A edição da revista Veja que chega às bancas neste final de semana, traz de volta um personagem do mensalão que andava distante dos holofotes: a empresária de eventos Jeany Mary Corner. Segundo a reportagem, Jeany tem espalhado, nos últimos meses, que ela e suas “recepcionistas” teriam testemunhado e até auxiliado a prática de atos de corrupção. Mas, em vez de denunciá-los, a empresária teria vendido o seu silêncio.
A matéria relata que a empresária, por meio de seus assessores e advogados, teria assediado autoridades para negociar a sua discrição. Jeany teria colocado assessores em contato com um interlocutor de Ademirson Silva, assessor especial do ministro da Fazenda, Antonio Palocci, e com Juscelino Dourado, ex-chefe-de-gabinete. Na ocasião, Jeany também teria abordado Rogério Buratti, ex-secretário de Palocci em Ribeirão Preto.
Em novembro, um dos advogados de Jeany, Ismar Marcílio de Freitas Júnior, solicitou uma audiência com o ministro da Justiça, Marcio Thomaz Bastos, usando a ajuda de um amigo, o promotor paulista Ruy Pires Galvão. Quem teria recebido o advogado seria o chefe-de-gabinete, Cláudio Demczuk Alencar. Segundo a revista, o Ministério da Justiça confirmou a audiência com um advogado da empresária e seu amigo promotor.
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Ouvidos pela reportagem, o advogado Freitas Júnior e o promotor Ruy Galvão contaram que Jeany sabe de fatos gravíssimos.
Além de fornecer as recepcionistas que animavam as festas de uma mansão no Lago Sul de Brasília, alugada por ex-auxiliares de Palocci, Jeany teria ajudado a pagar, em 2003, uma espécie de mensalão de R$ 50 mil a políticos na capital federal. A manobra seria operada por Rogério Buratti. Oito deputados teriam recebido o dinheiro.
Para ajudar Buratti a operar o esquema, Jeany o teria apresentado aos doleiros de Brasília Fayed Antoine Traboulsi e Chico Gordo e teria permitido que sua própria casa fosse usada para a divisão do dinheiro. Os valores seriam divididos pelas recepcionistas de Jeany, seguindo instruções deixadas por escrito por Buratti.
Algumas garotas de Jeany rodavam Brasília de carro entregando os envelopes. O motorista seria Francisco, que trabalhou com Buratti. Em 2003, a operação teria se repetido cinco vezes.
A reportagem diz que Jeany teria recebido R$ 50 mil para manter a discrição. O dinheiro teria sido entregue por Feres Sabino, ex-secretário de Negócios Jurídicos da prefeitura de Ribeirão Preto. Sabino negou ter sido o emissário, embora admita conhecer os advogados de Jeany.
Rogério Buratti negou ter distribuído um mensalão. “Se ela andou distribuindo dinheiro por Brasília, certamente não foi das minhas mãos que ele saiu. Sei que a Jeany tinha muitos clientes grandes, empreiteiras inclusive. Talvez ela esteja contando o milagre, mas trocando o nome do santo.”
A Veja, Jeany admitiu a negociação de seu silêncio. “Fiquei no anonimato esse tempo todo. Fui muito digna. Diferentemente de outros que abriram a boca. Por isso, pedi ajuda. Isso é chantagem?”.
Para o senador Demostenes Torres, do PFL goiano, é chantagem, sim. “Já ouvi de duas fontes diferentes que ela, realmente, tentou extorquir o ministro Palocci. Resta saber se o pagamento foi concluído”, disse o senador.
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