Há pouco mais de um mês no comando do PSDB na Câmara, o deputado José Aníbal (SP) experimenta pela primeira vez o gosto de liderar uma bancada na oposição. Fiel ao estilo “bateu, levou” que caracterizou sua passagem pela liderança do partido no primeiro governo Fernando Henrique Cardoso, Aníbal não economiza adjetivos ao criticar o presidente Lula e ao exaltar o legado da gestão tucana.
Nesta entrevista exclusiva ao Congresso em Foco, o deputado paulista diz que o alvo da oposição não é mais o PT, mas o próprio presidente. E afirma que os indícios de irregularidade envolvendo os cartões corporativos precisam ser explorados pelos oposicionistas para mostrar ao país a verdadeira face de Lula, a quem chama de “licencioso” e “grande dissimulado”.
“Ele é o maior vira-casaca da história do Brasil. Vende a imagem de que não virou a casaca e de que continua um peãozão, de que gosta de buchada de bode e pinga. Não, ele mudou completamente. Ele defende banqueiro abertamente”, critica. “Ele não tem nenhum compromisso com a verdade. Inclusive, se associa à impunidade, à transgressão e à licenciosidade”, acrescenta.
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Um dos fundadores do PT em São Paulo, no início dos anos 80, Aníbal acusa Lula de colher exclusivamente tudo aquilo que os tucanos plantaram, de fazer um governo “conservador” e “elitista” e desqualifica os índices de aprovação popular obtidos pelo petista nas últimas pesquisas de opinião.
“E daí? Mussolini tinha 95% de aprovação. Mas era um grande facínora, um fascista. Essa coisa de índice de aprovação é relativa. Tem que ver a troco de que”, afirma.
Méritos do atual presidente? Ele diz enxergar apenas um: não ter executado as idéias que pregava antes de chegar ao poder.
“Não é o que fez de inovador. O que fez de inovador o governo Lula? Ampliou a rede de proteção social dando um novo nome. Esse é o ponto forte deste governo sob o qual ele trabalha sistematicamente seu prestígio, sua posição junto à população, etc.”, considera. “E transformou isso num palanque, dissociando inclusive a prestação do recebimento do benefício da prestação de algum serviço”, emenda.
Eleições
Ex-coordenador da campanha de José Serra à Presidência, em 2002, Aníbal admite que preferiu a candidatura de Geraldo Alckmin ao Planalto, em 2006, e defende a disputa entre o ex-governador paulista e o atual prefeito, Gilberto Kassab, em São Paulo.
“Acho que tem que fixar logo a candidatura do PSDB. O PSDB tem que ter candidato próprio sim. Imagina nós não termos candidatura própria em São Paulo? Nós ganhamos a eleição em São Paulo há quatro anos. A Marta tentou a reeleição e não conseguiu, perdeu”, afirma o deputado, que já presidiu o partido por dois anos e meio.
Na opinião dele, o PSDB tem um grande desafio pela frente para retornar ao Palácio do Planalto: encontrar a unidade, coisa que, segundo o deputado, não houve nas duas últimas eleições presidenciais.
“Acho que o PSDB está desafiado a encontrar um caminho de unidade. Isso sem dúvida nenhuma. Nas eleições de 2002 e 2006 o partido não teve a unidade necessária.”
Endurecimento
Economista e empresário, Aníbal está em seu quarto mandato na Câmara. Em fevereiro, obteve 36 votos contra os 22 alcançados pelo também paulista Arnaldo Madeira, mais moderado e o preferido de Serra, na disputa pela liderança da bancada na Câmara. Sua eleição, apoiada nos bastidores por Alckmin e Aécio Neves, foi apontada pelos tucanos como um sinal de endurecimento do discurso oposicionista.
Apesar das críticas que desfere ao atual governo, o líder do PSDB admite uma possibilidade de o Congresso aprovar as reformas política e tributária, sempre classificadas como prioritárias pelas lideranças partidárias, mas que nunca saem do papel. “Com a presença direta do Executivo negociando, argumentando, mandando ministro para cá, levando gente para falar com o presidente da República. Enfim, o presidente reunindo e mostrando a relevância do tema.”
Leia a íntegra da entrevista:
Congresso em Foco – O senhor foi líder aqui na Câmara numa outra situação, como governo, e agora está começando como líder na oposição. O que PSDB ganhou nesse papel de oposição de lá para cá?
José Aníbal – Eu fui líder no início do governo Fernando Henrique Cardoso em 1995, 1996 e 1997. Foi um momento importantíssimo das reformas que consolidaram o Plano Real: a reforma patrimonial, a quebra dos monopólios, a reforma administrativa, a reforma previdenciária, a lei de responsabilidade fiscal. Reformas que foram o baldrame, digamos assim, do Plano Real, que colocou o Brasil no rumo. Fim da inflação, responsabilidade fiscal, logo depois metas de inflação e câmbio flutuante a partir de 1999. O Brasil mudou. Naquele momento, nós refizemos e estruturamos novamente o país para que ele pudesse se libertar definitivamente de uma situação de inflação que prejudicava brutalmente os trabalhadores. Isso também dissimulava totalmente as contas públicas e ensejava corrupção endêmica no setor público. E colocamos o Brasil dentro do cenário econômico internacional com a credibilidade de um país que faz o seu dever de casa. Hoje, o Brasil é outro e esse governo teve o bom senso de não fazer o que dizia que ia fazer. E de preservar o fundamental que nós tínhamos consolidado para que o Brasil mantivesse o rumo. Estabilidade, responsabilidade fiscal, metas de inflação e câmbio flutuante. Aliás, quem diz isso reiteradamente é o atual presidente do Banco Central e o ministro da Fazenda. Agora, então, o país está crescendo melhor favorecido por uma condição internacional muito positiva.
Então o senhor vê méritos no governo Lula?
Não, não. O mérito que eu vejo é só não ter feito o que dizia que ia fazer. Esse é o grande mérito. Não é o que fez de inovador. O que fez de inovador o governo Lula? Ampliou a rede de proteção social dando um novo nome. Esse é o ponto forte deste governo sob o qual ele trabalha sistematicamente o seu prestígio, sua posição junto à população, etc. O outro é decorrente daquilo que já foi feito. É um processo cumulativo e de uma situação internacional muito positiva. Mas ele está associado a um fator muito negativo nesse governo. É que ele não consegue fazer um procedimento de plantar. Ele só colhe. Nós plantamos e colhemos. Todo o governo tem que fazer isso. Esse governo só colhe e vive uma situação que favorece uma ótima colheita, essa situação internacional. O mundo compra o que o Brasil produz, as commodities agrícolas e minerais. O mundo compra aquilo que nós temos competência específica: aviões, Embraer e o setor de metal-mecânica que está bem desenvolvido aqui. Mas o Brasil não faz o dever de casa em matéria de inovação tecnológica, de uma revolução na microeconomia, matéria tributária e a própria questão previdenciária. E um aspecto que é totalmente negativo neste governo é o incremento sistemático das despesas correntes. O governo é gastador.
O senhor falou em ampliação da rede de proteção social deste governo. Em outubro de 2007, o presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra (PE), disse ao Congresso em Foco que o partido deveria se aproximar dos movimentos sociais. Isso está acontecendo, de que forma? Essa é uma bandeira efetiva do PSDB?
É. Eu fui responsável, junto com a senadora Marisa Serrano (MS), pela atualização do programa do partido que aconteceu em novembro de 2007 no congresso nacional do PSDB. Esse ponto nós focamos muito. O programa fundador do PSDB foi o programa que o presidente Fernando Henrique praticou. O que ele dizia lá: acabar com a inflação, inserir o Brasil na economia internacional, reformar o Estado e o sistema financeiro, desenvolver uma política agrícola e agrária. Os desafios colocados nesse programa inaugural do partido, em 1989, são aqueles que se tornaram o ponto central da ação do governo Fernando Henrique Cardoso. Algumas coisas não foram vencidas. Houve avanços, mas não foram totalmente vencidas. A educação universalizou, mas tem um desafio que é o da qualidade. Meio ambiente ainda era uma questão pouco presente no nosso programa. A questão da segurança pública não tinha o desafio que tem hoje. A reforma política também não. Essas são atualizações feitas no nosso programa. Uma, que considero muito importante na direção do que você disse, é que nós reconhecemos que hoje o cidadão e a cidadã do Brasil são pessoas informadas com toda essa revolução das mídias. O acesso à informação cresceu enormemente. As pessoas querem não só saber o que partido pensa em fazer, mas que você vá ouvi-las para que elas digam o que você tem que fazer. Sempre foi assim, mas hoje é mais forte e isso está mais presente na sociedade e na vida das pessoas. As pessoas têm idéia do que se deve fazer na segurança pública e na educação e para se obter um comportamento melhor do Congresso Nacional. Meio ambiente hoje é conversa de bar e as pessoas têm noção do que significa isso. Então é preciso que o partido multiplique a sua interlocução com a sociedade. Há pouco eu falava sobre eleições municipais deste ano lá em São Paulo e de como construir uma programa. Eu disse que queria acrescentar uma condição que poderia ser a primeira. Conversar com a população. Conversar com as entidades, os conselhos de segurança, as organizações-não-governamentais, os sindicatos e não importa quais são. Mas, onde a sociedade estiver se reunindo, é importante que um partido como o PSDB esteja dialogando, escutando e se posicionando.
O PSDB ficou muito caracterizado como partido de elite, em contraposição ao PT, que tinha uma ligação mais forte com as camadas mais populares…
O PSDB sempre foi um partido que elaborou bem. E ainda bem. Por que se não tivesse um partido com o programa do PSDB, nós estaríamos à deriva até hoje. O Brasil estava à deriva em 1994. O PT tinha um presidente já com a faixa presidencial que era o Lula. Então, para eles, foi uma surpresa o Plano Real. Era o Lula com aquele programa velho do PT. Que iria fazer isso e aquilo e não se sabia como. Felizmente, nós construímos um programa para o Brasil e desse programa derivou um candidato. Então é muito importante que o partido tenha essa capacidade de elaboração, responsável e compatível com as correlações de forças que se tem no mundo e no país. E foi o que nós fizemos.
Mas incomoda ao PSDB essa pecha de partido de elite?
Nada. Não existe governo mais de elite do que o atual governo. Eu acho que este governo sim é bem elitista no sentido de que ele é conservador. O governo Lula é profundamente conservador. Ele não inova em nada. Ele acrescentou o programa de proteção social. Nós atingíamos 5,5 milhões, 6 milhões de famílias e hoje são 11 milhões famílias. E transformou isso num palanque, dissociando inclusive a prestação do recebimento do benefício da prestação de algum serviço. Aumentou, por exemplo, o trabalho infantil no Brasil. Por que aumentou? No nosso tempo, havia um programa específico de combate ao trabalho infantil. Implicava que a criança abandonasse o trabalho infantil para ir a escola. O atual governo dá o benefício sem a exigência da escolaridade e da presença na escola. Resultado: aumentou o trabalho infantil. Quem diz isso é a imprensa e as estatísticas. Mas o governo é profundamente conservador. O presidente Lula é uma pessoa que não gosta do atrito, do confronto e do tensionamento democrático. Ele tem um viés autoritário forte. Ele não inova. Na reforma política, por exemplo, nada avança se não houver uma postura muito ativa do Executivo. É preciso uma coalizão entre Executivo e Legislativo para aprovar emendas à Constituição. Eles se omitem e dizem que reforma política é problema do Congresso. Não é. Reforma política tem tudo a ver com a constituição das maiorias políticas e da sustentação dos governos, da governabilidade.
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse recentemente sobre a questão dos cartões corporativos que o presidente Lula joga com a idéia de que moralidade pública é coisa da elite branca que tem tempo para ler jornal. O senhor considera o presidente Lula populista?
Eu não tenho a menor dúvida. Eu não só acho que o presidente é populista como ele é licencioso. Na medida que ele estimula a impunidade e premia o desvio de conduta, quando ele diz, por exemplo, que a ex-ministra da Igualdade Racial (Matilde Ribeiro) não cometeu nenhum desvio administrativo. É óbvio que cometeu. Ela gastou no que não podia gastar, tanto que tem que restituir. A mesmo coisa com o ministro do Esporte (Orlando Silva). Quando o presidente diz que o Severino caiu porque a elite resolveu derrubá-lo… O Severino caiu porque praticou corrupção abertamente e ia ser cassado. E Severino se elegeu porque o PT rachou e tinha dois candidatos à presidência da Câmara. O presidente Lula tenta reescrever esses episódios e não tem nenhum compromisso com a verdade. Inclusive ele se associa à impunidade, à transgressão e à licenciosidade. É grave porque o exemplo vem de cima. Essa questão das instituições democráticas sob a visão do presidente Lula é algo que ele não convive bem. Quando ele disse que, se pudesse, faria a reforma tributária por decreto, mas tem que mandar para essas instituições democráticas. Essas instituições democráticas são Câmara e Senado, as casas da democracia com as quais ele tem enorme dificuldade em lidar. Porque não é a instituição do sim, senhor. Ele tem até uma maioria, mas às vezes essa maioria não funciona como foi no caso da CPMF e que até hoje ele não engoliu. Ele vive dizendo que tiraram o dinheiro dele. Tiraram coisa nenhuma. O Brasil está crescendo e, em matéria de compensação da CPMF, a arrecadação e a receita têm três, quatro CPMFs a mais neste ano. E o dinheiro não é dele, mas é essa a visão. É dele e para ele poder distribuir. É um equívoco. É um presidente que tem uma relação muito tênue com as instituições.
Mas a oposição tem sido competente para mostrar aquelas que seriam as contradições do atual governo?
O presidente tenta amortecer o debate democrático. Dificulta enormemente. Nós estamos tentando reabrir melhor esse debate mostrando as inconsistências e incoerências do próprio presidente. Porque hoje não é só o PT. Até porque o PT está muito batido e o presidente já não considera o PT como alguma coisa significativa do ponto de vista do seu prestígio e da sua condição de governar. Ele está bem dissociado do PT. Então é uma ilusão achar que questionando o PT, que teve uma posição completamente diferente na oposição daquela que tem hoje no governo, se vai muito adiante. O questionamento tem que ser ao presidente. Esse é o estilo dele, populista, personalista. Então você tem que questionar ali. Não o Palácio do Planalto. O Palácio do Planalto tem uma postura contaminada pelo próprio presidente. Vale fazer dossiê. E fazem dossiê. Aliás, o presidente disse hoje que se quisesse teria feito dossiê contra o Arthur Virgílio. Que história é essa de presidente fazer dossiê? Olha que cabeça torta tem esse presidente! É crime, presidente! Presidente não é imperador. Ele está sujeito às leis e aos ritos da democracia que ele tem que respeitar. É muito preocupante esse viés autoritário. Ele está perdendo oportunidades com a situação da economia muito favorável que agora começa a mudar. Já não é aquele céu de brigadeiro e aquela abundância de recursos. Mudou. Felizmente o Brasil está num patamar melhor e, realmente, a nossa estrutura produtiva no que se refere a commodities é muito eficiência. Mas, de qualquer modo, a logística do Brasil está estrangulada, faltam portos, hidrovias, estradas e ferrovias. Vamos torcer para que essas coisas dêem um jeito ou outro. Mas, sem dúvida nenhuma, isso é um limitador forte para que o Brasil cresça melhor.
Mas que erros a oposição não pode repetir nos próximos anos sob pena de não fazer o sucessor do presidente Lula em 2010?
O pessoal está fazendo o que tem que fazer, questionando forte o governo. Aliás, as pesquisas indicam que a oposição está muito bem em matéria de sucessão presidencial. Quem está mal é o governo. O PT tem um candidato só, a ministra do Turismo (Marta Suplicy), que tem dois dígitos na pesquisa, mas dois dígitos muito chorados. Tem 11%. E eu acho que essa tese do terceiro mandato, que o presidente faz de conta que abomina, é uma tese que ele aprecia e considera. O Lula tem uma volúpia de poder que ficou muito caracterizada. Todo esse fausto do poder dele, do Aerolula e das coisas feitas com muita licenciosidade, como se isso fosse o sinal de que ele tem poder. Não é isso, isso é sinal de que ele está desfrutando do poder de uma forma que talvez não seja muito compatível com a austeridade que competiria a ele praticar.
O senhor apontaria algum erro na condução feita pela oposição na CPI dos Cartões Corporativos?
Não. A oposição está procurando fazer, até com uma indicação muito objetiva do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o que deve ser feito. Não há sigilo nessas informações. Há confidencialidade. A confidencialidade sobre os dados se tornou pública. O que o ex-presidente propõe é que se faça o mesmo com o atual presidente. Não existe sigilo. Não existe segurança nacional nisso. Existe confidencialidade. Mas, como a confidencialidade do ex-presidente foi quebrada de uma forma sórdida com um dossiê tentando criar uma suspensão, foi um tiro no pé. Agora nós queremos que o governo faça isso.
Por falar nisso, o PSDB promoveu algum tipo de censura interna ou reavaliou sua estratégia a partir das críticas feitas pelo governo ao senador Álvaro Dias, apontado como fonte para a matéria da Veja sobre o dossiê?
Nada. O governo está querendo é desviar o foco da questão central. É o seguinte. Tem que abrir como é que o Lula da Silva, presidente do Brasil, a dona Marisa e a família dele têm gastado o dinheiro com os cartões corporativos. O resto é conversa fiada. Ah, agora a Polícia Federal vai investigar quem vazou a informação. Eu quero saber é quem fez o dossiê. Quem mandou fazer o dossiê. E queremos todos, a sociedade brasileira, tirar esse veneno da nossa vida pública e saber como é que o presidente Lula está gastando pelo cartão e pela conta B. Quem guarda essa informação é o governo. Eles têm lá toda a informação sobre o presidente Fernando Henrique e a família dele. E o ex-presidente Fernando Henrique já disse que pode liberar tudo. Que se liberem também os gastos do atual presidente.
O discurso da oposição não está muito restrito ao dossiê? Isso não é um limitador?
Não. Porque isso é uma questão-chave. O Lula vende uma imagem equivocada, de quem não virou a casaca. Mas ele é o maior vira-casaca da história do Brasil. Ele vende a imagem de que ele não virou a casaca e de que continua um peãozão, de que gosta de buchada de bode e pinga. Não. Ele mudou completamente. Ele defende banqueiro abertamente. Ele critica o ministro da Fazenda quando diz que precisa aumentar os juros. Ele diz: “Não mexe com os juros, deixa como está, não mexe com meus amigos banqueiros”. Ele gosta de se cercar do bom e do melhor, mas ele vende a imagem que ainda é o peão de antes. Ele é um grande dissimulado. Então a gente tem que mostrar com clareza que ele é um grande vira-casaca. Ele passa a idéia e faz campanha o tempo todo e manipula bem isso aí de que ele não virou a casaca.
Mas os índices de aprovação ao governo Lula que as pesquisas mostraram não põem o discurso da oposição por terra?
E daí? Mussolini tinha 95% de aprovação. Mas era um grande facínora, um fascista. Essa coisa de índice de aprovação é relativo. Tem que ver a troco de que. No caso dele tem até uma ação reconhecida de combate à fome, mas feita de uma forma absolutamente demagógica. Uma política que não tem nenhum conteúdo de qualificação e de criar condições de emancipação do trabalhador. Ele chegou a dizer a seguinte asneira: o PAC é a porta de saída dos nossos programas sociais. O PAC, por si só, já é uma fabulação. Eu tive oportunidade de mostrar aqui no plenário da Câmara dados do Siafi sobre o PAC no ano passado. Empenhados R$ 16,5 milhões, pagos R$ 4 milhões, pouco mais de 25%. Na área da saúde, foi empenhado R$ 1 bilhão, mas pago R$ 1 milhão, um milésimo por cento. Porque não tem projeto, não tem capacidade gerencial e porque aparelharam a máquina totalmente. Inflaram a máquina, gastam estupidamente com o gasto corrente e de custeio, dinheiro que poderia estar sendo usado em investimento. E mesmo quando liberam para investimento não conseguem gastar porque não têm projeto nem compromisso com isso.
O senhor falou da profusão de candidatos da oposição que estão bem nas pesquisas. Mas a disputa em São Paulo com o DEM sinaliza para um rompimento da aliança entre os dois partidos. O DEM é o melhor dos companheiros?
Não. Veja bem. Política eleitoral municipal é quadro local. O nosso deputado Sebastião Madeira (PSDB-MA) é candidato a prefeito de Imperatriz (MA). Sabe quem é o vice dele? Um petista. Realidade local. Há três anos que vou a Minas. Gente na rua, taxistas, amigos meus, todo mundo diz que lá a dobradinha entre o governo do estado e a prefeitura está muito boa. Até dizem também que essa relação é boa com o governo federal. A população é bem objetiva quando faz um registro da situação local.
Mas se é possível aparar as arestas entre PSDB e PT em Minas, por que não é possível fazer isso também em Brasília, no Congresso?
Ela não está sendo preponderante em Minas, mas aqui em Brasília é óbvio. Mas vocês querem o quê? Que acabe a democracia, que não tenha oposição? Nós é que fizemos isso. Eles é que se beneficiam? Não, agora nós temos que dizer o que está certo. Está certo nada. Conservador, não faz reforma. Agora essa disputa lá em São Paulo eu lamento. Mas lamento e não fico parado. Acho que tem que fixar logo a candidatura do PSDB, o PSDB tem que ter candidato próprio sim. Imagine nós não termos candidatura própria em São Paulo? Nós ganhamos a eleição em São Paulo há quatro anos. A Marta tentou a reeleição e não conseguiu, perdeu.
O prefeito Gilberto Kassab (DEM) deveria abrir mão da sua candidatura?
Não, o Kassab toma a decisão que ele achar melhor tomar, ele é o prefeito da cidade. Agora o PSDB tem que fazer a mesma coisa. Tomar a decisão que achar melhor, fazer política de alianças e tentar todas as possibilidades até mesmo com o DEM. Não deu aqui, não deu ali, segue o caminho e faz a sua campanha. É o que estou defendendo. Acho que o PSDB devia fazer essa definição em São Paulo rapidamente e seguir o seu caminho e fazer campanha.
Como o senhor avalia a resistência do PT à aliança proposta pelo governador Aécio Neves com um candidato do PSB à prefeitura de Belo Horizonte?
Porque o PT é muito sectário. O PT hoje é um partido em crise de identidade fortíssima. Pergunte a um petista qual é o programa do PT. Qual é o programa do PT hoje? Nacionalizar banco? Reestatizar a Vale do Rio Doce? Imposto sobre grandes fortunas? Uma piada. Aventaram essa piada aqui semana passada. Qual é o programa do PT para qualquer coisa? Para o ensino técnico e tecnológico, profissionalizante? O PT é hoje um partido, no plano nacional, completamente subjugado pelo Lula. Dentro do PT existe uma dissidência a isso, uma reação a isso, é perceptível aqui na Câmara, mas que até agora não chegou a conformar um corpo de idéias.
O senhor acha que isso poderá gerar um novo partido?
Não sei, mas o PT hoje está muito combalido, muito batido. No Rio Grande do Sul, por exemplo, foi uma dissidência que ganhou a indicação para a prefeitura da capital. Com algumas idéias, retomando o programa originário lá de trás. Não que eu esteja de acordo, mas acho que o PT vive uma profunda crise de identidade.
Essas correntes políticas que dividem o PT são semelhantes à divisão do PSDB entre “serristas”, “aecistas” e “alckmistas”? O senhor, por exemplo, é visto como uma aliado do ex-governador Geraldo Alckmin e contrário ao atual governador…
Não existe isso. Eu coordenei a campanha do Serra à presidência da República. Fui eu que fechei a candidatura do Serra à presidência da República. Fechei, bati o martelo. Diziam: “Ah, não, mas tem o fulano…”. Eu dizia: “Não espero nada, é o Serra e acabou”. Até com o PFL, que propôs a mim e ao Fernando Henrique trocar o Serra para apoiar o candidato do PSDB. Eu disse que o candidato era o Serra e ponto. Depois eu fiz o programa dele para prefeito de São Paulo. Eu queria ser o candidato, mas ele me pediu a preferência. Eu fiz o programa de governo e fui o vereador mais votado da história da cidade com 165 mil votos. Fui o líder dele no governo. Aprovei 27 projetos. Entre eles, a reforma da Previdência e a mudança no ISS, que significou R$ 1,3 bilhão a mais por ano para a prefeitura. Eu apenas achei que o nosso melhor candidato à presidência da República era o Geraldo. Mas não sou nem geraldista, nem serrista e nem aecista. Eu sou PSDB. Tenho dois grandes parceiros no PSDB: o ex-presidente Fernando Henrique e Mário Covas. Mário, eu tinha uma grande interlocução, pois fui secretário dele e tenho com ex-presidente Fernando Henrique. Acho que o PSDB está desafiado a encontrar um caminho de unidade. Isso sem dúvida nenhuma. Nas eleições de 2002 e 2006 o partido não teve a unidade necessária.
Essas conversas do governador Aécio com o PT não incomodam o partido?
A mim não incomoda. Eu converso com o PT aqui todos os dias.
Mas o senhor não propõe aliança com o PT.
É do ponto de vista do processo parlamentar. Estamos tentando fazer aliança há dois meses para desbloquear essa pauta e criar uma pauta do Legislativo. Para votar, por exemplo, 13 matérias de segurança pública que interessam à população, votar projetos da área de meio ambiente e da saúde e a própria PEC que muda o rito das medidas provisórias. Agora não podemos fazer isso sem segurança se o governo vai voltar a garrotear o Parlamento com excesso de medidas provisórias. Tem que parar um pouco para nós criarmos uma janela, um mês e meio de atividade parlamentar sem MPs.
Considerando-se as eleições de outubro, o senhor prevê que a paralisia legislativa vai continuar na Câmara até o final do ano?
Não. Eu mandei fazer um levantamento em relação à época em que era líder, em 1996. Nós votamos Lei de Diretrizes e Bases da Educação, emendas constitucionais e Fundef, um grande programa de educação. Isso tudo no segundo semestre de 1996. Para o deputado, inclusive aqueles que são candidatos a prefeito, é bom vir para cá e ficar terça, quarta e quinta-feira. Essa idéia de que não se vota nada é uma idéia compatível com essa frouxidão, com essa perda de motivação do Parlamento. Não vota projeto de lei, só vota medida provisória. Isso desmotiva o deputado. O que vocês acham de motivação do deputado que já votou o orçamento e tem que votar em medida provisória, crédito extraordinário? Ele está trocando seis por meia dúzia, chovendo no molhado. Isso não é atividade que estimule o parlamentar, que o comprometa e o sintonize mais ou menos com a opinião pública. É péssimo isso que está acontecendo. Por isso, nós estamos tentando fazendo uma ação combinada com todas as forças políticas, envolvendo o PT, é claro, para que a gente possa liberar essa pauta e votar projetos de lei.
O que pode ser aprovado este ano?
Eu acho que muita coisa pode ser aprovada se tivermos um entendimento entre as força políticas. Se não tivermos, o ano vai ser morto com medidas provisórias.
A reforma tributária tem chances de ser aprovada este ano?
Tem, se houver entendimento, se houver uma participação ativa do governo. Volto àquilo que eu disse a vocês: ou há coalizão entre Executivo e Legislativo ou não se vota reforma institucional nenhuma. A tributária, com mais razão ainda. O Lula, que é muito esperto nessa coisa, disse que já mandou a reforma para o Congresso, agora o problema é do Congresso. Não é não. Isso é mais uma esperteza dele, porque não quer fazer, só posso entender assim. Porque se quiser aprovar, tem que manter uma interlocução permanente com o Congresso. Foi assim que nós fizemos a reforma previdenciária, quebra dos monopólios, reforma administrativa e a Lei de Responsabilidade Fiscal. Com a presença direta do Executivo negociando, argumentando, mandando ministro para cá, levando gente para falar com o presidente da República. Enfim, o presidente reunindo e mostrando a relevância do tema.
O senhor quer dizer que a interlocução do governo até agora não funciona?
É péssima. Governo Lula no Parlamento? É péssima. Porque ele não entende o significado da instituição. Não gosta. Ele sente que a instituição o subordina. Não é nada disso. A instituição é essencial para o equilíbrio de poderes numa democracia.
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