O líder do PT no Senado, Walter Pinheiro (BA), rejeitou a tese de que as novas denúncias sobre o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), sejam uma forma encontrada pelos petistas em desviar o foco do julgamento do chamado “mensalão do PT”, que tem início previsto para 2 de agosto no Supremo Tribunal Federal (STF). Ao convocar coletiva na liderança, o parlamentar baiano iniciou sua entrevista abordando as realizações da Casa no primeiro semestre, mas acabou tendo de responder às perguntas de jornalistas sobre a CPI do Cachoeira. Instalado em abril, o colegiado investiga indícios do envolvimento de Perillo com o contraventor goiano Carlinhos Cachoeira, preso desde fevereiro. Para o petista, o caminho natural seria a cassação do governador, a exemplo do que aconteceu na última quarta-feira (11) com o agora ex-senador Demóstenes Torres (sem partido-GO), apontado como braço político do esquema Cachoeira.
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Neste fim de semana, a revista Época publicou reportagem que afirma que Marconi, com base em relatório da Polícia Federal sobre escutas telefônicas autorizadas, recebeu dinheiro da Construtora Delta, epicentro das movimentações financeiras ilegais do esquema Cachoeira. De acordo com a publicação, o governador tucano liberava, usando dinheiro público, pagamentos pendentes à empresa sob a condição de receber dela valores por meio de empresas de fachada sob responsabilidade de Cachoeira.
Segundo o líder petista, parte do partido acredita que a reconvocação de Perillo na CPI do Cachoeira, requerida ontem pelo senador Randolfe Rodrigues (Psol-AP), não trará avanços ao trabalho da comissão. O mais indicado, acrescenta Pinheiro, seria fazer a compilação do material investigativo, em poder da CPI, que compromete Perillo e, em seguida, remetê-lo ao Ministério Público Federal em Goiás, onde o Superior Tribunal de Justiça já aprecia denúncia contra o governador. A CPI, lembra Pinheiro, não tem o poder de pedir abertura de inquéritos – mas, ao abastecer de informações autoridades competentes, pode dar ensejo ao processo, bem como uma eventual abertura de impeachment por parte da Assembleia Legislativa de Goiás.
Suplente de Demóstenes
Publicidade“Quem se relacionou ou derivou dessa estrutura do crime organizado deve constar do relatório [final da CPI]. Como a nós [senadores] só compete o julgamento por quebra de decoro parlamentar, a agente tem de cobrar das outras instâncias a mesma dosagem do remédio que nós demos aqui a um dos membros do Senado”, declarou Pinheiro, para quem o suplente de Demóstenes, Wilder Morais (DEM-GO), tem de explicar, “natural e obrigatoriamente”, a omissão de seus bens à Justiça eleitoral, como mostrou o jornal O Globo na última quarta-feira (11). Wilder assumiu na última sexta-feira (13), para um plenário com apenas quatro dos 81 senadores em atividade.
“Ele vai ter que usar agora algo que ele tem a seu favor, que é a tribuna [do plenário]. A partir dessa fala dele, é óbvio que vamos tomar as iniciativas. Vai na mesma linha do rigor de apuração que deve continuar a ser utilizado pela CPMI [comissão parlamentar mista de inquérito], independentemente de chapa, de partido”, arrematou o senador baiano.
CPI x mensalão
Pouco antes da entrevista de Walter Pinheiro, o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE), também deu uma entrevista e divulgou uma nota em que dizia que as denúncias surgidas contra Marconi Perillo poderiam ser uma estratégia para desviar o foco do julgamento do mensalão. “O relatório produzido pela Polícia Federal – usado pelo PT para levantar suspeitas de que o governador de Goiás teria recebido dinheiro da construtora Delta em meio à operação de venda de sua casa – baseia-se em conversas entre o contraventor Carlos Cachoeira e o ex-vereador Wladimir Garcez, que em várias ocasiões tentaram demonstrar um poder junto ao governador que nunca tiveram. Basta ressaltar as inúmeras queixas de Cachoeira, em vários trechos destas mesmas gravações, por não conseguir influir nas decisões do Governo de Goiás”, diz trecho da nota tucana, que denuncia o “direcionamento e parcialidade do PT no comando das investigações da CPI do Cachoeira”, que teria eleito Perillo com alvo.
“Cada um fala o que quer”, rebateu Walter Pinheiro. A fala do deputado Sérgio Guerra é um problema dele. Quero insistir numa lógica em que a gente vem batendo desde o início: não fomos nós que escolhemos que o caso Cachoeira viesse a coincidir exatamente no ano do mensalão. Desde 2009 esse processo tramita [conduzido pela Procuradoria Geral da República]. Se alguém tivesse colocado esse processo na ordem do dia em 2009, ele não estaria em julgamento em 2012. Portanto, não seria concorrente do mensalão”, observou o senador, em menção indireta à demora de três anos que o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, levou para dar consecução à investigação iniciada naquele ano pela Polícia Federal.
Segundo Pinheiro, não há motivos para que confundam a possibilidade de reconvocação de Marconi com o noticiário sobre o mensalão, em que a maioria dos réus é petista. Walter Pinheiro diz que seria “bobagem” alguém achar que o Supremo vá alterar sua disposição ou sua percepção acerca do tema. “Isso é, no mínimo, subestimar a capacidade do STF, ou até classificar o STF de outra forma. O STF já abriu seu calendário, já fez a sua agenda, o julgamento vai ocorrer. Se alguém acha que pode desviar o curso dessa história, vai ficar falando ao vento”, rebateu. “A vinda ou não vinda de alguém aqui [CPI] não tem nada a ver com o mensalão.”