FOLHA DE S.PAULO
Teste em Minas liga Lula a corrupção; petistas reagem
A oposição ao governo de Antonio Anastasia (PSDB), liderada pelo PT, reagiu a uma prova aplicada a estudantes pela Secretaria de Educação de Minas que relaciona o ex-presidente Lula a corrupção. Em fevereiro, alunos do primeiro ano do ensino médio fizeram um teste de história em que uma das questões exibia uma charge adulterada de autoria cartunista Jean, publicada na Folha em novembro de 2007.
A prova questiona o que a imagem quer dizer. A opção certa, pelo gabarito, é a que fala que a charge sugere a “relação entre movimentos sindicais do início da década de 1980 e o mensalão, refletindo sobre o processo histórico que levou os mesmos personagens de uma luta pela valorização do trabalhador à corrupção política”.
A imagem usada pelo governo mineiro, porém, é diferente da versão original. Na Folha, o título é “CPMF”, e Lula dá “favores” e “cargos” a políticos. Na prova, o título é “Operação Abafa”, e Lula distribui dinheiro. Jean disse que sua charge foi tirada de contexto. O teste é parte de um exame que avalia o nível de conhecimento dos alunos da rede estadual. Os estudantes têm cerca de 15 anos.
Os petistas reclamaram que outra questão aborda pontos positivos das privatizações do governo Fernando Henrique Cardoso. A Secretaria de Educação lamentou as questões e as chamou de “inadequadas”. Em nota, a oposição mineira reclamou do uso de dinheiro público para “luta partidária” e diz que a prova visa “impor uma versão unilateral, improvável, sobre determinados fatos”.
Secretaria diz que “lamenta” o uso da imagem no teste
A Secretaria de Educação de Minas afirmou, por nota, que “lamenta profundamente” a inclusão da charge. Segundo a pasta, “o conteúdo foi abordado de forma absolutamente inadequada”. O governo diz que as questões contradizem o guia de elaboração de provas, que determina evitar “abordagens de pregação religiosa ou ideológica”.
A secretaria confirmou “falsificação” da charge de Jean e considerou “grave” a manutenção da assinatura do chargista. A pasta disse que vai apurar a alteração e que o professor que fez a questão disse ter achado o desenho num site.
Novo relatório do mensalão propõe investigação no BB
O relatório final da Polícia Federal sobre a origem do dinheiro do mensalão aponta total descontrole nos gastos do Banco do Brasil com publicidade e propõe que um inquérito apure o “incrível poder discricionário” dos diretores do banco para indicar empresas que são “agraciadas com recursos públicos”. O relatório confirma que recursos repassados pelo BB foram uma das principais fontes do mensalão, um esquema montado para compra de apoio político no Congresso que foi revelado pela Folha em 2005, no primeiro mandato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Assinado pelo delegado Luís Zampronha, o relatório afirma que o desvio de recursos do BB para o esquema “somente seria possível com a participação ativa de membros da instituição financeira”. A Folha teve acesso à íntegra do relatório da PF. O documento apresenta as conclusões de um inquérito aberto em 2007, após a apresentação da denúncia que deu origem ao processo do mensalão no Supremo Tribunal Federal.
Instituição nega que seus recursos tenham sido usados em esquema
O Banco do Brasil disse que “refuta a ilação” feita no relatório da PF de que recursos da instituição foram usados no mensalão. Sobre os pontos acerca da área de marketing do banco e da utilização dos recursos do Fundo Visanet, afirmou que só comentaria, “se necessário, aos órgãos competentes”.
Segundo o banco, o fundo não era administrado pelo BB e tinha natureza privada. O ex-diretor de marketing Renato Naegele não foi localizado. Em nota em 2005, ele negou irregularidades. O BMG disse que os empréstimos ao PT e às empresas de Marcos Valério obedeceram às práticas bancárias.
PF pede a Ministério Público varredura em conta do PT
A Polícia Federal pediu à Procuradoria-Geral da República que vasculhe a conta bancária do PT e identifique pessoas que receberam parte do dinheiro do mensalão. O relatório final do inquérito sobre a origem dos recursos do esquema afirma que continuam desconhecidos os beneficiários de 59 pagamentos, em um total de R$ 2,3 milhões (valores da época).
As retiradas foram feitas entre fevereiro e julho de 2003 da conta que o PT nacional tem na agência do Banco do Brasil, na avenida São João, em São Paulo. A maior delas foi de R$ 500 mil por meio de um cheque compensado. Houve outras quatro compensações de cheques acima de R$ 100 mil.
Partido diz não ter recebido pedido para justificar contas
O presidente interino do PT, Rui Falcão, afirmou ontem que a legenda não recebeu nenhum pedido formal para apresentar a contabilidade da Executiva Nacional nem os repasses feitos da conta do partido em 2003 com o dinheiro dos empréstimos dos bancos Rural e BMG. Eloi Pietá, secretário-geral da Executiva Nacional, disse que o partido não comenta o relatório da Polícia Federal sobre a origem do dinheiro do mensalão por se tratar de um documento sigiloso.
O ex-procurador-geral da República Antonio Fernando de Souza disse que não se recordava em detalhes de todos os encaminhamentos no caso. Lembrou, contudo, haver tratado da contabilidade de diferentes partidos políticos e não apenas do PT. A Procuradoria-Geral da República, por meio da assessoria de imprensa, esclareceu que o procurador Roberto Gurgel ainda analisa o relatório policial. Informou ainda que o relatório não vai constar do processo principal do mensalão para não atrasar as investigações.
Presidente da Câmara leva seu filho e Romário a viagem oficial
O presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), vai aproveitar uma viagem oficial à Espanha para assistir ao clássico espanhol entre Barcelona e Real Madri. Ele levará na viagem seu filho de 13 anos e o ex-jogador e deputado Romário (PSB-RJ). A viagem, revelada ontem pelo Blog do Noblat, acontecerá entre 14 e 17 deste mês. O jogo será no dia 16. Segundo Maia, outros compromissos já estavam agendados.
Ele afirma que vai arcar com todas as despesas de seu filho e diz que esse é o jeito que tem para ficar com ele. Diz também que pagará os ingressos para o jogo e as diárias do final de semana. Romário, que atuou no Barcelona, se convidou para integrar a comitiva. Questionado sobre sua ida, já que temas prioritários ao ex-jogador, como esporte e inclusão de pessoas com deficiência, não são pauta da viagem, Maia disse: “Ele é um deputado como outro qualquer”. A assessoria de Romário não ligou de volta para falar sobre a viagem.
Carona em avião presidencial foi um “equívoco”, afirma ministério
O GSI (Gabinete de Segurança Institucional) admitiu ontem que houve “equívoco” na carona dada a uma amiga do piloto do avião que levou a presidente Dilma Rousseff a Natal, no Carnaval. O comandante do avião, coronel Geraldo Corrêa de Lyra Júnior, deixou que a professora Amanda Patriarca fosse incluída no voo, tanto na ida quanto na volta.
O GSI defendeu, no entanto, que não houve quebra nas normas de segurança do avião presidencial. “Todos os passageiros do voo em questão foram previamente identificados e submetidos aos procedimentos usuais de segurança”, informou o gabinete, em nota. O caso foi divulgado pelo jornal “O Estado S. Paulo”. A professora, de acordo o jornal, é irmã de uma comissária que faz parte da equipe do avião presidencial.
Entidade critica Lula e elogia Dilma no trato com a mídia
As tensões entre governo e mídia que marcaram os anos Lula foram atenuadas com a nova administração Dilma, graças às diferenças de estilo dos dois ao lidar com os meios de comunicação. Essa é avaliação de um informe da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP na sigla em espanhol), apresentado ontem em reunião em San Diego (EUA). “Ao contrário do ex-presidente Lula, que com frequência fazia comentários que revelavam sua irritação com a atuação de meios de comunicação independentes, a atual governante não é dada a pronunciamentos polêmicos”, diz o informe sobre o Brasil.
“E, desde seu primeiro discurso como presidente eleita, fez questão de afirmar seu compromisso com o respeito à liberdade de imprensa.” O texto foi lido pelo vice-presidente da SIP no Brasil, Paulo de Tarso Nogueira, também representante do Comitê de Liberdade de Expressão da Associação Nacional dos Jornais e consultor de “O Estado de S. Paulo”.
Ele pediu cautela, já que Dilma tomou posse em janeiro. Também lembrou a censura que sua publicação enfrenta desde 2009, imposta pela Justiça, sobre gravações de supostas irregularidades praticadas pelo empresário Fernando Sarney. O relatório também elogia a saída de Franklin Martins da Secretaria de Comunicação Social, dizendo que ele “politizava a comunicação oficial”.
Deputados apoiam redução, mas exigem garantias de pagamento
A proposta do governo de reduzir o valor das emendas parlamentares tem o apoio de deputados desde que exista algum tipo de garantia formal de que a verba será realmente paga. Eles pedem, ainda, a criação de um mecanismo que desburocratize a liberação de emendas de até R$ 500 mil.
Como a Folha revelou ontem, a proposta é que o limite para as emendas que podem ser incluídas no Orçamento caia dos atuais R$ 13 milhões para algo entre R$ 6 milhões e R$ 8 milhões. Outro impasse é o que será feito com restos a pagar de 2007, 2008 e 2009 que ainda não foram liberados. Uma das opções é pagar os valores referentes às obras que já começaram. Um dos objetivos do governo com a medida é justamente eliminar, até o fim do mandato da presidente Dilma Rousseff, a prática de postergar a execução das despesas.
Governo dobra imposto de crédito pessoal
O ministro da Fazenda, Guido Mantega, anunciou ontem que vai dobrar o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) na concessão de crédito para pessoas físicas com prazo igual ou superior a um ano. O objetivo da medida, segundo o governo, é conter a inflação. Hoje, o consumidor paga 1,5% sobre o valor do financiamento e, com a mudança, vai pagar 3%. De acordo com o ministro Guido Mantega, o total de empréstimos pessoais no Brasil está em torno de R$ 700 bilhões ao ano.
A medida começa a vigorar hoje e atinge todas as operações de crédito pessoal. Entre elas, compras feitas no crediário, empréstimos pessoais, crédito consignado (com desconto direto no salário), rotativo do cartão de crédito e parcelamento para compra de automóveis. Na avaliação da Fazenda, a inflação está ligada ao aumento dos preços de matérias-primas no exterior. Contribuem também, na avaliação do governo, aumentos de preços de alimentos, afetados pelo prolongamento do período de chuvas.
Ministro se confunde sobre medida
Na entrevista de ontem, o ministro Guido Mantega disse que o IOF de 3% seria cobrado a cada mês e que a medida valeria para empréstimos imobiliários. Mais tarde, a Fazenda divulgou nota de esclarecimento. E esclareceu que os empréstimos imobiliários estão isentos, e que a alíquota máxima para um ano ou mais seria de 3%. O IOF incide sobre o valor do financiamento.
O ESTADO DE S. PAULO
Stédile admite que Bolsa Família ajudou a reduzir acampamentos
Ao avaliar que 2010 foi o pior ano para a reforma agrária, o coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile, apontou o programa federal Bolsa Família como um dos fatores que levaram à redução do número de acampamentos de sem terra no País. “É verdade, o Bolsa Família ajudou a acomodar as pessoas em algumas regiões”, afirmou ele nesta quinta-feira, 7, em entrevista coletiva, no Recife. Segundo ele, nos governos de Fernando Henrique Cardoso e de Lula, a média anual de ocupações era de 280. Nos oito anos do governo Lula havia 200 mil famílias acampadas no País. Atualmente, são 80 mil – 60 mil delas do MST.
Na sua avaliação, à acomodação promovida pelo Bolsa Família, se aliou a lentidão no processo da reforma agrária nos últimos anos, desestimulando o agricultor, além do fato de 2010 ter sido ano eleitoral, quando a sociedade discute eleição. “Há uma situação de psicologia social, se as pessoas começam a se dar conta que a reforma está mais lenta, se perguntam: porque ocupar, se vai demorar?”, observou Stédile, referindo-se à facilidade de fazer acampamento depois que o ex-presidente Lula prometeu fazer reforma agrária com uma canetada. Como nada foi feito, veio o desânimo.
Ao citar que em Pernambuco, por exemplo, não foi feito um só assentamento de terra no ano passado, ele questionou a existência do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra), que “não funcionou nem em Pernambuco nem no Brasil”.
Oposição a Anastasia acusa governo mineiro de usar exame escolar para atacar Lula
Partidos do bloco de oposição ao governador de Minas, Antonio Anastasia (PSDB), na Assembleia Legislativa do Estado e parlamentares que apoiam o governo da presidente Dilma Rousseff no Congresso organizaram um protesto e pedem explicações ao Executivo mineiro sobre uma prova aplicada a alunos da rede estadual de ensino. Em uma das questões de uma prova do Programa de Avaliação da Aprendizagem Escolar (PAAE), o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva é retratado em charge entregando dinheiro a políticos.
Os estudantes deveriam interpretar o desenho e escolher uma das quatro possíveis respostas da questão. A correta, pelo gabarito do exame, seria a letra D, segundo a qual o desenho sugere, ironicamente, uma relação entre os movimentos sindicais do início da década de 1980 e o mensalão, refletindo sobre o processo histórico que levou os mesmos personagens de uma luta pela valorização do trabalhador à corrupção política.
O líder da minoria na Assembleia mineira, deputado Antônio Júlio (PMDB), classificou o exame como uma forma de agressão, sem precedentes na história, de um presidente do nosso País. Ele ressaltou que outras questões também tinham direcionamento político para beneficiar o PSDB.
O parlamentar deu como exemplo outra questão que falava sobre as privatizações promovidas durante o governo do ex-presidente tucano Fernando Henrique Cardoso. Deram nossas empresas de graça, mas a resposta correta na prova era que as privatizações reduziram o déficit público para permitir ao governo direcionar recursos para áreas sociais, observou.
Apesar de críticas, Senado decide trocar frota de 86 veículos
Depois de várias desistências provocadas pela previsão de que a medida será criticada pelos contribuintes, o Senado vai mesmo trocar a frota de 86 veículos utilizados pelos parlamentares. A decisão foi adotada nesta quinta-feira, 7, na reunião da Mesa Diretora. O primeiro-secretário, senador Cícero Lucena (PSDB-PB), afirma que estão sendo examinadas duas alternativas: adquirir novos veículos em substituição aos Fiat Marea com média de oito anos de uso ou optar por um contrato de locação.
A medida atende a boa parte de senadores, incomodados com os problemas de oficina dos carros que usam. O Senado tem ao todo 188 veículos, entre os quais estão os 86 dos senadores, além de ônibus e microônibus utilizados no transportes de funcionários e convidados, vans para o transporte de integração até os estacionamentos, caminhões para transporte do mobiliário, ambulâncias, veículos leves e médios.
Lucena afirma que o alvo é reduzir o custo da Casa na área de transportes, hoje de R$ 17 milhões ao ano incluindo pessoal e demais despesas. O primeiro-secretário acredita que a substituição dos veículos reduzirá gastos com combustível, peças e manutenção da mão de obra. Qualquer que seja a decisão, a troca será feita mediante leilão eletrônico. Lucena avalia que o valor dos veículos em uso deve girar em torno de R$ 14 mil a R$ 15 mil.
‘Missão de Romário e Maia inclui jogo europeu
Com um dos grandes ídolos do Barcelona na década de 90 ao seu lado, o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), assistirá ao maior clássico do futebol espanhol na próxima semana na capital Madri. As passagens aéreas serão pagas pela Casa. Entre um programa e outro da agenda oficial que cumprirá naquele país europeu de 14 a 17 deste mês, Marco Maia atendeu à sugestão do deputado Romário (PSB-RJ) para comparecer ao Fla-Flu espanhol, ou seja, o disputado jogo dos adversários históricos, Real Madrid x Barcelona.
A viagem tem caráter oficial. Além do ex-jogador Romário, ídolo do Barcelona, Maia levará o filho único, Vinicius, 13 anos, o primeiro secretário da Câmara, Eduardo Gomes (PSDB-TO), e dois assessores. “A viagem dele (Vinícius) será paga por mim. A estadia e as despesas dele serão pagas por mim”, afirmou Maia, após confirmar a agenda, revelada pelo jornalista Ricardo Noblat em seu blog nesta terça-feira.
Maia tentou rechaçar a interpretação de que estaria se aproveitando de uma viagem oficial para fazer turismo. “Temos essa agenda marcada há muito tempo. Se eu estiver lá, vou ao jogo. Poderia ser uma peça de teatro, visitar um museu. É final de semana. Tem algum crime nisso?”, questionou ele. “Não tenho nenhum interesse de fazer viagem de turismo. Recebemos convites na Câmara o tempo todo.”
Câmara poderá investigar trabalho escravo
Foi protocolado nesta quinta-feira, 7, na Câmara dos Deputados requerimento para a criação de uma CPI para investigar a questão do trabalho escravo no País. Além do deputado Claudio Puty (PT-PA), autor da iniciativa, outros 183 parlamentares assinaram o documento. O pedido ocorre uma semana após o presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB), d. Dimas Lara Barbosa, ter visitado o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), justamente para pedir-lhe que seja colocada em votação a PEC 438/2001, que trata exatamente deste tema. Segundo aquela proposta de emenda constitucional, toda propriedade na qual for constatada a exploração de trabalho escravo deverá ser expropriada.
A PEC tramita desde 2004 e não existe nenhuma perspectiva de ir a votação a curto prazo. Ela é barrada sobretudo pela bancada ruralista, que contesta o conceito de trabalho escravo contido na emenda. Por enquanto é difícil avaliar se a CPI proposta pelo deputado Puty irá adiante. Em entrevista ao Estado, ele disse que a comissão pode ser uma oportunidade para chamar a atenção da sociedade brasileira para o tema e também debater os diferentes pontos de vista que o envolvem, especialmente a definição do que é trabalho análogo ao trabalho escravo.
Serra e Aécio divergem sobre reforma política
Um dia depois de ter discursado como líder da oposição no Congresso, o senador Aécio Neves (MG) divergiu da proposta do ex-governador José Serra (SP) de que o PSDB deve se concentrar em apenas um ponto da reforma: o voto distrital puro para as eleições de 2012. Aécio está confiante em que o partido tem condições de fechar um consenso em torno de mais pontos da reforma, como a adoção do voto distrital misto e o fim das coligações proporcionais.
“Vamos eleger três ou quatro temas que podem unir o partido na reforma política. Passaremos a defender como bandeiras do PSDB”, propôs Aécio, durante seminário do PSDB sobre reforma política. Serra não ouviu as sugestões de Aécio: foi embora do encontro de tucanos antes do início da fala do mineiro.
Durante o seminário, Serra defendeu o lançamento de uma grande campanha para a aprovação no Congresso do voto distrital puro para as eleições municipais de 2012. De autoria do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), o projeto prevê a instituição do voto distrital para os vereadores já nas eleições do ano que vem para as cidades com mais de 200 mil eleitores. “O voto distrital para o município está ao nosso alcance. Podemos fazer uma campanha, uma cartilha para reforçar o projeto”, disse Serra.
Serristas querem rodízio no comando do PSDB
Na tentativa de recuperar espaço dentro do PSDB, aliados do ex-governador José Serra querem propor um rodízio na presidência do partido. A renovação do comando está marcada para o dia 28 de maio e, hoje, a tendência é reeleger o deputado Sérgio Guerra (PE). O grupo liderado por Serra está, no entanto, inconformado e insiste em implantar a rotatividade na presidência: um ano, ficaria nas mãos de aliados do senador Aécio Neves (MG) e, no ano seguinte, com um representante dos serristas.
O grupo de Serra resolveu investir na proposta de rodízio depois das articulações fracassadas para colocá-lo no comando do conselho político do partido. A criação do conselho foi anunciada no fim da semana passada numa reunião dos oito governadores do PSDB, em Belo Horizonte. Serra não gostou, porém, do formato idealizado, que deverá contar com 14 integrantes e ter no comando o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em conversas reservadas, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, teria sugerido um rodízio na presidência do conselho. Mas, na reunião de sábado, Alckmin não apresentou nenhuma sugestão nesse sentido. Pela proposta aprovada pelos oito governadores, o conselho será um “órgão de assessoramento” e não vai disputar espaço com a direção partidária. Insatisfeitos com esse formato, os serristas avaliam que o conselho “morreu”, uma vez que a instância deverá ter efetivamente pouco poder de ação.
Kassab elogia Aécio ao lançar PSD em Minas
O prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, lançou nesta quinta-feira, 7, em Minas Gerais, o Partido Social Democrático (PSD), com apoio declarado ao governador tucano Antonio Anastasia e elogios ao senador Aécio Neves (PSDB-MG). Kassab, porém, não quis adiantar se a nova legenda apoiará a reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014 ou defenderá uma possível candidatura de Aécio, cotado como um dos principais nomes da oposição.
O prefeito paulistano participou do evento oficial para a criação da legenda em Minas na noite desta quinta, na Assembleia Legislativa do Estado, ao lado de parlamentares que já declararam a intenção de aderir ao partido: os deputados federais Geraldo Tadheu (PPS), Walter Tosta (PMN) e Alexandre Silveira (PPS) e os deputados estaduais Fábio Cherem (PSL), Neider Moreira (PPS) e Hélio Gomes (PSC). Em MG, o PSD será coordenador pelo empresário Paulo Safady Simão.
“A grande maioria dos integrantes do partido caminhou com Anastasia que, ao lado de Aécio Neves, fez nos últimos anos um trabalho extraordinário de recuperação do Estado. Com competência, bons quadros, serviço público”, declarou Kassab. “É evidente que o partido aqui, até pela história dos seus quadros, está pronto para continuar contribuindo com o trabalho de Anastasia”, disse. Mas, perguntado se isso significava apoio à candidatura do ex-governador mineiro em 2014, o prefeito preferiu não se posicionar. Disse que o importante é “que o partido dê independência aos seus membros”.
Vida do delator do ‘mensalão do DEM’ está em perigo
O ex-secretário de Relações Institucionais do Distrito Federal (DF) Durval Barbosa, delator do esquema de corrupção desmantelado pela operação Caixa de Pandora, corre risco iminente de morte. Os desafetos são muitos e alguns planos de assassinato foram detectados por setores de inteligência policial.
Para complicar a situação, o governo do DF devolveu à União a responsabilidade pela integridade do réu, mas a Polícia Federal (PF) recusa, alegando que Durval, indisciplinado, viola as regras de segurança, se expõe indo a eventos sociais e se recusa a aceitar os termos rígidos do Programa de Proteção de Testemunhas.
O problema, para o Ministério Público, é que se ficar um só dia sem proteção, Durval é um homem morto. Para pôr fim ao impasse, o relator do inquérito da Caixa de Pandora no Superior Tribunal de Justiça (STJ), o ministro Arnaldo Esteves Lima, intimou o diretor-geral da PF, Leandro Daiello Coimbra, a assumir a responsabilidade “pela proteção, a segurança e a vida” de Durval.
O GLOBO
Em Minas, teste de História ‘reprova’ Lula e ‘aprova’ FH
Duas questões polêmicas de múltipla escolha em provas de História da Secretaria de Estado de Educação de Minas Gerais deixaram a oposição em pé de guerra com o governo de Antonio Anastasia (PSDB). Uma das perguntas de um teste de História aplicado no início deste ano aos alunos do 1º ano do ensino médio, dentro do Programa de Avaliação de Aprendizagem Escolar em Minas, pede aos estudantes que respondam a uma pergunta depois de analisarem uma charge em que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva aparece repassando dinheiro a parlamentares. Na mesma prova, outra questão apresenta uma defesa do processo de privatização conduzido no país pelo então presidente Fernando Henrique Cardoso. Depois da divulgação do episódio, ontem, a secretária estadual de Educação, Ana Lúcia Gazzola, classificou as questões como inadequadas e determinou a suspensão do programa de avaliação.
Segundo a secretaria, 310.190 estudantes estão matriculados no 1º ano do ensino médio em Minas, mas ainda não é possível saber quantos fizeram a prova. Isso porque testes com outras questões também teriam sido aplicados. A questão com a análise da charge de Lula apresenta quatro possibilidades de resposta. A que melhor se encaixa como solução para a questão diz que a ilustração “sugere, ironicamente, uma relação entre os movimentos sindicais da década de 1980, e o mensalão, refletindo sobre o processo histórico que levou os mesmos personagens de uma luta pela valorização do trabalhador à corrupção política”. O ex-presidente começou a vida política como sindicalista.
Em outra questão da mesma prova, os estudantes são provocados a responder quais os impactos da privatização de empresas estatais durante o governo FH, depois de lerem trecho de um texto crítico ao processo escrito por Aloysio Biondi e publicado pela Editora Fundação Perseu Abramo, ligada ao PT. Mais uma vez há quatro possibilidades de resposta. A opção correta diz que o processo de privatização “reduziu o déficit público, permitindo que o Estado direcionasse seus investimentos prioritariamente para as áreas sociais”.
Governo admite ‘equívoco’ em voo de Dilma
O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência admitiu ontem que “houve um equívoco” no procedimento que permitiu o embarque de uma pessoa estranha à comitiva da presidente Dilma Rousseff nos voos de ida e volta entre Brasília e Natal, no carnaval. Mas, segundo o GSI, a presença da professora de educação física Amanda Corrêa Patriarca no avião presidencial não quebrou as normas de segurança. A passageira, que é irmã da comissária de bordo Angélica Patriarca, foi identificada e submetida “aos procedimentos usuais de segurança”, segundo o GSI.
A presença da professora nos voos de Dilma foi revelada ontem pelo jornal “O Estado de S. Paulo”. Segundo a reportagem, o comandante do voo, coronel-aviador Geraldo Corrêa de Lyra Júnior, teria autorizado a carona, mas a presidente não saberia da presença da professora em sua comitiva. Dilma passou o carnaval descansando no Centro de Lançamentos da Barreira do Inferno, base da Aeronáutica, a 13 quilômetros de Natal.
A professora ficou hospedada no mesmo hotel que a tripulação do voo e teria pagado pela cama extra colocada no quarto que ocupou. Ela disse ao jornal que o comandante é amigo de sua família e, por isso, autorizou sua viagem no Airbus presidencial, mas que só recebeu o sinal verde na véspera do embarque, no fim da tarde de 4 de março. Na viagem, a professora usou uma mala do Grupo de Transporte Especial (GTE), que é utilizada pela comitiva presidencial, para não chamar a atenção. Na volta, a bagagem teria sido propositalmente etiquetada para o gabinete de Dilma, de forma a revelar a carona.
Ambientalistas também vão às ruas contra mudança no Código Florestal
Ambientalistas e agricultores ligados ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) e à Federação Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf) fizeram uma marcha ontem na Esplanada dos Ministérios, em protesto contra a proposta de reforma do Código Florestal, do deputado Aldo Rebelo (PCdoB-SP). A ideia era mostrar que não só ambientalistas, mas agricultores também estão preocupados com o suposto afrouxamento das regras de proteção ambiental, previsto na reforma.
O protesto reuniu cerca de mil pessoas. Anteontem, os ruralistas levaram 15 mil à Esplanada, em defesa da proposta de Rebelo. – Para fazer mudança no Código Florestal, é preciso dialogar com a sociedade. Não pode ser feita por pressão de um único grupo. Essa é uma questão que diz respeito a toda a sociedade porque não envolve só a agricultura. Estamos falando de vida, do planeta, de alimentos de qualidade e sem agrotóxicos – disse Elisângela Araújo, coordenadora-geral da Fetraf.
Ao longo do protesto, uma comissão de manifestantes teve uma reunião com a ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira. Ela informou ao grupo que, na próxima terça-feira, o ministro-chefe da Casa Civil, Antonio Palocci, se reunirá com outros ministros para definir uma posição do governo sobre a reforma do Código Florestal. Ambientalistas e agricultores acham que a reunião de ministros é um bom indicativo.
Comissão aprova ‘cotão’ de 50% para mulheres
Em seu último dia de votações, a Comissão de Reforma Política do Senado aprovou ontem a criação de um “cotão” para mulheres nas listas de candidatos dos partidos nas eleições proporcionais (deputados federais, estaduais e vereadores): elas passarão a ter 50% das vagas. Os nomes de homens e mulheres devem ser postos de forma alternada na lista fechada de candidatos dos partidos – sistema eleitoral já aprovado na comissão, no qual o eleitor votará nas legendas e não mais nos candidatos. Isso caso as duas propostas sejam definitivamente aprovadas pelo Congresso.
Os partidos serão obrigados a cumprir a regra sob pena de não terem a lista registrada. Hoje, a lei eleitoral estabelece que os partidos devem destinar pelo menos 30% de suas candidaturas às mulheres, mas esse percentual nem sempre é cumprido, já que não há qualquer penalidade no caso de descumprimento. A ideia do “cotão” foi apresentada pela senadora Ana Rita (PT-ES). Apesar de a maioria dos senadores ressaltar que será difícil os partidos obterem esse número de candidatas para viabilizar as listas, a proposta foi aprovada com facilidade, com apenas dois votos contrários.
Também foi aprovada ontem a realização de referendo sobre o sistema eleitoral que será aplicado nas próximas eleições. Pela proposta atual, o referendo seria sobre o voto em lista fechada.
Jarbas defende Ulysses
O senador Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE), do chamado PMDB histórico, subiu à tribuna do Senado, ontem, para repudiar trechos da biografia autorizada do presidente da Casa, José Sarney (PMDB-AP), em que ele faz críticas ao ex-presidente do partido Ulysses Guimarães. Jarbas classificou como comportamento reprovável agredir alguém que não pode se defender. Ulysses morreu em 1992. A biografia de Sarney foi lançada mês passado. O senador pernambucano destacou, para repudiar com veemência, o trecho do livro de Sarney em que ele afirma: “Ulysses não tem grandeza de espírito público, político menor que tem o gosto da arte política, puro jogo, nada mais”.
– Um dos comportamentos humanos mais reprováveis é o de agredir ou atacar quem não pode se defender. Isso foi o que o presidente José Sarney fez contra o doutor Ulysses Guimarães na sua biografia autorizada, que lançou recentemente – discursou Jarbas, acusando Sarney de denegrir a imagem de um dos homens mais importantes do século XX, numa referência à liderança de Ulysses no movimento político de redemocratização do país, quando ficou conhecido como Senhor Diretas, e também como condutor da Assembleia Nacional Constituinte, que elaborou a Constituição Federal de 1988.
O senador pernambucano ainda ironizou Sarney, que não estava no plenário. – Como agora vivemos numa democracia, para a qual o doutor Ulysses contribuiu como poucos, o presidente Sarney tem a liberdade de mandar escrever a sua biografia e tecer todas as loas que puder à sua trajetória. Ele pode ser transformado num democrata revolucionário e no maior líder político da História do Brasil. É para isso que servem as chamadas “biografias autorizadas”: para criar uma realidade alternativa ao gosto do freguês – discursou Jarbas.
Serra diverge de Aécio e critica foco em 2014
A falta de sintonia entre o ex-governador José Serra (SP) e o senador Aécio Neves (MG), os dois principais líderes do PSDB, sobre a reforma política ficou clara ontem durante seminário realizado pela Executiva do partido para discutir o assunto. Também ficou evidente que o discurso de estreia de Aécio, anteontem, incomodou tanto aliados da presidente Dilma Rousseff como tucanos ligados a Serra. Reservadamente, alguns classificaram como “aberração” a interpretação de que Aécio sai fortalecido rumo a 2014. Serra criticou a antecipação do debate sobre a sucessão presidencial três meses depois da posse do novo governo.
Perguntado se isso o havia incomodado, Serra alertou sobre o risco para a oposição de se antecipar esse debate: – Por que me incomodaria? Acho um erro, uma falsa questão fazer tudo pela ótica de 2014. Por aí não se faz mais oposição, não se faz mais trabalho político.
No debate sobre reforma, Serra propôs que o partido se concentre no voto distrital puro para 2012 e distrital misto para as próximas eleições. Disse não acreditar que o Congresso aprove outros pontos. Quando Serra havia deixado o plenário,Aécio discursou e pediu apoio do PSDB a quatro pontos da reforma: fim das coligações em eleições proporcionais, cláusula de barreira, fidelidade partidária e fim da reeleição com mandato de cinco anos.
Tragédia reconduz a desarmamento
O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo , revelou ontem que o governo vai iniciar este ano uma nova campanha pelo desarmamento no Brasil. A declaração foi dada após o massacre de alunos da Escola Municipal Tasso da Silveira, em Realengo. Em fevereiro, durante o lançamento do relatório Mapa da violência, o ministro disse que o desarmamento da população era uma das prioridades do seu ministério.
Acho que temos uma cruzada pela frente. O Ministério da Justiça lançará uma campanha pelo desarmamento. Temos de lutar muito fortemente contra essa cultura do armamento, contra essa cultura que faz com que pessoas, muitas vezes fora de suas faculdade mentais, cometam esse tipo de atrocidade afirmou Cardozo, após um evento na Paraíba.
De acordo com o ministro, os índices de violência caem no momento em que as campanhas de desarmamento ocorrem no Brasil. Ele comentou o que aconteceu no Rio de Janeiro: Não é mais necessário que crianças e pessoas morram dessa forma tão triste para que nós possamos aprender. É um momento muito triste. Todos nós, brasileiros, temos de nos solidarizar com essas famílias, com o povo do Rio de Janeiro disse Cardozo.
MST ataca loteamento do Incra
Um dos mais radicais coordenadores do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), João Pedro Stédile disse ontem que o número de acampados à espera da reforma agrária diminuiu no país por causa do Bolsa Família e cobrou da presidente Dilma Rousseff que, diferentemente do que fez o governo Lula, segundo ele, evite o loteamento político do Incra: – Ela devia fazer como se faz no Banco Central, para o qual só se indicam técnicos. É disso que o Incra está precisando, mas todos os superintendentes regionais ainda são os mesmos do governo anterior – reclamou o líder do MST.
No primeiro ano da gestão Lula, segundo Stédile, o MST tinha 200 mil famílias acampadas, e agora, no começo do governo Dilma, tem cerca de 60 mil em todo o país. Para ele, o Bolsa Família é um dos entraves para o recrutamento de militantes para ocupar propriedades rurais, mas disse também que os sem-terra cansaram de esperar por uma reforma agrária que jamais se concretiza.
Em PE, nenhuma família assentada em 2010
Denunciada pela Comissão Pastoral da Terra (CPT), a redução de 44% do número de famílias assentadas pelo Incra no país em 2010 foi ainda maior em Pernambuco. No estado, historicamente marcado por lutas campesinas, há 17 mil famílias acampadas, ou cerca de 85 mil pessoas, segundo o próprio Incra. Já os 17 movimentos sociais que ocupam terras em Pernambuco dizem que são 20 mil famílias.
De acordo com a CPT e o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), em 2010 nenhuma família foi assentada em Pernambuco e nenhuma fazenda, desapropriada. O GLOBO encontrou assentamentos com cinco anos de implantação, onde os ex-sem-terra moram em casebres de taipa sem água, deixam de comer para comprar sementes ou trabalham em outras atividades para não passarem fome. Um dos assentados não lembrava a última vez em que conseguiu fazer três refeições diárias.
Os assentados culpam o excesso de morosidade e a burocracia do Incra pelas dificuldades. Já o instituto se defende e diz que, em 2010, a fazenda Santa Rosa foi desapropriada e 432 famílias, assentadas em Pernambuco. Mas os movimentos sociais afirmam que o assentamento não saiu do papel. O GLOBO constatou que novos assentados ocuparam terras abandonadas pelos destinatários originais, na chamada recomposição de lote, procedimento previsto nas leis agrárias.
‘O que a gente precisa é de trabalho’ Entrevista com assentada fundiária
Marilena Ferreira, de 44 anos, dedicou dez anos de sua vida à luta por um pedaço de terra, dividindo acampamentos com 299 famílias no Engenho Prado, região canavieira de Pernambuco. A ocupação foi marcada por conflitos. Das 300 famílias, só 153 foram assentadas. Algumas sobrevivem com o Bolsa Família, mas Marilena se recusa a receber esse auxílio, que chama de migalha. Para ela, benefícios como esse não dignificam o homem do campo, a quem, em sua opinião, o governo “deve dar condições de trabalhar e não esmola”.
Por que a senhora diz que essa não é a reforma agrária que sonhou?MARILENA FERREIRA: Porque não é mesmo. Quando a gente fala em reforma agrária, pensa em fartura. Mas o que a gente vê é outra coisa: “faltura”. Falta tudo: crédito, habitação, casa digna, escola, posto de saúde, água, estrada. Se a gente tivesse incentivo, como os usineiros, a coisa seria muito diferente. Quase ninguém teve financiamento por aqui, mesmo assim está plantando. Somos nós que garantimos a feira do município vizinho com nossos produtos. Acho que os assentados podem ser considerados heróis por isso.
Geralmente, as pessoas em dificuldade elogiam e até disputam o dinheiro do Bolsa Família. Por que a senhora o recusa?
O Bolsa Família é um cala-boca que o governo arranjou para acomodar o povo da cidade e do campo. Em vez de dar auxílio de dinheiro, o governo deveria nos dar incentivo para trabalhar. Disso tenho certeza. Se não deixassem os assentados ao deus-dará, sairíamos da “faltura” para a fartura. Infelizmente, o povo do campo é muito esquecido. Mas nós somos fortes o suficiente para nos juntarmos e irmos à rua. Ninguém tem que se intimidar porque recebe cesta básica ou outra ajuda do governo. A meu ver, Bolsa Família é uma vergonha. O que a gente precisa é de condições para trabalhar, porque o trabalhador do campo gosta mesmo é de viver do suor do seu rosto.
Por que a senhora acha que os ex-sem terra são esquecidos?
Você pode reparar: até a ciência aqui é voltada para o agronegócio. Nós temos tido muitos prejuízos com a macaxeira (aipim). Não sei se devido a algum fungo ou a problemas no solo. A macaxeira fica imprópria para o consumo, sem valor no comércio. Fomos a uma unidade de pesquisa no vizinho município de Carpina, da Universidade Federal Rural de Pernambuco. Os pesquisadores disseram que só trabalham com cana.
Apesar das dificuldades, a senhora está vivendo do seu lote e se recusa a receber de programas sociais como o Bolsa Família. O que falta para a tão sonhada fartura?
É o pequeno que produz mais de 80% da mandioca e 70% do feijão do Brasil, mas o governo não se lembra disso, e aqui, na Zona da Mata, está até incentivando os assentados a plantar cana, que só dá dinheiro para o usineiro. O Engenho Prado, onde estamos, é rico em água, mas essa água a gente não pode usar porque ficou em terras da usina. Se pudesse, ia aumentar a nossa renda, criando camarão e peixe. Aqui, de fato, falta água até para beber. Esse modelo de reforma agrária tem que ser reformulado, porque o que está aí não serve para nós nem vai fazer bem ao país.
ANTT adia licitação do trem-bala por 90 dias
O diretor-geral da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), Bernardo Figueiredo, acaba de anunciar o adiamento, por 90 dias, do leilão do trem-bala que interligará Rio, São Paulo e Campinas. A medida era esperada diante da solicitação de vários grupos interessados – especialmente as empresas que detêm a tecnologia do Trem de Alta Velocidade (TAV) – na disputa do empreendimento, orçado em R$ 33 bilhões.
É a segunda vez que o governo adia o leilão, que ocorreria inicialmente no dia 16 de dezembro. A nota data era 29 de abril, mas a documentação dos concorrentes deveria ser entregue já na próxima segunda-feira. Segundo Figueiredo, o governo não fará modificações no modelo de concessão, mas poderá alterar alguns termos do edital do leilão, como por exemplo em relação à tributação de importações relacionadas à obra.
Venezuela: racionamento após apagão em 18 estados
A Venezuela decretou racionamento de três horas na noite desta quinta-feira depois que um apagão provocado por um incêndio afetou 18 dos 24 estados do país, forçando a paralisação da refinaria El Palito, do metrô de Caracas e do serviço de trem. O incidente trouxe de volta os temores de que sejam aplicadas medidas de racionamento de energia, como as executadas em 2010 em meio a uma aguda crise energética.
O ministro de Energia Elétrica, Alí Rodríguez, disse à noite que era necessário fazer “o racionamento este noite entre as 19h e 22h em todos os estados do país”. Mais tarde, a estatal Corpoelec, que administra todo o sistema elétrico do país, explicou que Caracas não está incluída no plano de cortes.
A falha elétrica ocorreu quando uma das principais linhas de transmissão, de quase 800 KV de capacidade, saiu de funcionamento, impactando várias plantas. O apagão representa uma nova dor de cabeça para o presidente Hugo Chávez, meses depois de ter sua popularidade afetada pelo racionamento de energia.
CORREIO BRAZILIENSE
Clássico que cabe na agenda
Uma viagem oficial da Câmara dos Deputados servirá para que o presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT-RS), e o deputado federal Romário (PSB-RJ) marquem presença no clássico espanhol entre Barcelona e Real Madrid, no próximo dia 16. Acompanhados pelo primeiro-secretário da Casa, Eduardo Gomes (PSDB-TO), o filho e assessores de Maia, a comitiva viajará à capital espanhola, Madri, sob pretexto de conhecer sistemas de energia eólica e encontrar parlamentares espanhóis. O prato principal da excursão, no entanto, é mesmo o clássico de futebol.
A viagem oficial de Maia, Romário, Gomes e companhia terá início na próxima quinta-feira, dia 14. A partida será no sábado. Somente no dia de retorno da comitiva, no domingo, os deputados cumprirão a principal agenda do tour, um encontro com o presidente do parlamento espanhol, José Bono Martinez. A viagem será integralmente custeada pela Câmara à exceção da passagem e da hospedagem do filho de Maia. Segundo o presidente da Câmara, o fato de a viagem ter sido marcada justamente para a data do jogo entre Barcelona e Real Madrid foi uma coincidência.
Ele garante só ter tomado conhecimento do calendário pelo deputado Romário a partida válida pelo campeonato espanhol foi agendada em meados do ano passado. O presidente da Câmara ainda pediu aos jornalistas que não tratassem o tema com malícia, mas não conseguiu justificar o porquê da ida de Romário, que não ocupa cargos na Mesa Diretora da Câmara, à Espanha.
Críticos do novo código
Trabalhadores do campo, entidades ambientais, pastorais e de defesa da agricultura familiar reuniram cerca de mil pessoas ontem na Esplanada dos Ministérios para cobrar o adiamento da votação do Código Florestal na Câmara. Os manifestantes entregaram documento ao presidente da Casa, Marco Maia (PT-RS), subscrito por 39 entidades, com pedidos para que os parlamentares esperassem o resultado do diálogo no governo federal para votar as mudanças na legislação.
Os principais pontos contestados pelos manifestantes dizem respeito à redução das áreas de proteção às margens de rios, lagos, encostas e topos de morro, e à incorporação de Áreas de Proteção Permanente (APPs) ao cálculo das reservas legais parcela mínima que cada produtor tem de manter intacta dentro da propriedade. O movimento entende que o relatório final do novo código, elaborado por Aldo Rebelo (PCdoB-SP), contribui para o aumento de desastres ambientais.
DEM cobra a fatura
O DEM decidiu investir contra a debandada de parlamentares e quadros do partido para o PSD. Se antes a frase de ordem da legenda era de que resistiria à diáspora, agora a sigla corre para encontrar brechas judiciais que permitam a cobrança dos mandatos na Justiça. O primeiro alvo da ofensiva é o prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab, timoneiro da criação do PSD. O partido acredita ter encontrado um meio de cobrar a prefeitura paulistana do político, que teria mandato até dezembro do ano que vem.
Em tese, todos os parlamentares em vias de desembarcar do DEM estariam protegidos pela legislação eleitoral, já que a mudança tem como destino um novo partido, o PSD. A brecha encontrada pelo Democratas para cobrar a saída de Kassab foi um suposto tropeço do político: o registro do site do PSD com o CNPJ do diretório paulista do DEM. O líder do partido na Câmara, ACM Neto (DEM-BA), entrou com representação acusando o correligionário de usar estrutura partidária da legenda para dar guarida à pretensão política de criação de um novo partido. Pelo regimento interno do DEM, a atitude colocaria o prefeito de São Paulo que ainda não se desligou oficialmente da sigla , sob risco de expulsão.
Uma vez expulso, seria possível a cobrança do mandato na Justiça. Na medida em que ele utiliza o CNPJ do DEM para registrar sites, fica claro que ele rompeu com a orientação partidária e o estatuto do DEM. A atitude é passível de expulsão, diz ACM Neto. O líder do DEM na Câmara anunciou ainda que outras contestações judiciais virão contra quem seguir o destino do prefeito. Isso é a primeira reação de uma série, no campo jurídico, que iremos promover para blindar o DEM, prometeu.
Troca da frota confirmada
O primeiro-secretário do Senado, Cícero Lucena (PSDB-PB), confirmou ontem que a Casa vai trocar a frota de carros oficiais que servem os 81 parlamentares. De acordo com Lucena, o Senado gasta R$ 17 milhões por ano para manter os carros rodando. Parlamentares têm reclamado do estado de conservação dos carros oficiais. A frota é composta por modelos Fiat Marea ano 2001. Os carros estão consumindo mais combustível, gastando mais peças, tendo custo elevado de mão de obra para a manutenção. Quando você tem carro novo, tem vários modelos que dão quatro, cinco anos de garantia, dão manutenção. Não acredito que seja papel do Senado ter uma grande oficina.
O primeiro-secretário afirmou que a Casa estuda a possibilidade de renovar a frota por meio de sistema de aluguel de carros. O modelo Toyota Corolla é o mais cotado. Os veículos antigos serão leiloados. Lucena também anunciou a substituição dos celulares funcionais dos senadores por Iphones 4, como noticiou o Correio na quarta-feira. O primeiro-secretário pontuou que os aparelhos não representarão custo para a Casa, pois serão entregues graças a acordo contratual com uma empresa de telefonia.
Lista fechada opõe tucanos e petistas
Na guerra contra o PT para evitar a aprovação da lista fechada nas eleições proporcionais, o PSDB se movimenta a fim de aprovar no Congresso a convocação de um referendo e derrubar a intenção do governo em alterar o sistema eleitoral. Os tucanos apostam que a população rejeitará o modelo de voto com lista de postulantes definida pelos partidos, pois o brasileiro teria preferência em votar em candidatos e não em legendas, e o formato defendido pela base governista resultaria em uma eleição sem povo.
Na última reunião da Comissão de Reforma Política do Senado, o PSDB conseguiu avançar na intenção. Por 12 x 5, os parlamentares aprovaram a convocação de referendo para que os eleitores decidam se o sistema eleitoral deve ficar como está ou passar por mudanças. Assim, apesar de o PT ter aprovado dispositivo que determina a instituição das listas fechadas no texto da reforma, caberá à população dar a palavra final. As decisões da comissão ainda dependem de aprovação na Comissão de Constituição e Justiça e no plenário do Senado e da Câmara. Os deputados, aliás, discutem paralelamente outra proposta de reforma política.
Na tentativa de enfrentar a pressão dos petistas que lutam pelo sistema de listas fechadas e pelo financiamento público de campanha o PSDB decidiu se unir para que pontos da reforma tornem-se bandeiras do partido. Ontem, os tucanos promoveram seminário para debater a posição da legenda sobre os temas em discussão no Congresso. O presidente da sigla, deputado Sérgio Guerra (PE), afirmou que após o fim das discussões na Comissão de Reforma Política o PSDB promoverá reunião da executiva para discutir pontos de consenso.
Para frear o consumo, governo dobra imposto de empréstimos
A disparada da inflação medida no primeiro trimestre do ano 6,31% nos últimos 12 meses superou todas as expectativas do governo e levou o ministro da Fazenda, Guido Mantega, a anunciar ontem, no início da noite, um novo arrocho no crédito aos consumidores. A alíquota de Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) cobrada nos financiamentos à pessoa física foi dobrada para 3% ao ano e vale para o crédito direto ao consumidor, consignado e o rotativo, dos cartões. A medida só não vale para os financiamentos imobiliários.
Segundo o ministro, a medida é uma tentativa de moderar o crescimento da oferta de crédito e, dessa forma, evitar mais pressões sobre os preços na economia. Estamos moderando o aumento de crédito ao consumidor que, neste início de ano, está crescendo em torno de 20%. É uma velocidade um pouco elevada. Vamos evitar a alta exagerada da demanda para que isso não influencie a inflação, afirmou. Para o ministro, o ideal é que a taxa de avanço dos financiamentos fique entre 12% e 15% no ano. Estamos tomando a medida para que a inflação não fuja do controle. O governo não vai perder o controle da inflação no Brasil, ressaltou.
Para o economista Alexandre Andrade, da consultoria Tendências, a nova alíquota terá um impacto direto no consumo. Vai ter uma contração imediata, porque vai bater nos spreads bancários (diferença entre as taxas pagas pelo banco na captação de recursos e cobradas para fazer empréstimos) e nas taxas ao consumidor, afirmou. Para ele, a medida é resultado da resistência do governo em elevar os juros básicos (Selic), saída mais eficaz, em sua análise, para conter a escalada inflacionária.
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