Rudolfo Lago
Com a candidatura barrada com base na Lei da Ficha Limpa, o ex-governador Joaquim Roriz (PSC) resolveu dar um drible na Justiça,trocando seu lugar com o de sua mulher, Weslian. Diante da possibilidade – que ficou concreta após o empate em 5 a 5 no Supremo Tribunal Federal sobre a hipótese de a ficha limpa valer nas eleições deste ano – de barração, ele renunciou e tornou sua mulher candidata. Ao fazer o anúncio da troca, porém, Roriz posou de vítima, e resolveu atacar os magistrados que barraram a sua candidatura, dizendo que tinha a ficha mais limpa que “a de alguns juízes”.
Em resposta ao ataque de Roriz, a Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) divulgou uma nota de repúdio. “As declarações são levianas e irreponsáveis, pois lançam suspeitas infundadas sobre a conduta dos julgadores do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal, do Tribunal Superior Eleitoral e do Supremo Tribunal Federal, que apreciaram os processos judiciais contra o então candidato”, diz a nota.
Mesmo após a renúncia de Roriz, o STF deve, na próxima quarta-feira (29) proclamar qual foi o resultado do julgamento, após o empate em 5 a 5. Essa proclamação é importante, porque ela servirá de balizamento para a situação dos demais candidatos barrados pela Ficha Limpa. Se o STF entender que, diante do empate, a lei valerá para as eleições deste ano, todos aqueles que, como Roriz, foram barrados, estarão fora das eleições.
Leia a íntegra da nota da AMB:
“A Associação dos Magistrados Brasileiros, entidade que congrega quase 14 mil juízes em todo o país, vem a público manifestar veemente repúdio às declarações de Joaquim Roriz, em manifesto divulgado nesta sexta-feira (24), após anunciar o fim de sua candidatura ao governo do Distrito Federal.
No documento, Roriz atacou injustamente a magistratura ao afirmar que tem a ficha mais limpa do que a de alguns juízes que o julgaram apenas com base em sofismas. Para a AMB, as declarações são levianas e irresponsáveis, pois lançam suspeitas infundadas sobre a conduta dos julgadores do Tribunal Regional Eleitoral do Distrito Federal, Tribunal Superior Eleitoral e Supremo Tribunal Federal, que apreciaram os processos judiciais contra o então candidato.
Se o então candidato tem conhecimento de algum fato que desonre a conduta de algum magistrado, que o apresente com as respectivas provas, e não lance suspeitas genéricas com o objetivo de mudar o foco do noticiário nacional.
A busca pela ética na política é um pleito da sociedade ao qual a AMB tem se solidarizado. Por essa razão, a entidade lançou este ano a terceira edição da Campanha Eleições Limpas, desenvolvida em parceria com o Tribunal Superior Eleitoral, e é totalmente favorável a aplicação imediata da Lei da Ficha Limpa, que visa barrar candidaturas de pessoas que não apresentam comportamento ético adequado para a democracia brasileira.
Mozart Valadares Pires
Presidente da AMB”
O manifesto de Roriz, criticado pela AMB
Manifesto de Roriz ao povo de Brasília
Minha ficha é limpa e minha consciência mais limpa do que a consciência dos que me acusam sem provas; e até mesmo do que a de alguns juízes que me julgaram apenas com base em sofismas, muito mais apegados às luzes dos holofotes do que ao espírito das leis.
Para isso valeu tudo: rasgaram a Constituição; jogou-se no lixo os princípios gerais do Direito; construíram interpretações, e, no meu caso particular, ignoraram que nunca foi aberto contra mim qualquer processo com base “quebra de decoro parlamentar” e jamais sofri condenação transitada em julgado em qualquer esfera do Judiciário.
Do que me acusam? Nunca avancei sobre o patrimônio público, nunca sujei minha mão na lama onde chafurdam os corruptos que infelicitam Brasília e o Brasil. Meu patrimônio, graças a Deus, tem a marca da honradez de uma família que há mais de século nesta região fez do trabalho honesto seu meio de vida.
Os antigos “ermos e gerais” que hoje hospedam o centro dos Três Poderes eram fazendas de meus pais e avós, do meu sogro, onde, menino ainda, com os mais velhos, saía para o campeio, dormindo ao relento, comendo frugalmente, como todos os sertanejos de então, enfrentando as intempéries da natureza hostil, demorando às vezes mais que semana para a volta ao lar.
Talvez, venham dessas raízes, esse apego e amor intenso por Brasília e nosso povo que me enche a alma e os sentidos, me tornando escravo do desejo de resgatá-la do caos em que se encontra, preparando-a para o futuro dos próximos 50 anos, com melhora radical na qualidade de vida de nossa gente, principalmente dos mais humildes, que sempre se constituíram na razão maior da minha vida pública.
Os meus adversários chegam ao absurdo de dizerem que enchi Brasília de favelas, quando, na verdade, fiz aqui reforma urbana, erradicando favelas e dando dignidade, endereço e cidadania a centenas de milhares de famílias. De toda a imensidão de obra que construí como a Ponte JK, o metrô e a Usina Hidrelétrica de Corumbá IV, a reforma urbana é a que mais me gratifica e envaidece.
Tentam, de todas as maneiras de me impedir de ser candidato. Criaram novas leis, novas regras e sequer decidiram sobre elas, numa atitude medrosa. Me tornaram vítima de uma brutal injustiça! O povo reconhecerá isso e dará a resposta nas urnas.
Em respeito a Democracia, a eleição correrá em meu nome e o povo de Brasília me honrará, elegendo Governadora minha amada esposa, companheira de cinqüenta anos, Weslian Roriz. Competente, honrada, humana e digna. Estarei com ela a cada minuto, como ela a cada minuto sempre esteve comigo, e foi a grande responsável pela alta dose de humanismo dos quatro períodos de governo que chefiei.
Peço ao povo que nos dê também maioria nas Câmaras Distrital e Federal, além de consagrar a eleição dos dois Senadores: Maria Abadia e Alberto Fraga. A vitória contra meus adversários me lavará a alma das injustiças que sofri, e fará com que eu não tenha que repetir o grito de revolta do grande humanista Camus: “O pior dos tormentos humanos é ser julgado sem lei.”
Brasília, setembro de 2010.
Joaquim Roriz
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