Não há assunto proibido com Feliciano, diz presidente da frente evangélica
Congresso em Foco – Como o senhor avalia as manifestações contrárias ao deputado Pastor Marco Feliciano?
João Campos – Eu acho lamentável. Para mim, essas manifestações iniciais de ativistas e de parte da bancada do PT traduzem um certo preconceito, uma certa intolerância com os religiosos do país. Agora, é bom que a gente entenda que a Casa e a Comissão representa isso também. Isso é a cara do Brasil. É um país plural, o Brasil traz na sua origem toda uma miscigenação de índios, negros, holandeses, daí por diante. E exatamente por causa dessa forma que foi constituída não é um país preconceituoso, não é um povo discriminatório. É um povo que sabe conviver com as diferenças.
Lamentavelmente, os ativistas estão, em função da luta deles, tentando carimbar a sociedade brasileira como uma sociedade intolerante, como uma sociedade preconceituosa, mas não vão conseguir. Evidentemente você tem situações de preconceito, mas não é uma característica da sociedade brasileira e muito menos de um segmento evangélico.
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Então para o senhor, os movimentos contrários ao deputado tentam impor um pensamento único?
Eles estão utilizando isso para impor a posição deles, o pensamento deles e daí por diante. Veja, nesse período de 16 anos que a comissão existe, ela sempre foi presidida pelo pessoal da esquerda com posições muito diversas das nossas. Nós soubemos tolerar, quando foi preciso. Nós fizemos o contraditório, o debate. Nunca assumimos postura de intolerância. Por que agora, quando um deputado tido como conservador assume a comissão, tem que ter essa reação toda dos ativistas? Ora, isso foge ao espírito democrático. Não é razoável. A manifestação por si só é democrática, mas o que a gente verificou desde a eleição até a data mais recente não foram manifestações. Foram atitudes desrespeitosas, com palavras ofensivas. Quando o deputado Marco Feliciano tentava presidir a CDH, eles gritavam para abafar-lhe a voz. Ora, isso não é razoável. Não é próprio da democracia.
Eu acho que esses excessos estão transformando o Marco Feliciano em uma vítima. Acho que na ausência de argumentos consistentes eles tentaram usar essa tese [da religião], porque estão misturando política com religião. O Estado é laico. Nenhum dos projetos e requerimentos aprovados na comissão depois que o Marco Feliciano assumiu trata de dogmas religiosos. Nenhum. Então me parece que há a falta de argumento para confundir a opinião pública e aí lançam essas teses. Então, nós estamos fazendo aqui política. Estamos fazendo nossa atuação parlamentar, só isso.
Mas a presença de Feliciano à frente da CDH não pode inviabilizar a discussão e votação de propostas polêmicas, como o casamento gay ou a adoção de crianças por casais homossexuais?
Exatamente o contrário. Nesses 16 anos que a comissão foi sempre dirigida pelo pessoal de esquerda e pelo PT, vários assuntos da conveniência deles não foram para a pauta. Exatamente o contrário. Nesse tempo não houve nenhuma ação da comissão em relação a ciganos, por exemplo.
O Marco Feliciano é a garantia que nós temos de que a comissão agora não vai levar temas para a gaveta. Ele vai ter uma postura de magistrado em que o tema que se identifica com ele vai para a pauta. O tema que não se identifica com ele também irá para a pauta. Ele não será um presidente gazeteiro. Isso me parece que é um ganho para a Casa e para a sociedade.
Eu tenho dito que nesses 16 anos que a comissão foi como um gueto da esquerda, um monopólio da esquerda, pois discutiu-se direitos humanos em uma perspectiva apenas ideológica. Quando você faz a discussão apenas ideológica significa que ela ficou muito limitada. Agora não. Nós faremos, sob a presidência de Marcos Feliciano, uma discussão de direitos humanos e de minorias em todas as suas facetas, em todas as suas vertentes.
A gente precisa entender que a discussão acerca do casamento gay, do aborto, de adoção de criança por homossexuais, eutanásia e temas correlatos, nós fazemos essa discussão não é do ponto de vista dogmático. Essa discussão, quem a acompanha da nossa parte, sabe que trazemos argumentos de ordem jurídica, de ordem antropológica, de ordem científica e, se a esses argumentos nós agregarmos argumentos de ordem teológica, religiosa, não há mal nenhum nisso. Desde que sejam argumentos que agregam valor à discussão. Só que os setores diversos, que na falta de argumentos, tentam nos carimbar de que fazemos um debate religioso. Não fazemos um debate religioso. Temos consciência do nosso papel aqui.
Mas o senhor concorda com a conduta do deputado? Com as declarações polêmicas que ele fez?
Naquela que se refere ao racismo, eu acho uma impropriedade pegar aquelas expressões para dizer que ele é racista. Eu discordo dele do ponto de vista da exposição teológica que ele fez. Na exposição teológica, ele diz que os africanos são amaldiçoados levando em conta uma tese teológica, mas no final ele diz que Cristo veio e quebrou a maldição – e isso é verdade. Mas, na minha concepção teológica, dizer que o povo africano está amaldiçoado, aí não. Agora, pegar essa expressão e dizer que ele é racista não tem nenhum cabimento. Olha, eu diria que o Marco Feliciano é racista se ele não aceitasse negros na igreja dele, que ele evitasse frequentar uma comunidade negra. Nós não temos nenhuma notícia nesse sentido. Ao contrário, temos notícia dele ser muito respeitoso com pessoas de qualquer cor. Então não tem cabimento. Eu acho que há uma discordância entre nós, e não só o Marco Feliciano, nós a comunidade evangélica e os ativistas em relação a conceitos. Por exemplo, nós somos contra o casamento gay e eles são a favor. Isso é opinião, é conceito. Não tem que brigar por isso. Não é porque eu sou contra que eu desrespeito os homossexuais. Inclusive, eu só não tenho voto entre os ativistas, mas entre homossexuais não-ativistas eu tenho muito voto porque sabem da minha atuação. Nesses pontos há uma divergência entre nós, mas uma divergência de conceitos. Como os ativistas e o PT não quiseram colocar isso na mesa para mostrar que esse é o pano de fundo, então eles o carimbam de racista, mas isso não tem razão de ser.
Como essa declaração sobre a morte de John Lennon que foi feita em outro tempo, em outro contexto. É claro que, com a maturidade que ele adquiriu, ele jamais falaria aquilo hoje em dia. Mas não dá para você sair buscando expressões que ele falou ao longo da vida, em outros contextos e trazer para esse contexto de agora e dizer que ele é inviável, que não tem juízo.
Há um ganho político calculado nesta postura do deputado? Ele pode ser o parlamentar mais votado no ano que vem, como se diz por aí?
O Marco Feliciano, na minha avaliação, vai ter uma votação ainda maior do que obteve na eleição anterior. Mas por mais que voto para o político seja melhor, é bom lembrar que o Marco Feliciano já veio com uma votação muito expressiva. Esse fato todo vai ampliar a votação dele e possivelmente ele tá levando isso também em consideração. Mas há um outro lado. O Jean Wyllys (Psol-RJ), que veio para cá com uma sobra de votos e a gente respeita porque o mandato é igual, depois dessa polêmica toda virá para cá com uma votação expressiva. Ele também está ganhando com tudo isso. Acho que nesse jogo o Jean está ganhando muito mais que o Feliciano.
Esta polêmica toda em torno do deputado fortalece a bancada evangélica?
Eu acho que essa situação toda que foi criada é de certa forma, um reconhecimento de que a frente parlamentar evangélica é articulada do ponto de vista político, organizada, que age com consequência política. Acho que é exatamente por isso que os ativistas e setores do PT reagiram. E essa reação significa o reconhecimento da nossa atuação. É positivo para nós. Agora, nós não buscamos isso. Eles é que provocaram. Quem sabe que com uma outra intenção, mas esse acabou sendo o resultado de terminar tornando cada vez mais conhecido da sociedade que a frente parlamentar evangélica se sente responsável por contribuir com o debate político e com as políticas públicas do país.
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