O governo Lula gastou, nos quatro primeiros meses deste ano, quatro vezes mais que o mesmo período do ano passado, mesmo sem ter o orçamento aprovado. Os maiores beneficiados com os gastos do Planalto foram os deputados e senadores aliados ao governo, diz a reportagem de Lúcio Vaz na edição de hoje do Correio Braziliense.
O direcionamento político-partidário na aplicação dos recursos do Orçamento da União pode ser medido pela execução das emendas parlamentares. Considerando a média de liberação por parlamentar, os governistas receberam duas vezes e meia a mais: R$ 272 mil contra R$ 116 mil dos oposicionistas. Em valores absolutos, foram R$ 101 milhões contra R$ 23,7 milhões.
Segundo a reportagem, não se trata de meros projetos, previsões orçamentárias, empenhos. É dinheiro na conta de prefeituras para gastos com postos de saúde, obras de infra-estrutura, ambulâncias, casas populares, quadras esportivas, ou seja, votos.
Com essas verbas, os deputados asseguram o apoio dos prefeitos das pequenas e médias cidades. São cabos eleitorais com um enorme poder de fogo, financiados com recursos públicos. Eles carregam junto os vereadores da sua base política. Parte das emendas beneficia ainda entidades assistenciais ligadas aos parlamentares.
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Entre os partidos, a melhor média é obtida pelo PT: R$ 365 mil por parlamentar. Isso representa cinco vezes mais do que o liberado para os congressistas do PSDB, principal partido de oposição: R$ 74 mil. Os integrantes do PP, PL e PTB, partidos que foram contemplados com o mensalão, também estão com bom aproveitamento: média de R$ 340 mil, R$ 310 mil e R$ 157 mil, respectivamente.
Com uma linha de oposição radical, os parlamentares do PFL ficam com uma média de R$ 111 mil. Na oposição, só o PV alcança com aproveitamento: R$ 287 mil por deputado.
O motivo do PV receber mais
O repórter Lúcio Vaz explica porquê que o PV alcançou média tão alta, mesmo sendo um partido da oposição. Dos R$ 2,3 milhões liberados para os verdes, R$ 1,3 milhão caiu na conta da Fundação Cristiano Varella, entidade criada pelo deputado Lael Varella PFL-MG). Ele também é da oposição, está certo. Mas, em 2004, contra a orientação do seu partido, ajudou o governo a aprovar o salário mínimo de R$ 260.
Naquele ano, a sua fundação recebeu R$ 5,2 milhões do governo, a partir de emendas de cinco deputados, incluindo ele mesmo. No ano passado, mais R$ 3,4 milhões na conta da entidade. Fatura paga.
Entre os dez parlamentares que mais liberaram recursos para as suas bases eleitorais, nove são da base governista no Congresso. A exceção foi Leonardo Mattos (PV-MG) – aquele da emenda da fundação. O campeão foi Jorge Boeira (PT-SC), com R$ 2,5 milhões, para projetos de inclusão produtiva em Criciúma. Leandro Vilela (PMDB-GO) conseguiu R$ 1,48 milhão para obras preventivas de desastres e unidades de saúde.
Outro peemedebista, Nelson Trad (MS), liberou R$ 1,23 milhão para obras de infra-estrutura urbana em Campo Grande, cidade governada pelo seu filho, Nelson Trad Filho, como diz o nome. Kelly Moraes (PTB-RS) mandou R$ 1 milhão para o autódromo de Santa Cruz do Sul. Os dados foram levantados no Siafi (sistema que registra os gastos do governo).
Mesmo quem já deixou o Congresso continua recebendo agrado pelos serviços prestados. O ex-deputado Valdemar Costa Neto (PL-SP), presidente nacional do PL, renunciou ao mandato ao ser flagrado recebendo dinheiro do Valerioduto. Neste ano, já executou R$ 1,16 milhão em emendas.
O ex-presidente da Câmara Severino Cavalcanti (PP-PE), rei deposto do “baixo-clero”, liberou R$ 250 mil neste mês para a aquisição de equipamentos hospitalares em Ibimirim, Santa Terezinha e Tabira. Ele renunciou por causa da denúncia de que recebia propina de um restaurante da Câmara, mas está em pré-campanha para retornar à Casa.
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