Folha de S.Paulo
Governo acha dinheiro de filho de Sarney no exterior
O governo brasileiro obteve documentos que comprovam que o filho do presidente do Senado, José Sarney, movimentou dinheiro no exterior sem declará-lo à Receita Federal. Autoridades da China informaram ao Ministério da Justiça que o empresário Fernando Sarney opera pessoalmente uma conta num paraíso fiscal, em nome de uma empresa “offshore” com sede no Caribe.
No começo de 2008, Fernando usou esse canal financeiro para transferir US$ 1 milhão para uma agência do banco HSBC em Qingdao, na China. A autorização da transação contém a assinatura dele. Recursos no exterior não informados ao fisco podem ser fruto de sonegação de tributos, evasão de divisas e lavagem de dinheiro. Empresas da família Sarney, que vão de emissoras de rádio e TV a shopping center, são investigadas pela Receita e pela Polícia Federal sob acusação desses crimes.
A operação policial, que levava o nome de Boi Barrica e depois foi rebatizada de Faktor, já indiciou Fernando Sarney sob acusação de formação de quadrilha, gestão de instituição financeira irregular, lavagem de dinheiro e falsidade ideológica. Ele nega as irregularidades. A remessa para a China é alvo da Faktor. Em 2009, Fernando negou a movimentação em entrevista à Folha. Laudo enviado pelo governo chinês para o Departamento de Recuperação de Ativos do Ministério da Justiça contradiz a versão do empresário.
A partir de autorização assinada por Fernando, autoridades chinesas rastrearam a origem do dinheiro e confirmaram que os recursos foram creditados na conta da Prestige Cycle Parts & Accessories Limited (pelo nome, uma empresa de acessórios de bicicleta), conforme ordem bancária. Os investigadores brasileiros ainda não sabem qual a finalidade desse depósito. Acordos multilaterais permitem ao governo solicitar bloqueio e a repatriação de recursos enviados ilegalmente para fora do país.
Procurado pela reportagem, Fernando disse que não se pronunciaria sobre o assunto por orientação de seus advogados, alegando que o inquérito policial está sob segredo de Justiça. Conforme a Folha publicou em 2009, as empresas da família Sarney passam por uma devassa feita pela Receita, iniciada a partir do trabalho da PF. Os auditores detectaram indícios de crimes contra a ordem tributária, como remessa ilegal de recursos para o exterior, falsificação de contratos de câmbio e lavagem de dinheiro.
Delegados confirmam pressão de Arruda
Dois delegados da Polícia Civil disseram em depoimento ao Ministério Público do Distrito Federal que sofreram pressão do governador afastado José Roberto Arruda (sem partido) para fornecer informações sobre investigações sigilosas. Arruda agiu, segundo eles, em junho do ano passado para obter dados sobre operações que apuravam a suposta corrupção no governo. Na época, os delegados eram diretores da Polícia Civil, mas acabaram demitidos dos cargos.
Os depoimentos foram usados pela vice-procuradora-geral da República, Deborah Duprat, como forte argumento apresentado ao STF (Supremo Tribunal Federal) para manter o governador afastado preso. Duprat argumentou que os policiais só se encorajaram em falar após a prisão dele. Daí a necessidade, segundo ela, de Arruda continuar preso para não atrapalhar as apurações.
Os delegados Marco Aurélio Virgílio de Souza e Cícero Jairo de Vasconcelos Monteiro prestaram depoimento no dia 1º deste mês. Arruda foi preso no dia 11 de fevereiro, acusado de tentativa de suborno a uma testemunha do inquérito do mensalão do DEM -esquema de cobrança e distribuição de propina revelado pela Polícia Federal em novembro passado.
Promotor pede quebra de sigilo de Vaccari
O promotor José Carlos Blat, do Ministério Público do Estado de São Paulo, pediu anteontem a quebra do sigilo bancário e fiscal do novo tesoureiro do PT, o sindicalista João Vaccari Neto, investigado por supostos crimes de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, estelionato e apropriação indébita no comando da Bancoop, cooperativa habitacional dos bancários.
Blat, que abriu o inquérito criminal contra a Bancoop em 2007, solicitou ainda ao Dipo (Departamento de Inquéritos Policiais), do Tribunal de Justiça de São Paulo, o bloqueio da conta bancária da cooperativa e a oitiva urgente de Vaccari, que se licenciou da presidência da cooperativa em fevereiro. O promotor estima que pelo menos 47 empreendimentos da Bancoop não saíram do papel, o que prejudicou cerca de 3.000 famílias. Há desde casas pagas e não entregues a valores que foram majorados acima da estimativa original. O rombo nas contas da cooperativa chegaria a R$ 100 milhões.
Em reportagem da edição desta semana, a revista “Veja” relata que, na última segunda-feira, o promotor começou a receber o primeiro lote de documentos com a quebra do sigilo bancário da cooperativa, que havia sido solicitada por ele em março do ano passado. São cerca de 8 mil páginas com transações bancárias realizadas pela Bancoop entre 2001 e 2008.
Lula impõe aliança com o PMDB em MG para eleger Dilma
O presidente Lula avisou os petistas mineiros que, em nome do projeto de fazer Dilma Rousseff sua sucessora, irá apoiar a candidatura do ministro peemedebista Hélio Costa (Comunicações) ao governo. Segundo a Folha apurou, Lula pediu aos dois pré-candidatos do PT em Minas, o ex-prefeito Fernando Pimentel e o ministro Patrus Ananias (Desenvolvimento Social), que montem estratégia para fazer aliança com o PMDB mineiro, indicando o nome do vice na chapa de Hélio Costa.
Pimentel, favorito para ser um futuro candidato do PT no Estado, foi convocado recentemente para uma conversa com Lula. Na ocasião, o presidente disse que precisava dele na campanha da ministra Dilma e que ele deveria desistir da disputa pelo governo mineiro. Em uma das conversas com o ex-prefeito, Lula chegou a dizer em tom de convocação: “Se você quiser jogar o Campeonato Mineiro, tudo bem, mas a Copa do Mundo é aqui”.
Pimentel e Patrus sabem, porém, que não podem simplesmente desistir da candidatura petista em Minas. Publicamente, vão continuar reafirmando que ainda são candidatos, mas o roteiro para a aliança com o PMDB já está traçado. Os grupos dos dois já acertaram que farão uma escolha entre Pimentel e Patrus até o final de abril. O ministro prefere que a definição seja em março, com base em pesquisas. No caso, o ex-prefeito deve ser o escolhido, pois leva vantagem nas pesquisas de intenção de voto.
PSDB tenta impedir queda de Serra em SP
O PSDB de São Paulo convocou uma força-tarefa com a missão de estancar a queda do potencial candidato do partido à Presidência, José Serra, e ampliar sua vantagem sobre a petista Dilma Rousseff no Estado. O grupo – composto por 47 coordenadores regionais – terá sua primeira reunião amanhã.
Segundo o presidente do diretório paulista, Mendes Thame, a intenção é “definir uma estratégia de ação para o buraco negro que vai de 2 de abril até junho”. Mas não é só: o partido quer unificar o discurso de combate à candidatura Dilma. De acordo com textos que já estão sendo discutidos pelo partido, o PSDB deverá explorar medidas propostas pelo PT -como controle de conteúdo de TV e proibição de símbolos religiosos em repartições públicas- para falar em ameaça às liberdades individuais.
Outro argumento será o de que, desconhecida, Dilma será refém de petistas como o ex-ministro José Dirceu. Segundo Thame, a coordenação de campanha no Estado tem como meta garantir que Serra vença as eleições em São Paulo com diferença superior à obtida pelo ex-governador Geraldo Alckmin contra Lula em 2006: um milhão de votos. Os tucanos sonham com uma margem de 4 milhões de votos.
O Estado de S. Paulo
Investigação pode chegar a Roriz
Os depoimentos de três delegados da Polícia Civil de Brasília, um deles já aposentado, abriram uma nova frente de investigação no inquérito 650 do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Esse é o inquérito que estourou o esquema de corrupção no governo do Distrito Federal, que ficou conhecido como “mensalão do DEM e entra nesta semana na sua fase decisiva. Informações fornecidas pelos policiais levam as investigações para o ex-governador Joaquim Roriz (PSC), que tentará voltar ao poder neste ano, e o ex-governador interino Paulo Octávio, que assumiu o cargo após a prisão do governador José Roberto Arruda, mas renunciou na esperança de sair do foco das denúncias.
O elo entre os dois é o policial aposentado Marcelo Toledo, apontado pela Operação Caixa de Pandora como um dos principais operadores do esquema de distribuição de propina no governo do DF. A máquina de cobrança de empresas para alimentar o esquema teria sido montada com a participação direta de Toledo desde o governo Roriz (1998-2006) e preservada por Arruda até ser desmantelada, em novembro passado.
O esquema foi revelado após acordo de delação de Durval Barbosa, ex-secretário de Relações Institucionais do governo, também policial e cúmplice de Toledo desde o início. Com o cerco se fechando, Toledo negocia acordo de delação em troca de benefícios penais. O Ministério Público avalia se ele está disposto a apresentar as provas de que dispõe contra Roriz e Paulo Octávio. Mas o acordo só será fechado, conforme apurou o Estado, se o MP considerar que atende o interesse público. A Polícia Federal vem dando segurança discreta ao policial.
PT diz que Blat quer prejudicar a campanha de Dilma
Alinhados ao tesoureiro João Vaccari Neto, dirigentes do PT saíram ontem em defesa da tese de que setores da mídia e mesmo do Ministério Público tentam prejudicar a campanha presidencial da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Em nota, Vaccari rebateu reportagem da revista Veja sobre a Bancoop publicada neste fim de semana. Disse que nunca foi alvo de acusação e não responde a processo civil ou criminal. “Em relação à investigação envolvendo a Bancoop, sempre nos colocamos à disposição das autoridades, agindo com total transparência”, afirmou.
O deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) queixou-se da atuação do promotor José Carlos Blat. “A obrigação dele é apresentar uma denúncia consistente à Justiça e não ficar dando entrevistas”, reagiu Berzoini. “No mínimo, levanta a suspeita de que ele age a serviço de setores do Ministério Público alinhados ao Serra”, emendou, em referência ao governador de São Paulo, José Serra, pré-candidato do PSDB ao Planalto. Sucessor de Berzoini na presidência do PT, José Eduardo Dutra engrossou o coro. Queixou-se do “jornalismo panfletário” que, diz ele, tem por objetivo interferir na eleição. “A serviço de quem? Do PT é que não é.”
Pedida quebra de sigilo de Vaccari
O Ministério Público de São Paulo requereu à Justiça a quebra do sigilo bancário e fiscal do tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, ex-presidente da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop). Segundo o promotor José Carlos Blat, que investiga suposto desvio de recursos da Bancoop, Vaccari é responsável por “gestão fraudulenta” da entidade e teria integrado suposta quadrilha para enriquecimento ilícito e prática de apropriação indébita de valores de cooperados, estelionato, lavagem de dinheiro e financiamento clandestino de campanhas eleitorais do PT.
Por meio de seu advogado, Pedro Dallari, a Bancoop negou irregularidades. Dallari disse ver “interesse eleitoral” na divulgação do caso às vésperas de possível instalação de uma CPI da Bancoop, requerida pelo PSDB na Assembleia paulista. O comando do PT suspeita que está diante de uma tentativa de atingir a ministra Dilma Rousseff, pré-candidata do partido à sucessão do presidente Lula.
”Este não é o momento de turbinar candidaturas”
O clima de campanha política antecipada e as seguidas acusações de utilização da máquina pública para captar votos levam o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Carlos Ayres Britto, a dar um recado – curto e direto – para quem só pensa nas eleições: “Este não é o momento de chefias de Executivo saírem a campo para turbinar candidaturas.” A dois meses de deixar a presidência do TSE, quando será substituído pelo ministro Ricardo Lewandowski, Britto avalia, em entrevista ao Estado, o processo eleitoral e a confusão que os políticos brasileiros fazem entre projeto de governo e projeto de poder.
Qual é o limite para um gestor público impulsionar uma candidatura?
À luz da legislação, este não é momento de se impulsionar candidatura. Não é o momento de o chefe do Poder Executivo apoiar explicitamente, turbinar ou elogiar explicitamente uma candidatura. A legislação não permite isso. A lei estabelece um prazo para propaganda (6 de julho). Não se pode fazer propagada. E se houver, é propaganda antecipada. Este não é o momento de chefias de Executivo saírem a campo para turbinar candidaturas.
O sr. fala de quem?
De quem detém o controle da máquina administrativa. Não se pode propagandear candidatura nesta fase. A base de inspiração da proibição de propaganda antecipada é uma só: não perturbar o funcionamento da máquina administrativa, não misturar a máquina com propaganda eleitoral, não confundir ação de governo com proselitismo eleitoral. Essa mistura é um elemento de perturbação no funcionamento da máquina de modo a, inevitavelmente, violar a princípio da impessoalidade. E, quando se viola o princípio da impessoalidade, que é constitucional, ficam desequilibradas as forças dos pré-candidatos.
Não pode haver propaganda para pré-candidato?
Pode, até porque nas pré-candidaturas o seu nome vai ganhando densidade e você vai se habilitando perante os convencionais do seu partido. É natural que se queira fixar uma imagem, divulgar ideias, porque você vai se cacifando para a eleição. A propaganda da pré-candidatura se dá no âmbito intrapartidário, não no extrapartidário.
PSDB dará a Serra mais palanques próprios do que PT terá para Dilma
O PSDB vai romper neste ano uma tradição do PT de lançar nas eleições estaduais mais candidatos a governador do que o adversário. Em 2010, serão os tucanos que terão mais palanques próprios nas disputas estaduais. A montagem desse tabuleiro eleitoral também mostra que a eleição do “nós contra eles” pregada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva na disputa federal não se dará na prática na maioria dos Estados.
As negociações ainda estão em andamento, mas as possibilidades de duelo direto entre candidatos a governador tucanos e petistas já podem ser medidas. Ele acontecerá, em pelo menos, dez Estados e no Distrito Federal, com o risco de não ocorrer nos maiores colégios eleitorais do País – São Paulo e Minas Gerais. Isso significa que, na maioria das unidades federativas, o caráter plebiscitário que o PT quer dar à eleição ficará restrito ao discurso de terceiros.
No cenário mais otimista, os petistas contarão, no máximo, com 13 nomes do partido para governador neste ano – apenas 9 estão confirmados por enquanto (AC, BA, DF, MS, PA, RS, SC, SE e RO). O PSDB tem representantes garantidos em 14 Estados (AC, AP, AL, ES, GO, MG, PA, PR, PI, RO, RR, SP, TO e CE), podendo chegar a 19. As duas legendas governam cinco Estados cada uma.
Dilma ensaia ”voo solo” em campanha
Convidada especial do governador Sérgio Cabral (PMDB) para a inauguração do Hospital da Mulher Heloneida Studart, na manhã de hoje, em São João de Meriti, na Baixada Fluminense, a pré-candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, começa a ensaiar para a “carreira solo” na política. A partir da primeira semana de abril, quando deixará o governo para entrar na disputa eleitoral, Dilma não terá mais a companhia quase diária do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o criador de sua candidatura. Também não participará de solenidades oficiais com governadores e prefeitos.
O hospital não recebeu recursos federais e só começará a atender o público dentro de três semanas, mas a inauguração foi agendada para coincidir com o Dia da Mulher, comemorado em 8 de março. Em fase de crescimento nas pesquisas eleitorais, Dilma tem se aproximado das intenções de voto do governador José Serra, provável candidato do PSDB, porém continua em desvantagem entre o eleitorado feminino. Sem Lula, a festa de hoje vai girar em torno da futura candidata petista, embora seja um compromisso institucional, com a presença de outros ministros.
No Sul, Serra visita festa ao lado de Yeda Crusius
Em clima de campanha, o governador de São Paulo, José Serra (PSDB), esteve ontem no Rio Grande do Sul, onde visitou a Festa da Uva de Caixas do Sul. Apesar de ser tratado como virtual presidenciável tucano, ele voltou a repetir que ainda não assumiu essa função. “Não vou falar nada de eleição porque minha visita é de governador, não é de campanha eleitoral. Não vou misturar as coisas.”
Ainda no aeroporto, Serra foi recebido por políticos e alguns militantes, que portavam bandeiras e gritavam: “Brasil pra frente, Serra presidente”. Já na festa, durante o passeio de pouco mais de uma hora, o tucano beijou crianças, acenou, tirou fotos e até distribuiu autógrafos. Ao final, num afago à população local, destacou que a Serra Gaúcha é “criativa e empreendedora”. “O que eu vi agora confirma essa convicção”, disse.
Ato pede aprovação imediata do Ficha Limpa
O Movimento de Combate à Corrupção Eleitoral Estadual São Paulo realiza amanhã um ato público em apoio ao projeto Ficha Limpa (PLP 518/09). O evento ocorrerá às 11h no auditório da Faculdade de Direito da USP, no Largo São Francisco. O objetivo é pressionar o Congresso Nacional a aprovar o projeto imediatamente para que passe a vigorar como lei já nas próximas eleições. O grupo tem até o dia 17 para apresentar o documento ao presidente do Congresso, Michel Temer, que deve encaminhá-lo para votação no plenário.
Filho de Sarney não declara conta que tem no exterior
Documentos enviados ao governo brasileiro por autoridades chinesas comprovam que o empresário Fernando Sarney, filho do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), mantém uma conta corrente no exterior não declarada à Receita Federal. A informação foi publicada na edição de hoje do jornal Folha de S.Paulo. A conta, operada pessoalmente pelo empresário, estaria em um paraíso fiscal, em nome de uma offshore sediada no Caribe.
No começo de 2008, Fernando Sarney teria usado esse canal para realizar uma transferência no valor de US$ 1 milhão a uma agência do banco HSBC em Qingdao, na China. A autorização da transação teria sido assinada pelo empresário. Fernando Sarney foi um dos alvos da operação Boi Barrica da Polícia Federal, que o indiciou lavagem de dinheiro, fraude e formação de quadrilha. Em meio às denúncias que resultaram da investigação, o empresário obteve liminar na Justiça impedindo o Estado de publicar informações da à operação. A imposição de censura ao jornal ocorreu em meio à pressão para que José Sarney renunciasse à presidência do Senado. O autor da decisão foi o desembargador Dácio Vieira, que é próximo à família Sarney. O jornal está sob censura desde 31 de julho.
Bolsa-Família ainda fica aquém da Previdência Rural
Ao contrário do que o governo costuma divulgar, o Bolsa-Família, apesar de ser uma importante ferramenta de combate à pobreza, não é o maior e mais importante programa de distribuição de renda do País. Os programas de transferência de renda garantidos pela Constituição de 1988 – como a Previdência Rural e o Benefício de Prestação Continuada (BPC-Loas) – têm um impacto mais significativo na redução da pobreza. O terceiro em impacto social é o Bolsa-Família.
Atualmente, 12,6% da população brasileira vive em situação de indigência (renda inferior a ¼ do salário mínimo) e outros 32% em situação de pobreza (renda menor do que meio salário mínimo). Levantamento do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) mostra que, se fosse retirado o Bolsa-Família dessa conta, a indigência saltaria para 13,9% e a pobreza para 33%.
Mas a situação fica muito pior quando o cálculo desconsidera não só o Bolsa-Família como também benefícios previdenciários e o BPC. Nesse caso, a indigência e a pobreza passariam a representar 23,4% e 43,7% da população brasileira, respectivamente. “Isso mostra que a Previdência Social e o BPC conseguem retirar uma parcela maior da população da indigência, permitindo uma mobilidade maior do que o Bolsa-Família”, afirmou a pesquisada do Ipea, Luciana Jaccoud.
Correio Braziliense
À custa do partido
Em 2 de abril, a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, vai deixar o governo para cair nos braços e nos bolsos da militância petista. Ela deixará a pasta que chefia e também o cargo de presidente do Conselho de Administração da Petrobras para se dedicar integralmente à disputa pela sucessão presidencial como candidata do PT. A partir daí caberá ao partido dar suporte, inclusive financeiro, a Dilma. No que diz respeito à estrutura física da campanha, as negociações estão adiantadas. A direção da legenda já decidiu onde ficarão o escritório político e o comitê central da ministra. A sigla também estuda a viabilidade de conceder uma espécie de ajuda de custo a Dilma, para que ela possa se manter sem os salários que recebe atualmente, já que abandonará os cargos que ocupa na estrutura do governo.
O PT ainda barganha os valores, mas escolheu o prédio que centralizará a campanha da ministra. Ele ficará na quadra 1 do Setor Comercial Sul, no coração de Brasília, bem próximo ao prédio que abriga o Diretório Nacional da legenda. Ficará logo atrás do Diretório, no edifício em que antes funcionava uma faculdade. A proximidade não é coincidência. Para se deslocar até os dirigentes petistas, Dilma não precisará sequer dar a volta ao prédio. As garagens dos dois edifícios são interligadas. Ela poderá fazer o trajeto sem ser incomodada pela imprensa.
Tucanaram a militância
Convencimento homem a homem. Essa será uma das táticas do PSDB para alavancar a candidatura do governador de São Paulo, José Serra, à Presidência da República. O partido decidiu que usará à exaustão o poder de convencimento de seus filiados em áreas e estados onde a campanha do tucano ainda não decolou. A sigla já iniciou o treinamento de filiados que estão sendo chamados de “multiplicadores”. A ação começou em estados da Região Nordeste e agora vai ganhar corpo Brasil afora.
Uma espécie de curso técnico de política foi ministrado para essas pessoas. A missão delas é, principalmente, afastar fantasmas que assombram o imaginário do eleitor, em plataformas que o PT desenvolve com mais sucesso que o PSDB. Caberá a esse grupo, por exemplo, apresentar argumentos que comprovem que o candidato dos tucanos não é contra o Bolsa Família, e mais: que trabalhará para ampliação do programa de transferência de renda. “Em 2006, nós não chegamos a alguns locais em que o Geraldo Alckmin (candidato do PSDB à Presidência na época) não tinha força. Desta vez vamos fazer campanha em todo lugar. Começamos em vários estados do Nordeste, e agora vamos fazer isso em grande escala”, explicou o presidente do partido, senador Sérgio Guerra (PE).
Hora de reforçar o próprio quintal
Depois de perder a semana passada num esforço para pular a fogueira acesa por setores do próprio PSDB e acabar com os boatos de que não seria candidato a presidente, o governador de São Paulo, José Serra, dedicará o resto deste mês ao fortalecimento de sua vantagem no próprio estado para a largada da campanha presidencial. Serra planeja deixar o governo entre 22 e 30 de março. Todo o esforço em viagens e agendas até essa data será no sentido de assegurar a liderança.
A intenção dos tucanos é conseguir, em outubro, uma frente acima de 5 milhões de votos sobre Dilma em território paulista. Eles fazem esse cálculo com base no resultado eleitoral do primeiro turno de 2006. Há quatro anos, Geraldo Alckmin (PSDB) obteve 11,9 milhões de votos em São Paulo. Lula ficou com 8 milhões. Agora, como Dilma não é Lula e não tem uma história política no estado, a expectativa do PSDB é ampliar essa distância sobre o PT na sucessão presidencial deste ano.
Na última sexta-feira, Serra desistiu de comparecer ao aniversário do senador Marconi Perillo (PSDB-GO), uma festa que pretendia reunir mais de mil pessoas. Tudo para não desmarcar a agenda de inaugurações previamente acertada em São Paulo. Foi para Botucatu entregar cinco viadutos da Rodovia Castello Branco (SP-280). Antes, passou por Avaré, para anunciar a ampliação do Programa Vila Dignidade — um projeto de construção de condomínios para idosos de baixa renda onde as casas foram projetadas com pisos antiderrapantes e rampas. Toda sexta-feira, ele percorre, pelo menos, dois municípios do estado em inaugurações e assinatura de convênios para a ampliação de projetos.
Dilma capricha no sotaque
A campanha petista à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva vai se empenhar em reforçar os laços da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, com Minas Gerais, seu estado de origem. E a estratégia passa até por intensificar seu sotaque regional, além de fazer uma agenda específica de visitas, seminários e palestras em cidades mineiras. A orientação foi passada pelo marqueteiro político João Santana, que aposta no estado como fiel da balança nas eleições de outubro. Há também uma preocupação com a radicalização do discurso do PT na campanha, que possa afastar investidores e jogá-los na campanha do PSDB.
Santana pediu à cúpula petista que promova uma agenda intensa para Dilma em abril e maio, período considerado limbo eleitoral — não se trata ainda oficialmente de campanha nem de um momento que ela pode explorar a exposição do governo. A direção do partido prepara essa agenda exatamente em Minas e em São Paulo.
A intenção é ocupar um espaço aberto com a indefinição do PSDB. O provável candidato tucano ao Palácio do Planalto, o governador de São Paulo, José Serra, também colocou Minas como prioridade. Tanto que convidou em reunião privada na semana passada o governador Aécio Neves para ser seu vice. Os petistas consideram que o eleitorado mineiro, o segundo maior do país, rejeita a tese de ficar a reboque da política paulista. Por isso a ordem, ao apresentar a mineira Dilma, é colocá-lo como protagonista. A ministra terá ajuda até do vice-presidente José Alencar nessa imersão em sua terra de origem.
PV entra dividido na campanha
A estratégia do Partido Verde em lançar nomes para os governos estaduais e, assim, fortalecer a campanha da senadora Marina Silva (AC) à Presidência tem gerado desgaste entre membros da legenda. A direção nacional do partido conta com pelo menos seis candidatos próprios nas disputas regionais, mas o cenário de alianças políticas em determinados estados provocou rusgas entre os políticos.
Na Bahia, a pré-candidatura do deputado federal Luiz Bassuma ao governo do estado não agradou ao ministro da Cultura Juca Ferreira, também natural do estado, que defende o apoio à candidatura do governador Jaques Wagner (PT). Alguns membros da executiva do partido, em reunião nesta semana, chegaram a sugerir a saída de Juca do partido. O vice-presidente do PV, Alfredo Sirkis, se encarregou de aliviar os ânimos e dissuadir os colegas da ideia. Ao fim, foi feito um pedido para que o titular da Cultura se licencie da função para se dedicar à campanha de Marina. O ministro, no entanto, pretende ficar no cargo até o fim do mandato do presidente Lula e defende o apoio à candidatura da ministra Dilma Rousseff ao Palácio do Planalto — Juca participou, inclusive, do lançamento da pré-candidatura da ministra no Congresso do PT, no mês passado.
“A Bahia é importante para o Nordeste, é o quarto colégio eleitoral do Brasil”, afirma Bassuma, nome escolhido pelo partido para disputar o governo do estado. Para o parlamentar, ter candidaturas regionais competitivas será fundamental para dar maior espaço para a campanha de Marina. A Bahia, entretanto, não foi o único estado que motivou desgaste entre os dirigentes. Em Minas Gerais, a candidatura do deputado federal José Fernando ao Palácio da Liberdade não era unânime entre os membros do diretório regional do partido, próximo ao PSDB e ao governador Aécio Neves.
O Globo
Uma bancada com contas a acertar na Justiça
A sete meses das eleições, mais da metade dos deputados estaduais do Rio deve explicações à Justiça. Dos 70 parlamentares da Assembleia Legislativa (Alerj), a maioria com intenção de concorrer à reeleição ou ao Senado, 37 respondem a processos que tramitam nas esferas estadual, federal ou eleitoral da Justiça, além de serem investigados pelo Tribunal de Contas do Estado (TCE) e da União (TCU). O levantamento foi feito pela ONG Transparência Brasil no segundo semestre do ano passado e atualizado pelo Globo nas duas últimas semanas.
Os Tribunais Regionais Eleitorais (TREs) tentaram impedir a candidatura de pessoas com problemas na Justiça, mas nem o Congresso nem o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) aprovaram a medida. Com isso, só não pode disputar eleições aquele político que tiver sido condenado em última instância. Mas o TSE decidiu que, já neste ano, vai divulgar as fichas corridas de quem tem contas a prestar ao Judiciário.
“Estamos sendo atropelados pelos fatos” (entrevista – Jarbas Vasconcelos)
Um dos poucos integrantes do PMDB que resistiram a aderir ao governo Lula, o senador Jarbas Vasconcelos (PE), aliado de primeira hora do PSDB e do governador José Serra, está preocupado e desesperançado com o futuro da oposição, caso persista a demora do grupo para anunciar que o tucano paulista é o adversário da petista Dilma Rousseff na eleição presidencial.
“O prazo acabou. Estamos sendo atropelados pelos fatos. O crescimento da Dilma surpreendeu a eles e a nós. Essa é a verdade. Não faz mal dizer que estamos debilitados e desarticulados”, disse Jarbas ao Globo, na quarta-feira, poucas horas depois de Serra passar por Brasília e não fazer o esperado gesto de anunciar sua candidatura.
O senador diz que o PSDB devia estar com seu candidato na rua. E vê outro problema na estratégia da oposição; vincular uma eventual vitória de Serra à dobradinha com o tucano Aécio Neves. “Se Aécio recusa, ficará a impressão de que Serra só ganha se for com Aécio. Mas os fatos mudaram, e Aécio poderia mudar também”, diz.
O Globo: Há uma ansiedade generalizada na oposição. Qual o prazo para Serra se declarar candidato?
Jarbas Vasconcelos: O prazo de Serra acabou. Estamos sendo atropelados pelos fatos. O crescimento de Dilma surpreendeu a eles e a nós. É a verdade, não faz mal dizer que estamos debilitados e desarticulados. Isso não são fatores que irão incapacitar uma vitória daqui a sete meses. Havia uma inércia que se justificava até o final do ano. Mas se Dilma teve esse crescimento, é preciso repensar. Ela cresceu mais do que a gente esperava. Se Lula e os dirigentes nacionais do PT se surpreenderam, por que a gente não pode se surpreender? E quem se surpreende tem de tomar uma ação.
Núcleo petista decide cada passo de Dilma
Muito antes de o PT oficializar a pré-candidatura à Presidência da ministra Dilma Rousseff, um grupo de petistas já se reunia semanalmente para decidir cada passo da candidata. Esse núcleo se encontra às quartas-feiras, desde meados do último semestre, geralmente com a presença de Dilma, para tratar de diversos assuntos: de ações de comunicação a encontros com aliados e até brigas regionais entre partidos governistas.
Esse núcleo é integrado pelo presidente nacional do PT, José Eduardo Dutra; o ex-prefeito de Belo Horizonte e amigo da ministra Fernando Pimentel; o deputado Antônio Palocci (PT-SP), ex-ministro da Fazenda; e o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho. Ao seleto grupo se soma o marqueteiro João Santana, que tem ajudado a ministra no treinamento dos discursos e na elaboração de um perfil menos sisudo.
No PSDB, campanha ainda está sendo estruturada
No Palácio dos Bandeirantes, sede do governo de São Paulo, a ordem é manter o silêncio sobre as estratégias e a equipe que comandará a campanha do governador José Serra (PSDB) à Presidência. Mas líderes do PSDB, até numa tentativa de pressionar Serra a anunciar logo sua candidatura, já confirmam nomes que deverão estar à frente da campanha.
Tucanos do comando do partido admitem, porém, que o PSDB ainda está muito longe de montar estrutura tão grande como a já preparada pelo PT para a candidatura da ministra Dilma Rousseff. Presidente nacional do PSDB, o senador Sérgio Guerra (PE) é um dos que estarão na articulação, ao lado do deputado Jutahy Magalhães (BA) e de Andrea Matarazzo, este hoje um dos mais próximos do governador. Também muito influentes junto a Serra, o secretário Aloysio Nunes Ferreira e o vice Alberto Goldmann terão papel importante, mas ainda não definido.
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