Ao defender sua candidatura à presidência da Câmara dos Deputados, a deputada Rose de Freitas (PMDB-ES) criticou seu partido por ter sido preterida na escolha para o cargo. O escolhido pela sigla foi o deputado Henrique Eduardo Alves (RN). Ela reclamou também de ter sido chamada de “dissidente e clandestina”. Durante seu pronunciamento criticou a postura do Legislativo em relação ao Executivo e reclamou da maneira como são definidos os critérios de prioridade dos projetos levados à votação.
Rose: PMDB impôs candidatura de Henrique Alves
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Leia abaixo a íntegra do discurso:
Inicialmente, vou dar um bom dia a todos e dizer que eu sei bem da importância deste momento para o Brasil e para esta Casa.
De todas as eleições que vivi no Parlamento, esta é a mais difícil. Nós não estamos aqui disputando nomes, procurando — pelo menos no meu caso — uma parcela de poder, para dizer que ascendi de Primeira Vice para Presidente da Casa. Acho que não é este o caso do Deputado Júlio Delgado nem do Deputado Chico Alencar. Acho que esta Casa estáprocurando encontrar a sua verdade. Acho que esta Casa está devendo a si mesma. Cada Parlamentar que veio para esta Casa é um líder, é porta-voz da sociedade, que se manifesta diante dela, com seus compromissos.
Por que será, então, que a cada momento nós encontramos vários Parlamentares reclamando que este não era o Parlamento que eles esperavam? Jovens como o Glauber, o Murilo, o André, como as pessoas que estão pela primeira vez aqui no Parlamento, que deveriam estar com o coração cheio de sonhos, de esperança e ardor pela luta que têm que travar em favor do povo brasileiro, já se declararam desiludidos. Mais de 60 Parlamentares, Deputado Inocêncio, no telefone ou pessoalmente, disseram: Eu não quero votar para o Parlamento. Se nós, que estamos aqui, recebidos dentro desta instituição, sentimos isso, o que dirádo povo brasileiro lá fora?
Não frequentamos a página do descrédito porque nós achamos que o povo é ingrato conosco. Não somos às vezes judicializados porque o Executivo quer nos degolar, quernos consumir, quer nos desrespeitar. Frequentamos porque somos capazes de deixar 3 mil vetos sem votação. É como se não existisse uma Constituição Federal que dissesse o que nós temos que fazer, por que nós estamos aqui, para que nós viemos aqui e em nome de quem.
Eu tenho pensado, fui a última a tomar a decisão de me candidatar. Todos sabem — eu tenho presente na galeria, para a minha honra, ali na tribuna, a minha mãe, de 89 anos — o momento difícil que nós passamos familiarmente. Essas decisões das mulheres são muito caras, são decisões familiares de perda, que abalam a nossa estrutura.
Mas eu quero dizer que, em nome daquilo eu aprendi na vida, que eu aprendi dentro de casa, que ensinei para os filhos, estou nesta tribuna candidata. Trinta dias brigando pelas ideias. Eu me preparei para isso. Deputado Júlio, eu me preparei para chegar aqui e defender com cada Parlamentar, com cada partido, as ideias que eu tenho sobre esta Casa, a Casa que eu vivi e a Casa que eu vi o Presidente lutar para reconsiderar, recomeçar; a Casa que tem que ter o seu olhar voltado para a rua e não para dentro dos seus gabinetes, aliás, muito pequenos.
Este Parlamento não vota mais nenhum projeto de Parlamentar. E, quando vota, é como se estivesse fazendo um favor pessoal. É uma coisa em que se senta numa sala e diz: Dá para incluir aí o projeto do Benício? Dá para incluir o projeto do Fábio?Como se fosse um favor. Fora que eu tive o dissabor de presenciar que nos microfones desta Casa, ao invés de Parlamentares que eu conheço, sérios, terem que chegar ali e dizer: Eu não vou votar, porque não pagaram as minhas emendas. Chegou ao ponto de ter que admitir publicamente que, sem espaço para tudo ou qualquer coisa, sólhe restava parar o que estava fazendo e pôr as suas condições ao Poder Executivo.
O Poder Executivo não respeita o Parlamento brasileiro! Eu nunca vi Poder Executivo querer Parlamento forte em todos os meus mandatos por que eu passei nesta Casa. Mas nós somos base do Governo, respeitamos, trabalhamos, queremos que se fortaleça, mas não é com discurso.
Não é com atitude que vamos mudar esta Casa. Qual é a atitude que podemos tomar, afinal? Eu saí de uma reunião agora e vários companheiros diziam: Todo Presidente, na véspera, é o melhor Presidente. Depois que se senta à mesa, esquece-se de olhar um pouquinho mais abaixo.
Eu estou para dizer que com as mulheres a situação é bem diferente. Nós sabemos olhar na direção que o nosso coração e os nossos compromissos exigem. Eu me sinto doída quando vejo que a Presidente da República tem 82% de aceitação e que o Sr. Joaquim Barbosa tem 10% na pesquisa de opinião pública para presidir o País.
O trabalho da Presidente Dilma ésem questionamento. Ela trabalha, luta, tem credibilidade, encara seu trabalho com sinceridade e com propriedade e cobra o compromisso da responsabilidade e da honestidade.
Mas esta Casa, o que faz afinal esta Casa, para que possamos olhar de igual para igual com o Poder Executivo? Para que o Judiciário possa saber que para atravessar uma sentença para este lado da rua ele tem primeiro dialogar, conversar? Mas, assentado no vácuo das nossas decisões, acabamos sendo nós infligidos por uma frase que eu pensei fosse morrer sem ouvir dentro deste Parlamento: a intervenção branca, uma ameaça que o Poder Judiciário nos mandou, porque não votamos o FPE.
E por que não votamos o FPE? O que nos impediu? São os representantes de Municípios e Estados, são os representantes da sociedade orgânica. O que nos impediu de fazer?
Nós nos acomodamos. Nós deixamos de dizer e, de vez em quando, de pensar, eu que fui votada por 98 mil brasileiros, pessoas capixabas do meu Estado. Eu já disse a alguns, quando eu imagino esse dia da eleição, 98 mil pessoas saindo de Casa para dizer para a Rosane: eu quero que você, Rosane, seja minha Deputada no Congresso Nacional.
Esse é um sentimento que ninguém pode trair. Pode parecer que qualquer decisão de cúpula que nos impõe as candidaturas. E quero registrar aqui de público, perante o Líder da Bancada eleito e o Líder que foi embora da Liderança, que o meu partido não convocou a Bancada para que houvesse uma disputadentro da Bancada sobre os candidatos.
Havia nesta Casa uma intenção de lançar a nossa candidatura, que eu, confesso, relutei bastante para poder aceitar em condições de exercê-la sem o encargo emocional que eu trazia. E o que aconteceu? Não fui chamada dentro do PMDB para participar de uma eleição, de uma escolha ou, pelo menos, telefonar e dizer: pretende ser candidata? Se pretende, se inscreva.
Outra coisa que eu não consigo estar na cabeça das pessoas é como se essa chapa, que foi formada com a participação do nosso Presidente, fosse um favor às Bancadas que aqui estão. Não é favor nenhum. Todos sabem que a proporcionalidade sempre foi respeitada. E sempre será.
Aí, de repente, eu ouço as pessoas dizendo: você éavulsa? Você é a clandestina? Você é a dissidente? Não, eu sou a Deputada do PMDB, que honrei esse partido em todas as suas posições e bandeiras.
Talvez tenha sido a mais cobrativa, porque não se pode fazer pacto com a sociedade e desconhecê-la, fazer página virada.
Ouvi vários Parlamentares dizerem: O que importam as manchetes de jornais e as redes sociais? Isso é bobagem, daqui a 2 dias isso passa. Eu queria dizer para as minhas caras e meus caros colegas que não passa. Não passa, porque muitos, muitos e muitos vão para os aeroportos, Deputado Fernando Ferro, e tiram seubutton, escondem que são Deputados, porque não podem dizer que pertencem a esta Casa, não por eles próprios, mas pela atitude de outros.
O que coloquei nesse programa parece que é uma acrobacia política. Nada demais, nada demais. Aqui está sobre agilizar o Parlamento, aqui está sobre criar projeto para os parlamentos dos Parlamentares. Talvez muitos nem se interessem em ouvir essa retórica. Por quê? Porque é apenas um voto.
Aqui falei sobre orçamento impositivo, e quero registrar aqui que não é metáfora de campanha. Podem procurar nos Anais da Casa. Apresentei 18 vezes a proposta de orçamento impositivo, e 18 vezes fui derrotada pelos Parlamentares. Queremos orçamento impositivo ou não? Ou, quando se elege um Presidente da Casa e ele atravessa a informação de que o Governo não quer, todos se acanham, todos recuam, todos retrocedem? Não. Se queremos autonomia no Legislativo, não é para enfrentar Presidente da República e Poder Judiciário. É para colocar este Poder, o maior Poder da República, de pé diante da população brasileira.
Que cada Deputado possa sair com seu voto e dizer: Sim, eu sou Deputado Federal eleito. Porque esse é o poder, e cada um que aqui está veio de uma urna, consagrado pelo voto secreto do povo brasileiro; ele e sua esperança; ele e sua vontade; ele e sua confiança, que parece não mais importar, mas importa muito.
Daqui a pouco, 513, 512, 510 estarão ali, naquelas urnas. Nesse momento, nem a palavra de Rose de Freitas, nem a de Henrique Eduardo Alves, nem a de Júlio Delgado, nem a palavra de Chico Alencar vão pesar nas suas cabeças. A única coisa que vai estar entre você e aquela urna é a sua consciência política, a capacidade de votar e dizer em quem votou, por que votou e o que você quer deste Parlamento. Acabar com a história de que o importante éocupar 1 minuto da tribuna para dizer o que fez à sua terra, porque este Parlamento diz respeito ao povo brasileiro. Na linha sucessória, saibam os senhores, o que muitos não querem lembrar, quem sentar naquela cadeira, como estásentado Marco Maia — rendo minhas homenagens ao Presidente, pelo tratamento dado a todos os Parlamentares, inclusive a mim, às vezes meio desconfiado, mas muito carinhoso —, sentará na Presidência da República, alguma vez, por acaso e por destino.
Não podemos, Presidente, votar hoje e deixar esta Casa sub judice, sem saber o que vai acontecer com ela amanhã. Quero dar meu voto para Presidente, V.Exas. vão dar o voto para Presidente, eu quero o voto para Presidente, para estar aqui, de frente, sem nenhum biombo, sem nenhuma desculpa, sem nenhuma história guardada na gaveta, a não ser a que construí minha vida inteira.
Eu fui constituinte. Sou mãe, sou mulher e cidadã. Hápouco pediram que eu fosse macho para tomar uma decisão, quero dizer que sou uma mulher, ombro a ombro com cada um de vocês, tomando decisões iguais a vocês, com a responsabilidade maior ainda.
Este momento Marco Maia não presenciou. Este momento V.Exa. não viveu, Presidente. Este momento é diferente. Nós estamos com dois Brasis diante dos nossos olhos, mas com o mesmo povo. Um Brasil que não valoriza a ética, o compromisso, a verdade, a honestidade e um Brasil que quer um Parlamento em pé,na esquina, no supermercado, na hora do filho nascer sem se esquecer de dizer… Como disse o António Breda: O meu filho estava nascendo e eu precisava de um quarto e não tinha. A enfermeira disse: Deputado, o senhor pode alugar um andar inteiro, que eles tiram os indigentes, os pacientes, os semimortos, mandam embora, e a sua família toda fica aqui.
A imagem de poder que se tem é do privilégio. Ninguém olha para um Deputado dizendo aquele poderesolver o nosso problema, o da nossa categoria, do nosso segmento social. Olham dizendo que aqui estão um monte de privilegiados, que querem uma gotinha a mais. Esta Casa chega ao ponto de aumentar salário escondido na madrugada porque tem vergonha de dizer que o seu teto salarial pode estar compatível com o de qualquer poder. Nós somos um poder.
A diferença de fazer isso é fazer de verdade. E a verdade, senhores, é uma luz deste tamanhinho, pequenininha, que fica ardendo na escuridão. Nós temos a oportunidade de acompanhá-la, e chegar a algum lugar, ou temos a oportunidade de não chegar a lugar nenhum.
Todos nós temos várias opções a fazer na nossa vida. Mas esta Casa, Izalci, só tem uma opção, e é você quem vai fazer essa opção, tomar essa decisão.
A única coisa com a qual estou comprometida… Quando levantei esta mão e jurei defender os interesses do povo brasileiro… Eu continuo com esta mão em pé, com meu coração atento, com minha mente comprometida, e com todo mundo a minha volta tendo que acreditar que é verdade, porque esse sonho não pode ser um sonho de poucos.
Júlio, eu convivi com você nesses dias. Nunca nos olhamos como adversários, embora soubéssemos o tempo todo contra o quê estávamos lutando.
Eu quero pedir ao Plenário desta Casa que não rasgue a Constituição brasileira. E, ainda que não queiram lê-la agora, que não olvidem a voz do povo brasileiro. E ainda que não queiram ouvir a voz do povo brasileiro, que não tapem seus olhos para não enxergar o constrangimento que fica no semblante das pessoas que se sentem traídas.
Por isso, eu quero esse Parlamento forte, como quis muitas vezes ao lado de Jovair, ao lado de vários companheiros. Mas um Parlamento forte não depende de pires, não depende de favor, depende de reconhecer a sua estatura, a sua capacidade e os seus compromissos.
Eu quero fazer hoje a minha despedida do cargo de Vice-Presidente dizendo que todos os companheiros dessa Mesa foram excelentes companheiros.
E quero agradecer a cada um, a todos que tiveram a capacidade de nos ouvir na aflição, de nos acompanhar nas horas mais decisivas. Agora, o assunto continua sendo comigo e o meu voto, mas o assunto agora é com a consciência de vocês e o povo brasileiro, que espero não seja, nessa votação, um mero detalhe.
Eu agradeço à minha mãe a presença, que, com 89 anos, está aqui para dizer: força. Eu estou com a força, estou com a fé e estou com Deus.
Muito obrigada.
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