Lúcio Lambranho
Para a economista Amarilis Romano, consultora nas áreas de agronegócio, bebidas e alimentos da Tendências Consultoria, as doações de campanha têm um peso menor se comparadas com a arrecadação de impostos do setor. Segundo a consultora, o setor de bebidas arrecadou cerca de R$ 2,5 bilhões em Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI). Do valor total arrecadado, 80% vieram da produção de bebidas alcoólicas.
"A restrição de propaganda só deve reduzir a demanda na faixa etária que poderá começar a consumir bebidas alcoólicas a médio e longo prazo. A propaganda tem o feito de aumentar o mercado entre cada uma das marcas e não no consumo total", avalia Amarilis.
Enquanto o ministro da Saúde se prepara para enfrentar pessoalmente no Congresso o que ele mesmo já classificou de lobby das indústrias, um dos principais representantes das companhias de cerveja afirma que existem argumentos técnicos para contestar a justificativa do projeto de Temporão.
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"Sou eu que faço o contato com os parlamentares e posso garantir que não há lobby e nem toma lá dá cá. Temos argumentos", disse ao site o superintendente do Sindicato Nacional da Indústria da Cerveja (Sindicerv), Marcos Mesquita. Segundo ele, as doações de campanha são feitas dentro do sistema eleitoral "aceito pela sociedade democraticamente".
Tese contestada
O superintendente do Sindicerv concentra sua argumentação na tese de que não existem estudos que "demonstrem a relação direta entre a publicidade de cervejas e o uso abusivo de bebidas alcoólicas, ou o seu uso ilegal por crianças e adolescentes". De acordo com o Sindcerv, as grandes marcas de cerveja investiram R$ 800 milhões em propaganda em 2007.
E entre os estudos usados pelo Sindicerv (leia a íntegra – arquivo em PPT), está o caso da Tailândia, classificada pelo sindicato entre os 20 países mais populosos do mundo, com 63 milhões de habitantes.
Em outubro de 2003, diz o texto, a propaganda de bebida alcoólica foi banida da TV e do rádio naquele país. "O Thai Health Report 2005 comprova: o número de jovens com idade inferior a 18 anos que consomem bebidas alcoólicas aumentou”, afirma o comunicado do Sindicato Nacional da Indústria de cerveja.
"As pessoas estão chutando dados sobre o tema que é uma maravilha", afirma Mesquita. Um dos "chutes", segundo o representante do setor, é a informação divulgada pelo Ministério da Saúde de que 150 mil motoristas dirigem alcoolizados todos os dias no Brasil. "Isso é quase nada perto dos 32 milhões de motoristas", afirma Mesquita.
Fiscalização
O Sindicerv também usa uma pesquisa do Instituto de Pesquisas Sociais, Políticas e Econômicas (Ipespe), de novembro de 2007, que revela que 92% da população brasileira nunca passou pelo teste do bafômetro. Ainda segundo o estudo, 68% dos entrevistados afirmaram que mudariam de comportamento caso houvesse mais fiscalização.
Para Mesquita, já existe uma legislação muito boa sobre esse problema, principalmente depois da mudança na lei, em janeiro de 2006, quando o teste de bafômetro passou a ser obrigatório. "Falta convencimento pela educação e ação firme de fiscalização", avalia o superintendente do Sindicerv.
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