Eduardo Militão e Mário Coelho
Os parlamentares entraram em recesso esta semana e terão tempo para sentir, com mais precisão, os efeitos dos sucessivos escândalos na imagem do Congresso. Deputados e senadores terão oportunidade de conferir se as pessoas pessoas nas ruas têm em relação ao legislativo o mesmo estado de ânimo demonstrado no mundo virtual.
Desde o início das revelações surgidas nos meios de comunicação no primeiro semestre, blogs, sites e redes de relacionamento se transformaram em armas para protestos virtuais e reais contra os parlamentares envolvidos em irregularidades. Mesmo com o recesso, tudo indica que a pressão sobre os congressistas vai continuar.
O meio mais notório é o twitter, uma rede social e servidor para microblogging que conta com 5 milhões de usuários brasileiros, de acordo com recente pesquisa divulgada pelo instituto Ibope Nielsen Online.
O presidente do Senado, José Sarney, ocupa lugar de destaque nas mobilizações pelo twitter. O perfil “Fora, Sarney” tinha, até sexta-feira (17), 6,2 mil seguidores. Recentemente, foram convocados pelo #forasarney dois protestos contra o senador maranhense. O primeiro era físico, nas ruas das principais capitais brasileiras, em 1º de julho.
Em São Paulo, havia 70 pessoas aproximadamente na avenida Paulista, segundo a Folha Online. Em Campinas, dez. No Rio de Janeiro, 30, incluindo o vocalista da banda Detonautas, Tico Santa Cruz. E 50 pessoas em Macapá, no Amapá, estado por onde Sarney se elege desde que deixou a Presidêndia da República, em 1990.
Duas semanas depois, os tuiteiros – como são chamados os frequentadores do site –, decidiram organizar uma passeata virtual. Por e-mail, mensagens de celular e pelo próprio twitter, integrantes do #forasarney enviaram um banner em protesto contra a permanência do peemedebista no comando da Casa. Também foram enviadas mensagens para os senadores. O protesto durou uma hora, entre as 15h e 16h de quarta-feira (15).
Os piratas
Apesar da mobilização, sendo por vários dias um dos tópicos mais citados no twitter, o #forasarney originou um verdadeiro mico na internet. Artistas brasileiros, como Júnior Lima (irmão da cantora Sandy e filho do Xororó, da dupla Chitãozinho e Xororó), e os atores Bruno Gagliasso e Marcos Mion, decidiram colocar o #forasarney nas alturas. Elegeram como alvo o ator norte-americano Ashton Kutcher, dono de um dos perfis mais seguidos do site, com mais de 2,8 milhões de seguidores.
O objetivo deles, que se intitularam “Os piratas”, era fazer Kutcher colocar o #forasarney no seu perfil. Pediram ajuda “para retirar o senador corrupto do poder” e fizeram vários apelos ao ator para conseguir a citação do movimento. Entretanto, o norte-americano respondeu com uma lição de moral.
“Para os brasileiros; só VOCÊS têm o poder de afastar seu senador. É o SEU país. VOCÊS devem lutar pelo que acreditam. Eu não tenho voto”, respondeu Kutcher. Mion, então, colocou no seu perfil no Twitter: “Putz… O Ashton disse que não pode ajudar! Que nós temos que lutar pelo nosso país. Fuck…”
Parlamentares
O presidente do Senado está preocupado com o potencial da internet. Mandou desativar o perfil falso em nome de Sarney. E vai criar um blog para expor suas idéias políticas, memórias e opiniões sobre o Legislativo.
“Apesar dos 79 anos, ele é muito antenado”, diz a assessoria de Sarney. Os auxiliares do presidente informam que ele não quis montar um Twitter. Também não sabem se os temas como a crise ética da Casa vão passar pelo blog do Sarney. “Poderia ser, mas tem hora que ele prefere o silêncio”, afirmam.
Usuário das ferramentas de comunicação por computador desde 1986, Cristovam Buarque (PDT-DF) informa que foi o próprio Sarney quem o alertou da importância da internet na relação da sociedade com os políticos. Era 2007, no auge da crise causada pelos escândalos envolvendo o então presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL).
“Eu perguntei a ele o que estava acontecendo”, conta Cristovam. “Ele me disse: ‘Nós não nos acostumamos ainda com a mudança na relação do político com o povo, a internet. Antes, nós só nos falávamos a cada quatro anos. Agora, é a toda hora’.”
Substituição
O senador Cristovam lembra que o Congresso sucedeu a praça em que os cidadãos gregos debatiam política. “Agora, tem o Congresso e a praça”, avalia. Para ele, em algum momento, a mobilização pela internet vai substituir os movimentos nas ruas.
Marina Silva (PT-AC) acha que as formas de manifestação popular têm estratégias diferentes. “Algumas coisas mobilizam mais a juventude, outras os grupos mais tradicionais”, afirma.
Marina diz que já obteve bons resultados com a mobilização virtual, como o veto a artigos da MP 458, que trata da regularização fundiária da Amazônia. “Foram muitos emails, 14 mil telefonemas, não foram todos os vetos que queríamos, mas foi fundamental”, disse a senadora.
O líder do DEM no Senado, José Agripino (RN), afirmou que as questões internas da Casa não lhe permitem perceber as manifestações populares sobre a crise nas ruas e no mundo virtual. No entanto, acredita que elas têm pouca força de mudar a situação.
“As pessoas aqui dentro são conscientes do que têm que fazer”, diz Agripino, considerando que a melhor contribuição que o público externo pode fazer se refere a temas ignorados pelos parlamentares. Não é o caso da crise da Casa.
“Mas é claro que é importante uma opinião. Há a confirmação do seu feeling”, pondera Agripino.
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