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No mais aguardado confronto desde o início da maior crise que atinge o atual governo, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) reiterou as acusações contra o deputado José Dirceu (PT-SP) e envolveu, pela primeira vez, o nome do presidente Luiz Inácio Lula da Silva em uma de suas denúncias. Jefferson acusou o ex-ministro da Casa Civil de ter autorizado dois emissários – um do PT e outro do PTB – a viajarem até Lisboa, em janeiro, para negociar uma ajuda financeira para os dois partidos. A viagem teria ocorrido um mês após Dirceu ter supostamente aproximado Lula de diretores da Portugal Telecom. “No fim de 2004, o ministro Dirceu tratou da aproximação da Portugal Telecom com Lula. Ele ordenou que PTB e PT mandassem emissários a Portugal. Eles viajaram nos dias 24, 25 e 26 de janeiro deste ano e a CPI vai checar”, disse o petebista. “O objetivo era negociar com o grupo um acordo que pusesse em dia as contas dos dois partidos”, completou. Leia também Dirceu reagiu, classificando como irresponsável a nova denúncia, que, como ele mesmo admitiu, envolveria o presidente da República. “Isso é muito grave. O deputado joga uma acusação no ar e eu fico acusado? Olhe a responsabilidade! Isso pode afetar os investimentos no país! E ainda dizer que levei ao presidente? Não é verdade, o senhor está mentindo!”, protestou. O ex-chefe da Casa Civil pediu ao Conselho de Ética a apuração da denúncia e cobrou de Jefferson a apresentação dos nomes dos supostos representantes do PT e do PTB enviados a Portugal. “O senhor sabe que eles foram. O senhor sabe a identidade deles. Eu sei e tenho como provar”, retrucou o presidente licenciado do PTB. À noite, o Palácio do Planalto e o Grupo Portugal Telecom divulgaram notas refutando a declaração de Jefferson. De acordo com a Secretaria de Imprensa da Presidência, Lula teve dois encontros com dirigentes da companhia portuguesa, em 2003 e 2004, mas em nenhum momento tratou de questões partidárias com os empresários. As audiências teriam sido destinadas ao anúncio de novos investimentos portugueses no país. Na saída do segundo depoimento prestado à Procuradoria-Geral da República, o publicitário Marcos Valério confirmou ter ido a Portugal com o tesoureiro do PTB, Emerson Palmieri, mas negou que a viagem tivesse objetivo de arrecadar dinheiro para os dois partidos. Valério disse que foi a Lisboa atrás de negócio para suas agências, já que a Portugal Telecom estava prestes a controlar a Telemig Celular, para a qual suas empresas trabalhavam. “Ele (Palmieri) estava muito estressado e resolveu me acompanhar. Palmieri é meu amigo pessoal”, disse o publicitário. Jefferson também citou o nome do presidente Lula ao reafirmar que Dirceu seria responsável por um esquema de corrupção na estatal Furnas Centrais Elétricas. A denúncia é alvo de uma sindicância e já custou o cargo de parte da diretoria da empresa. "Vossa Excelência falseia a verdade no episódio de Furnas. O assunto foi tratado no gabinete do presidente Lula entre mim, Vossa Excelência, o ministro Walfrido (Mares Guia, do Turismo) e o presidente Lula ouvindo", disse o petebista ao se referir a uma negociação de cargos para a estatal. O embate entre os dois durou pouco mais de 50 minutos e foi marcado por ironias, troca de acusações e inversão de papéis. Investigado pelo Conselho de Ética, o presidente do PTB foi ao ataque, reafirmando todas as denúncias que já havia feito contra o ex-ministro. Na condição de testemunha, Dirceu repeliu as declarações do ex-aliado de que seria o coordenador do suposto esquema de pagamento de mesada do PT a parlamentares aliados e negou ter conhecimento dos empréstimos feitos pelo partido junto a Valério. “Não organizei, não sou chefe, jamais permitiria a compra de votos de deputados. Se existe mensalão, a CPI encarregada do assunto irá investigar. Eu irei depor lá”, afirmou. |
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