais de vantagem: 49% a 41%. Contra Alckmin, Lula venceria nos dois turnos.
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