Tatiana Damasceno
Líder da comunidade Macuxi, a maior entre as cinco existentes na região da terra indígena Raposa Serra do Sol (RR), Walter de Oliveira afirma que não há confronto entre os índios da reserva, ponto central de conflitos no estado.
Cerca de 12 mil índios macuxi estão no centro da disputa de terras da reserva com produtores de arroz. Desde 2005, quando o presidente Lula homologou 1,747 milhão de hectares de Roraima para as cinco etnias (Ingaricó, Macuxi, Patamona. Taurepang e Wapixana) que lá viviam, fazendeiros e índios travam uma batalha cada vez mais violenta, pois muitos arrozeiros não aceitam desocupar suas terras. Ao todo, 18 mil índios vivem na região.
O conflito foi parar no Supremo Tribunal Federal (STF), que suspendeu no último dia 9 uma operação da Polícia Federal para a retirada dos produtores de arroz da reserva. Com a liminar, o STF atendeu pedido do governo de Roraima, que alegou que a ação da PF poderia provocar "uma espécie de guerra civil".
“O governo veio até o Supremo dizer que estava havendo próximo de ter uma guerra civil, que índio contrário à permanência dos arrozeiros estava brigando com outros índios. Nós estamos com uma comissão de indígenas aqui em Brasília para dizer para toda sociedade que não existe briga entre indígenas”, afirmou Walter ao Congresso em Foco.
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Ele destaca que pessoas que não são indígenas se vestiram como tal durante as manifestações e, com máscaras, tentaram simular que havia disputas entre os próprios índios. “O índio quando vai fazer o seu trabalho ele não esconde o seu rosto, ele pode se pintar, colocar seus trajes, mas ele nunca esconde o seu rosto”, explicou.
Estatuto
Walter de Oliveira falou ontem, em defesa dos índios, para uma reduzida platéia de deputados. O macuxi, junto com representantes de outras etnias, veio a Brasília para cobrar dos congressistas a aprovação do Estatuto dos Povos Indígenas (Projeto de lei 2057/91) e reclamar do desrespeito aos índios no caso da demarcação de terras.
Na Câmara, Walter de Oliveira pedia o empenho dos deputados para a criação de um programa de demarcação, homologação e registro de terras indígenas. Ele acredita que há outro interesse do governo de Roraima sobre o conflito da região.
“O governo de Roraima quer que os arrozeiros permaneçam na reserva. Eu acredito que isso possa ser um jogo para que o governo federal passe as terras da União para o Estado”, afirmou.
Ele também afirmou que uma eventual redução no tamanho da terra indígena irá prejudicar os índios que nela habitam. “Se diminuir a reserva, daqui a dez ou quinze anos nós não vamos mais poder criar os nosso animais, ter as nossas roças, porque a população indígena a cada ano aumenta. Ela vai sofrer porque não tem mais para onde o povo indígena ir, porque ali já chegou ao final, de outro lado está a fronteira da Venezuela”, disse.
O macuxi demonstrou preocupação com o destino da região estar nas mãos dos ministros do STF. “O que queremos é uma terra para trabalhar. O povo indígena ele não luta individualmente, ele tem uma luta coletiva. As comunidades estão se manifestando, já que não tem para onde correr, que o Supremo desse uma posição favorável ao direito dos povos indígenas, que todo o tempo nasceram e viveram ali e não aceite a proposta que se fizesse uma revisão das terras indígenas”, afirmou.
Promessa
Os índios que vieram para Brasília receberam a promessa de serem recebidos hoje pelo presidente Lula, no Planalto. Eles estão acampados na Esplanada dos Ministérios.
O líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR), defendeu que seja feito uma nova demarcação na Raposa Serra do Sol, excluindo quatro regiões consideradas problemáticas.
“A minha posição é que, com o prazo que o Supremo deu, a gente possa construir uma solução que dê condição de Roraima produzir, que atenda as comunidades indígenas e que pacifique este confronto. Há dez anos que eu defendo a proposta de uma demarcação contínua com exclusão de algumas áreas que são estratégicas, como o Vale do Arroz, a área da hidrelétrica de Cotingo, a vila do Surumu e o lago Caracaranã”, declarou.
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