Eduardo Militão
Líder em número de processos no Supremo Tribunal Federal (STF) entre os 594 parlamentares, o deputado Neudo Campos (PP-RR) trabalha para vencer mais que as 17 acusações a que responde na mais alta corte do país. Cinco anos após ter sido preso pela Polícia Federal, acusado de comandar um esquema que desviou R$ 230 milhões dos cofres públicos, de acordo com a denúncia, o ex-governador de Roraima já articula abertamente seu retorno ao governo do estado nas eleições de 2010. Para isso, costura o apoio de ex-adversários políticos.
Em dez ações penais e sete inquéritos, o Ministério Público Federal acusa Neudo Campos de formação de quadrilha, peculato (desvio de dinheiro), compra de votos e crime contra a Lei de Licitações. O deputado rebate as acusações, diz que os processos foram desdobrados para prejudicá-lo e que nunca soube dos desvios em sua administração.
Em entrevista ao site, Neudo culpa um juiz federal por seus problemas, dá como certo que será o próximo governador de Roraima e avisa: da próxima vez, fará tudo diferente para evitar sustos. “Não vou assinar um convênio. Vou fazer uma auditoria rigorosa”, garante.
O ex-governador foi preso em novembro de 2003, com cerca de outras 40 pessoas, na Operação Praga do Egito (também conhecida como Gafanhoto), da Polícia Federal, acusado de liderar um esquema de fraude na folha de pagamento do governo por meio de funcionários fantasmas. Na época, havia apenas 11 meses que ele tinha deixado o cargo.
As denúncias enfrentadas pelo deputado estão longe de se restringirem às listadas pelo Supremo. Na Receita Federal, Neudo é alvo de cinco processos administrativos, acumulados entre 1988 e 2007. Os procedimentos incluem um auto de infração de Imposto de Renda, uma inscrição em dívida ativa, um arrolamento de bens e uma execução fiscal para fins penais. A empresa Neudo Campos Engenharia Ltda., que o deputado afirma já ter desativado, também tem processos na Receita.
“Esperança é o Supremo”
Engenheiro civil, 61 anos, o parlamentar atribui os problemas na Receita a desdobramentos dos processos judiciais. “O mundo se voltou contra mim. Minha esperança é o Supremo. Tenho certeza de que serei absolvido. Meu advogado diz que, à luz do que se encontra, é impossível me condenarem.”
O deputado diz que não tinha conhecimento de que estavam fraudando o governo em sua gestão e que não possuía uma corregedoria para alertá-lo de fraudes. Mas Neudo promete mudar essa postura a partir de 2011, quando planeja voltar ao Executivo. “Eu vou ser governador. Ah, meu amigo, eu nunca mais vou assinar um convênio, nunca mais. Vou fiscalizar… Eu sou engenheiro, eu queria construir. Se eu for governador de novo, vou fazer uma auditoria rigorosa”, garante.
Neudo afirma que não demitiu funcionários sem concurso de uma vez para não causar “traumas” aos servidores. “Ali era território, eu fui o segundo governador, eu dei emprego para as pessoas, eu fiz concurso, mas eu não podia fazer concurso de uma vez, para todo mundo”, explica. Em 2002, ele deixou o governo para se candidatar, sem sucesso, ao Senado.
O ex-governador não aceita a acusação de que desviou dinheiro do governo. “Você imagina que eu, como governador, ia participar de desvio de dinheiro de folha de pagamento? De pegar os gafanhotos, aquelas pessoas que recebiam aquele dinheiro?”, questiona. Segundo o deputado, nenhuma testemunha arrolada pela Justiça disse que ele recebeu os valores desviados.
“Por que eu não sou rico? Eu passei dois mandatos.” O deputado comenta que gastou R$ 153 mil na sua campanha para a Câmara. O TSE registra, porém, despesas de R$ 83 mil (leia mais).
Além de negar que tenha recebido os valores desviados da folha de pagamento, Neudo também descarta ter sido conivente com o esquema a fim de cooptar politicamente eleitores e aliados. “Isso foi feito sem meu conhecimento e sem minha anuência porque, se houvesse aproveitamento eleitoral, eu teria sido eleito senador. Eu não fui eleito senador em 2002.”
Para voltar ao Executivo, Neudo angaria apoio entre ex-adversários políticos. O mais ilustre deles é o atual líder do governo no Senado, Romero Jucá (PMDB-RR). Deixando antigas desavenças para trás, os dois devem estar juntos no mesmo palanque na disputa pela prefeitura de Boa Vista. Ambos vão apoiar a reeleição do prefeito Iradilson Sampaio (PSB), que terá como vice Suely Campos (PP), mulher do deputado. A aliança também deve ser engrossada pelo PT, ferrenho opositor de Neudo durante suas duas passagens pelo governo de Roraima.
Perseguição
O deputado acusa o juiz federal Hélder Girão Barreto de persegui-lo e fazer andar mais rápido os processos contra ele. Tudo, segundo o parlamentar, motivado por interesses políticos. De acordo com ele, a suposta rixa é baseada na simpatia do magistrado em relação ao senador Romero Jucá, seu ex-opositor. Neudo já levantou a suspeição do magistrado em vários processos e confessa que já pediu ao Tribunal Regional Federal, em Brasília, que removesse do estado o juiz.
A reportagem deixou recados no gabinete de Girão e na assessoria de imprensa da Justiça Federal de Roraima, mas não recebeu retorno. O líder do PR, Luciano Castro (RR), critica Neudo e sai em defesa do magistrado. “É um juiz muito respeitado, de uma isenção total, de muita integridade. Ele [Neudo] não pode fazer isso. Eu tenho uma referência extremamente positiva sobre o juiz Hélder Girão”, afirmou o deputado.
Divergências com o Judiciário à parte, Neudo admite se sentir incomodado com o fato de ser, entre os 594 integrantes do Congresso Nacional, o parlamentar que enfrenta maior número de processos na mais alta corte do país. O deputado diz se sentir injustiçado, pois considera que muita gente culpada está ilesa. “O pior é você ter a pecha de ladrão sem ter roubado e ver ladrões e ladrões aí desfilando com cara de… digamos, querendo botar uma cara de honestidade que não têm”, desabafa.
Levantamento feito pelo Congresso em Foco até o último dia 30 revela que 143 parlamentares respondiam a 281 processos no Supremo (leia mais). Até o último dia 7, o número de inquéritos e ações penais contra deputados e senadores já havia subido para 288 (leia mais).
Deixe um comentário